O grupo de amigos estava unido, como sempre acontecia nas tardes de sexta-feira. Todos saíam da escola e corriam para aquela praça no meio da cidade, onde poderiam se divertir.

Mas aquele dia estava diferente. Não havia nada novo para fazerem.

– Onii-san, eu estou entediada – resmungou Rin para seu gêmeo Len.

– Não se preocupe, Rin-chan, vamos pensar em algo – confortou-a Len.

Miku olhava para o nada com cara de pensativa. Sempre era ela que tinha as ideias, então o grupo esperava que pudesse ter a solução para acabar com o tédio. Mas, dessa vez, parecia que não conseguia pensar em nada.

– E se... Ah, não, isso já fizemos da última vez... – murmurava de tempos em tempos.

Luka parecia ser a única dispersa. Olhava para o chão como se procurasse algo importante, mas não estava procurando nada, apenas não queria fitar seus amigos.

Mas então avistou algo sendo carregado pelo vento, algo branco e leve, que prendeu sua atenção. Levantou os olhos a tempo de ver a folha cair a sua frente.

– Mas o que é isso...? – perguntou em voz baixa, enquanto pegava a folha.

Não era muito grande, era um panfleto, na verdade. Apenas branco no verso, que era a parte que a pequena avistou flutuando. Virou o panfleto para assim ver o que estava escrito na frente. E então se animou.

– Gente, já sei o que podemos fazer – anunciou em voz alta, erguendo o panfleto.

– O que é isso, Luka? – perguntou Miku, se aproximando da pequena de cabelos rosa.

– Vai acontecer um concurso de canto na cidade buscando novos talentos, podíamos entrar – Luka sorriu.

– Huum... – Miku analisou o panfleto por alguns segundos; andou em círculos; e voltou a fitar a garota. – Não é má ideia. Estão de acordo, Rin e Len?

– Claro! – gritaram os gêmeos em uníssono.

– Então vamos praticar começando hoje.

As quatro crianças formaram uma fila, um do lado outro e começaram a cantar alegremente uma música conhecida, chamando a atenção das pessoas que passavam. Todos observavam aquelas crianças, que tinham no máximo dez anos, e paravam por alguns minutos para assistir.

A atenção do público se focava na garota de cabelos verdes, a voz mais destacada do grupo. A mais graciosa; mais bonita; mais encantadora.

Mas não percebiam a minúscula garota de cabelos rosa, a tímida e pequena, que apenas cantava quieta em seu canto. Sua voz não se destacava, nem mesmo era possível ouvi-la.

85 cm de raio é a distância que minha voz consegue alcançar

A partir de agora, eu vou cantar sem parar. Por isso, é melhor se afastar

No dia seguinte, a pequena Luka se dirigiu à casa de seu professor de música da escola. Já sabia onde o encontrar, pois já havia ido comer lanches em sua casa, o caminho não era complicado.

Tocou a campainha um pouco hesitante e esperou seu professor vir abrir porta. O que não demorou muito. Segundos depois, o alto homem de longos cabelos roxos presos num rabo-de-cavalo estava na porta.

– Luka? O que está fazendo aqui em pleno Sábado? – estranhou.

– Vim pedir um favor, Kamui-sensei... Preciso que me ensine a cantar.

O homem levantou uma sobrancelha e fitou a garotinha. Não era comum um aluno lhe pedir aquilo, havia acontecido apenas uma vez... E havia sido justamente a mãe da garota.

– Entre, por favor – pediu ele, dando espaço para a garota entrar na casa.

Dirigiram-se até o sofá, onde sentaram-se. O professor gritou algo relacionado ao preparo de um suco para alguém na cozinha, e uma voz feminina assentiu.

– Então, por que gostaria de aulas de canto, Luka? – começou ele, mirando os olhos azuis de Luka.

– Bom, sensei, é que... – ela se embaralhou um pouco, sem saber como começar. – Eu quero participar de uma seleção para novos talentos.

– Novos talentos? – seu professor levantou uma sobrancelha. – Interessante, pequena Luka, mas sua voz é muito bonita, por que quer aulas?

– É que canto muito baixinho, sensei, ninguém vai me escutar...

– Ah, entendo...

Nesse momento, uma mulher de cabelos curtos e castanhos saiu da cozinha. Carregava uma jarra de suco e exibia um sorriso.

