Caos - Afterend escrita por Keijon


Capítulo 3
Discurso




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Discurso de Nunnaly vi Britannia, transcrito pelo escrivão da UFN, na data X, durante a comemoração de um ano da queda do “Imperador Demônio”. Interrupções da audiência removidas do texto para melhor leitura.

Boa noite, senhoras e senhores, meu nome é Nunnaly vi Britannia, Representante diplomática da UFN junto à Britannia. Como podem perceber por meu sobrenome, eu faço parte da antiga família real do antigo império da Britannia, portanto sou parente do tirano cuja morte hoje estamos celebrando. Para ser mais exata, sou sua irmã mais nova, mas tal posição não me trouxe quaisquer favores.

         Há um ano atrás, eu estava em correntes, presa, assim como o resto do mundo, por meu irmão. Foi então que apareceu Zero, o guerreiro, o general, o símbolo da liberdade que por tanto tempo lutou contra a tirania que, infelizmente, emanava de meu país natal. Zero então matou o tirano que meu irmão havia se tornado, me livrando de minhas correntes. Mas mais do que me libertar, Zero libertou o mundo.

         Foi assim que chegamos aqui, um ano depois, livres de qualquer tirano que nos controle. [Longo silêncio] No entanto, eu lhes pergunto: O que estamos fazendo com essa liberdade? Melhor, estamos agora realmente livres, livres de quaisquer abusos e tiranias? Minha resposta pode chocá-los, pois ela é não.

         Nesse último ano, eu me emergi na UFN de forma quase completa, conhecendo os mais variados países e seus líderes. Eu escutei as mais variadas reclamações e problemas. Por muito tempo eu mantive meus ouvidos fechados e achei que tudo não passava de algum erro ou desentendimento, mas os fatos não mentem.

         A UFN é uma fraude. Em todos os níveis uma coisa apenas pode ser percebida. Seu propósito é atender a todos as nações do mundo apenas em palavra. É óbvio o favoritismo em relação a pessoas oriundas de países que de alguma forma integravam o exército que lutou contra meu irmão, especialmente aquelas pessoas que nasceram no Japão ou na China. Tal característica pode ser observada até hoje no alto comando dos Cavaleiros Negros.

         Certamente pode ser entendido que nas semanas seguintes à queda de meu irmão os Cavaleiros Negros se reformassem da mesma forma que meses antes a fim de criar uma coesão. No entanto, nesse um ano que se passou, não foi feito qualquer esforço de integrar quaisquer exércitos de nações integrantes da UFN de forma que não fosse de subordinação. Nesse mesmo momento em que estou falando, não há qualquer ex-oficial Europeu que tenha uma posição de autoridade mais alta do que mesmo o mais baixo soldado do exército original dos Cavaleiros Negros.

         No entanto, isso não se aplica apenas à estrutura militar! Com constância alarmante, durante esse um ano tratados foram alterados de última hora para favorecer alguma nação que lutou contra meu irmão.

         Vocês que resistiram? Que lutaram? Vejo que há um grande número de membros de alguns países que respondem com esse argumento. Ao vencedor, os espólios! Não? É uma pena que em tão pouco tempo depois de derrubá-lo, a UFN abraça com tanta força um dos pensamentos centrais do Império da Britannia. Se lutaram apenas para si mesmos, então por que os Cavaleiros Negros têm a coragem de patrocinar uma organização que diz ter por fim criar uma paz e liberdades duradouras e igualitárias? Só posso imaginar portanto, que seu objetivo seja apenas dominação. Uma dominação mais sutil e menos brutal do que a do antigo império da Britannia. No entanto, não menos destruidor do orgulho e soberania das nações que não se encontram no centro.

         Tendo esses fatos em vista, aproveito esse discurso para renunciar minha posição atual junto à UFN e anunciar o começo de uma campanha pela separação da Britannia da UFN, e recomendo que outros líderes que se sintam da mesma forma façam o mesmo em suas respectivas nações.

Fim do discurso.

-

         Aquela foi uma das poucas vezes em que Suzaku agradeceu que estivesse com a máscara de Zero. De que outra forma ele poderia esconder o choque que sentia? Durante toda sua vida ele foi uma pessoa propensa a condenar as pessoas, ele próprio não sendo exceção.

         Não demorou muito depois que ele se tornou Zero para que ele percebesse que não era digno da mesma posição que Lelouch tinha. Suzaku não tinha o mesmo carisma, a mesma inteligência, a mesma frieza. Aquele momento provava isso completamente. Ele não tinha ideia do por que, mas o fato era que a única pessoa a qual Suzaku não sentia que podia se opor havia renegado a UFN, e ele não sabia o que fazer a respeito.

         Nunnaly causou um pandemônio com seu discurso, mas ela tinha o direito de fazê-lo. Mais do que pelo mundo, a paz que Lelouch criou foi por Nunnaly, se ela quisesse que essa paz fosse destruída, assim seja.

         O discurso foi perfeito, tudo que ela havia falado era verdade, e ainda havia mais coisas que ela não havia falado. Ninguém falava disso abertamente, mas era óbvio o preconceito contra pessoas da Britannia dentro de toda a UFN, especialmente por parte daqueles das regiões asiáticas. Nunnaly fora uma exceção, devido ao seu papel nos fatos que se desenrolaram, a visão geral de que ela fora apenas mais vítima e e a necessidade de aparência de tolerância. Grande parte do resto da família real da Britannia não teve a mesma sorte.

– Comandante, e agora? O que nós fazemos? Ela já deixou o prédio, mas ainda há tempo de detê-la antes de chegar ao aeroporto e embarcar. – A fala do segurança distraiu Suzaku de seus próprios pensamentos. Ele respondeu rapidamente.

– Não, se a punirmos apenas por se colocar contra a UFN, estaremos dando razão às palavras dela. Não temos ideia de como a violência pode escalar se outros países se colocarem contra a UFN por causa disso. – Realmente, aquela fora uma manobra digna de Lelouch. Se a UFN prendesse Nunnally naquele momento, perderia toda sua integridade. Por outro lado, sua rebelião poderia ser a semente de um caos muito maior do que Suzaku era capaz de imaginar.

Ironicamente, Suzaku sentia naquele mesmo momento que depois se arrependeria de sua decisão, mas isso não o fez mudá-la.


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