Uma Garota Sombria escrita por cessiuh


Capítulo 14
A carta e o segredo


Notas iniciais do capítulo

Gente, dessa vez não tive tempo nem de revisar, mas espero que esteja tudo ok. Boa leitura.



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Quando cheguei a casa de Charlotte, já estava exausta. Não gostava de viagens longas, nem curtas, nem qualquer tipo de viagem que não envolvesse apenas os meus pés. Charlotte não veio me receber. Estava no jardim, sentada no balanço. Seu olhar triste fitava às arvores.
Aproximei-me cautelosa. Aquela era a mesma Charlotte de sempre ou os meus olhos não me mostravam o que havia mudado?
- Charlotte. Falei tocando seu braço.
Seu olhar parado não se moveu. Apenas respondeu automaticamente.
- Olá Anne.
- Se quiser ficar sozinha eu, mais do que ninguém, irei entender. Não quero incomodar seu sofrimento. Só ficarei se desejar minha companhia.
- Fique. Respondeu e perdida em devaneios, continuou a fitar o horizonte em silêncio.
Entendi que não era o momento para conversar. Eu precisei de anos para aceitar que nunca haveria uma recuperação e que deveria viver mesmo estando aos pedaços. Charlotte também precisava deste tempo. Precisava de tempo para sair do balanço e pisar em terra firme novamente.
Quando me distanciei um pouco, ouvi um barulho em sua direção. Virei e vi Charlotte caída no chão. A corda havia partido. Corri para ajudá-la.
- Eu não entendo.
- Você está bem Charlotte?
- Essa corda estava aqui a anos.
- Por isso partiu. Já estava velha.
- Não estava velha. Estava boa.
- Seu pai mandará colocarem cordas novas.
- Eu sou essa corda, Anne.
- O que quer dizer?
- Eu sempre soube...
- Do quê?
- Ela devia estar farta de mim. Ela é como todos. Como ele. Não a culpo... Culpo ele. Sempre vou. Ele não devia.
- Talvez seja melhor ir descansar um pouco.
- Sou um fardo pesado demais para ser carregado
- Charlotte, não estou entendendo do que se trata, mas se ainda for sobre a corda, não foi culpa sua. Não está pesada, está em ótima forma. Bela como nunca.
- A tristeza amadurece as moças e apodrece as mulheres. Li isso em um livro. Deve ser verdade.
- Se for verdade, sou a mais bela de todas. Disse tentando distraí-la, mas Charlotte continuava séria.
- Eu sou a corda... Falou delirante. Olhos vidrados no nada.
Aquilo me assustava. Quantas vezes as pessoas me viram louca... Podia agora sentir a sensação do lado oposto. Eu estava vendo naquele momento o desequilíbrio de fora. Não havia meu mundo, apenas o mundo de todos, o mundo real. No entanto, estava tudo ali, tudo acontecendo na minha frente e eu nada podia ver. Como decifrar por palavras soltas como girava o mundo de Charlotte?
- Por quê Charlotte? Por que acha que é a corda?
- Eu sou! Eu sei...
- Por quê?
- Por que parti para me vingar!
- Se vingar de quem?
- Dele... De Fausto. Só podia ser isso. Fausto cavalgava muito bem.
- Como?
- Escondida. Formiga. Ninguém se importa com ele... Você não conta, eu também não conto. Você também. Escondida.
- Eu?
- Você saiu. Você foi. Eu sei.
- Fui para onde?
- A rosa branca. Eu contei a Marcony. Não gostei.
- Como você sabia?
- De noite.
- Você estava acordada. O que mais você contou? É isso que a está perturbando? Eu lhe perdôo, já fiz as pazes com Marcony.
- Não quero esse perdão. Quero outro. Quero muitos.
- O que você fez, Charlotte? Perguntei assustada.
- Não fui para a Igreja. Fechou os olhos e respirou fundo. Sorriu. Eu estava bela, Anne. - E não falou mais nada ao longo do dia.
Quando cheguei a casa com minha tia, já era tarde. Estava exausta. Fui direto para o meu quarto, decidida a dormir imediatamente. Existem coisas, no entanto, que não podem ser adiadas, que persistem em atormentar qualquer sono, qualquer paz. Existem coisas que não podem ser ignoradas.
