Fantasmas do Passado escrita por GabrielleBriant


Capítulo 1
A Reunião




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CAPÍTULO I – A REUNIÃO.

O calor trazido pelo verão londrino, ultimamente, estava insuportável. As altíssimas temperaturas eram registradas pelos termômetros tanto durante o dia quanto durante a noite...

Exceto naquela noite.

A forte tempestade parecia dar fim a um longo período de estiagem... Os raios caiam por todos os lados, causando estragos incalculáveis. Uma noite estranha... Parecia que aquela noite tinha sido preparada justamente para acolher o inusitado encontro que estava para acontecer.

Num bar de péssima reputação, na periferia de Londres, três pessoas aguardavam algo impacientemente. O primeiro era um velho... As suas longas barbas prateadas e uma feição gentil denunciavam que não tinha o perfil de uma pessoa que freqüentasse tal local. A segunda era uma senhora de aparência distinta e severa. Qualquer um diria que ela se achava boa demais para estar em tal lugar... Talvez fosse verdade, mesmo. E, por fim, o terceiro era um homem. Ainda podia-se dizer que ele era jovem, embora a aparência cansada e sofrida lhe desse alguns anos a mais. Parecia ser honesto demais para sequer pensar em ir àquele bar.

Os três conversavam baixo, tentando não atrair a atenção da outra única pessoa que se encontrava lá um atendente – ou o dono – visivelmente embriagado.

A senhora bufou e sussurrou, exasperada.

- Ela já está meia hora atrasada! Não acho que ela venha, Alvo. Vamos embora! Eu não gosto desse lugar.

O velhinho apenas ajeitou os seus oclinhos de meia-lua e disse serenamente.

- Nenhum de nós gosta, Minerva. Mas, se eu conheço-a bem, ela virá. Vamos esperar mais um pouco.

O homem jovem intercedeu pela senhora.

- Ainda não entendo o que essa mulher tem haver com as suas decisões, professor Dumbledore... E também ainda não sei por que temos que estar aqui.

- Vocês não têm que estar aqui, Remo. Eu disse isso desde o início. Lembre-se que foram vocês que insistiram em me acompanhar...

A porta do bar se escancarou nesse exato momento, deixando ainda mais claro o temporal que estava lá fora. Os três – e o atendente bêbado – se viraram para olhar quem tinha aberto a porta com tal violência: era uma mulher. Seus longos cabelos ruivos pingavam – a água deixava-os ainda mais brilhantes que o normal. Seus olhos azuis estavam duros, mas se prestassem muita atenção viriam que essa dureza era apenas uma forma de esconder a tristeza que havia neles. A sua pele, extremamente alva, estava arrepiada pelo frio.

O seu rosto se contorceu numa expressão de repugnância enquanto ela entrava no bar. Não cumprimentou ninguém ao sentar-se à mesa das três pessoas. Tampouco mudou o semblante frio, quando o velhinho lhe ofereceu um sorriso acolhedor.

- Finalmente poderemos começar a nossa conversa, Gwen.

- Pensei que seria apenas nós dois, professor Dumbledore.

Ela tinha perguntado hostilmente. Ele apenas respondeu, sem sequer modificar o tom sereno e amigável que sempre tinha.

- E seria, mas eles insistiram em vir comigo. A propósito, Gwen, esse é Remo Lupin e essa, Minerva McGonagall. Minerva, Remo, essa é Guinevere Chatèau-Briant.

Ela os olhou. Lembrava deles. De um passado distante que ela tentava esquecer... Mas eles não sabiam disso. E assim deveriam continuar.

Sequer mexeu a cabeça para cumprimentá-los.

- Vamos direto ao assunto, Dumbledore: Por que você me chamou aqui?

- A razão que te trouxe aqui... Nesse ano ninguém se candidatou ao cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Ele pausou. Ela ergueu uma sobrancelha.

- Sim, mas o que eu tenho haver com isso?

