Sombras sobre Sinéad escrita por Dani


Capítulo 6
"X"




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Qual era o sentido de tudo aquilo? Pessoas, em todo o mundo, preocupavam-se demais com as riquezas e os materiais dos quais produziam e esqueciam-se de coisas realmente importantes, só iriam lembrá-las quando era tarde demais. Aquele era um mundo frágil, a vida era frágil tal como um castelo de baralho, do qual não era necessário muito esforço para todas as cartas desabarem por terra. O material não era carregado para onde quer que fossemos após a morte, até mesmo as memórias eram roubadas de nós, até restar apenas o vazio. Era este o sentimento que percorria em meu ser ao fitar o cadáver de meu pai, um profundo vazio como se estivesse caindo, infinitamente, dentro de mim mesmo e jamais encontrava o fim da queda.

      Há pouco tempo, senti aqueles olhos amarelos e envolventes fintando-me insanamente e, em poucos instantes, restava apenas uma carcaça oca e descartável. O que adiantou o desenvolvimento de nosso cérebro? O que adiantou o ser humano ter a falsa ilusão de supremacia perante aos outros seres se, em nosso leito de morte, somos iguais a qualquer outro, se o fim será o mesmo a todos? Aquela era a verdade nua e crua, da qual todos temem e preferem escondê-la.

      Mas, presenciando tal ocorrido, minha mente abrira às portas para estas reflexões, até mesmo eu, nunca havia dedicado a real importância de tudo aquilo. As pessoas tentam enganar a si mesmas, repudiando tudo aquilo que lhes causava medo, no entanto, a existência só fazia sentido em presença da morte que nos rodeava a todo o momento.

      Meu corpo permanecera imóvel; minha mente distante, navegando sobre todas aquelas questões. Em poucos instantes, uma aglomeração envolvera toda a cena e o ruído de sirenes e vozes amedrontadas tornavam-se, cada vez mais, frequentes. Entretanto, nada daquilo fazia-me acordar de meu profundo transe.

      Escutei a aproximação de minha mãe, desesperada, gritando meu nome, envolvendo-me em um abraço. Contudo, não sentia nada, como se estivesse distante de toda aquela conturbada realidade. Dona Marisa tentava levar-me dali, mas meu corpo não obedecia, ela chamava por mim na tentativa de obter uma resposta, porém tudo era em vão.

      A morte é o início de tudo, sussurrara uma voz da qual parecia vir de meu interior. Senti um arrepio percorrer todas as minhas células e, só então, consegui despertar de meu transe. Pude, novamente, sentir as reais condições físicas das quais meu corpo encontrava-se: trêmulo e encharcado. Minhas mãos estavam feridas devido ao atrito destas com as pedras - das quais formavam a calçada - quando sofri a queda.

      - Jim, por favor, responda-me! – bradou minha mãe.

      - Mãe...?

      - Meu filho, graças a Deus você respondeu! Você está tremendo de frio, temos de deixar este local.

      Observei ao redor, atordoado. Um aglomerado de pessoas curiosas juntou-se a volta do ocorrido. Os médicos estavam retirando o corpo de meu pai do asfalto, mas de nada adiantaria seus serviços naquele momento, pois sabia que ele falecera. O causador do acidente tentava explicar o que acontecera aos oficiais, no entanto, suas palavras eram difusas. Repórteres do canal de Sinéad (sim, aquela cidade possuía um, mas era a coisa mais mal feita da qual já tive o desprazer de assistir) e alguns policiais aproximaram-se de mim e bombardearam-me com perguntas.

      - Ele não está em condições agora! – bradou minha mãe.

      - Mas é necessário que ele dê o depoimento, já que é a testemunha – explicou o oficial. – Aquele motorista está alcoolizado e sem condições de narrar o que acontecera. Chegamos à conclusão de que o motorista viajava em condições precárias e em alta velocidade e, antes de darmos a sentença, precisamos certificarmo-nos com o seu filho.

      Minha mãe preparava-se para responder, mas não fora preciso, pois um oficial conhecido aproximou-se de nós e disse ao seu companheiro de trabalho:

      - Deixem-nos em paz, Joey, o garoto necessita de descanso! – Depois voltou à atenção a aglomeração ao redor. – Circulando, circulando, não há mais o que ver aqui.

      Gradativamente, as pessoas foram deixando o local.

      - Obrigada, oficial Ross – agradeceu minha mãe.

      - Não precisa agradecer, Jim realmente necessita descansar, fora uma noite muito conturbada. É melhor levá-lo para casa agora.

      - Sim.

