Think Twice escrita por Nuvenzinha


Capítulo 20
C20. Boredom


Notas iniciais do capítulo

Hello, hello, hello~~
Como vão vocês, meus queridos? Bem? Bom, eu poderia estar melhor.
Primeiro de tudo, é algo particular de hoje. Sei que isso pode não interessar muitos de vocês, mas estive passando mal hoje o dia todo, com tanto enjôo que passei a manhã e a tarde inteira deitada no sofá da sala sem fazer nada, sequer dormir. Cheguei a achar que não conseguiria escrever nada hoje, mas acabei podendo finalizar o capítulo.
Falando em finalizar as coisas, chego ao segundo fator de meu descontentamento. Como vocês devem saber, Think Twice está, infelizmente, rumando para um fim, e isso realmente é entristecedor para mim, que dediquei tanto do meu tempo imaginando e bolando essa fic. Mas não suficientemente a agonia de estar terminando o trabalho da minha vida, o meu bebê de um aninho, eu tenho inseguranças de fanfics passadas que eu não consigo escrever finais descentes, e preciso saber o tempo todo o que estão pensando daquilo que eu estou escrevendo.
Mas muitos de vocês, leitores, sequer dão sinal de vida. Aí eu, pessoa noiada com o mundo, fico pensando "Será que ficou confuso, muito grande? Será que ficou desinteressante? Ou então escrevi tão mal que o pessoal não teve coragem de comentar?", por mais que eu nunca tenha recebido uma crítica negativa AT ALL. Eu tenho esse trauma, e sinto uma necessidade de saber o que se passa, se estão lendo, mas vocês não dão sinal de vida, o que me faz pensar que ninguém leu. Isso é bastante desestimulante.
Não que eu vá parar de escrever a fanfic por falta de reviews ou coisa do tipo, mas faz bem recebê-los, faz bem saber a opinião das pessoas que leem sua obra. Por isso, por favor, ao menos desse capítulo em diante deixem um review, nem que seja com apenas um adjetivo. Mostre que vocês existem, ou então não terá propósito de eu postar num site (porque, se fosse pra ninguém ler, nem escrevia pra começo de conversa).
Mas agora, falando um pouco do capítulo...
Acabou ficando algo mais ou menos como o capítulo 8, Awkward, com várias coisas um tanto incômodas e meio constrangedoras, mas sem as 7 mil palavras de antes. Este capítulo, por não ter sido incluso no meu caderno (FIIIILLER), acabou sendo completamente digitado, então acabou ficando um pouco menor do que eu gostaria >: embora não seja exatamente pequeno.
Enfim.
Eu sei que provavelmente nem seguem a minha sugestão, mas acho que a leitura seria agradável se vocês ouvissem a música Saihate de Vocaloid, a versão do Kaito e da Meiko (porque a da Miku é chata cof cof), ou então Difficult Love da Gumi, mais uma vez. Fica à escolha de vocês.
Espero que entendam o meu lado e apreciem a leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/139216/chapter/20

Andava entediado pelas ruas de Ikebukuro, fumando um cigarro já havia algum tempo, praticamente só mantendo o filtro na boca, o qual mordia de leve. Era tarde de sábado, não tinha mais trabalho, as ruas estavam pacíficas... Não havia nada para fazer.


Shizuo soltou um suspiro de irritação, recostando-se sobre uma parede qualquer. Deixou a cabeça tombar um pouco pra trás, se pondo a olhar reto para o céu. Eram um saco aqueles dias que não tinha o que fazer e eles estavam sendo vários e seguidos, vez que sua aprendiz não iria treinar por um bom tempo – por imposição dele. Imagina se ela inventa de se machucar de novo quando mal saiu do hospital? -. Não queria que ela se ferisse mais do que já estava. Aquilo deixava um espaço vazio muito grande no seu dia, o que tendia mais para o lado ruim do que para o bom. Paz e sossego demais começavam a ser irritantes.


