A Serpente escrita por Heva Paula


Capítulo 1
Capítulo 1 - A escolhida




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- Então como esta, sobrinho?

- Cansado! – eu olhava a imensidão do mar da grande janela do meu escritório.

- Devia se casar?

- De novo? – eu continuava de costas.

- Sua esposa, não esta cumprindo o seu papel, me diga quantos anos vamos ficar com essa espera? Já se passou seis anos, você precisa de uma jovem saudável que posso lhe dar um filho homem, forte e cheio de vida, uma árvore que não dar frutos precisa ser substituída imediatamente – ele estava certo, mas Naíma estava se empenhando, embora suas tentativas fossem falhas – Case-se novamente, encontre uma esposa que possa lhe dar filhos.

- Tio, eu simplesmente não tenho cabeça para procurar por uma esposa, meu coração esta quebrado, mais um filho que se foi sem eu ao menos tê-lo em meus braços.

- Não se preocupe, eu encontrarei a moça certa, na verdade conheço muitas famílias como belas moças cheias de saúde, se você quiser poderemos fazer algumas visitas?

- Esta bem, como o senhor quiser! – eu me sentia um homem derrotado, o que eu mais desejava agora em minha vida seria um filho, minha esposa não segurava nenhuma criança em seu ventre, seis anos, três filhos mortos abortados, para quem eu iria deixar a minha sabedoria? Para quem eu iria deixar minha herança? Algum dia eu serei chamado de pai?

Pegamos o elevador e fomos em direção ao lobby do hotel, hoje não era um dia que eu pudesse me sentir bem, eu me sentia zangado, decepcionado, infeliz o manobrista trouxe-me meu carro e enquanto meu tio me falava sobre minha futura esposa, eu nada conseguia assimilar, fazia alguns gestos para lhe mostrar que eu havia o escutado, mas na verdade eu não tinha ideia alguma sobre o que ele estava a falar para mim.    

Depois de deixá-lo em sua casa fiquei dirigindo pela cidade, precisava voltar ao hotel, meu ultimo pensamento era voltar para casa, não preciso ver mais lágrimas, preciso de paz, ficar só, pensar – uma nova esposa? – casar novamente? Eu poderia ter o que eu mais desejo, um filho, sim um filho! O sol me avisava que mais uma vez, eu precisava derrotar as proximas tarefas, derrotar este cansaço, simplesmente o sono não veio:

- Sr. Badi seu tio esta aqui a sua espera! – Lui me interfonou.   

- Diga a ele, que me espere para tomarmos nosso café da manhã, em vinte minutos estarei com ele.

- Como desejar senhor! 

Tomar um banho se fazia necessário, colocar roupas limpas e fingir que estava tudo bem comigo, detesto demonstrar fraqueza, isso não faz parte do meu ego, quando cheguei a nossa mesa de sempre pude sentir seu sorriso contagiante para mim:

- Filho sente-se aqui, eu já tenho uma família para visitarmos!

- Mas assim tão rápido?

- Para que esperar? Devemos começar por agora! – ele e os seus cabelos brancos, que me faziam manter o respeito e transferir meu amor de pai e filho para ele, enfim o meu já havia falecido há alguns anos atrás.

- Eu acho muito drástica essa decisão!

- Você quer envelhecer como eu? – mesmo sozinho, ele era um homem que reclamava pelo fato de sua falecida esposa não ter lhe dado filhos.

- O senhor esta certo!

Fomos para uma cidade vizinha a Dubai onde havia bastantes comerciantes de ouro, as ruas eram estreitas, o movimento de pessoas muito grande, isso fazia a temperatura aumentar, minha face brilhava por causo do suor, chegamos a uma joalheria modesta, mas tinha seu encanto, um jovem senhor de cabelos e olhos negros veio em nossa direção:

- Said como esta meu velho amigo, veio comprar alguma jóia?

- As jóias que estou procurando, são feitas de carne e osso! – o senhor parecia confuso – soube que você guarda belas jóias, jovens e solteiras em sua casa.

- Minhas filhas? – sua voz em um tom surpreso.

- Estamos aqui para lhe propor um acordo, sobre o matrimônio de meu sobrinho com uma de suas filhas.

- Sim, sim! – ele parecia animado, nos convidando a entrar, pude ver que ele confeccionava tudo artesanalmente, e isso tinha bastante valor entre os joalheiros, ele fazia pedidos sob encomenda – tenho uma filha que esta com dezoito anos, é uma preciosidade daria uma boa esposa.

- Ótimo! – podia sentir a vibração na forma como meu tio conversava com ele – quando poderíamos fazer uma visita?

- Assim que desejares.

Meu tio me encarou, mostrando que tinha pressa e eu havia entendido sua expressão:

- Podemos? Agora?

- Sim, sim! Minha casa não fica longe, apenas a poucos metros, vamos! – o sorriso em seu rosto me amedrontava um pouco.

Ele caminhava a nossa frente, enquanto eu e meu tio ficávamos um pouco distantes, mantendo nossa conversa particular:

- O senhor tem certeza? – eu estava a sussurrar.

- Você acha que eu lhe colocaria em algo que não valesse à pena? Sobrinho, eu sou cliente dele há anos e todos sabem que as filhas deles são verdadeiras jóias, como as que ele fabrica, quando chegarmos lá poderá ver que não estou mentindo!

A casa apesar de pintura feia por fora, se mostrava bastante encantadora, chegamos a uma enorme sala, muito colorida e alegre, todos os móveis possuíam qualidade, os tecidos me inspiravam suas cores fortes, o jovem senhor se acomodou:

- Desculpe os meus modos, mas nem pude lhe dizer meu nome, me chamo Nabih Kamal Amin, conheço seu tio há muitos anos ele sempre foi um bom comprador de minhas jóias.

