O resto do dia passou como outro qualquer, tedioso.

Mas o outro dia seria diferente. Eu sentia isso.

Acordei cedo, David já estava acordado. Incrível, ele sempre acorda tarde. Ele estava no sofá, fitando a Tv desligada. Me sentei ao seu lado.

- Bom dia. Caiu da cama hoje foi? - Falei rindo, seguido de um beijo no rosto dele.

- Quase não dormi. - O interrompi.

- Deixe ver se eu adivinho por que. Pierre. - Eu fazia uma cara de “Eu ganhei”.

- Isso mesmo. - Respirou fundo - Eu fiquei pensando nisso a noite inteira. - Fiquei com pena dele. Ninguém merece passar por isso. Não do Pierre, do David. O Pierre tem mais é que se ferrar mesmo

- Você vai atrás dele? - Okay, seria humilhar-se. Espero que ele não faça isso.

- Mas é obvio que não. - Me olhou com cara de reprovação. - Seria me humilhar! - Telepatia, só pode. - Se ele me querer, ele vai ter que vir atrás de mim e me convencer de que ele me merece. - Ual, esse é o meu maninho!

- Isso mesmo! - Agora eu imaginei Pierre, se ajoelhando na frente de David implorando para tê-lo. Demais. [n/a: Ia ser demais não ia? *-*].

Conversamos sobre mais coisas completamente inúteis. Até que ele chegou num assunto que eu nem queria pensar. Pat.

- E Pat? O que vai fazer? - De vez em quando eu te odeio David!

- Com certeza não vou tomar uma decisão precipitada e fazê-lo sofrer depois. - David concordou. - Veremos o que irá acontecer. -

Um toque de celular surgiu. Celular de David. Seria...

- É uma mensagem. - Leu. - É... De Pierre. - Fiquei pasma.

Ta bom, é mentira, eu tinha quase certeza disso.

Peguei seu celular e li a mensagem.

“David podemos conversar? Eu preciso muito falar com você, por favor.”

Terminei de ler e logo tocou novamente. Era dele novamente.

“Me encontre na praça que você foi com os meninos daqui a 20 minutos. Não irá se arrepender”

 David sorriu de um jeito que parecia que estava tramando algo.

- Eu vou. - Se levantou

- Tudo bem, me conte tudo depois hein? - e David saiu.

Eu estava conversando com Sofia sobre Pat. Quando meu celular toca.

Mensagens de Pierre pedindo para que eu o encontrasse na praça.

Pensei coisas. Não, não foi nada pornô não ok? Eu pensei em humilhá-lo. Pisar nele como ele pisou em mim.

Então fui à praça. Pierre estava sentado no mesmo banco que conversei com Pat e Seb. Ei, aquilo é uma lágrima? Ele está chorando?

Me aproximei e fiquei na sua frente. Ele olhava para baixo. Parecia que não tinha coragem de me encarar.

- Bem, eu estou aqui. Pode falar. - Ele levou as mãos ao rosto, secando as lágrimas e olhou para mim.

Ficou um tempo assim, apenas me observando. Sentei do lado dele. E Ele continuou me encarando. Parecia que queria gravar a minha imagem.

- Desculpe, mas me chamou aqui pra me olhar e mais nada? - Falei já um pouco irritado, mas mantendo meu tom de voz o mais normal possível.

- Quem dera eu poder ficar te observando. - Ele finalmente falou alguma coisa.

- Hm. - Cruzei os braços e esperei ele falar.

Ele suspirou. Comecei a achar que tinha sido perda de tempo ir até ali falar com ele.

Bufei. Acho que ele me entendeu, respirou fundo.

- Desculpe David. - Permaneci olhando impaciente pra ele. - Eu realmente fui um idiota, eu me deixei levar, não me importei com os seus sentimentos, e demorei pra descobrir os meus. - Ele começou a chorar novamente.

Ninguém merece ver aquele... Aquele... Garoto, homem, sei lá. Não dá pra vê-lo chorando.