Para melhorar sua situação, ainda estava transtornado por causa da noite de quinta-feira. Aquilo também o impedia de meramente visita-la para matar o tédio. Era irritante, lhe causava até certa fúria, mas ainda ficava corado só de se lembrar daquilo que aconteceu, e tal irritação muito provavelmente o levaria a questioná-la a respeito daquilo e possivelmente começar uma discussão. E se tem algo que odeia é discutir ou brigar, ainda mais com quem ele se importa. Brigar estava na sua lista de coisas mais detestáveis junto de jogos de azar, bebidas alcóolicas e crianças barulhentas. Não é preciso nem citar Izaya para já saber em que lista ele está. Aquilo o irritava de um jeito sobrenatural.


Mas voltando ao ponto. Estava entediado, não sabia o que fazer direito e a única ideia que lhe passara na cabeça fora visitar Tsugumi, com quem estava chateado, por assim dizer. Cuspiu o filtro do cigarro no chão e esmagou-o com o pé em sinal de irritação. É incrível a habilidade de um adolescente de relações que seriam simples em algo complicado. “A troco de quê ela fez aquilo?!”, se pegou pensando. Aquilo era um incômodo, ainda mais porque possuía mais do que apenas a lembrança na cabeça para continuar a recordá-lo daquilo. Toda vez que olhava sua mão, lá via as bandagens que envolviam os ferimentos que conseguira ao quebrar o espelho daquele elevador. Ah sim, pra melhorar, ainda teria de ir lá pagar pelo espelho novo.


–Mas que droga, viu... –cobriu seu rosto com sua mão, retraindo os ombros de forma a se curvar ligeiramente – Essa criança me dando trabalho...


E como dava trabalho. Ocupava sua mente com a maldita preocupação, dando nós imensos em toda sua cabeça, confundindo-o, irritando-o a todo tempo. O pior de tudo é que tinham dias que a menina parecia ter esse propósito: de provoca-lo. Aquilo lhe deixava maluco, ainda mais por não poder ter certeza do que ela realmente queria. A solução seria tirar aquilo a limpo perguntando. Pensando assim, decidiu que iria ao apartamento dela. Não tinha nada pra fazer, mesmo. E quanto mais rápido se resolvesse, melhor. Veria o que fazer sobre o espelho quebrado e poderia perguntar o que diabos se passava na mente daquela criatura.


Mais uma vez, se demorou até chegar lá. O primeiro dos motivos era porque não se lembrava direito do caminho e ia virando esquinas aleatoriamente, achando que aquele poderia ser o lado certo. O segundo motivo é porque estava andando propositalmente devagar. Não era como se estivesse entusiasmado para ir até lá e ter de ouvir gritaria de porteiro e gastar seu dinheiro num espelho novo, por mais que aquele fosse o correto a se fazer. Na verdade, era como se caminhasse em direção a mais uma irritação, e provavelmente era bem isso que estava fazendo. Mas então por que prosseguia a caminhar? Boa pergunta, tão boa que ele nem sabia responder.


Chegou à rua do prédio depois de uma pequena parada numa loja de conveniência. Ficou olhando para o portão e em seguida percebeu o porteiro a mirá-lo, como se já adivinhasse que era ali que ele estava vindo. Pensou um instante em simplesmente continuar sua caminhada, dar uma volta, e ir pra sua casa comer aqueles pudins que havia comprado e encerrar seu dia, mas eis que lhe deu a preguiça de fazer todo o caminho de volta depois de ter chegado lá. Soltou um suspiro nervoso, quase que uma bufada, e se dirigiu ao portão, cumprimentando o porteiro, que, já o conhecendo, deixou-o entrar. . Aquilo lhe deixou a estranha sensação de pertencer ao lugar quando sequer era relacionado à família que morava ali e que iria visitar.


Foi ao elevador e apertou o botão para chama-lo, logo vendo que a cabine se encontrava no andar que desejava ir, o de número nove. Estaria a menina saindo de casa? Ou a mãe dela? Tomara que seja a mãe dela... Aquela era uma mulher irritante, quanto menos tempo perto, melhor.


–Ah, Heiwajima-kun! –a porta se abriu e lá estava Haruko, que abriu um sorriso – Não esperava te encontrar aqui! Veio atrás da Tsugumi-chan?


