Sombras sobre Sinéad escrita por Dani


Capítulo 9
Yasuo




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A perplexidade tomou conta da face de Susie, assim como aconteceu comigo. A revolta desapareceu de sua expressão, dando lugar à incredulidade, ela perdera todas as forças das quais utilizara para debater-se.

      - Não! Isso não é possível! – bradou. – Meus pais são Keyla e Robert Bourbon!

      - Sua mãe pode até ser essa tal de Keyla – disse Raj -, mas seu pai é outro, é o mesmo pai o qual gerou a mim e a Jim. – Ele fez uma pausa. – Fiquei sabendo sobre vocês dois, achei que Susie iria seduzir Jim e atraí-lo até nós, mas não conseguiu e, assim, tivemos de mudar para o nosso segundo plano de raptá-los.

      - Espere um minuto, eu beijei minha irmã?! – gritei, espantando, quebrando a tensão.

      Juro que se minhas mãos não estivessem presas, eu estaria limpando minha língua neste momento. Como eu pude beijar minha própria irmã? Eu sei, havia coisas mais importantes das quais eu deveria preocupar-me, mas aquele fato deixava minha boca com gosto de amargura. Preferi permanecer com fome a ter de digerir a todas aquelas terríveis informações.

      Qual era o motivo o qual levara Raj a manter seus próprios irmãos prisioneiros? A melhor explicação a qual eu conseguia formular em minha mente para tal loucura era: aquilo tudo poderia fazer parte de algum plano macabro de meu falecido pai, do qual Raj estava dando continuidade. Praguejei em meus pensamentos, já estava irritado e cansado de estar submetido àquelas condições. Por que, simplesmente, não poderia prosseguir com minha medíocre vida?

      - Por que está prendendo-nos aqui? – quis saber.

      - A razão é simples: vocês são meus irmãos e irmãos ajudam uns aos outros.

      - Ah, você não é bom em inventar desculpas... Conte outra...

      Susie recomeçou a debater-se (sempre quando eu achava que suas forças exauriram-se por completo e que ela não seria mais capaz de rebelar-se, ela recomeçava seus movimentos nervosos) tentando escapar, descabelando-se e pedindo para Raj matá-la. A tensão recaiu sobre aquele ambiente, até escutar o toque de algum celular próximo.

      - Celular. Deve ser Karl ou Raven – disse Julia.

      - Deve ser importante. Vá atender aquele aparelho demoníaco! – exigiu Raj.

      Julia afastou-se até uma das prateleiras e retirou seu celular, atendendo-o. Raj posicionou-se exatamente no meio entre Susie e eu. Fitei a garota por alguns instantes, com o intuito de enviar uma mensagem. Acho que ela entendeu.

      - Preciso de vocês – começou Raj. – Quero que me ajudem a... – Mas antes que ele conseguisse terminar sua fala, Susie e eu acertamos-lhe com fortes chutes em seu estômago.

      Raj cambaleou até bater suas costas forte e pesadamente no armário de madeira, deixando a faca em sua mão cair. O objeto rolou pelo chão, parando próximo a mim. Levantei-me, ainda carregando a cadeira e com muito esforço consegui pegar a arma, enquanto Susie tentava abrir a porta. Julia assustou-se com o ocorrido, desligou o celular, apressada, retirou seu revolver e atirou. Acho que vi todas as minhas memórias passar diante de meus olhos como um feixe de luz quando o tiro passou de raspão por mim.

      - Não vou errar dessa vez! – bradou Julia enquanto preparava-se para atirar novamente.

      Meu novo e querido irmão “recuperara-se” do impacto e começou a procurar por alguma arma da qual ele pudesse utilizar para atingir-nos. Não esperei por minha morte prematura, pois Susie conseguira abrir a porta. Corri com dificuldade devido ao peso em minhas costas, mas fui capaz de deixar o recinto antes de levar um tiro.

      - Malditos filhos de Yasuo! – bradou Raj ao avistar-nos escapando.

      Filhos de Yasuo? Fiquei curioso a respeito, no entanto, não fui estúpido o bastante para permanecer ali com o intuito de descobrir. Continuei a correr, desesperado, até adentrar a densa floresta e sentir-me “seguro”. A mata fechada não era, exatamente, o melhor local para abrigar-me, contudo, já me sentia bem de estar fora daquela terrível casa, daquele ambiente sufocante.

