No dia seguinte nós não tínhamos nada pra fazer, então eu resolvi revirar os armários da cozinha em busca de alguma coisa pra comer.

- O que? Não tem chocolate? – Falei alto. –

- Acho que não. – Bill gritou da sala. –

- Como assim acho que não? Como assim não tem chocolate nessa casa? – Comecei a fazer drama. –

- Pensei que você comprasse isso toda semana...

- Mas é isso que eu vou fazer agora! – Peguei uma blusa que estava jogada em cima do sofá e saí. –

Ouvi Bill me chamar, mas eu já estava um pouco longe e precisava comprar alguma coisa de chocolate.

Fui a pé mesmo, o supermercado mais próximo era a dois quarteirões.

Cheguei lá e fui direto para a sessão de doces. Peguei uma cesta e fui colocando algumas coisas dentro.

Algumas pessoas começaram a aparecer, pedirem autógrafos e fotos. Quando me dei conta aquilo tinha começado a virar uma bagunça. Os seguranças do supermercado me expulsaram de lá e a rua estava lotada de gente gritando.

Não pensei duas vezes então liguei para o Bill ir me buscar.

Alguns minutos depois ele chegou, tentando não ser reconhecido e então eu entrei no carro. Já estava anoitecendo.

- Como é que você sai sem seguranças? – Perguntou irritado. –

Depois disso ele começou a me dar sermão enquanto dirigia. Tivemos que dar algumas voltas antes de voltar pra casa, já que poderíamos ser seguidos.

Ele falava o tempo todo irritado e eu já nem conseguia mais prestar atenção no que ele estava falando, a voz dele parecia estar ficando distante e minha vista ficando um pouco embaçada.

- Bill, para de falar um minuto? – Pedi baixo. –

- Não!

- Ótimo! – Quase subi por cima dele e pisei no freio, saindo do carro meio cambaleando e fui me afastando. –

- Hanna entra no carro! Hanna!

O ignorei totalmente e virei à esquina. Ele foi me seguindo até em casa.

- Agora dá pra me explicar por que é que você fez isso? – Perguntou fechando a porta um tanto brutalmente. –

- Se tivesse alguma coisa pra mim nessa casa talvez isso não tivesse acontecido. – Falei respirando fundo. –

- Não é a primeira vez que você faz isso... – Ele me encarava um tanto bravo. –

- Nessa casa não entra carne, chocolate e muitas outras coisas porque você não gosta. – comecei a alterar a voz – Não escuto mais as músicas que eu gosto porque é barulho de mais pra você, não saio mais porque você não gosta. Talvez se você não fosse tão egoísta essas coisas não aconteceriam! – Terminei gritando. –

Como antes eu já estava começando a me sentir mal, ao falar aquilo senti como se meu corpo fosse empurrado, mas o sofá me impediu de ir direto para o chão.

- Hanna você ta bem? – Me ajudou e ficar de pé. –

- To, e ainda to com raiva de você. – Consegui firmar minhas pernas novamente e subi a escada, o deixando na sala. –

Entrei no banheiro me apoiando na pia. Senti como se eu fosse desmaiar, me virei e fui andando na direção da cama, me jogando sobre ela.

- Você não acha melhor ir pro hospital? – Escutei a voz de Bill um tanto distante. –

- Eu to bem. – Falei com a voz abafada por estar deitada de bruços. –

- Bem? Olha só o teu estado, você não tem nem cor e ainda chama isso de bem? – Disse se sentando ao meu lado. –

- Já to melhorando...

- Ah to vendo mesmo...Não quero nem saber, você vai num médico! Já é a terceira ou quarta vez em menos de uma semana que você fica assim. – Falou em tom preocupado. –

- Eu to bem...

Alguns segundos depois levantei correndo da cama e fui pro banheiro vomitar.

- Isso ta me preocupando já! Você deve ter comido alguma coisa, aposto que foi aquele negócio com carne que você comeu ontem, deveria estar estragado.

Fiquei ainda um tempo tentando me recompor. Joguei uma água no rosto, lavei a boca e então me joguei novamente sobre a cama.

- Você vai num médico amanha. – Falou sério. –

E realmente fui obrigada a ir ao médico, mesmo eu dizendo com toda certeza do mundo que estava bem.

Cheguei em casa o mais séria possível.

Tom estava lá também.

- E...? – Bill perguntou todo preocupado. –

- Por que você ta aqui Tom? – Tentei mudar de assunto, pra fazer certo suspense. –

- Quero saber quanto tempo ainda tenho que esperar pra voltar a morar aqui...

- Cala a boca Tom. E Hanna fala logo!

- Sabe Bill, eu até daria um motivo pra você ficar preocupado, mas prefiro te dar dois motivos pra ficar feliz. – Continuei séria. –

Ele franziu o cenho sem entender nada. Até que alguns segundos depois sua expressão mudou totalmente.

- Não acredito! Sério? – Falou incrédulo e ao mesmo tempo muito feliz. –

Assenti com a cabeça e esbocei um sorriso, recebendo um abraço extremamente forte dele.

- Cara, nem eu to acreditando! – Tom falou animado. –

Bill desfez o abraço e Tom veio me abraçar também.

- E tinham que ser logo gêmeos! – Bill parecia que iria explodir de tanta felicidade. –

- Minha mãe vai surtar... – Comentei. –