Abecedário escrita por Petit Ange


Capítulo 1
Abecedário




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A: Arrependimento. Não era um sentimento novo para Kyoko Sakura, já que o conhecia desde a infância, talvez desde antes mesmo de ter um dia pensado em fazer um contrato com uma criaturinha de olhos escarlates. Mas nem mesmo este arrependimento era comparável ao que sentia toda vez que pensava na situação na qual conhecera Sayaka.

B: Beijo. O sonho de Sayaka Miki era um beijo de seu amigo de infância, Kamijou. Ela teve tempo para sonhá-lo: havia lá pôr-do-sol, pétalas de rosas, um cheiro doce no ar. Mesmo depois do que achara ser a prova de amor mais concreta que poderia dar a alguém, aquele beijo jamais saíra do terreno dos sonhos.

C: Céu. Ele parecia azul sobre a cabeça de Sayaka e a de suas amigas na maioria das vezes. Mas subitamente, mesmo quando sentia o sol bater em suas costas, ele parecia somente um lençol manchado de piche espesso, estendido muito longe de seu alcance.

D: Desejo. Kyoko achava que já havia passado desta fase, mas a verdade é que, desde que conhecera Sayaka, ela vinha tendo muitos desejos. O mais forte deles era o de invadir uma casa de arquitetura tradicional, cor-de-céu-nublado, e quebrar as pernas já debilitadas do verdadeiro cretino que roubara a alma e as lágrimas de Sayaka.

E: Efêmera. Era assim que Kyoko classificava a beleza de Sayaka. A garota de cabelos azuis parecia tão forte, mesmo quando não estava transformada em Puella, mas sua beleza era frágil como um pequeno lírio. Era tão frágil que machucava – Kyoko nunca podia deixar de sentir uma dor aguda perfurar seu coração inexistente quando a encarava.

F: Futuro. Sayaka passou a se perguntar, após seu contrato, várias e várias vezes no que seria de seu futuro. Era algo no qual nunca tinha pensado até então. Ela não sabia o que esperar dele, mas uma visão insistia em sobrepor-se na do violino de Kamijou: os cabelos exóticos de Kyoko dançando ao sabor do vento da noite. Ela pensou que, afinal, gostaria que o futuro lhe reservasse mais desta visão.

G: Gemido. Ao contrário do que normalmente se espera, Kyoko não se lembrava de todos os detalhes de seu primeiro beijo. Lembrava-se de que Sayaka tinha cheiro de baunilha e sal de lágrimas, e lembrava-se que o sol batia diretamente em seu rosto. Mas se lembrava perfeitamente de como sentiu a mente dissolver-se em uma espiral de um confuso calor quando ouviu o gemido de Sayaka contra seus lábios.

H: Horror. Sayaka lembrava-se como o horror a consumiu quando percebeu que, de repente, já não estava parando todos os dias em frente à casa de Kamijou. Quando, de repente, sua mente já não estava mais o tempo todo se focando nele – só na maioria das vezes.

I: Idealismo. Esta não era uma característica de Kyoko, e ela sabia disso; estava muito mais para Sayaka. Mesmo assim, a ruiva não deixava de pegar-se pensando (e, pior, desejando ardentemente experimentar) em como tudo poderia ser diferente se elas não fossem Puellas. Ou, melhor, em como tudo teria sido se a pessoa que Sayaka amava de todo o coração não fosse Kyousuke Kamijou...

J: Janela. Às vezes, Kyoko podia enxergar a triste silhueta de Sayaka – que preferia desmoronar sozinha, longe dos olhares alheios – de longe, pela janela de sua casa. A ruiva não conseguia deixar de desejar ser um príncipe encantado e subir por aquela mesma janela, resgatando-a daquela dor.

K: Karma. Se houvesse justiça neste universo, se houvesse um karma de verdade fazendo as pessoas se moverem como bonecos de corda no mundo, Sayaka sabia que iria pagar pelo sofrimento que impunha continuamente à Kyoko apaixonando-se de novo por Kamijou em uma outra vida e sendo rejeitada do mesmo jeito...

L: Lágrimas. Kyoko não sabia se isso era mais uma habilidade mágica de Sayaka, mas ela era absolutamente linda quando chorava. Cada lágrima que escorria pelo rosto alvo roubava mais um pouco da respiração da mais alta. As lágrimas de Sayaka eram gélidas contra sua roupa e – principalmente – puras como seu coração.

