Finite escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
Finite


Notas iniciais do capítulo

Para a AnaStrakovinch, que estava atrás de alguma coisa com o nosso querido Tom para ler :3



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Não sei se o que se apossou de minha pessoa quando abri a porta de minha casa e a vi parada na minha frente fora alegria, desespero ou culpa. Se um homem for capaz de sentir tudo isso ao mesmo tempo, sei que o fiz. Senti uma alegria imensa ao ver o seu rosto bonito e delicado, seus cabelos loiros caindo em cachos por debaixo de seu chapéu, ao sentir a sua presença sempre tão bem vinda. Entrei em desespero ao perceber como seus olhos azuis pareciam me julgar de uma maneira terrível. Senti-me culpado ao enxergar as sobrancelhas contraídas de uma maneira estranha e os lábios avermelhados pressionados um contra o outro de forma tensa.

Quando ela falou, pareceu difícil prestar atenção em suas palavras. Era como se a visão dela abafasse todos os sons a minha volta... Bom, é claro que isso aconteceria. Para mim, era uma benção estar ali, vendo-a na minha frente, tão perto que poderia até tocá-la caso esticasse o braço, já que pensara que nunca mais a veria em minha vida. É claro que Cecília não sabia o que se passava por minha cabeça, todo esse alívio e felicidade ao vê-la, e não ficou nem um pouco contente ao perceber que eu minha atenção não estava totalmente voltada para as suas palavras. Foi preciso que ela chamasse meu nome uma, duas vezes com a voz irritada para que eu saísse do meu estado de torpor e voltasse a prestar atenção nas coisas ao meu redor.

Ela estava irritada, óbvio. Irritada, indignada, triste... Perguntava-me qual a razão de e tê-la deixado para trás, a razão de eu a ter trocado pela garota Gaunt, a razão por tê-la traído de maneira tão vil. “Não achava que você fosse capaz disso, Tom.” Mas eu não fui. Nunca a abandonei, não por vontade de própria. Eu a queria ao meu lado mais do que qualquer outra coisa na vida.

Minha atenção mais uma vez foi desviada de suas palavras enquanto olhava para os terrenos cobertos de neve e percebia como estava frio. Ficar tanto tempo dentro de casa fazia com que a gente se esquecesse de como era ficar parado do lado de fora num dia de inverno... Olhei-a mais uma vez e perguntei se ela gostaria de entrar, por causa do frio, e a única resposta que recebi foi uma revirada de olhos antes que Cecília esgueirasse-se para dentro de minha casa sem fazer cerimônia. Não que ela precisasse. Ela sabia que aquela casa era dela, estava destinada a ser dela... E a dona da casa não precisa fazer cerimônia para adentrar a sua residência.

Estávamos agora na sala de visitas. A mesma sala na qual já havíamos estado tantas outras vezes... Conversando, nos divertindo, rindo. Agora lá estávamos nós outra vez, olhando um para o outro com expressões sérias no rosto e sem nenhuma palavra que pudesse nos ajudar a sair daquela situação que beirava o constrangimento. Ela questionou a quietude do lugar e respondi que meus pais estavam fora, em Londres, para ser mais exato, tratando de negócios (ou, como eu gostava de pensar, descansando a cabeça por um tempo antes de voltarem para o filho problemático que se recusava a sair de casa... obviamente eu não disse isso a ela, não, isso era parte de pensamentos os quais estavam reservados apenas a mim).

Mais uma vez aquele silencia caiu entre nós. Era um silêncio diferente dos que costumávamos compartilhar antigamente... Antes, esses minutos sem palavras serviam para que nós apreciássemos um ao outro, trocando cumprimentos silenciosos na forma de um sorriso ou um piscar de olhos. Agora, a ausência de sons apenas servia para que o olhar de Cecília pesasse cada vez mais sobre mim, para que eu percebesse o quão entristecida ela estava, para que as conseqüências dos últimos anos atingissem-me em cheio no rosto.

Quando ela voltou a falar, sua voz havia perdido o tom firme que parecia sempre ter e agora tremulava vez por outra, deixando a mostra a sua fragilidade. Era estanho ver isso... Cecília não era uma mulher frágil, muito pelo contrário, era um exemplo de força e decisão na figura feminina. Mas agora ali estava ela, falando baixinho e com a voz trêmula, desviando o olhar para as mãos e escondendo o rosto por debaixo da aba do chapéu.

