Alone

Allen Walker

Sozinho. Eu estou sozinho. Lenalee. Jhonny. Lavi. Mestre. Crowley. Miranda. Komui... Kanda. Todos. Ninguém. Eu estou só. Mas penso que é melhor assim, afinal, distante deles eu não serei responsável por suas mortes ou por matá-los com minhas próprias mãos. Encosto-me ao piano branco da sala, sentindo sua superfície gélida entrar em contato com minha pele sem proteção. Fixo meu olhar na parede inteiramente branca a minha frente, procurando qualquer detalhe que pudesse me entreter nem que seja por um milésimo de segundo. Qualquer um. Eu só não quero escutar mais isso. A ausência de som. O silêncio do quarto é esmagador. Como se estivesse se tornando uma tortura incessante, que perduraria pela eternidade, mesmo que eu desejasse profundamente acabar com ela.

                Lembranças passam em minha mente, e fazem com que a dor acerte novamente o meu peito com uma força estridente e avassaladora. Cansado, me deixo ser levado para a escuridão atrás de minhas pálpebras. Dói. Vejo os rostos de todos aqueles que amo e a Ordem logo atrás. Deus. O que eu fiz para merecer isso? É. Pergunto-me isso há tempos, mas acho que não há uma resposta inteiramente significativa agora. Mana, o que eu posso fazer? Com quem posso contar agora? Eu estou tão só.

                Uma angustia me ataca, me fazendo estremecer violentamente e me agarrar ao meu corpo com força. Frio. Tudo está tão frio. A solidão é mais angustiante e triste do que se é retratada em histórias e poemas. O pensamento de que se perdeu tudo é doloroso, e isso me faz querer gritar desesperadamente para que ele me abandone e me deixe só. Isso me dilacera com uma brutalidade absurda, me cortando aos poucos e assim me causando crises de insanidade incomuns.

                Medo. Eu sei o caminho que devo seguir, mas tenho medo. Eu perdi tantos. Eu perdi tudo. Mana. Mestre. Lenalee. Lavi. Kanda. Todos. O que eu posso fazer agora? Eu não sei. Patético. Como posso ter tido coragem de abandoná-los e agora entrar numa crise existencial patética como essa? Alguém aqui pode me responder?

“ALGUÉM!”, grito para o branco, e a única resposta que escuto é o bater de asas do Timcampy.

                Silêncio. Novamente o mesmo silêncio aterrorizante que escuto há dias aqui. Estou perdido. Perdido em minha própria falta de razão. Por Heblaska. O que eu estou fazendo? O que andei fazendo por tanto tempo? Perdido. Estou completamente perdido.  

                Lembro-me de quando salvei Kanda e o protegi em algum lugar daqui. Porque não posso encontrá-lo? Apenas mais uma vez. Apenas para que eu possa lhe dizer tudo que sinto com sua ausência e desabar os sentimentos mais doentios que tenho tido esses tempos. Seria culpa do 14º? O ódio envolvente que tenho nutrido. A raiva doentia que tenho criado. Por favor, eu não consigo entender. Alguém me responda. Por qual pecado estou tendo de me redimir para passar por isso!

                Deito-me no sofá, largando-me sobre sua textura quente e macia. Preciso dormir. Preciso esquecer. Preciso encontrar um jeito de me manter são, antes que eu destrua tudo que consegui construir ao decorrer de tantos anos. Se tem piedade ainda, me faça dormir. Eu imploro. Mande essa dor embora, eu preciso. É a ultima coisa que lhe peço. A afaste de mim. Apenas por um breve momento.

                Isso. Faça-me cair na escuridão e não acordar dela. Pelo menos por um pouco de tempo. Para o início do meu fim.