Depois que Você se Foi escrita por murilo


Capítulo 1
Re-Começo, Re-trocesso


Notas iniciais do capítulo

primeiro capítulo, não costumo escrevê-los tão pequenos... mas acho que este já estava bom de informações. ja escrevo mais. prometo não parar pela metade e... (LÊ ATÉ O FIM)



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Era estranho estar ali... As batidas descompassadas do coração, o vento frio sobre a pele, as ondas lá em baixo, tudo me vinha tão forte! Parecia que eu esperava por aquele momento toda a minha vida, ou que tudo o que vivi tinha de acabar ali. Não sei; mas a beira daquele precipício era algo mais que apenas uma morte certa. Era... era,  um lugar confortante, era... feliz. Sorri.

Algumas lembranças ainda teimavam em dançar sobre a minha cabeça, como a primeira vez que vi Pedro nu, sobre a minha cama. Eu era tão bobo! As minhas bochechas sempre coravam quando ele ficava sem roupa. Sempre! Até anos depois, um pouco antes de ele morrer. Abri os braços... bem como Pedro fazia quando corria para o meu abraço, era inquietante o fato de ele não poder estar ali, para ver como eu fazia tão parecido. Sussurrei alguma coisa sem sentido, algo como: “chegou a hora.”

Fechei os braços, apertei bem as mãos, punhos bem cerrados. As imagens à minha frente se distorceram um pouco, as lágrimas correram com pressa. O último suspiro. Pulei.

*****

Tudo estava escuro, mas em algum lugar por ali parecia haver gente demais... Havia gritos, choro... e algo mais que não conseguia compreender. Por mais que eu tentasse, meus olhos ainda não abriam.

Um soco sobre meu peito. Quis gritar pra que calassem, que me deixassem, mas a voz não saía. Outro soco, seguido de uma boca fria sobre os meus lábios. Um sopro. Um soco. Me sacudiam.

_Pedro? – A voz saiu, sem que eu deixasse

Gritos, palmas... mais desespero.

_Ele está vivo! – Era a voz mais próxima a mim _Afastem!

Fiz força para abrir os olhos, e pouco a pouco as coisas foram tomando forma. Era a praia, os coqueiros, e talvez metade da cidade me encarando. Me encolhi.

_Meu Deus! Menino, você sabe a sorte que você tem? – Era uma mulher que se agachava ao lado do homem que devia ter me ressuscitado.

Olhei para todos os cantos, sem responder. Meus olhos corriam de curioso à curioso. Avistei o mar, rindo da minha incapacidade. Será que eu era tão inútil de não conseguir ao menos... morrer? Se muitos que amavam a vida, acabavam morrendo, mesmo sem querer. Até o Pedro que... Droga, eu era mesmo um inútil.

_Eu quero ir embora! – Disse, a voz baixa

O homem, que ainda me apoiava com os braços, balançou a cabeça num gesto estranho, como que pedindo espaço. Ninguém entendeu, ou fingiu não entender, pois não saíram do lugar.

_Onde você mora? – A mulher tornou a falar, agora passando a mão sobre o meu cabelo _Eu te levo. Você não pode ir sozinho assim... cheio de areia, fraco desse jeito.

Tentei me sentar, a primeira fileira de espectadores se afastou alguns passos. O homem me ajudou, e tentou falar alguma coisa, mas foi impedido por mim.

_Não. Eu quero ir sozinho! A minha mãe vai se assustar quando ver eu chegar com esse tanto de gente em casa. – Tenho certeza que duas ou três pessoas riram por ali

O homem me olhou por um instante, e disse, talvez mais sem graça que eu:

_Você pode ir se limpar lá em casa, mais tarde, quando tiver melhor... você vai pra sua casa.

Fiz que não com a cabeça, e tentei me levantar, com dificuldade. Fiquei de pé, o sol vinha forte sobre os meus olhos. As pessoas disseram alguma coisa, e foram ficando tortas, fora de foco, e cada vez mais distantes. Caí. E é claro... mais gritos. Novos espectadores vinham se aproximando. Novos sussurros: “Que ta acontecendo? Ele bebeu?” “Ta bêbado?”

Caído, as imagens tomaram seu lugar correto. Foi quando o homem me olhou novamente, ainda sério, e preocupado, tornou a falar:

_Você tem certeza que não acha melhor...?

_Me tira daqui. – Disse cortando-o

Mais rápido até do que eu esperava ele me puxou pelos ombros e me tirou do chão, como se carrega uma criança machucada. As minhas bochechas coraram. Eu não podia estar sendo carregado com tanta gente me vendo.

A multidão foi dando espaço, e ele me levou pro lado da rua. Algumas pessoas insistiam em me perguntar se eu não sabia nadar, ou algumas mais preocupadas, se eu tinha o telefone da minha família.

_É aquele carro ali, você abre pra mim? – O homem disse à mulher que ainda nos acompanhava, preocupada

O carro era preto, grande, do jeito que o Pedro pretendia comprar... Ele me colocou sentado no banco do carona e correu para sentar ao meu lado. Trocou olhares rápidos com a mulher, que ficou ali no asfalto, e partiu o carro. A multidão assistia aflita ali do lado, querendo ver o desfecho da “Novela de Domingo de Manhã”, algumas crianças até correram atrás do carro por alguns instantes. E seguimos, calados, sem ao menos encararmos um ao outro.


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Notas finais do capítulo

ja escrevo mais. prometo não parar pela metade... té breve



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