Continuava questionando a razão de eu ter partido, falando sobre o quanto havia sofrido e como havia sentido aminha falta. Disse que me odiava e percebi, mais uma vez, o quanto palavras poderiam pesar. “Eu o odeio.” Três palavras murmuradas tão sutilmente por uma voz tão doce e frágil, mas que conseguiram causar tamanho efeito em mim. Três palavras que eu nunca sonhei em ouvir saindo da boca de Cecília e sendo direcionadas a mim. “Eu o odeio, Tom Riddle.” Eu também odeio esse homem. Odeio-o por tê-la feito sofrer, por tê-la decepcionado, por tê-la machucado, por tê-la feito derramar as lágrimas que agora escorriam pelo seu rosto, minha querida.

Levantei-me e fui até ela, ajoelhando-me a sua frente. Cecília abaixou a cabeça ainda mais, mesmo que fosse impossível esconder o rosto do meu olhar, pelo menos naquele lugar onde eu estava no momento. Eu não sabia o que fazer. Nunca sei o que fazer nessas horas. Não sabia se devia falar alguma coisa, se devia tocá-la, se devia ficar em silêncio, se devia levá-la até a porta... O que eu queria fazer era abraçá-la e dizer que tudo estava bem, que eu estava ali, que nós, dali para frente, poderíamos ser felizes... Mas havia uma enorme diferença entre o que eu queria fazer e que era certo fazer no momento.

Levei uma mão até o seu rosto, enxugando algumas lágrimas com os dedos e sorrindo levemente. Não era bem um sorriso... Era mais um curvar de lábios com a intenção de tentar confortá-la. Eu não estava sorrindo. Eu sorria quando estava feliz, quando me sentia bem, e, naquele momento, bem era a última coisa que eu estava sentindo. Ela, em resposta, deixou uma risada sem humor escapar de seus lábios. “Nunca pensei que fosse ver um sorriso assim vindo de você.”

Todos tem os seus dias ruins, querida. “Mas não você. Você deveria estar feliz, deveria estar rindo e falando sem parar até que me desse dor de cabeça.” Ela riu, sacudindo a cabeça. “Você não deveria ficar assim, infeliz.” E nem você.

E o que eu achei que não fosse nunca mais ocorrer acabou por acontecer. Os dedos delicados de Cecília tocaram o meu rosto e seus olhos se fixaram nos meus por alguns minutos... Ah, como eu queria poder saber o que se passava em sua cabeça naquele momento, queria ver todo e qualquer pensamento seu, até mesmo aqueles nos quais ela me amaldiçoava até o último fio de cabelo. Após alguns bons minutos em silêncio, ela murmurou, mais uma vez, um fraco “eu o odeio”, antes de se inclinar e me beijar.

Fechei os olhos e deixei que todas as preocupações fugissem de minha mente. Eu sabia que aquilo era um privilégio, eu tinha sorte de ter o carinho dela outra vez. Apesar de tudo ser mais do que conhecido – os lábios, os beijos, as carícias – alguma coisa parecia diferente. Talvez a falta de confiança, talvez o medo de machucar um ao outro novamente, talvez o desespero de aproveitar tudo aquilo, talvez a agonia de pensar que aquilo poderia ter sido perdido para sempre... Tentei deixar de lado essa estranheza, aproveitando apenas das coisas boas... Seus beijos, seus toques, suas palavras murmuradas, seus suspiros, suas mãos que se agarravam a mim, seu perfume, sua voz...

Foi apenas depois que nos separamos que ela deu uma razão àquela preocupação que eu vinha sentindo desde o começo. A possibilidade de perder tudo aquilo se mostrou real. O assombro de perceber que a mulher que eu amava, dali por diante, estava proibida a mim.

Antes que ela saísse, perguntei, como que num ato de desespero, se ela realmente me odiava como repetira tantas naquela tarde.

“O que você acha?”

Que você não quis dizer aquilo.

“Você sempre foi bom em entender as pessoas, Tom.” Um sorriso – ou, como já descrevi isso antes, um curvar de lábios sem sentido algum – formou-se em seu rosto. “É quase assustador.”


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