–Bom, sim. –disse meio retraído, olhando um pouco para outro lado – Ela está?

–Está sim, pode ir lá! –deu-lhe passagem para entrar no elevador- Estou indo fazer compras no supermercado, fico até feliz que tenha vindo. Não queria que ela ficasse sozinha.


–Tá... Vou ficar aqui até a senhora voltar. –entrou no elevador.


–Obrigada! –e então, ela se foi.


A porta do elevador se fechou e Shizuo soltou um suspiro quase que aliviado. Ainda bem que aquilo não durou muito. Sentia um desconforto imediato só de pensar em ficar cara a cara com ela de novo depois daquela “discussão”, querendo manter-se afastado para não iniciar outra. Seria bem melhor se pudesse manter as coisas estáveis com aquela família de pessoas malucas. Com gente assim, não havia nada melhor do que manter as coisas calmas; seria melhor para ele e para a aprendiz também.


O elevador se abriu e foi até a porta, pisando no tapete de bem-vindo ali fora. Ficou olhando o tapete um tempo, como se enrolasse pra bater na porta ou tentar abri-la. Parara agora para pensar mais uma vez se aquela tinha sido uma boa ideia, se havia sido um erro, principalmente agora que tinha dito a sra. Amano que estaria lá até que ela retornasse e não poderia voltar atrás. Droga, tinha se enfiado numa enrascada. Que ideia idiota de vir à casa de Tsugumi por simples tédio. Tantas coisas que se podem solucionar o tédio e vem pro lugar onde todo tipo de constrangimento poderia surgir. Maldita vontade de companhia.


Deu uma leve batida na porta, mas ela acabou por abrir. Reticências. Que tipo de idiota sai de casa e não tranca a porta? Era pedir pra bandido entrar. Ficou até meio tenso com a ideia de entrar daquele jeito, ainda mais agora que olhara na sala e não tinha ninguém ali, apenas aquela bagunça de CDs, pelúcias e jogos de videogame que já conhecia. Não havia ninguém na sala. Será que a menina estava no quarto? Talvez fosse melhor sentar-se no sofá e esperar que ela aparecesse, e foi isso que fez.


~x~


Havia chegado em casa já fazia uma hora e o tempo que havia ficado a conversar quase que aos berros com Misaki havia sido o suficiente para fazer sua garganta doer. Estava em seu quarto, sentada na cama com as pernas cruzadas e um mangá aberto em seu colo, ouvindo música em seu celular usando grandes fones, que cobriam toda sua orelha, dispersa do mundo, passando a mão sobre o pescoço como se tentasse fazer o incômodo passar. Adorava poder conversar com a amiga daquele jeito, em tom alto e divertido, e o quanto aquilo a ajudou para falar um pouco daquilo que tinha guardado dentro de si, mas as consequências a fazia se arrepender de leve.


Dor de garganta era um negócio irritante e vivia com aquilo. Desde menorzinha, cada vez que ficava doente, era sempre aquilo que tinha no começo e que evoluía para várias outras doenças. Era um inferno, realmente. E aquilo estava lhe dando aquela pequena sensação do inferno queimando dentro de si mais uma vez. “Nunca mais falarei tanto assim”, pensou. Óbvio que não era verdade, devido sua natureza um tanto escandalosa, mas não gritaria tanto quanto gritara naquele dia. Até mesmo a mãe de sua amiga havia ouvido toda a conversa de tanto que berravam.


Soltou um misterioso espirro. Deveria ter alguém falando sobre ela em algum lugar. Provavelmente era sua mãe no elevador se perguntando se ela ia mesmo tomar banho enquanto ela estivesse fora, como havia prometido. Mas estava com tanta preguiça........ Fechou seus olhos e relaxou o pescoço de modo que sua cabeça pendeu pra frente, soltando um gemidinho preguiçoso enquanto se alongava um pouco, se preparando para se levantar. Era só ela trocar de roupa por uma limpa e mudar o jeito que prendia o cabelo que a mãe nunca iria perceber que sequer abriu a torneira do chuveiro; tinha confiança nisso, vez que já havia feito tantas vezes.


