Death 2 (one-shot) escrita por AArK


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Death 1 e 2 não têm nenhuma conexão uma com a outra. Apenas o assunto é "basicamente o mesmo". Mas, de resto, não tem nada a ver...



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Estava a esperar na porta do apt. Ela abriu a porta, a idosa, com cheirinho de sabonete e vestidos  estampados de flores, como panos de mesa. Eu entrei. Nós sentamos em suas poltronas. Era  tudo muito familiar. Ela era familiar. Ela perguntou se eu queria chá, e eu aceitei. Ela fez chá pra  nós duas. Bebemos e então, com um sorriso triste, ela me mostrou fotos que ela guardava na  gaveta de sua mesa de cabeceira. Seus filhos, seus netos... Todos estavam lá. E ela olhou pras  fotos com lágrimas nos olhos. Mas então, novamente, ela sorriu e disse:


- Estou pronta. Todos já estão crescidos o suficiente pra se cuidar. Então... Eu realmente não  tenho mais nenhum objetivo aqui. - Ela disse, e então, me olhou com uma confiança que você não  vê fácil em um idoso. Dei-lhe um sorriso complacente e então, pus a mão em seu ombro.


Saí dali, deixando a porta entre-aberta pro próximo que surgisse. Eles precisavam reconhecer seu  corpo e as causas de sua morte. Coloquei as mãos nos bolsos e fui andando, seguindo para o  próximo "trabalho".

...


Death 2


- Por favor, eu quero um pão com manteiga, com queijo e presunto, na chapa e um copo de café  com leite... - Eu disse, e então, a mulher que atendia no balcão me sorriu e então, me entregou  o que eu queria. Demorei um pouco de tempo pra poder adoçar o café. Ela me deu mais açúcar,  ainda, toda à sorrisos. Sorri pra ela de volta.


- E então, vai trabalhar? Está "enchendo o estômago" pra trabalhar? - Ela perguntou, curiosa.  Tinha os cabelos pintados de vermelhos e os olhos levemente verdes. Era muito bonita, mas  exagerava um pouco na maquiagem. Aquela hora da manhã, numa padaria, e seus lábios estavam  vermelho-vivos, como se estivesse indo para uma balada, de madrugada.
Fiz "sim" com a cabeça, e então, ela me pediu pra esperar (?) e logo voltou do fundo da loja com  um embrulho.


- Fiz outro sanduíche pra você. Fica por conta da casa. Pra você comer depois. - Disse ela, me  estendendo o embrulho dentro de um saco plástico. Senti-me meio envergonhada de sua  gentileza.


- O-obrigada. - Foi a única coisa que eu pude dizer, pegando o saco.
E então, resolvi que faria algo que não podia...


- Qual... Qual seu nome? - Perguntei, antes de partir, a chuva fina começava a tocar o chão da  cidade, e todos os homens de terno se apressavam com suas pastas sobre suas cabeças pra evitar  os respingos.


- Héra. - Ela disse. Interessante... Era diferente. Digo, eu já conhecia esse nome. A Deusa  Grega do Casamento. Mas era raro você ouví-lo assim, de graça, por aí. Sorri. Seu nome era tão  excêntrico quanto ela mesma. - E você? - Ela perguntou, parecia realmente interessada. Fiquei  um pouco preocupada.


- Meu... Meu nome é Uriel. - Meu nome também era incomum, mas... Fazia todo sentido. Ela  abriu os olhos com mais "vontade" quando o ouviu, e então, sorriu.


- Achei que eu era a única com um nome "diferente", mas vejo que você também é assim... -  Ela disse, e então, me presentiou com seu melhor sorriso, antes d'eu sair. E eu tinha mesmo que  ir logo. - Então... Volte mais aqui na padaria, Uriel. - Meu nome derreteu na sua boca vermelha,  eu sorri, sem graça, e me despedi com a cabeça.


Tive que ir correndo, pegando chuva... Sorte que eu trajava meu sobretudo-feminino.


... 


Horário de almoço. Eu não sabia exatamente pra onde ir. Eu estava sempre "viajando" e  conhecendo novos lugares naquela cidade inteira, então... Vez ou outra, eu realmente não sabia  como gastar meu tempo e meu dinheiro. Ou como "direcionar" os dois pra um meio prático,  porém sincero.


E então, eu a vi. Estava próxima a um carro. Passava. Estava arrumada... E realmente, excêntrica.  Suas unhas pintadas de verde-limão. Ela era mesmo um tanto "perua" com suas roupas, jóias,  maquiagem e etc. Mas isso era um charme nela. Devia ser de leão.


Passei por ela, torcendo pra que ela não me reconhecesse - mentira. E então, ela abriu aquele  sorrisão de dentes brancos.


- Uriel! - Lembrava-se até do meu estranho nome. Corei, assim que o ouvi. - Que incrível  coincidência nós duas nos encontrarmos de novo, não é!?


- P-pois é. - Eu disse, meio insegura. E então, ela deu uma piscadela e falou.


