Seres da Noite escrita por GabrielleBriant


Capítulo 20
O Registro




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CAPÍTULO XX

O REGISTRO

Lentamente, os olhos foram se abrindo.

Olhou ao seu redor.

Tudo era tão branco e calmo...

Teria morrido? Aquilo era o tal paraíso?

Os seus dedos aos poucos começaram a se mexer. Ela tentou se sentar... E uma dor alucinante a fez perceber que estava viva até demais.

As suas mãos relutantemente pousaram aonde doía: um grande curativo circundava a sua cintura.

E, lentamente, as imagens de tudo o que tinha se passado voltaram à sua mente...

Estava amanhecendo quando Slughorn a estava matando... estava amanhecendo!

Severo!’

- Oi.

Aquela voz aveludada e tão querida a chamou: Severo Snape estava sentado numa poltrona ao seu lado direito. Os seus olhos não espelhavam nada além do mais puro cansaço.

- Sr. Snape!

Com um longo e pesado suspiro, ele se levantou e começou a encaminhar-se para o leito onde Mina Stoker se encontrava deitada há três dias.

- O que aconteceu? – Ela perguntou, confusa. – O que aconteceu na floresta?

- Aconteceu que você quase morreu – Uma voz grossa e um tanto rude veio da porta da ala hospitalar de Hogwarts. Mina sorriu ao ver o rosto ligeiramente aborrecido do seu pai, Gabriel Van Helsing.

- Sr. Va-- Gabriel! Você salvou o Sr. Snape?

Snape bufou e rolou os olhos – não lhe era nada agradável à idéia de dever um favor a Van Helsing; ele era o tipo de homem que algum dia o cobraria.

- Sim, ele me salvou – Severo respondeu a contragosto. – Aliás, não foi nem um pouco inteligente da sua parte pedir isso a ele. Você sabe muito bem, Stoker, que poderia ter morrido.

- Pela primeira vez desde que nos conhecemos, Snape, eu concordo com você! – Van Helsing sentou-se na beirada da cama de hospital – Só obedeci porque talvez este fosse o seu último pedido, Mina. Apenas por esse motivo eu trouxe Snape de volta para o castelo. Ele quase morreu no caminho.

- E eu?

- Você chegou aqui na enfermaria quase morta – Snape respondeu. – Pomfrey chegou a dizer que era um caso perdido, e foi preciso muito trabalho para lhe manter viva.

- E por isso você pode agradecer a Snape.

Severo desviou o seu olhar, bufando mais uma vez e aumentando exponencialmente a sua tão natural cara de poucos amigos. Mina corou violentamente e, mesmo se Snape não fosse um vampiro, saberia que o seu coração acelerou... era tão óbvio.

- E Slughorn? – Ela perguntou, tentando voltar ao assunto de origem, e fugir do assunto sobre um eventual relacionamento.

- Já está tudo esclarecido – Van Helsing respondeu. – Foi um escândalo, mas o pior já passou e a poeira já está baixando. O Centro de Vampirologia precisa do seu relatório o mais rápido possível para poder fechar definitivamente o caso.

- O escândalo maior é o fato do diretor de Hogwarts ser um vampiro – Snape continuou –, mas já estou conseguindo contornar isso.

O silêncio se instalou.

Por alguns minutos, os três permaneceram assim: em silêncio, evitando se olhar. Porém Mina não conseguiu evitar que, vez por outra, os seus olhos mirassem de esguelha o homem que estava fazendo o seu coração bater mais forte...

Era a primeira vez que ela sentia algo com tal intensidade... Nunca, em sua vida, poderia imaginar o quão avassalador aquele sentimento poderia ser... Porém, não queria se livrar dele de maneira alguma.

E foi por esses discretos olhares que Van Helsing finalmente percebeu a verdade que estivera na sua frente desde o dia em que ele desconfiou que Mina houvesse alimentado Snape com o seu próprio sangue: Ela era, sim, um caso perdido! Agora, não havia mais nada que ele pudesse fazer para impedir que Mina repetisse os erros da mãe dela... Assim como a sua doce Emily, ela tentaria desistir da sua mortalidade por causa desse sentimento tão contraditório que é o amor.