Arrancou o paletó azul do uniforme da Raira que ainda vestia, tirando dele apenas a carta toda dobrada de dentro do bolso frontal, e logo desabotoou a blusa branca social que usava por baixo, colocando o papel no bojo de seu sutiã. Foi ao seu armário atrás de uma específica camiseta, uma que era a que considerava mais confortável que tinha, que havia comprado em um dos vários eventos de animes que foi na vida, mas não a encontrou lá.


–Droga, minha mãe deve ter largado na lavanderia!


Bateu pé, logo dando as costas ao guarda-roupa e abrindo a porta de seu quarto com raiva, apenas pegando sobre sua mesa uma piranha que utilizou para prender seu cabelo num coque enquanto ia andando pelo corredor. Tudo bem que sua mãe não tinha obrigação nenhuma de guardar sua roupa, mas custava levar a roupa limpa pro quarto? Uma hora ou outra iria guardar, ou então largar sobre a sua cadeira da escrivaninha e ir usando, mas de uma forma ou de outra ia ser bem mais fácil do que fazê-la atravessar o apartamento pra poder se vestir. E depois ainda reclamava que ela não era nem um pouco prática.


Bufou, chegando à sala e andando distraidamente até a cozinha, trajeto que tinha de fazer para chegar à pequena sala onde se encontrava a máquina de lavar e de secar roupa. Foi quando viu pelo canto do olho alguém sentado no sofá, que também a olhava sobre o ombro. Tsugumi parou de andar e olhou bem. Com a maior cara de tensão possível de se imaginar, era Shizuo sentado no sofá. Os dois ficaram se encarando por alguns segundos em silêncio.... Até que a menina finalmente se tocou do que acontecia, soltou um grande grito e atirou-se para detrás do balcão da cozinha, que separava a cozinha da sala.


–... MAS O QUE DIABOS ESTÁ FAZENDO?! –era facilmente perceptível grande nervosismo em sua voz.


– D-D-D-DESDE QUANDO ESTÁ AÍ?! –estava em tanta aflição que mal conseguia se erguer do chão, tendo apenas força para se sentar com as costas seminuas encostadas sobre a porta do fogão enquanto abraçava seus joelhos, tremendo igual uma louca.


–NÃO FAZ NEM QUINZE MINUTOS QUE CHEGUEI! –agora, sua voz pareceu abafada, quase como se cobrisse o rosto todo com alguma coisa – AGORA RESPONDE O QUE EU TE PERGUNTEI!


–ESSA É A MINHA CASA! E-EU ANDO NELA DO JEITO QUE EU QUISER! – sua voz lhe falhava tanto pelo constrangimento quanto pela dor de garganta – E COMO DIABOS ENTROU?! MINHA MÃE NÃO TRANCOU A PORTA?!


–NÃO! –Ele retrucou- LARGOU A PORTA ABERTA!


–DÁ PRA VOCÊS PARAREM DE GRITAR AÍ EMBAIXO?! –o vizinho de cima gritou do outro andar, batendo pé de forma a tremer um pouco a lâmpada, calando os dois.


O silêncio, constrangedor silêncio. A adolescente não conseguia largar de seus joelhos, fracamente tentando dizer alguma coisa para fazer desaparecer aquela atmosfera, mas não conseguindo vocalizar nenhuma palavra de tamanho nervosismo. Tampouco tinha coragem de levantar-se estando daquele jeito, toda vermelha e com o corpo exposto, nem mesmo para vestir-se. Aquele parecia o dia de ficar nervosa, pois já era a segunda ou terceira vez que tinha a impressão de sofrer um ataque cardíaco, mesmo que por motivos ligeiramente diferentes. Na verdade, até preferia ter tido um ataque cardíaco e morrido do que ter passado por aquilo.