      Utilizamos a faca com cuidado e esforço para cortar as cordas, as quais nos prendiam às cadeiras. Meus pulsos estavam feridos, massageei-os com intuito de amenizar a dor. Susie emprestou-me seu lenço para que eu pudesse limpar o machucado em meu rosto, o qual fora obra da afiada arma de Raj.

      Quanto tempo passara-se desde que fui raptado? Não fazia ideia. Sabia apenas que estávamos na parte da tarde devido à posição do sol no céu. Deveríamos encontrar a direção da qual nos levaria a Sinéad, mas qual seria? Como descobriríamos? Não adiantou escapar, morreríamos perdidos e famintos e nossos corpos apodrecerão nesta floresta, jamais serão encontrados (tudo bem, estou sendo dramático).

      - Não aguento mais! – Susie caiu pesadamente no chão.

      - Eu sei, eu também não – disse. – Não sei nem como estou conseguindo andar, talvez seja a minha motivação...

      - Motivação...?

      - Sim. Tenho muita vontade de rever minha mãe, minha gata, minha namorada, meus amigos... – Sorri. – Até mesmo minha irmã chata e implicante. Também existem coisas das quais desejo fazer antes de morrer. Acho que isso ajuda, eu penso em sacrificar-me agora para depois estar em uma situação melhor, posso estar enganado, mas prefiro pensar assim.

      Susie fitou-me com curiosidade, mas permaneceu em silêncio. Sentia-me incomodado com a presença daquela garota, não sabia o que poderia dizer, não possuía intimidade alguma, além disso, se Raj estivesse certo, ela é minha irmã, fato que perturbava ainda mais. Aquele dia fora completamente desgastante, tanto física quanto mentalmente. Poderia ter ido dormir sem ter conhecimento daquelas coisas.

      O nome “Yasuo” não deixou minha mente em toda aquela correria. Seria meu pai? Provavelmente, sim. Apesar de ser uma nomenclatura muito incomum. Aquelas questões fizeram-me pensar o quanto eu não conhecia a respeito de meu próprio gerador, minha mãe nunca comentara nada sobre, até então, nunca tive curiosidade, dona Marisa convencera-me a isso. No entanto, com tudo aquilo acontecendo, senti necessidade de saber mais com relação a meu pai, pois acreditava ser a explicação de todas as coisas estranhas das quais ocorreram comigo.

      Descansamos durante um tempo, mas não demoramos muito para prosseguirmos em silêncio. Segundo Susie, Sinéad situava-se ao sul. Provavelmente eles não estariam atrás de nós, afinal Raj levara uma forte pancada, da qual ele demoraria um tempo até recuperar-se por completo.

      - Tem certeza que é por aqui? – perguntei.

      - Da última vez que escapei, tive de passar por esta floresta, pelo menos eu acho.

      - Você acha?

      - Sim.

      - Achar é o mesmo de estarmos perdidos... – disse.

      - Pelo menos temos uma direção...

      - Você é a pior guia – brinquei. – Vou ver se meu celular tem área.

      Retirei o aparelho de meu bolso e observei a tela, para minha infelicidade, continuava sem área. Susie fizera o mesmo e o seu moderno celular rosa encontrava-se nas mesmas condições. Se não encontrássemos a civilização, logo escureceria e, desse modo, não encontraríamos o caminho de forma alguma.

      - Estou com medo deste local – comentou Susie. – Está tudo tão silencioso... – De fato, ela estava certa, conseguíamos escutar apenas galhos e folhas secas quebrando à medida que íamos andando.

      - Tem medo de ter uma bruxa aqui como em Blair nos Estados Unidos? – brinquei.

      - Ai, pare com isso! Tenho medo dessas coisas!

      - Não era, de fato, uma bruxa. Era um psicopata que sempre pegava duas vítimas, uma ele deixava virada para a parede enquanto matava a outra, pois, segundo o que falavam, ele não gostava do olhar o qual as pessoas faziam enquanto avistavam outra ser morta – expliquei. – Isso havia sido nos anos 50, mas ele foi preso e faleceu... O engraçado é que, depois dos anos 80, 90, aconteceram outras mortes semelhantes na floresta. Será que alguém seguira os passos dele ou realmente havia uma bruxa?