- Sim, você realmente foi um idiota. O que você fez comigo, não se faz com ninguém, ninguém mereceria tamanha humilhação e sofrimento. - Falei em alto tom. Fiz uma pausa. Ele olhou para baixo. - Eu não posso negar que ainda gosto de você, e nem que achei tremenda coragem você me chamar até aqui. - Ele olhou para mim.

- Então fique comigo. Vamos esquecer o que passou e recomeçar do zero. - Mordi meus lábios. Tentação, por que você existe?

- Eu não terminei de falar. - Cara, eu fui frio. Nossa, eu to me surpreendendo.

- Desculpe. - falou baixo.

- Mas não posso ficar com você. Simplesmente pelo fato de não querer sofrer novamente em suas mãos. E não vai conseguir me convencer do contrário tão cedo. - Me levantei e fui embora antes que ele falasse alguma coisa.

Tentar me livrar dele pelo menos por aquele dia foi em vão. Ele me alcançou. Quem manda ser lerdo David?

- Espera David. - Ele me segurou pelo braço e me virou. - Eu posso ser o maior idiota de todos, mas e meus sentimentos não contam? - Isso vai contra os meus princípios, mas lá foi a resposta.

- Contariam se você tivesse contado com os meus. - Há! Essa foi horrível, tenho que aprender a dar respostas às pessoas.

- Mas eu mereço sofrer assim? - Vamos tentar de novo. Uma resposta melhor David, você consegue!

- Merece. Porque isso não é nem metade do que VOCÊ me fez sofrer. - Essa foi melhor.

Ele ficou sem ação. Me soltei e fui embora. O deixando ali com cara de derrotado.

Fiquei com pena dele, eu nunca fiz isso com ninguém. Eu sempre fui muito do bem. Mas foi ele quem pediu.

Voltei pra casa. E contei tudo a Sofia, que parecia se divertir com tudo que acontecera.

Quando David saiu, eu fiquei com um pé atrás, achava que ele iria por tudo a perder e ficar com Pierre. Fiquei o esperando. Quando ele chegou e me contou tudo que me diverti, queria ver a cara de Pierre durante e depois do que David dissera.

Agora eu precisava cuidar do que me preocupa. Pat. Teria de descobrir o que eu iria fazer sobre ele.

Se ele fosse o Seb eu poderia agarrá-lo, mas é o Pat, um menino doce e adorável. Eu não iria me perdoar se eu o fizesse sofrer, mas não iria me sentir bem o enganando. Teria de pensar calmamente sobre isso.

- Mas eu mereço sofrer assim? - Perguntei na esperança de que ele me dissesse que não, e que ficasse comigo. Mas eu acho que esperei demais.

- Merece. Porque isso não é nem metade do que VOCÊ me fez sofrer. - Eu fiquei completamente sem ação, e ele foi embora.

Isso me destruiu por dentro. Até aquela hora não tinha ouvido tamanhas palavras que faziam a gente sofrer. E o pior é que eu sei que merecia isso, não só isso como eu merecia mais.

Eu o fiz sofrer demais, e me torturo por isso. Malditos sentimentos que tardaram a aparecer.

O que resta a fazer é ir para casa, tomar um banho e me trancar no meu quarto. E foi o que eu fiz. Minha mãe estranhou o fato de eu não querer almoçar, mas eu não estava nem aí pra ela. Eu precisava arranjar um jeito de fazê-lo perceber que eu não estava mentindo. Que eu realmente gosto dele. Que eu realmente o quero. Será difícil, eu sei, mas eu vou conseguir. E quando conseguir vou fazer de tudo para não fazê-lo sofrer novamente e que ele seja o mais feliz possível.

Almoçamos e David foi direto para o quarto, eu sabia que ele não estava bem. Eu sentia isso. Eu não fui falar com ele para não complicar as coisas, ele precisava ficar sozinho, realmente precisava.