E, como não havia nada que pudesse fazer para impedir a desgraça de sua recém-descoberta filha, a única coisa descente que ele tinha a fazer era sair daquela enfermaria e deixar que ela aprendesse com os seus próprios erros.

- Vocês devem conversar, eu acho. Mina, eu estou voltando para casa. Apareça, se quiser.

Van Helsing olhou para Snape, acenou ligeiramente com a cabeça, deu meia volta, e deixou a ala hospitalar de Hogwarts. Mina não conseguiu evitar que um sorriso iluminasse serenamente as suas feições: sabia bem que jamais poderia esperar um beijo paternal de um homem como Van Helsing. Aquele simples “apareça” já era uma incrível e totalmente inesperada demonstração de afeto.

Sem conseguir segurar os seus lábios, suspirou:

- O amor nos faz ver o que as pessoas têm de melhor... – E, vendo no rosto confuso de Snape que aquela frase também poderia ser aplicada no caso deles, corou e tratou de emendá-la imediatamente. – Quer dizer, foi por isso que minha mãe se apaixonou por ele, certo?

Mas Severo não parecia escutar, olhando-a daquela maneira que faziam borboletas revoar em seu estômago. Mina imediatamente se perdeu nos olhos incrivelmente negros daquele homem.

Ele se aproximou mais, sentando-se na beirada do leito, próximo a ela, no exato lugar que há pouco era ocupado por Van Helsing. Mina tentou se acomodar melhor, por mais que a dor em seu abdômen fosse mais intensa naquela posição, apenas para que o seu rosto pudesse ficar mais ou menos no mesmo nível do dele.

Com uma expressão indecifrável e sem jamais cruzar o olhar com o dela, Severo disse:

- Você não me deixou morrer, e por isso eu agradeço.

Ela corou mais uma vez e deu um sorriso tímido, enquanto o seu coração parecia querer pular do seu peito.

- Não precisa agradecer. Ficamos todos bem no final, não é?

Silêncio.

Mina respirou fundo. Imagens da sua mãe invadiram a sua mente... Imagens de uma mulher que passara a vida inteira infeliz, suspirando pelos cantos, por causa de um amor que foi reprimido... E, pela primeira vez em seus vinte e seis anos, Mina também estava sentindo aquele amor incondicional. Mas não agiria como a sua mãe. Não deixaria aquele sentimento preso em seu peito.

Respirando fundo e tomando muito mais coragem do que ela pensava ter em si, disse lentamente – seus olhos fixos em seus dedos que ela estalava compulsivamente.

- Van Helsing está indo hoje e, como a minha missão aqui está cumprida, eu poderei ir com ele... ou ficar, se você quiser.

Se o seu coração batesse, ele teria se acelerado. Ele podia sentir todas as emoções que ela estava emanando, e sinceramente sentiu-se aliviado por ela não estar olhando-o nos olhos – aquela, afinal, foi uma das poucas ocasiões que ele não conseguiu manter a sua máscara de indiferença. Ele já não se lembrava como era se sentir... amado. Não se lembrava da força desse sentimento. E agora, que o tinha, não o deixaria ir. Não a deixaria ir. Não quando ela tão espontaneamente se ofereceu para ficar... ao seu lado.

Nenhuma palavra poderia traduzir uma boa resposta para aquela proposta...

Então ele fez o que estava em seu alcance: as suas mãos frias lentamente tocaram o rosto delicado de Mina – ela fechou os olhos, e o barulho do seu coração era quase ensurdecedor.

Seu polegar delineou os tão desejados lábios finos numa carícia tenra e, finalmente, os rostos se aproximaram. Por um segundo ele parou, sentindo a respiração ansiosa e entrecortada dela e pensando se ele realmente tinha o direito de pedi-la para ficar... Mas os seus dilemas morais rapidamente desapareceram quando Mina ergueu um pouco mais o seu rosto, decidindo por eles que não havia mais dúvidas a serem respondidas.

Lábios feitos um para o outro. Encaixe perfeito. Ele teve de se segurar para não agredi-los com toda a paixão contida em seu corpo... tinha de ser delicado com ela. Apenas com ela. Tinha que apenas saborear aquela boca por um momento...