      - Jim Harris, você está me assustando! Odeio psicopatas!

      - Bem, tenho de dizer que, caso você realmente seja minha irmã, você tem parentescos psicopatas: seu pai e seu irmão.

      - Eu não sou sua irmã! – bradou. – Eu não sou filha do louco do seu pai!

      - Bem, se você acha... Não irei discutir isso.

      Após isso, permanecemos em silêncio enquanto caminhávamos. Parecia que não iríamos chegar a lugar nenhum, por mais que andássemos. Um céu estralado formava-se acima de nós à medida que anoitecia o que nos dificultara ainda mais. Tivemos de utilizar os celulares para iluminar nosso rumo. Nossas condições estavam piores possíveis: famintos, exaustos e irritados. Tentava manter a calma antes de enlouquecer.

      - Não aguento mais! – disse Susie, por fim.

      - Vamos descansar, então.

      - Nós vamos morrer! Jamais sairemos daqui! – Ela caiu em prantos.

      - Não pense dessa forma... – Mas já não sabia se poderia dizer isso.

      Assentei-me ao lado de Susie, entretanto, não sabia o que poderia dizer para fazer com que ela cessasse seu choro (era irritante, contudo, não a culpava). Nem mesmo eu sabia se, de fato, iríamos conseguir sair dali.

      Permanecemos assentados e em silêncio até avistarmos feixes de luz por entre as árvores. Pessoas? A esperança voltou para meu ser. Corremos até lá e descobrimos que aquele seria nosso caminho: um grupo de policiais os quais estavam em nossa busca eram os portadores das lanternas.

      - Jim? Susie? – disse oficial Ross ao avistar-nos. – Graças a Deus os encontramos!

      Não possuía forças para explicar a situação naquele momento, pois todo o meu cansaço abateu-me por completo, acreditei que o mesmo aconteceu a Susie. Contudo, estava feliz por poder retornar à minha morada, avistar minha mãe, Yuki, Amber, amigos e, até mesmo, Lisa. Assim, adentramos no veículo de polícia e rumamos até Sinéad.

Acordei com a claridade do ambiente, a janela de meu quarto estava aberta e minha mãe estava recostada nela observando a paisagem da rua. Fiquei a fitá-la por alguns instantes, até ela voltar-se em minha direção. Seu rosto aparentava mais pálido que o normal e havia vestígios de choro, algumas lágrimas faziam-se presentes em seus olhos. Ela correu envolvendo-me em um caloroso abraço.

      - Mãe...

      - Meu filho, estive tão preocupada! O que houve? Por onde esteve? Graças a Deus você retornou! Esteve fora por dois dias... – Ela fez uma pausa. – Quer matar sua mãe de preocupação?!

      Desculpei-me e relatei a ela tudo o que acontecera comigo durante os dois dias dos quais estive fora e não havia conseguido calcular. Dona Marisa escutava tudo com muita atenção e uma expressão de espanto tomava conta de sua face à medida a qual eu narrava os fatos. A única coisa estranha fora ter acordado em meu quarto, lembrava-me de ter adentrado no carro da polícia, mas não me recordava de ter chegado a casa. Provavelmente eu dormi de tanta exaustão.

      Dona Marisa indicou-me o criado-mudo onde havia uma bandeja com meu desjejum, o qual aceitei com muito prazer (estava faminto!). Fiquei dois dias fora de minha morada, entretanto, fora o suficiente para brotar a saudade em mim, até mesmo da deliciosa comida preparada por minha mãe. Enquanto alimentava-me, tentei conversar com ela.

      - Mãe, qual era o nome de meu pai? Yasuo? – quis saber.

      - Yasuo? Que nome estranho! – Ela sorriu. – Não, não. Era Martjin Harris.

      - Por que nunca me dissera isso?

      - Não desejava lembrar-me daquele homem. Além disso, eu queria protegê-los de toda essa loucura. – Sua expressão tomou um tom de amargura.