M: Maçã. A ruiva, certa feita, disse à garota de cabelos azuis que ela sempre a lembrava daquele fruto vermelho. Quando Sayaka perguntou o porquê – mesmo imaginando que, afinal, a maçã era um fruto tão simbólico, uma vez que esteve presente nos momentos mais importantes entre elas – Kyoko hesitou em responder. Apenas depois de uma grande insistência e um abraço que durara uma eternidade é que a ruiva admitiu que Sayaka, assim como uma maçã, era tão tentadora que Kyoko nunca conseguia dar apenas uma mordida nela.

N: Nojo. Era o sentimento que possuía Sayaka Miki em relação àquele seu corpo sem alma. O único momento em que não sentia como se quisesse destruí-lo era quando Kyoko fazia aquilo por ela: destruindo-a de dentro para fora com um rastro de beijos calorosos.

O: Olhos. Os olhos de Kyoko Sakura eram fortes. Eram tão fortes quanto ela própria. Sayaka não podia deixar de invejá-los às vezes; ela queria ter aquela força. Mas a verdade é que, quando encarava os orbes vermelho-acastanhados, Sayaka Miki não podia deixar de perceber que a força da garota ruiva também a fazia um pouco mais forte.

P: Parceira. A palavra mais parecia uma ilusão na maior parte do tempo, mas quando as mãos das duas se tocavam – a princípio timidamente e, então, os dedos entrelaçavam-se como se já conhecessem aquele território de longa data –, ela parecia um decreto. Um destino. E Kyoko perguntava-se afinal como pudera viver sem aquilo até então.

Q: Quando. A pergunta era frequente na mente de Sayaka Miki. “Quando será?”. Se o sonho com Kamijou teve um fim, ela se perguntava se o com Kyoko Sakura também teria...

R: Riso. O riso de Sayaka, tão mais raro depois do contrato com Kyuubey, arrancava de Kyoko reações adversas: medo em um dia perdê-lo. Um desejo de vê-la sorrir cada vez mais. Uma vontade de abraçá-la quando os lábios formavam tão adorável desenho. E a sensação de que o mundo estava – apesar de tudo – somente onde devia estar.

S: Sabor. Kyoko, sendo quem era, conhecia vários sabores, diversas texturas. Mas, de longe, o sabor de Sayaka era o melhor de todos. Era tão indescritível como tudo o que vinha dela. A ruiva não podia deixar de comparar o sabor da pele de Sayaka ao veneno: tal qual o primeiro, parecia que apenas de sentir seu aroma, era arrastada para um turvo estado de inebriante confusão.

T: Tragédia. Era o que Kyoko Sakura pensava todas as manhãs, quando percebia que, afinal, tudo o que vivera ao lado de Sayaka não passava de um devaneio (in)feliz. Quando percebia que, afinal, ser uma Puella era viver em tragédia; fora assim que se conheceram. Seria assim que morreriam.

U: Ufania. O orgulho foi o pecado de Sayaka Miki, que acreditava que sua justiça e bons sentimentos a protegeriam de cair como qualquer outra Puella. E ao sentar-se no banco da estação e encarar com olhos marejados de lágrimas a silhueta de Kyoko Sakura, ela então percebera seu erro.

V: Valsa. Em seus últimos momentos, Sayaka tinha certeza de que o vento que a devorava parecia estar assobiando uma música nostálgica.

X: Xadrez. Kyuubey vira a queda de Sayaka não como a queda de uma rainha – de uma preciosa pessoa –, mas a mera queda necessária de um peão. Kyoko quis matá-lo como um dia desejou matar Kyosuke Kamijou.

Z: Zênite. Como a plenitude da lua, Oktavia era como toda a plenitude do ódio que Sayaka acumulara por tanto tempo naquele corpo minúsculo. A ciência disto fez o coração de Kyoko doer como se a Bruxa a tivesse perfurado com sua espada.

W:Weiss”. Kyoko não tinha certeza, mas era aquele o nome da música que a orquestra de Oktavia executava. Tinha a impressão de já tê-la ouvido antes, como numa outra vida distante...

Y: Yin-Yang. Como o “branco” que a música de Oktavia tanto buscava, Kyoko seria o negro que mostraria a ela que, afinal, Sayaka já era pura como jamais ninguém fora. E, juntas, caminhariam para aquele descanso da morte.


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Notas finais do capítulo

A letra M foi inspirada num doujinshi SayaKyo do WaveMaster. No mais, fiz essa fic tão rápido e tão inspiradoramente que nem sei o que comentar, além do famigerado "divirtam-se"... XD



....E CLARO, VIDA LONGA PARA KYOSAYA (L)³³³³³³