Ele assentiu. Limpou a garganta antes de continuar.

- Voldemort está de volta, como você deve ter escutado.

Ela estremeceu... Aquele nome... Como tinha rezado para nuca mais ouvi-lo.

- Certo.

- E, além disso, diz a lenda que o cargo é amaldiç...

- Não é lenda! – Ela interrompeu, séria. Os outros dois ocupantes da mesa a olharam com antipatia: como ela ousara interromper Dumbledore?

O velho, por sua vez, sorriu.

- Tudo bem, Gwen, do que todos pensam ser uma lenda.

Ela se irritou. Passou a mão entre os cabelos e bufou.

- Dumbledore, já faz muito tempo que eu me desliguei de você, de Hogwarts e de... tudo que tenha qualquer ligação com esses. Não gostei de ter sido chamada para essa reunião, mesmo assim, depois de muito refletir, vim. Agora, seria muito bom se o senhor parasse de enrolar e fosse direto ao assunto!

A senhora abriu a boca para protestar, mas ele não deixou.

- Muito bem. Eu imaginei que seria melhor lhe preparar para a notícia, mas você já é bem crescidinha para agüentar. Severo Snape vai ensinar Defesa.

E foi só ouvir aquele nome para que a máscara da mulher caísse. Os seus olhos agora revelavam claramente a mais profunda tristeza. Uma tímida lágrima escorreu pelo belo rosto. Não estava preparada para isto... Ouvir o nome dele... Era demais. Tanto tempo... Tantas emoções que ela vinha sufocando... Aquele velho não tinha o direito de trazer tudo aquilo à tona.

Ainda em choque, ela disse, num fio de voz.

- Você não pode dar esse cargo a ele... – Voltou a observar o velho. A voz, agora, mais firme. – Você sabe que não pode!

- Foi a única solução que eu encontrei. Os alunos não podem ficar sem as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas nesse momento. Seria extremamente perigoso!

Ela se calou. Ele estava certo. Mas... Se ela bem conhecia Severo Snape, nesse exato momento ele estava espionando o Lorde das Trevas... Dar um cargo amaldiçoado a ele, seria como condená-lo a morte.

Esse pensamento a fez derramar mais uma lágrima.

E, por fim, tomou uma decisão. Respirou fundo e disse:

- Ele não é mais o único candidato à vaga. Eu serei a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.

A senhora, até então se segurando para não bombardear aquela mulher metida e arrogante com algumas verdades, sentiu que estava na hora de falar.

- Sinto muito – Disse McGonagall em tom inquisitório. – Mas não é assim que escolhemos os nossos professores! Você não pode simplesmente dizer que o cargo é seu! Temos primeiro que testar suas habilidades, analis...

- Minerva, – interrompeu o velho – Guinevere tem mais habilidades em Defesa Contra as Artes das Trevas que qualquer um de nós. Ela esteve perto do mal de uma tal maneira que jamais pensamos em estar. Agora... – ele se voltou para a mulher de olhar triste, porém decidido – Gwen, você sabe que em Hogwarts você estará correndo muito risco, não sabe?

Ela assentiu.

- Sei. E estou disposta a isso. Dumbledore, eu já me escondi por tempo demais!

Ele sorriu paternalmente.

- Isso mostra que eu não te julguei mal, minha criança. No fundo, tinha certeza de que você tomaria essa decisão e pouparia a vida do nosso querido mestre de poções. O cargo é seu.

Ela deu um sorriso amarelo... E então retomou a sua expressão fria, tal qual a de quando entrou no bar. Levantou-se.

- Obrigada! – disse formalmente – Agora eu tenho que ir! Tenho que cuidar da minha família.

E sem se despedir ela saiu do bar e desaparatou.

XxXxXxX

O homem acordou num sobressalto quando o estampido de uma bruxa aparatando ecoou pelo quarto. Passado o susto, ele se sentou em sua cama e sorriu.