E agora?! O que deveria fazer?! Tinha certa noção do que estava passando na cabeça de seu mestre e sabia que se ela não começasse a falar, ele não falaria absolutamente nada depois daquela, e ela não teria coragem de falar nada até se vestir, mas pra isso teria de ir até a lavanderia se vestir, mas não queria levantar. Tomou, então, a decisão de se arrastar pelo chão, engatinhar feito bebê até lá. Era uma coisa que raramente faria em qualquer momento da sua vida; os joelhos normalmente doem depois, além de ser um tanto infantil, mas era necessário, senão jamais sairia dali e seria difícil de explicar para sua mãe na hora que ela voltasse das compras de supermercado e a visse naquele estado. Aí sim as coisas iam ficar perigosas.


Dito e feito. Engatinhou até a lavanderia milagrosamente sem cruzar com nada no chão que não a fizesse regredir, e pôde finalmente se cobrir, não simplesmente colocando uma blusa. Acabou por se cobrir inteira, chegando a colocar um casaco de gorro e uma calça por baixo da saia de tanta vergonha. Óbvio que era apenas paranoia sua, mas se sentia quase nua usando aquela saia do uniforme, e só se sentiu confiante de sair dali de dentro depois que cada centímetro de pele de seu corpo franzino estivesse coberta, com exceção de seu rosto, pois não tinha muito jeito. Só estando daquele jeito teve coragem de voltar para a sala e sentar-se ao sofá, ainda mantendo certa distância e bem encolhida.


Os dois, quietos, sentados no sofá, trocavam breves olhares com o canto dos olhos, com certo nervosismo aparente. Aquele nervosismo não era natural, não entre ela e seu mestre. Mesmo que nunca tivessem sido realmente íntimos, ou amigos, sentia que agora havia uma barreira entre eles. Que droga! E pensar que tudo aquilo poderia ter sido evitado se a porta tivesse sido trancada e o loiro fosse forçado a tocar a campainha ou bater na porta.


Não trocaram palavras por muito tempo, até que, por um estranho motivo, Shizuo perguntou-lhe o que estava achando do clima, típica tentativa de se quebrar o gelo em uma conversa. Aquilo foi até engraçado, mas a adolescente não ousou rir. Primeiro porque aquilo não era engraçado de verdade, portanto não tinha porque rir, e também porque ele poderia interpretar mal. Então, apenas comentou que estava agradável.


E a conversa foi se desenrolando assim, parecendo completos desconhecidos que conversavam na espera do médico ou coisa parecida, mesmo estando no apartamento dela. De todas as situações estranhas ou constrangedoras que se lembrava de estar, aquela era uma das piores, e com muita razão. Afinal, havia acontecido algo realmente constrangedor não havia cinco minutos. Sua sorte foi que, com o passar do tempo, os assuntos foram ficando um pouco mais interessantes, o que diminuiu um pouco a tensão entre eles ao ponto de já se sentir numa situação mais normal.


Acabaram falando algumas coisas do dia-a-dia, algumas coisas sobre comida e outras coisas um pouco aleatórias, vez que não havia realmente um assunto para se abordar, até que ela fez uma pergunta um tanto repentina.


–Ne ne Shizu-kun, -Tsugumi, já sentada normalmente no sofá, inclina a cabeça um pouco, com um ar infantil de curiosidade- Agora fiquei curiosa. Seu cabelo é mesmo loiro?


–Ein? –o barman virou-se para ela com uma expressão de dúvida – De onde veio essa pergunta?


–Bom, é que... –tocava os indicadores, um tanto sem graça, soltando um breve riso nervoso- Nunca tinha conhecido ninguém realmente loiro, aí fiquei na dúvida...


–Ah...-ele suspirou, pondo os braços para trás do encosto do sofá- Não, não é realmente loiro.


–Jura? –resmungou- Ah, que droga... Pensei que era loiro mesmo... Parece taaanto natural!


–Tsc. –Aquilo soou quase como um riso, pois bem rapidamente um sorriso se formou nos lábios do homem- Vai ver é porque já me conheceu assim.


–É, acho que deve ser isso. – ela levou um dos dedos ao lábio, dando sinal de dúvida – Acho que até estranharia se visse você com outra cor de cabelo, Shizu-kun!