      - Mas existem coisas das quais você não pode esconder, coisas das quais eu preciso saber. – Fiz uma pausa. – Você nunca relatou como era sua vida com ele...

      Dona Marisa suspirou.

      - Ele mudou muito... Antigamente conseguira me seduzir por sua gentileza, carisma, simpatia. Era carinhoso e ajudou-me em meus momentos de dificuldade, achei que seria o homem de minha vida. Contudo, quando fiquei grávida de Lisa, ele começou a enlouquecer e, aos poucos, tornar-se o homem que você conheceu.

      Dona Marisa ficou em silêncio, após isso, o que fez com que a quietude instalasse no recinto. Fitei minha mãe cujos olhos transmitiam melancolia, tristeza, isso sempre acontecia quando relembrava de seu passado com meu pai. Entretanto, eu tive de fazê-la falar, necessitava saber sobre ele.

      - Mãe, você acha possível que meu pai tenha tido outros filhos com outras mulheres? – quis saber. – Desculpe por estar perguntando sobre isso, mas eu realmente preciso saber.

      - É possível, aquele homem era capaz de tudo! – exclamou. – Por quê?

      - O garoto que me raptou disse que é meu irmão.

      - Preciso relatar todas essas coisas à polícia – comentou. – Acho que irei agora, pois mais tarde tenho de ir trabalhar. Fique e descanse.

      Concordei. Minha mãe caminhou até a porta, mas parou antes de sair do quarto.

      - Por que não me contou que está namorando? – perguntou.

      - Ah... Eu iria contar, comecei a namorar há pouco tempo... Amber viera aqui?

      - Sim, ela ficou preocupada com seu sumiço. Veio até aqui perguntar sobre você – respondeu. – Ela é simpática e bonita!

      - Muito...

      - Jimmy está apaixonado! – brincou ela, fazendo-me ruborizar.

      Tentei protestar, mas ela deixou o quarto antes que eu o fizesse.

      Senti que meu corpo ainda estava fragilizado, meus pulsos ainda cortados, porém minha mãe fez questão de tratá-los, assim como do ferimento em minha face. Fiquei imaginando que caso estivesse naquela floresta, provavelmente, morreria. Tinha de admitir que tive muita sorte, tanto para escapar, quanto para sair da mata (pelo menos uma vez na vida, fui felizardo). Agora estava seguro no conchego de minha morada, o que me tranquilizou. Depositei a bandeja sobre o criado-mudo e recostei minha cabeça em meu confortável travesseiro, o qual estava ainda mais macio devido às terríveis condições as quais fui submetido. Comecei a valorizar mais as coisas pequenas, principalmente após o ocorrido. Em meio a todo aquele conforto, não tive dificuldades para adormecer.

Já estava na parte da tarde daquele dia quando despertei pelos berros de Lisa, os quais ela utilizava com o intuito de chamar-me para almoçar. Não fiz questão de respondê-la, levantei-me, troquei-me e rumei até a cozinha. No caminho, Yuki viera, toda pomposa, a enroscar-se em minha perna. Acariciei-a.

      - Também senti sua falta! – disse a ela.

      Recebi como resposta um leve miado.

      Após isso, prossegui até meu destino. Adentrei ao recinto, já esperando pelas implicâncias de minha irmã. Como esperado, ela reclamara por eu ter ido almoçar tarde, atrasando seu serviço. Apenas quando a disse a ela que eu iria arrumar a cozinha foi que ela parou de resmungar e deixou-me sozinho no recinto.

      Enquanto alimentava-me, ia formulando meus planos do dia. Arrumarei a cozinha e depois ligarei para Amber. Também precisava conversar com meus amigos e repor a matéria da qual perdera. Estava curioso a respeito daquele estranho nome, Yasuo, caso sobrasse-me tempo, iria pesquisar.

      Arrumei a cozinha e segui até meu quarto com intuito de ligar para Amber. Peguei o celular e fiz o que queria, contudo, estava dando fora de área. Tentei mais três vezes e o que resultou o mesmo. Como não consegui falar com minha namorada, iria prosseguir com meus panos, mas tarde tentaria novamente.