- E quando conhecerei sua filha? – pareci um pouco grosseiro, mas eu precisava acabar tudo isso, quanto antes melhor.

- Ranya? – ele aumentou seu tom de voz, mas nada que demonstrasse ignorância, seus passos suaves viam para minha direção, pele de avelã, não pude ver seus cabelos em volto em um lenço, traços delicados, meu tio estava certo, ela era uma jóia, seus olhos não encontravam os meus, ela estava sempre a olhar para o chão – esta é minha filha Ranya, ela esta solteira, é o meu rubi, quem casar-se com ela, eu tenho a certeza que fará um bom casamento, ela se parece muito com a mãe, delicada como uma pétala de rosa – eu estava irradiado com sua beleza, mas o barulho forte de porta batendo me acordou de meus devaneios, fazendo-me desviar meu olhar para de onde viria o som, quando me deparo com ela, seu sorriso iluminou a casa, ela estava com um jovem garoto segurando sua mão, seus longos cabelos negros, lábios rosados, pele que me parecia mais bela que a mais pura seda.

- Desculpe! – seu sorriso se fechou ao ver a todos nós encarando aquela cena.

- Safia gostaria que entrasse. – Nabih foi muito rígido em suas palavras, ela e o jovem garoto, entraram calados, mas antes seus olhos cruzaram os meus, uma onda de choques percorreram meu corpo, foram poucos segundos que me fizeram mudar de ideia – Ranya pode ir também.

- Então sobrinho? Amanhã poderemos marcar outro encontro?

- Não! – eu ainda estava estático, mas eu já tinha minha decisão – eu já estou decidido a me casar.

- Perfeito! – Nabih parecia mais do que entusiasmado.

- Aquela jovem que acabára de entrar aqui é sua filha?

- Sim, meu diamante bruto. – não havia entendido a escolha de suas palavras – possui quinze anos.

- Gostaria de me casar com ela. – eu não me importava com as suas expressões confusas para mim, eu havia tomado minha decisão.

- Mas Safia é muito jovem, ela ainda não aflorou trata-se de uma criança.

- Eu saberei esperar, até que ela esteja pronta para mim, mas é com ela que eu desejo me casar.

- Mas... – ele parecia bastante confuso – eu pensei que...

- Eu só quero uma esposa, mas se o senhor não estiver disposto a aceitar, posso procurar outra jovem. – eu sabia que minhas palavras o fariam mudar de ideia.

- Não, espere! Nós poderemos sim fazer um acordo! Mas eu pensei que gostaria de se casar com minha filha mais velha.

- Eu quero Safia como minha esposa, ela é jovem e parece ser bastante saudável, embora não seja mulher, eu saberei esperar, lhe dou minha palavra, e eu não minto! Mas quero me casar logo, o mais depressa possível.

- Sim, sim como desejar, embora tenha de informar que será Safia e não Ranya que irá se casar com o senhor...?

- Badi Fadel Tajzadeh!

- Sim, sim, foi um prazer recebê-lo em minha casa, embora nesta visita eu não tenha lhe oferecido nada, desculpe desejo que venha aqui novamente para lhe oferecer uma recepção mais agradável.

- Por nada, eu me sinto agradecido por ter se dado o trabalho de me ouvir.

Quando estava voltando para Dubai não conseguia tirar, sua imagem de minha mente, eu precisava dela, ela seria a esposa que me daria filhos:

- Então filho?

- Preciso agradecer ao senhor, realmente estava certo, outra esposa me traria vida nova!

- Mas você não acha que fez a escolha errada?

- Por que diz isso?

- Safia ainda é muito jovem, não é uma mulher, agora ela só lhe dará despesa? – não pude evitar gargalhar.

- Eu sei que ela é jovem, mas eu senti algo que me fez ver que eu estaria fazendo um bom negócio, algo realmente bom que eu só costumo sentir quando estou tratando de negócios rentáveis, eu sei que ela me dará o filho que eu quero.

- Se você diz isso, então eu lavo as minhas mãos.

* * *

- Por que ele não me escolheu?

- Querida não fique assim! – Ranya parecia desolada, mamãe tentava acalmá-la sem obter nenhuma chance.

- Eu tenho algum problema?

- Ranya acalme-se aquele jovem decidiu por Safia, eu não posso simplesmente fazê-lo mudar de ideia!

 - Ranya me escute, eu nem sei o porque disso tudo... Papai eu não aceito este casamento, faça-o mudar de ideia! Por favor! – eu estava desesperada.

- Sua serpente! – Ranya correu em minha direção para me bater, mas papai a segurou – rouba o noivo das outras.

- Safia eu não posso voltar na minha palavra, você vai se casar e ponto final. – papai parecia nervoso demais com toda a situação.

- Ranya me escute, eu não entendo! – na verdade eu estava tão perdida nesta grande confusão.

- Você é uma serpente! Eu odeio você! – as lágrimas de Ranya me partiam o coração.

- Não fale isso de sua irmã! Agora já chega! Ranya vá para seu quarto, se acalme, e espere por mim em silêncio, antes que eu faça uma loucura! – ela se foi, e eu cai em meu próprio pranto.

- Querida, esta tudo bem! – sentir seu abraço acolhedor – confie em mim, seu futuro marido é um grande homem, ele é sobrinho de Said um grande amigo meu, você ficará bem.

- Eu não quero casar! E os meus estudos? O senhor prometeu! – ele suspirou.

- Esta nas mãos de Badi decidir sobre o seu futuro. – eu me agarrei a ele.

- Por favor papai, por favor não aceite!

- Calma Safia, eu irei proteger você. – senti mãos muito pequenas me abraçarem.

- Rafiq faça isso por mim. – não consegui falar mais nada eu apenas queria chorar.


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