Coração de Porcelana escrita por jminho


Capítulo 7
Capítulo 7 - Onde o 'nós' começou.




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 Sophia andava pela rua agora sem segurar a mão de Stefan.
           O calor insuportável de alguns minutos atrás se dissipou em um céu mais escuro – as maiores nuvens cobriam a luz do sol – e o vento era forte, mas não gelado. Refrescava.
           O garoto estava com uma blusa de frio, parecia que já sabia da mudança de tempo repentina que tanto estava acontecendo agora.
           Já Sophia nem ligou, ela amava sentir o que ela não podia ver –tudo – então a mudança de tempo era emocionante para ela, a mesma podia sentir o calor diminuindo tão de vagar que causava certo conforto em sua pele clara.

           - Hey – começou ele, tentando achar as palavras certas – Parece que conhece essas ruas de cor! Nem mesmo precisa de mim – as palavras tinham um fundo triste que nem ele percebeu – Como faz isso?

 Ele estava curioso para conhecer o mundo da garota, ele não entendia muito bem, mas olhando para os olhos dela, ele podia sentir que sua alma vivia em harmonia. Que ela era feliz do jeito que ela era. Para que reclamar?
          Só que ele queria entendê-la, queria sentir a mesma felicidade que ela. Queria senti-la.

- Bem... – começou. Cada passo cuidadoso sobre a rua de cimento. Os olhos vendo o nada – é como na escola, Stefan. Eu simplesmente decorei. A minha mente pode imaginar tudo que eu toco, pode desenhar para mim. Lógico que, não é a mesma coisa de ver, mas te deixa com mais expectativas – ela riu.

Ele não respondeu. Balançou a cabeça e esperou que ela continuasse.

- Então como passo por aqui todo dia, já tenho um desenho pronto desse caminho em minha mente. Posso confiar nele. A não ser se alguém mude algo de lugar. Isso minha mente não pode adivinhar.
          - Como o lixo – concordou ele.
          - Como o lixo – concordou também.

Por um momento Sophia sentiu algo correr por seu corpo, era como uma felicidade que queimava todos os órgãos mais sensíveis. Ele estava querendo saber sobre o mundinho pequeno e limitado dela. Ele não ligava para o dele, mas para o dela.
          Seus olhos ameaçaram lançar algumas gotas de água por seu rosto, Sophia não deixou. Mas ela estava comovida de como o garoto a tratava. A primeira pessoa – depois de Melissa – que a tratava assim.               Era algo diferente... Ele era um garoto, e isso soava algo mais difícil de acontecer do que com uma garota. Ela se surpreendeu com a simpatia dele, com o carinho, com o respeito. Coisa que não ganhou de nenhum homem antes, pelo contrário, recebeu muita rejeição vinda de seu pai – o que a fez sofrer, logicamente – mas agora era como se Stefan tivesse tirando com as próprias mãos o sofrimento dela em relação a isso.
           Sophia estava grata. Muito grata por conhecê-lo.
           Mesmo sendo estranho ela sentir tantas coisas dentro dela com pouco tempo perto dele. Ela o havia conhecido no mesmo dia!
           Era estranho e confuso para ela, mas eu sabia que isso não a impediria de ficar perto dele. 

- Eu entendo – Stefan olhou para o nada, junto com Sophia. Mas a mesma de repente parou para virar o rosto para ele. Pensando que seus olhos estavam direcionados para a face do garoto. Mas mesmo não vendo, ela pôde imaginar – Hey – ele riu e puxou o queixo dela um pouco para cima – Gosto de ver seus olhos ok?
          - Oh, desculpe. É que você é alto!
          - Aham! – gargalhou uma tempestade luxuosa – Você que é baixa Soph.

- Ah, bem, isso explica muitas coisas... – brincou.

Como crianças, riram novamente.
          Eu sorri em vê-los assim, mas logo esse sorriso se transformou em uma careta.
          Stefan levantou os ombros e mordeu os lábios enquanto engolia o bolo de perguntas preso em sua garganta.

- Pode perguntar – eles continuaram andando. Ele ficou assustado por ela perceber e soltou os ombros que estavam tensos.
          - Como você faz... Isso?

Ela entendeu e riu baixo para ele.

- Senti você se mexer um pouco de vagar e sua respiração ficar um pouco mais nervosa. Isso dá um bom palpite: Nervosismo.
          - Ótimo Sherlock Holmes!  - disse brincalhão para ela – Continue, por favor – implorou.
          - Tudo bem. Deve haver uma praça por aqui – Sophia apontou para algo ao lado de Stefan, os olhos encaravam o nada em sua frente –, imagino eu, que é linda e perfeita!