      Liguei o computador e esperei que este carregasse, após alguns instantes, assentei-me na cadeira e iniciei minha pesquisa (claro, coloquei uma música para tocar antes). Procurei pelo nome “Yasuo”, no entanto, encontrei poucas informações a respeito. Nada explicava o que eu necessitava saber. Uma frase permaneceu em minha mente: “o caos pagão”, da qual eu não desejava esquecer. Então, tudo o que está acontecendo pode, de fato, estar relacionado com o tal culto.

      Percebi que na internet não havia muitas informações das quais eu pudesse aproveitar sobre o assunto. Pensei que nesse aspecto, os antigos livros da biblioteca municipal pudessem ajudar de forma mais precisa. Decidido isso, troquei-me, calcei meus tênis, peguei meu MP3 Player (para não ter de escutar aquelas irritantes carros e pessoas os quais nos obrigam a ouvir suas músicas no último volume nas ruas). Desci as escadas, mas antes de sair de casa, avisei minha irmã aonde iria e que não demoraria.

      Deixei minha morada e caminhei pela calçada até a biblioteca, esta não se situa longe, localizada à frente da praça central. Não demorei muito, nem tive dificuldades para encontrá-la. Quando adentrei ao recinto, todos os barulhos da rua foram abafados pela quietude, a qual dominava todo o ambiente. O local não era tão espaçoso como uma biblioteca deveria ser, havia algumas largas estantes dispostas em fileiras e abarrotadas de livros e arquivos, havia também um espaço reservado às mesas, onde as pessoas poderiam utilizá-las para a leitura e estudo. As grandes janelas localizadas nas extremidades do recinto contribuíam com a luminosidade. Na entrada existia um balcão onde uma mulher estava sentada lendo jornal (ela parecia a clássica bibliotecária rabugenta).

      Quando caminhei rumo às estantes, senti o olhar desconfiado da bibliotecária por sobre seus óculos na ponta de seu nariz. Dei de ombros tentando ignorar qualquer incômodo de ser vigiado e foquei-me em minha tarefa. Retirei alguns livros sobre lendas pagãs e decidi que faria minhas pesquisas ali, uma vez que, em minha casa, Lisa provavelmente estaria escutando “músicas” (barulhos) irritantes, das quais ela gostava e ouvia-as em elevado volume, o que me atrapalharia em minha concentração. Escolhi uma mesa, assentei-me e comecei a procurar o que desejava.

      Permaneci por algum tempo pesquisando, no entanto, não consegui encontrar nada novamente. Yasuo, onde conseguiria algo a respeito? Desisti de procurar em livros, retornando-os a seus devidos locais nas estantes.

      Antes de deixar o local, percebi que Phoebe fazia-se presente, o que me fez recordar que ela sofrera uma tentativa de rapto por parte de Karl e Raven. Provavelmente a mandato de Raj, mas qual o objetivo dele de seqüestrar pessoas? Ele as selecionava e eu necessitava saber qual era o seu critério. Talvez conversando com Phoebe, eu pudesse ter alguma resposta (ela não seria minha irmã também, não é?).

      Aproximei-me.

      - Olá, Phoebe. Tudo bom?

      - Ah, olá, Jim Harris. Tudo e você? – Ela fez uma pausa. – Você esteve sumido...

      - Alguém do colégio, tirando meus amigos, notou meu sumiço. Tive alguns problemas...

      - Ah, conte outra...

      - Hã? – perguntei, confuso.

      - Você ainda é muito comentado na escola, mesmo que não saiba. As garotas te acham lindo, mesmo sendo estranho e claro que elas notam, mesmo sumindo por apenas dois dias! – disse Phoebe, nervosa. – Eu poderia sumir por meses e ninguém notaria.

      - Ei, Phoebe, desculpe-me, eu não queria...

      Mas antes que eu pudesse terminar, escutei a bibliotecária pedir silêncio (essa mulher odeia-me, interrompe minha fala, sendo que foi Phoebe quem gritou). Assentei-me ao lado dela.

      - Desculpe-me, não aprecio essa “fama” da qual recebi quando me mudei.

      - Não, eu é quem tenho de desculpar-me, acabei me extrapolando.

      - Tudo bem.