- Por que você não usa carros e chaves, como as pessoas normais, Gwen?

Com um simples toque da sua varinha, ela se enxugou.

- Porque eu não sou uma pessoa normal, Michael. Bem cedo pegamos o avião para a França. Se não estivermos cansados demais, quero comprar o material de Igraine ainda amanhã.

- E por que a nossa filha não aproveita o material do irmão? Convenhamos, Arthur é só um ano mais velho que ela!

- Não vai aproveitar pelo mesmo motivo que Arthur não aproveita o material de Vivianne: Nós vamos, mas uma vez, doar o material velho. Ca-ri-da-de! Conhece?

Ele rolou os olhos.

- Já ouvi falar... - Ele riu. Mas a sua mulher não o acompanhou... Isso nunca acontecia – O que aconteceu?

- Nada... – ela mentiu. – Talvez eu esteja um pouco cansada.

Ele a analisou. Não era isso. Algo de muito errado acontecera nessa saída noturna. Ela dissera que era apenas um encontro com velhos amigos... Pessoas da vida que ela tinha deixado para trás antes de conhecê-lo... Mas ele, vendo o estado dela nesse momento, não acreditava em uma só palavra.

Mas sabia que a mulher não falaria nada. Ela nunca falava do seu passado... Sempre dizia que a vida tinha começado quando o conhecera... Não queria aborrecê-la. Decidiu voltar ao assunto anterior.

- Bom, nossas malas e as das crianças estão prontas! Gwen, você não acha melhor nos mudarmos para a França? Assim nós ficaríamos perto delas!

- Ótima idéia, Michael! É, eu quero, sim, que você se mude para a França!

- Como assim? E você?

Ela tentou sorrir.

- Não posso! Essa é a grande novidade que trago do meu encontro. Vou ser professora da escola inglesa...

- E nós vamos ficar separados?

Ela sentou-se na cama e deu um longo suspiro. Era agora... Tinha que abrir o jogo...

- Michael – ela disse com cuidado, para não machucá-lo muito. – Há tempos eu venho te dizendo que a minha vida começou com você... É a mais pura verdade. – aproximou-se dele – A minha vida... Essa vida começou com você... Eu pensei que pudesse ignorar o que tinha acontecido antes... Mas não. Meu passado, hoje, me chamou. A minha vida passada se mostrou prestes a recomeçar e...

- E não há espaço para mim nessa vida – ele concluiu.

E o que ela podia dizer, se aquela era a mais pura verdade? Não tinha espaço para ele. Tristemente, ela apenas assentiu.

- Eu nunca escondi de você que não o amava.

Ele sorriu, tristemente.

- Eu ainda acho que seria mais feliz se você tivesse mentido.

Ela se aproximou ainda mais dele. Segurou a sua mão.

- Não é justo com você. Eu não posso continuar esse casamento, fingindo para você que nada aconteceu.

- Você vai reencontrá-lo, não vai? O grande amor da sua vida.

- Eventualmente.

Ele se levantou da cama. Lutava contra as lágrimas, ela podia ver claramente. Era tão fácil para ela captar as emoções humanas... E isso partia o seu coração ás vezes.

- Tudo bem. Não posso dizer que não esperava por isso. Acho que previ desde o momento que você saiu dizendo que reencontraria uns amigos do seu passado obscuro – ele caminhou até a porta. – Bom, eu ficarei no quarto dos hóspedes. – saiu... E voltou – O que faremos durante as férias?

- Se você concordar, passaremos juntos, como amigos... Para o bem das crianças.

- Claro que eu concordo. Boa noite.

- Boa noite!

E Michael finalmente deixou o quarto.

Ela apressou-se em trancar a porta... E então, correu para a cama e chorou... Sozinha, não tinha que conter as lágrimas... Sozinha, não tinha que fingir... Sozinha, podia botar para fora tudo o que estava sentindo...

Pena que o motivo do choro não tinha nada haver com a sua separação.

XxXxXxX


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