- Que tal se a gente almoçasse juntas!? Já almoçou!? Acabei de sair do trabalho! - Ela disse, e  então, eu fiz "não" com a cabeça e ela pareceu ter ficado feliz. - Então, vamos lá! Conheço um  restaurante ótimo! Baratinho e de boa qualidade!


Então, fomos. Almoçamos juntas. Conversamos bastante... Ela trabalhava na padaria apenas de  meio período, e dava aulas, o resto do dia para jovens e adultos. Ela era mesmo leonina. E ela  realmente gostava de falar. Eu era a pessoa mais calada da mesa, ela inclusive implicou comigo por  isso. E ela perguntou o que eu fazia também...


- Vamos! Fale alguma coisa, menina! Você é muito quieta! - Ela disse, sorrindo, e eu suspirei. - O  que você faz? Está sempre correndo, com pressa! Deve ser muito atarefada! - Eu ri, meio sem  jeito.


- Eu... Eu sou uma espécie de mensageira... De uma espécie de... De empresa. - Eu disse, e  então, ela riu.


- Você, com toda essa discrição, parece até que trabalha pro serviço secreto! - Ela disse, rindo,  tapando a boca vermelha bonita com a mão das unhas-limão.


- Hmmm... Mais ou menos. - Eu falei, fazendo-a rir mais ainda. Claro que ela não acreditou. E  que bom, por isso.


Em um momento, no almoço, rolou algo. Algo além de toda amizade e "ligação" que eu tive com  ela de cara. Eu pedi pra que ela passasse o sal para que eu pudesse salgar as batatas-fritas. E  bom... Nossas mãos se tocaram, e ela demorou mais tempo nisso do que supostamente deveria  demorar. E não só isso, nesse momento, ela me olhou tão profundamente... Que foi como se  me devorasse. Me senti nua. E senti um arrepio na espinha. Sorri, nervosamente.


E foi assim que passamos o primeiro dia juntas.


O primeiro de muitos.


...


Agora era assim... Todos os dias, antes de ir pro trabalho, mesmo que fosse longe, eu tomava  um trem, e ia à sua padaria. Com milhares de padarias na cidade, eu não conseguia faltar àquele  compromisso de todos os dias. Comer na sua companhia, na companhia de seu belo sorriso e seu  jeito extrovertido de ser.


- Então, está apressada hoje? - Ela perguntou, e eu fiz "sim" com a cabeça. Ela fez uma carinha  meio infeliz. - Nossa! Mas que droga! Logo hoje que eu saio mais cedo! Pensei que poderia passar  um tempo com você!
Fiquei nervosa. E tentada. Suspirei... E então, olhando pro chão, meio perdida, eu disse.


- Ok. Vamos então... - Eu disse, e então, sorri, confiantemente, pra ela. Ela abriu um dos  sorrisos mais lindos que já tinha aberto quando ouviu isso.


- Sério! - E então, ela perguntou com uma cara meio preocupada. - Mas não tem problema você  faltar o trabalho?


E então, eu ri:


- Sou autônoma.. - E então, ela riu também. E nós duas fomos pra sua casa. Tão excêntrica  quanto ela.


(E naquele dia, uma pessoa ganhou uma segunda chance...)


Era em um prédio, e até então, parecia extremamente normal para uma mulher como ela. Ela  tomou a dianteira, como uma boa leonina, e nós subimos no elevador. Dentro dele, ela encostou  sua mão na minha, e eu não quis me afastar disso, e deixei rolar... Chegamos no corredor de  apartamentos e ela me guiou até o seu. 203. Ela abriu a porta e qual não foi a surpresa...


Ele era bem excêntrico também, como eu disse.


Toda a decoração, o interior, cores fortes e vibrantes, enfeites cheios de personalidade, até  mesmo seus sofás que eram revestidos com uma espécie de couro-falso eram totalmente  chamativos e coloridos. Sorri. Era como estar "dentro dela". Er... Isso foi estranho. Ok.


- Bom... Bem-vinda à minha casa! - Ela disse, toda animada. E então, sem graça, me "enrolei"  ainda mais ao dizer.


- Tem seu cheiro. - E então, ela pareceu ter sido pega de surpresa, pois, ficou vermelha, mas  continuou confiante.


- Espero que seja bom, então... - Ela disse, sorrindo, e eu a respondi, um pouco mais solta  consigo, de tanto vê-la e conviver com ela.


- Sim. É. - E então, ela disse, meio que fugindo dos nossos flertes contínuos, por um segundo. - Você quer beber algo? Comer algo?


- Er... Não, eu estou bem. - Eu disse, e então, ela disse que ia pegar um café pra si. Aceitei o  café. Ela pegou, e nós sentamos, uma ao lado da outra, em seu sofá. Começamos a conversar  sobre tudo, novamente. 


E então, ela perguntou:


- Você... Hm... Tem namorado? - Ela disse, e então, eu levantei a sobrancelha. Nós duas ficamos  meio sem graça e rimos juntas. E então, eu fiz "não" com a cabeça. E ela sorriu de novo,  confirmando todos meus receios. - Bom, eu também não tenho...


- Não tem porque não quer... - Eu disse, concluindo meus "flertes" ainda mais. E ela riu.