–Acho que eu tenho uma foto comigo. –Levou uma das mãos ao bolso da calça, tirando dali de dentro uma carteira e, dentro dela, começando a mexer em alguns bolsos, até que dali tira um punhado de fotos dobradas, meio amassadas até, entregando a ela – Deve ter uma aqui.


–Ahh! ~ - ela exclamou num tom um pouco estranho, quase histérico, assim que desdobrou e viu a primeira foto: uma tirada por sua mãe lá por volta dos seus 9 anos, estando com um dos braços enfaixados e os cabelos castanhos como os olhos, que tinham uma expressão meio birrenta, completada pelas bochechas ligeiramente rosadas. –Que fofinho! – levou uma das mãos à face esquerda, com um sorriso bobo no rosto.


–Hã... Obrigado... –ele pareceu ficar levemente constrangido com aquilo, olhando para outro lado.


Depois do seu pequeno surto, ela voltou a ver as fotos, dobrando de volta cada uma logo depois que as via, ordenando-as na mão. Tinham fotos dele do primário até o colegial, sempre encontrando caras conhecidas. Vez era Shinra, e vez era o Kadota, da van. Mal podia imaginar que se conheciam há tanto tempo. Às vezes também aparecia o Izaya, mas normalmente eram fotos tremidas e Shizuo estava sempre com raiva.


Todas eram muito interessantes, mas as mais legais de se ver eram as de quando ele era menor. Pelas fotos, ele parecia ter sido um garoto miúdo, mesmo com a incrível força. De alguma forma, aquilo era incrivelmente adorável se vendo daquela perspectiva. Claro que deve ter sido aterrorizante pros coleguinhas dele estarem por perto; sabia qual era a sensação, também. Mas não conseguia parar de pensar que era um garoto realmente fofo. Dava vontade de abraçar, apertar as bochechas, cuidar e tudo mais. Não que não sentisse aquilo pelo rapaz que conhecia agora, mas aquilo era coisa para se pensar em outro momento. Na última das fotos, algo lhe chamou a atenção.


–Quem é esse aqui do seu lado, Shizu-kun? –mostrou a foto para ele quase que a esfregando no rosto dele, apontando para um menino de expressão entediada logo ao lado do mestre na foto.


–Ah. –pareceu ficar até um pouco nervoso. – É meu irmão mais novo, Kasuka.


–Você tem um irmão?! –deu um pulo- Não sabia!


–Bom, não tinha como saber. Eu não tinha comentado nada a respeito. – ele deu de ombros.


–Pois é. –ela fez bico- Mas que engraçado, seu irmão parece um ator da TV... Qual o nome do ator mesmo? Não lembro, mas você deve saber quem é! –ela virou para ele com um sorriso bobo alegre – Não acha?


–Pois é... –seu tom de voz era vago, com uma expressão meio tensa no rosto.


–Devem confundir eles o tempo todo na rua! –concluiu, em seguida devolvendo as fotos para o mestre. – Não deve ter um pingo de paz!


–Eu aposto que sim. –assentiu com a cabeça- Mas acho que nem é preciso ser famoso pra não ter paz, pra falar a verdade.


–É, você tem razão...


~x~


Tsugumi ficou quieta um tempo, apenas olhando pros próprios joelhos com aparente tristeza, o que fez com que ele ficasse um tanto perplexo. Triste assim, do nada? Será que tinha tocado na fibra nervosa ou algo assim? Todo mundo tem algum ponto fraco. Aquilo o deixou meio nervoso, e acabou ficando a encará-la.


Era um pouco preocupante vê-la triste. Vai que está se deprimindo de novo! E se tem uma coisa que não suporta é ver gente chorando. De certa forma, é irritante, porque a pessoa parece ficar deprimida com tudo e começa a fazer tempestade em copo d’água, mas a pior parte seria ter de consolá-la se aquele fosse o caso. Dependendo do que estivesse pensando, se ela começasse, não pararia de chorar nunca. E o que ele poderia falar? Seria obrigado a falar alguma coisa, já que era o único presente. Ficou apenas torcendo pra ela não estar pensando em nada triste e ficou olhando só pra se certificar, mas acabou perguntando.


–Que cara é essa?