Em cima da janela havia duas rosas brancas. Aproximei-me e vi uma luz vinda do jardim, que se acendia e se apagava.
"As brancas representam paz, inocência, pureza, segredo... Apropriadas para se presentear moças jovens."
Duas rosas brancas. A luz. Era um sinal. Um sinal de Ryan certamente. Ele era louco. Aquilo era mais do que arriscado. Invadir a fazenda. Como ele havia conseguido entrar no meu quarto? E como eu podia ir ao encontro dele? Peguei a jarra de água e derramei pela janela. Coloquei-a no lugar novamente e tirei os sapatos. Desci a escada devagar.
Minha tia estava na sala.
- O que houve, Anne? Não estava tão cansada? Admiro-me de ainda não estar dormindo.
- Eu estou cansada, mas também estou com sede e não há mais água no meu quarto.
- Fique tranqüila querida, isso não irá mais se repetir.
- Não precisa reclamar com Bina, nem com ninguém.
- É óbvio que irei reclamar.
- Tia...
- Um dia terá sua casa e terá que reclamar também. Irá entender quando parte do dinheiro do seu marido for desperdiçado com empregados esquecidos, doentes ou ingratos.
- Faça como achar melhor.
Entrei na cozinha imersa em culpa. Havia apenas pensado em mim, e em mais ninguém. Na verdade... Havia pensado em Ryan. Muito mais em Ryan do que em mim. Quanto tempo eu tinha para beber água? Dois minutos? Três? Não era suficiente. Talvez apenas tempo necessário para pedir perdão e beijar sua mão com toda a veemência possível. De constatar que não havia nenhuma cicatriz. Ou apenas de imaginar isso, já que eu não poderia estar arrependida. Não fiz nada errado, ele merecia. Mas não dei motivos para que voltasse. Ele não podia ler meus pensamentos, como adivinhar que aquele corte foi uma vingança simbólica? Um teste à sua carne?
Saí pela porta dos fundos com os pés firmes no chão, pois os livros dizem que a melhor maneira de andar e não ser ouvida é na ponta nos pés, mas eu sempre achei que existia um erro nessa estratégia. O desequilíbrio gerado e o risco de se esbarrar em alguma coisa. Antes o ruído do que a explosão.
Cheguei embaixo da minha janela e avistei a luz constante que não piscava mais. Andei em sua direção, sem saber para onde estava indo. Podia ser Ryan. Eu queria que fosse. Mas podia ser apenas uma armadilha. Ou talvez fosse os dois.
Talvez eu fosse o pequeno inseto, atraído debilmente pela exuberante planta carnívora.
Chegando ao jardim, finalmente pude ver o dono da lamparina. Era Lauro.
- Lauro?
- Garotinha, você veio. Eu sabia que viria.
- Você deixou as flores. Por quê?
- Eu precisava te entregar isso. Disse entregando-me um envelope amassado.
- O que é isso?
- Desculpe-me pela demora. Nem vi o tempo passando. Você deixou de ser criança tão rápida e a minha memória só guarda rosas, garotinha.
- Mas...
- Não pergunte nada que eu não possa lhe responder. Apenas preste atenção. Sua mãe me confiou esta carta, para que lhe entregasse quando tivesse 15 anos. É muito importante que leia em silêncio, longe de qualquer pessoa, e nem mesmo a mim revele o que há nela.
- Você não sabe?
- Sempre fui fiel a quem comigo teve lealdade. Agora vá. Volte antes que sua tia desconfie. Precisava cumprir o desejo de Elisabeth o mais rápido possível ou ficaria louco.
- Obrigada Lauro.
Voltei para a casa rápido, com o envelope debaixo do vestido.
- Boa noite Tia Elissandra.
- Boa noite, querida.
Subi as escadas com o pesar de cada letra no meu corpo. Tranquei a porta do quarto e peguei o envelope. Nele estava escrito o meu nome.

"Anne Cavenaghi"

E o meu destino.


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro ( de português ou de cronologia/ordem/incoerência) que vocês perceberem é só avisar. Bjoos



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