- Pode ser... - E então, piscando os olhos verdes bonitos, disse. - Eu me considero bissexual. -  Ela era mesmo "aberta" pra tudo. - E você?


- Ahn... - E então, eu cocei o rosto como se isso me ajudasse a pensar. - Acredito que pra mim  o sexo não tenha nenhuma importância. A importância está na pessoa a qual estou interessada. -  E ela sorriu, concordando com a cabeça, e então, foi direta e sucinta.


- E, atualmente, está interessada em alguém? - Abri a boca, meio nervosa. Pensei em dizer algo,  mas foi difícil...


Não pelos meus sentimentos. Eles estavam bem claros... Pra mim e pra ela também, acho. Eu  me deslocar tanto assim, apenas pra vê-la em suas roupas de "padeira", com suas unhas coloridas e  sua boca vermelha a me chamar atenção. Era porque eu estava mesmo... Mesmo apaixonada.
O problema era que... Eu simplesmente não podia. E eu sabia disso.
Aquilo ia acabar me trazendo consequências ruins.


"Que seja eterno enquanto dure" pensei. Se eu não pudesse aproveitar aquilo pra sempre... Que  eu aproveitasse até a última gota, enquanto pudesse.


Inspirei e... Com coragem, disse:


- Você. - Simples assim. Eu a vi corar de novo, e novamente, ser pega, entre o lapso de  momentos, desarmada. Era linda de qualquer jeito... Forte e corajosa, ou frágil e desarmada.  Gostava de todos os seus lados.


Ela nem esperou... Sua mão tocou meu rosto e me puxou pra junto de si. E finalmente, minha  boca tocou aquela boca vermelha e expressiva, e então, ela começou a me dar um beijo que tirou o  meu ar. Eu nunca tinha sentido aquilo com um beijo antes... Foi o melhor beijo da minha vida. Ela  praticamente me engoliu - mas não de uma forma ruim, sua língua me dominou totalmente, seu  gosto (de café, no momento), sua saliva... Tudo... Tudo me dominou de uma forma chocante. E  quando fui notar...


Estávamos uma em cima da outra em seu sofá.


E logo fomos pra sua cama.


Nossas roupas, meu sobretudo, jogadas no chão... E nossos corpos se envolvendo, nus, nos lençóis.  Provei-a em todos os sentidos. E ela fez o mesmo comigo.


...


Era um dia cinza. Grafite escuro. As nuvens pesadas e carregadas. Os trovões. A água que  escoava em todas as ruas, em seus meio-fios... Parecia estar prevendo todas as coisas.


Cheguei na padaria... Antes da hora que ela chegava, ela tinha me informado disso. E então, para  um rapaz mais novo que também trabalhava com ela, entreguei uma carta lacrada. E então, lhe  disse, atentamente:


- Entregue-a àquela ruiva bonita, de olhos verdes e boca pintada de vermelho. - E então, ele fez  "sim" com a cabeça, totalmente subserviente.


E então, eu parti...


Naquele dia, ela chegou no trabalho e recebeu do garoto, que nem mesmo ousou abrir, aquela carta  lacrada. Que ela deslacrou e então, leu:
"Querida Héra,Se alguma coisa boa já aconteceu na minha vida, você resumiria isso. Todas as coisas boas... Todas  elas foi você quem trouxe a mim. Não há o que reclamar com relação a isso. Porém, devo lhe  informar de algo...


Sabe o trabalho que eu lhe disse que eu fazia? Bom... Eu levo pessoas ao seu destino, ao seu fim,  ao seu zero, ao seu nada, ao seu barro e pó. Sim, isso mesmo que você leu. E, antes mesmo de  conhecê-la, eu fui designada para fazê-lo com você.


Isso mesmo, eu ia matar você.


Só que eu precisava te conhecer melhor. Claro que eu não esperava que... Nos conhecêssemos  tão bem assim, quanto nos conhecemos.


Sei que está chocada agora, mas não pare de ler...


Não se engane. Não quero que se engane. Meu sentimento por você foi real. Foi intenso. Foi  absurdo. E inconcebível. Então, eu quero que saiba...


Eu realmente te amo.


Por isso, só por isso, eu decidi que não iria aceitar meu trabalho. Se eu apenas tivesse feito isso,  outra pessoa poderia tê-lo feito em meu lugar. Mas, além de rejeitar completamente a  possibilidade de lhe ferir, de "dizimar" todos seus sonhos, preferi me aproximar e viver  intensamente esta paixão com você.


Pelo menos, posso dizer com segurança que você está à salvo.


Espero que me perdoe... Mas, por causa disso, tive que te deixar. Ou era isso, ou era cumprir  meu objetivo. E eu escolhi você.


Sinto muito. E eu te amo. Mesmo.


Ass: Uriel, o anjo da morte"


Héra começou a chorar, no meio do trabalho, de soluçar, e as pessoas iam lhe acalmar com água  com açúcar e outras coisas do tipo. Ninguém havia entendido o porquê dela estar chorando tanto  assim... Porque, depois que observaram a carta que fora entregue por ela...


Esta estava totalmente em branco.


FIM.


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Notas finais do capítulo

That's all.