–A-Ah! –ela tomou um pequeno susto, erguendo o rosto rapidamente, corada – Não é nada! Só estava pensando numas coisas.


–Que coisas?


–Bom, é que eu vi as suas fotos... Aí eu percebi que eu não tenho nenhuma com os meus amigos.


–Não vejo o problema. –deu de ombros, logo lembrando-se que havia trazido coisas da loja de conveniência, tirando dali dois pudins, um abrindo para si e o outro oferecendo à menina, que logo pegou e abriu o dela também.


–Eu vejo! –disse um pouco brava, com um pouco de pudim na boca, o que fez com que um pouco ficasse no canto do lábio – Quando eu for mais velha, não vou ter nenhuma prova de que eu realmente tive amigos!


–Não é pra tanto drama. –aquilo foi um pouco irritante – Se quer fotos, então tire fotos com as pessoas. Não adianta nada ficar esperando que alguém tire fotos por você.


–Hmmmm.... –ela ficou um tempo com uma cara de emburrada, mastigando seu pudim sem nenhum motivo, provavelmente fazendo aquilo enquanto refletia alguma coisa, até que voltou a falar – Você tem razão...


–Ótimo. –achou que o assunto tinha acabado.


–Shizu-kun, posso tirar uma foto com você? –ela perguntou com um ar inocente.


–Ein?! –franziu as sobrancelhas, com as bochechas tomando uma coloração ligeiramente rosada – Por que quer tirar uma foto comigo?!


–Porque sim, oras! – fez pirraça – Você que sugeriu eu tirar fotos! Tem que ser o primeiro, então!


Shizuo bufou. Em seguida, levou uma das mãos às têmporas. Sempre odiou sair em fotos, talvez porque sempre tiram foto olhando diretamente para a câmera, obviamente fazendo aquilo de propósito, tanto que nunca tinha sido ele que tirou aquelas fotos que guardou. Na verdade, nem sabia porque guardava aquilo, se daquelas coisas se lembrava bem. Talvez fosse pra preencher espaço na carteira ou sei lá. Mas não via motivos para sair em fotos, nem um motivo de verdade.


Então por que concordou em tirar aquela foto com ela?


Apenas se perguntou isso quando ela já estava grudada nele, erguendo o celular com a câmera voltada para eles. Estava todo desarrumado, o cabelo todo desgrenhado, e ainda por cima estava comendo. Ela também. Aquela foto ia ficar horrível, mas ao menos ia ficar um pouco menos forçada. Ia ser um pouco menos incômodo do que ter de ficar de pé e sorrir para a câmera. Por isso, apenas ficou olhando na direção do celular.


–Gostei da foto! –ela disse, sentada colada ao seu lado, entusiasmada – Olha! –colocou o celular bem diante de seu nariz.


É, a foto tinha saído horrível. A foto estava meio escura, provavelmente porque já estava de noite e mesmo com lâmpadas o ambiente estava meio escuro para a câmera do celular, além de que ele parecia mais desgrenhado que o normal. Parecia que tinha acabado de sair de uma briga, isso porque aquele também tinha sido um dia bastante pacífico. E a Tsugumi parecia estar de pijama, com aquele agasalho velho, além de estar com a cara suja de pudim. A única coisa que conseguiu fazer foi dar risada.


–EH?! – a franzina fez uma cara que parecia de preocupação, erguendo os ombros e trazendo o celular para perto de si- Que foi?! Ficou ruim a foto?!


–Ficou péssima! –respondeu sem hesitar, sendo sempre sincero, sem conseguir parar de rir.


–AHH SEU MONSTRO! NÃO FALA ASSIM DA MINHA FOTO! –começou a socar seu ombro, como se estivesse profundamente ofendida – NÃO FICOU RUIM!


–Oras, qual o problema de ter ficado ruim ou não? –sequer se dava ao trabalho de barrar os pequenos punhos da aprendiz, parando de rir e simplesmente voltando a comer seu pudim - Se é só pra guardar recordação, a foto não precisa estar necessariamente boa. Afinal, qualquer foto vai estar melhor do que a foto da sua identidade ou qualquer coisa.