Stefan virou o rosto de vagar para encarar o lugar onde Sophia apontava. Estava um pouco mais à frente, mas não tinha problema.
          E não, para ele, não era nada de lindo ou perfeito.
          Os bancos estavam quebrados, a praça cheia de folhas e flores mortas no chão. As pombas perambulavam por lá sem preocupação. E havia só uma árvore em estado bom, mas suas flores não tinham a cor tão forte. Não, não era perfeita.
          Ele suspirou, imaginou se a garota se entristeceria caso pudesse ver aquilo um dia. Mas afastou o pensamento, não queria ver o rosto dela curvado em uma careta triste. Não mesmo.

Não sabia porque se sentia assim, mas não era algo que ele pudesse mudar.
          Antes mesmo de voltar de seus pensamentos, ele pode perceber que Sophia já havia atravessado a rua – com cuidado, as mãos estendidas – e agora estava subindo a calçada para entrar na praça destruída e mal cuidada.
          Ele colocou as mãos no bolso da jaqueta e correu para se manter ao lado dela de novo, com medo que algo pudesse acontecer com a garota.

- Meu lugar predileto! – sussurrou ela, mas Stefan pode ouvir claramente. Ela se lançou para a árvore mais “bem cuidada” que se localizava bem no meio da praça. E colocou suas mãos delicadas na mesma – Essa árvore tem uma estrutura áspera, talvez não muito boa para apalpar, mas o ar que posso sentir saindo dela... Um ar tão puro, que meus pulmões têm o prazer de receber... O som que as folhas fazem ao se sacudirem ao vento. E é por isso que é linda! – ela agachou e tocou o chão cheio de folhas até encontrar uma flor morta. Passou os dedos trêmulos pelas pétalas macias – Deve ser linda – sussurrou e a colocou atrás da orelha.

Stefan ficou boquiaberto enquanto a garota perambulava quase dançando pela praça, que em sua mente era a mais bonita do mundo inteiro. Mas, ele pode entender o que ela queria dizer com bonito.
          Stefan teve que ignorar o soco na cara enquanto via o que Sophia via. Ela não queria saber a cor ou o estado em que estavam. Ela via o que aquela coisa era, o que proporcionava. Ela via o que alguém que pode enxergar não via. Isso o deixou maravilhado, tanto pelas palavras quanto pela garota que estava ali, em sua frente. Feliz como se tivesse em um parque de diversão.
         Sophia bateu a perna em um banco e parou, isso fez com que Stefan quase se lançasse ao seu encontro, pronto para segurá-la se ela perdesse o equilíbrio. Mas ela simplesmente parou, sorriu e esticou as mãos para tocar o que havia acabado de descobrir.

- Olhe Stefan! – disse cantarolando – É um banco?
          - É sim, Soph.
          - Oh! Não havia decorado ele ai... – ela se sentou no banco, a sorte era que ele era o mais conservado da praça.

Stefan deixou que seus olhos brilhassem ao ver a garota confiar nele, contar como era o mundo dela. Ele sabia que estava apaixonado pelo mundo dela... E talvez, por ela. Mesmo sendo meio prematuro.
          Eu sorri, estava satisfeita.
          Ele caminhou lentamente, ainda com as mãos nos bolsos e se sentou ao lado dela. Ele encarou o perfil de Sophia, os olhos dela passeavam ser ver.

- Estou feliz por saber que confia em mim Soph... Saiba que sempre poderá ser assim.
         - Hey! – ela saltou como se uma idéia tivesse lhe dado um choque e se virou para ele, os olhos encaravam algo atrás de seu ombro – Posso decorá-lo? – disse antes que seu sangue subisse para as maças de seu rosto. Seria tarde de mais.
        - Desculpe? – parte da confusão era porque ele realmente não havia entendido o sentido daquelas palavras, mas a outra parte era porque havia se perdido no rosto dela.
        - Eu vejo com o tato Stefan – lembrou-lhe.

Ele entendeu o que ela queria.
          Sophia queria senti-lo. Queria que sua mente pudesse desenhá-lo para que ela nunca mais pudesse esquecê-lo.
          Eu sabia que não havia como qualquer um dos dois esquecer.      Não era a mente deles que guardava o outro, era o coração.


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