      O silêncio recaiu durante um período, no entanto, decidi quebrá-lo, retornando aos meus planos iniciais.

      - Phoebe, deve ser ruim lembrar-se do dia em que quase fora raptada por aqueles homens estranhos, mas você poderia dizer-me se eles conversaram sobre alguma coisa suspeita?

      Ela observou-me com curiosidade.

      - Eles não falaram nada, simplesmente apareceram e me pegaram. Não falaram nada enquanto me forçavam a andar.

      - Você sabe algum motivo pelo qual eles fizeram isso?

      - Provavelmente queriam dinheiro em troca, é o único motivo que me vem à cabeça. Por quê?

      - A polícia ainda está à procura desses homens perigosos, por isso, decidi ajudar, coletando dados – inventei.

      - Entendo. Desculpe por não ter ajudado muito...

      - Já ajudou – disse.

      Na verdade, não ajudou em nada de minha busca, mas não disse isso a ela, imaginei que, caso o fizesse, ela começaria a achar-se inútil (já possuía um elevado índice de carência, não cabe a eu aumentá-lo).

      - Bem, preciso ir. Até mais – despedi-me.

      - Até mais.

      Deixei a biblioteca sentindo-me mais aliviado (cansara-me do olhar desconfiado daquela “bruxa velha”, ela não fora com a minha cara. Fato!). A rua estava movimentada e ruidosa, muito diferente da tranquilidade a qual dominava todo o recinto do qual estava segundos atrás. No entanto, o barulho não fora empecilho para que eu escutasse meu celular tocar. Era Amber.

      - Alô.

      - Alô, Jim! – exclamou. – Você está bem? Matou-me de preocupação!

      - Sinto muito, não foi minha intenção.

      - Eu sei, mas você está bem?

      - Agora estou.

      - Queria te ver, onde você está?

      Expliquei-a, resumidamente, o que me acontecera e depois o local o qual me encontrava, de modo a marcarmos nosso encontro na praça central. Não esperei muito até avistá-la. Estava linda, como sempre (é, estava meio meloso, talvez por sentir muita saudade). Dois dias preso com aquele povo estranho dava-me a impressão de que foram muitos mais.

      Quando se aproximou, envolveu-me em um caloroso e forte abraço. Acariciei sua pálida e macia face, beijando-a.

      - Seu louco! Não deveria ter-se deixado capturar.

      - Eles temiam minha força, por isso foram baixos, acertaram minha cabeça...

      - Você deveria andar com facas, eu já disse...

      - Por falar em facas, havia muitas lá, de vários modelos. Lembrei-me de você.

      - Ah, que fofo! Você lembrou-se de mim até em situações tensas! – Ela acariciou-me. – As facas eram bonitas?

      - Claro que sempre me lembro de você, afinal, você já tem presença constante em minha mente. – Retribui o gesto de carinho. – Eram, sim. Você adoraria vê-las.

      Amber beijou-me uma vez mais.

      - Que bom que conseguiu escapar. Fiquei muito preocupada!

      - Eu também. Queria vê-la...

      - Bem, falando de coisas boas, vamos ir ao show de uma banda cover dos Beatles que virá aqui em Sinéad?

      - Claro, vai ser ótimo!

      Ficamos um tempo em silêncio, dedicando alguns minutos aos nossos gestos de carinho (beijos, abraços, essas coisas). Após isso, retornamos a nossa conversa.

      - O que você estava pesquisando? – quis saber Amber. – Talvez eu possa ajudar.

      - Sobre Yasuo. Não consegui encontrar praticamente nada a respeito, a única coisa interessante da qual achei foi a frase: “o caos pagão”.

      - Bem, não sei nada sobre, no entanto, talvez minha avó saiba. Quer ir lá?

      - Podemos?

      - Sim, podemos ir lá agora, se você quiser. Ela deve estar em casa.

      - Mas não vai incomodá-la?

      - Não, ela adora conversar sobre isso. Vamos?

      Aceitei o convite de Amber, desse modo, rumamos até a casa de sua avó. Será que ela conhecia a respeito? Será que ela era a pessoa a qual saciará minha curiosidade? Bem, só descobriria se perguntasse. Assim esperava.


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