–Você tem razão. –ela se aquietou- Foto de identidade é um inferno. Sempre fica horrível e você ainda vai precisar mostrar pra todo mundo.


–Viu? Então pare de reclamar dessa aí.


–Vou colocar como papel de parede! ~ -começou a teclar coisas no celular – Aí vou poder olhar sempre!


–Vai ficar olhando essa foto horrível? –deu uma espiada.


–Você mesmo acabou de falar que não importava se a foto estava boa ou não. – tomou seu pudim de sua mão.


–EI! –pegou de volta.


–Sem falar que é a única foto que tem da gente, e é isso que tá valendo!


Silêncio de novo. Ficaram um tempo um encarando o outro quietos depois de tal comentário da aprendiz, até que ambos desviaram os olhares para lados contrários, puxando logo outro assunto. O silêncio ia ser pior, porque senão ia ficar pensando a respeito e ia ficar ainda mais embaraçado com aquilo. Como aquela guria conseguia tão rapidamente constranger alguém?! Deve ser um dom de família.


E falando em família... Mal haviam começado a conversar sobre o novo assunto, que era aquilo que estava passando na televisão naquele momento, em que algum deles teve a genial ideia de liga-la, que Haruko chegou em casa com um monte de sacola de compras nos braços e mãos.


–Tadaimaa! –ela disse chegando na porta.


–Oi mãe! –Tsugumi levantou num pulo do sofá, como se estivesse fugindo dali – Deixa que eu te ajudo!


–Nossa filha, que roupas são essas? –não entregou nenhuma das sacolas, apenas arqueou uma das sobrancelhas com um ar de estranhamento- Por acaso bebeu pra fazer uma combinação dessas?


–Mã-Mãe! -bateu pé – Claro que não! Eu só estou com frio!


–Saia com calça por baixo não adianta nada. –debochou – Aposto que um abraço esquenta mais. Não concorda, Heiwajima-kun? –e então o olhou com um sorriso de quem se diverte.


–Eu não vou dizer nada. –cruzou os braços, olhando para frente com um ar sério.


–Ooooou será que se vestiu assim por vergonha de pedir um abraço, filha? – jogou um olhar zombador em cima da menina – Você anda tão carente que eu tinha certeza de que ia querer abraçar alguém, mas você continua muito tímida~~ Nunca vai conseguir namorado desse jeito!


–MÃÃÃÃEEE! – seu rosto estava completamente vermelho, como pôde observar a discussão do sofá.


–Ne ne, Heiwajima-kun, você namoraria alguém tão tímida assim? –perguntou com ar de inocência, mas aquilo foi suficiente para irritá-lo.


–Olha, com todo respeito, mas eu prefiro não responder! – pegou sua sacola, com um ar de irritação – Vou embora, se me dão licença. –e saiu do apartamento, encabulado.


Fechou a porta do apartamento com força atrás de si, ouvindo apenas o som de alguma coisa cair no chão em seguida – provavelmente a maçaneta; ela já estava meio solta da última vez que veio. Isso lá é tipo de pergunta para se fazer?! Acabou ficando vermelho também, mas de raiva! Queria ir embora de indignação. Aquilo tinha sido muito indiscreto e perturbador. Era exatamente por coisas daquele tipo que queria ficar longe daquela mulher! E o maldito elevador não chegava de jeito nenhum


–Aff, vou pela escada! –desistiu, falando sozinho depois de dar um chute na porta do elevador.


Tinha ido até lá para matar o tédio que tanto o irritava e apenas conseguira mais irritação. Talvez tivesse sido melhor se tivesse ficado à mercê do tédio nas ruas ao invés de passar por aquele tipo de constrangimento.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ah, quase esqueci de comentar!
Bom, sendo beta da fanfic Miracle e amiga da autora, eu acabo sabendo o que acontece em tudo, então, acabei colocando uma cena levemente parecida com uma que provavelmente aparecerá no próximo capítulo. Vocês saaaabem, ideias parecidas. Aí, pra não dar confusão, concordamos em deixar o aviso.
Obrigada pela atenção~~
Review?