– Olá – ela cumprimentou Luka, que sorriu de volta apenas. – Gakupo, essa é a garota que disse ter uma bela voz?

– Sim, Meiko. Estava me pedindo aulas de canto.

Meiko voltou a olhar a garota, e sorriu novamente.

– Ah, ótima ideia pedir ao Gakupo, ele é o melhor professor de canto que existe.

– Meiko... – repreendeu-a Gakupo.

– Que foi? Estou sendo sincera – ela riu, beijando-lhe levemente os lábios.

Luka corou ao ver a cena e desviou o olhar. Era jovem, mas sabia que era falta de educação observar as pessoas em momentos como esse.

– Certo, Luka, vamos começar as aulas amanhã – disse o professor, voltando a falar como se nada tivesse acontecido.

– Domingo?

– Sim. Não é melhor começar logo?

– Bom, é...

– Então está resolvido – e colocou suco em um copo e estendeu-o para a garota.

~x~

Foi divertido cantar, eu não queria fazer outra coisa

Eu cantava cada vez mais, e me esqueci de como parar

No dia seguinte teve a primeira aula. E não gostou.

Gakupo pediu-lhe diversas vezes que cantasse um trecho da música em notas mais altas e, em seguida, em notas mais baixas.

Subiu e desceu com as notas tantas vezes que sentiu sua garganta um pouco estranha.

Sentiu-se aliviada quando o horário da aula terminou e teve que se despedir do professor.

– Quando teremos a próxima aula, sensei? – perguntou, preparando-se para sair da casa.

– Apenas sexta-feira. Irei te dar um descanso.

Despediram-se e Luka rumou para a praça, onde encontraria seus amigos para ensaiarem.

– Luka! Finalmente chegou! – exclamou Miku ao longe quando avistou a garota.

– Desculpem o atraso...

– Tudo bem, vamos ensaiar.

Dessa vez, Luka se sentia mais confiante. Quando começaram, fez o máximo para manter sua voz mais alta, mas o esforço foi inútil, sua voz continuou sendo coberta pela voz de Miku.

250 cm de raio é a distância que minha voz consegue alcançar

A partir de agora, eu vou cantar sem parar. Por isso, é melhor se afastar

A multidão novamente se juntou, mas, novamente, só olhavam para Miku e, raramente, para os gêmeos, que conquistavam o público com expressões meigas.

Mas Luka não se destacava de nenhuma maneira.

Não conseguia cantar alto, não era meiga como os gêmeos, não tinha carisma como Miku...

– Não adianta – disse ela, logo em seguida saindo dali apressadamente.

Meus amigos cantavam melhor do que eu

Então eu murmurava: "Não adianta", e fingia desistir

Cantar era sua paixão, mesmo que sua voz não fosse escutada por quase ninguém. Sensei sempre dizia, não é? Que as coisas mais belas são mais ocultas. Talvez fosse assim com sua voz.

Então estava decidida. Antes de ir para a aula de canto sexta-feira, preencheu o documento do concurso de canto e depositou no correio.

Olhando para aquela caixa azul onde havia colocado sua carta, Luka perguntava-se se havia sido boa ideia.

Foi muito divertido cantar, eu queria ficar assim

Se eu continuasse cantando, talvez podia ser recompensada

Virou-se, pronta para ir até a casa de seu sensei, mas algo a parou.

A sua frente, havia um enorme cartaz com uma sorridente garota de cabelos verdes, seguido de seu nome: "Hatsune Miku".

Faltava apenas aquilo para melhorar seu dia.

E, como se estivesse lendo os pensamentos da menina, Miku apareceu.

– Ei, Luka, estávamos te esperando – ela se aproximou da garota.

– Desde quando isso está aqui? – perguntou Luka, apontando com o dedo vacilante o grande cartaz.

– Ah, pouco tempo. Fiz uma audição esses dias e passei – Miku sorriu e colocou a mão no ombro da pequena.

E a pequena não respondeu, apenas começou a correr para longe da garota de cabelos verdes.

– Onde vai? – gritou ao longe.

– Meu pescoço está doendo.

Meus amigos podiam atingir uma distância bem maior do que a minha

Então eu fingia estar de mau humor, dizendo que meu pescoço estava doendo