Uma garota andava no meio de um enorme campo de tulipas. Tulipas brancas.

Ela usava um vestido vermelho soltinho, que criva certo contraste com as flores. Seus pés estavam descalços, e sua pele branca, suja de terra e pedaços de grama. Cabelos cor de chocolate desciam por suas costas, alcançando o meio delas. Eles não eram lisos. Muito menos encaracolados. Um terrível meio termo, na verdade.

Seu rosto tinha traços grosseiros.  Um nariz grande de mais, olhos muito pequenos, e uma boca extremamente fina e vermelha.

Não. Ela não era exatamente bonita.

Mas isso não importava. Se tinha uma coisas ela sabia bem, era olhar alem das aparências. Apesar de disso, quando encarava sua imagem no espelho, ela só via uma garota tímida.

Mas isso também não importava. Não se pode ser tímida quando se está sozinha. E ela estava sozinha. Sozinha em um campo de tulipas. Um campo de tulipas brancas sabe-se lá aonde.

Ela olhou para os lados. O dia estava nublado e o vento ricocheteava seu vestido, apesar de que estava tão quente como uma tarde de verão. A sua esquerda ela podia ver a cidade de onde viera. Era exatamente como qualquer outra cidadezinha rural. Casas pequenas de telhados laranjas, àrvores em ambos os lados da rua, pouco movimento, e uma igreja nas rua principal. Claro... Sempre havia uma igreja.

Se ajoelhando na grama, ela cheirou a flor a sua frente; sem notar um raio que cortava o céu, não muito longe dali, e o começo de uma chuva rala que molhava seu vestido.

Aquela flor era tão bonita, tão perfeita... Tão simples. E ali, cercada de outros milhares de tulipas brancas, ela parecia absolutamente comum. Exatamente como... Bom, exatamente como tudo. Mas, é claro, ninguém parava para reparar isso. Por quê? Porque as pessoas eram fúteis. Isso. Fúteis. Era essa a palavra. As pessoas só ligavam para a aparência, roupas e beleza. Poucos conseguiam ver alem disso. E quase ninguém conseguia ver a perfeição de uma tulipa branca. Talvez, só ela coseguisse ver a beleza de uma tulipa branca em um campo... Lotado de tulipas brancas, quase iguais aquela, a salvo de algumas poucas diferenças que as definiam.

A garota abriu os braços, se jogando no meio das flores. Um gesto de redenção.

“Por quê?” ela sussurrou, como se esperasse que alguém te desse uma resposta.

Mas isso não aconteceu, e ela se contentou em ficar mais um pouco ali, sentido a chuva molhar seu cabelo e seus braços. Afinal, seu vestido já estava encharcado.

Ao longe, era possível o ouvir o badalar dos sinos da igreja.

Ah, sim. O casamento. Como ela pode se esquecer?

Se pondo de pé em um pulo, a garota recolheu um par de sandálias prateadas abandonadas a alguns metros dali. Ela parou durante um segundo e analisou seu vestido, tentando imaginar como estaria sua atual aparência. Dando aquela tarefa com impossível, ela desceu a pequena colina correndo.

A imagem se desfez, como se escoresse pelo vazio.

Não existia nenhuma garota de vestido vermelho, nenhum barulho de sinos, nenhuma igreja, nenhum casamento. De fato, não existia nenhuma cidadezinha rural.

Silena se remexeu em meio aos conhecidos lençóis cor de rosa do chalé de Afrodite. O toque irritante de seu celular tentava lembra-la de alguma coisa, só que era impossível descobrir o que.

Ela se levantou, apertando os olhos. Já era tarde, pelo número de camas que estavam vazias. Em um canto, ela quase podia ouvir quatro de suas irmã discutirem sobre a roupa “lastimável daquela filha de Athena”, e mais perto do closet, ela podia jurar ter escutado Britney e Lindsay aos tapas para decidir de quem seria a “maravilhosa bolsa Louis Vuitton azul escura da coleção passada.”

“Humpf” Silena bufou irritada. De alguma forma, ela conseguira ser tão diferente de suas irmãs quanto possível.

Uma quinta garota, filha de Demeter, se juntou as suas irmãs que ainda falavam sobre a roupa da outra garota. Dentro do closet, Britney ganhou a posse da bolsa.

“Fúteis” ela sibilou, levantando da cama e tentando não pensar sobre o estranho sonho da noite anterior.

De alguma forma, aquela garota de vestido vermelho não podia estar mais certa.