E, quando as línguas finalmente se encontraram, eles tiveram certeza que nada mais nesse mundo importava. Que eles eram um. Mina, pelo menos, se sentia assim. E não tentou segurar as duas lágrimas que escorreram pelo seu rosto. Era como se finalmente a sua vida estivesse valendo à pena. O amava. Jamais amaria outra pessoa. Só existia ele. Ser romântica é uma droga...!

Finalmente, os lábios se separaram. No olhar de Snape, a paixão era visível. Nos lábios de Mina, um sorriso de bobo contentamento insistia em ficar lá, por mais que ela entendesse a seriedade do momento.

Ela suspirou.

- Isso quer dizer que eu devo ficar?

- Sim.

XxXxXxX

O que fazia daquela mulher uma pessoa totalmente diferente de duas semanas atrás era o que todos comentavam naquela manhã, no Centro de Vampirologia.

Seriam as mudanças mais óbvias, como a troca das roupas espalhafatosas por um sóbrio e elegante tailleur preto? Dos sapatos que a deixavam desengonçada por um scarpin de salto não tão alto? Dos cabelos soltos e bem cuidados, não mais presos naquele horrendo coque, e a falta daqueles infames óculos?

Não... Talvez fosse o jeito mais confiante de andar. O fato que ela estava olhando as pessoas nos olhos e impondo a sua presença, ao invés de ser aquele bichinho que vivia acuado nos cantos.

Ela era, agora, outra mulher. E todos, sem exceção, percebiam isso.

A sala dos vampírólogos estava lotada naquele início de noite.

Ela bateu três vezes na porta e entrou.

- Senhor Withers? Com licença. – sem esperar uma resposta, ela entrou; arrancando exclamações abismadas dos antigos colegas que a reconheceram. – Trouxe os relatórios. Eu sei que estou atrasada, mas estive... doente.

Withers não podia acreditar no que os seus olhos viam: aquela era, de fato, Mina Stoker! Quase num fio de voz, sussurrou:

- Stoker?

- Pensou que fosse quem? – sorriu, ignorando completamente o rosto abobalhado do seu ex-chefe. – Aqui está – entregou-lhe a papelada. – Toda a descrição da operação. Eu acho que devo lhe informar que passarei no departamento pessoal para mudar o meu horário. No momento trabalhar à noite será mais cômodo para mim. Se não for um problema para o senhor, prefiro também ser transferida para atuar diretamente com os vampiros novos. Descobri na missão do Vampiro de Hogsmeade que o trabalho de campo é muito melhor que o burocrático. O senhor concorda comigo?

Ainda sem palavras, o homem apenas acenou com a cabeça.

- Ótimo. Com licença.

Sem mais nada a acrescentar, Mina deixou a sua antiga sala de reuniões. Pela primeira vez, os olhares que lhe eram lançados não a incomodavam.

Do lado de fora, Severo a esperava.

- E então?

- Foi até fácil... Acho que devo isso a você, não?

- Eu apenas acordei um gigante adormecido, Mina. Essa sempre foi você.

Ela sorriu. Nas últimas duas semanas, ele parecia ser a única pessoa capaz de fazê-la se sentir tímida.

- E agora, vamos para onde?

- Agora nós nos registramos. Naquela sala – ela apontou para uma saleta bem na frente deles.

Os dois entraram na sala. Atrás de um balcão, uma mulherzinha bizarra foi uma das poucas pessoas no Centro de Vampirologia a olhar Mina com alegria, e não espanto.

- Mina? Minha nossa, você está a cara da sua mãe!

- Obrigado.

- O que faz aqui? Só conversar? – Olhou de esguelha para Snape. – Ou para apresentar a nova companhia?

Ela sorriu, aproximando-se do balcão.

- Não, não. Viemos nos registrar.

A mulher esbugalhou os olhos.

- Como? Você é...?

- Agora sou.

A mulher tentou sorrir.

- Tudo bem... Vamos ao trabalho! Seu nome?

- Severo Snape – ele respondeu um tanto aborrecido.

- Circunstância que levou o abraço?

- Guerra.

- Ok. – Ela deu um breve sorriso, estendendo um formulário para Snape. – Preencha isso. – Voltou-se para Mina. – E você, Mina? Circunstância que levou o abraço?

Ela olhou significativamente para Snape e segurou a sua mão. Com um largo sorriso em seu rosto, respondeu:

- Núpcias.

XxXxXxX

fim

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