      Rumamos em direção a nossa casa, da qual não estava muito longe, um quarteirão e já estávamos lá. O que era bom, pois necessitava, urgentemente, de um banho quente e roupas limpas. Foi a primeira coisa, da qual fiz, quando adentrara em minha morada.

Quando retornei ao meu quarto, avistei minha mãe assentada em minha cama, pensativa e serena, seu olhar acompanhou meus movimentos. Ela permaneceu observando-me por um tempo, após isso, levantou-se do local, o qual se encontrava, aproximou-se de mim e envolveu-me em um abraço caloroso, sem dizer uma palavra. Fui responsável por quebrar o silêncio:

      - Mãe, eu... – Mas fui interrompido.

      - Não precisamos conversar sobre isso agora, está tarde. Descanse por hoje, você deve estar exausto.

      - Sim...

      - Boa noite, meu querido.

      - Boa noite.

      Minha mãe atravessou a porta, deixando-me sozinho apenas com meus pensamentos. Yuki adentrou e aproximou-se de mim, começou a miar. Fitei-a, perguntando-me se ela estaria com fome, por esse motivo, rumaria a cozinha com o intuito de solucionar tal problema. Contudo, quando cheguei a porta, senti meu corpo pesado, como se todas as minhas forças estivessem exaurindo-se; minhas pernas e meus braços estavam trêmulos e minha visão turva. Não tive tempo de fazer mais nada antes de ser entregue à escuridão.

Meus olhos abriram-se lentamente, mas logo se fecharam devido à claridade local (as cortinhas estavam abertas) até acostumar-me com o ambiente. Senti mãos calorosas segurar as minhas, pertenciam à minha mãe, a qual estava sentada em um banco ao meu lado. Relembrei que, quando desmaiei, havia sido próximo a porta e, agora, estava em minha cama. Um pano úmido estava depositado em minha testa, molhando alguns fios de meu cabelo.

      - Graças a Deus você despertou!

      - Mãe... o que realmente aconteceu? – Sentia-me fraco.

      - Ontem, durante a noite, Yuki correu até meu quarto e começou a miar. Fui seguindo-a até seu quarto e o encontrei caído. Você está ardendo em febre!

      - São quantas horas?

      - São sente e meia da manhã.

      - Estou atrasado para a escola, tenho prova hoje! – exclamei.

      - Esqueça isso, meu filho, você não está em condições. – Ela acariciou meu cabelo desgrenhado. – Vou preparar seu desjejum, tente descansar.

      Minha mãe beijou-me o rosto, após isso, deixou o quarto fechando a porta lenta e levemente. Permaneci imóvel fitando o teto, pensando em como irritava quando ficava “impossibilitado” de fazer o que quero. Odiava adoecer e, se não melhorasse, provavelmente teria de ir ao médico (detesto isso!). Aquilo me perturbava profundamente, precisava melhorar o quanto antes e sabia que o primeiro passo era tentar não me preocupar.

      Relaxei meu corpo rígido e tentei não pensar em médicos. Permaneci imóvel naquele silêncio tedioso e percebi que meus olhos estavam pesados. Quando estava prestes a fechá-los, a frase: a morte é o começo de tudo, percorreu minha mente, fazendo-me estremecer e despertar de um susto. Decidi não adormecer, fiquei imaginando que, caso o fizesse, jamais regressaria a esse mundo novamente.

      Praguejei baixo, ainda irritado com minhas condições. Minha cabeça doía e meu corpo parecia ter mais peso do qual, em minha fraqueza, conseguia suportar. Fechei os olhos e respirei fundo, mas sempre quando o fazia, relembrava a terrível cena do acidente: o sangue, o motorista bêbado e, por fim, a carcaça de meu pai caída em meio a estrada. Eu sabia que carregaria aquela imagem durante muito tempo, talvez nem mesmo uma lavagem cerebral fizesse-me esquecê-la.

      Escutei a porta de meu quatro abrir-se novamente e, naquele instante, os pensamentos ruins abandonaram minha mente. Dona Marisa adentrou ao recinto segurando uma bandeja, a qual continha minha caneca, um prato com torradas e pães de cenoura. Ela depositou tal item acima do criado-mudo, o qual se situa ao lado de minha cama e voltou-se em minha direção.

      - Trouxe seu café, querido. Espero que goste! – Ela sorriu.

      - Obrigado, mamãe... – Fiz uma pausa. – Mãe, seria possível você trazer-me o jornal matinal?

      - Claro, querido.

      Ela não demorou muito para efetuar o que lhe havia pedido e retornou trazendo consigo um exemplar do jornal e meu celular. Depositou-os próximo a mim.

      - Vou ter de sair, mas não demoro. Qualquer coisa, ligue-me.

      - Sim, claro. Obrigado por tudo, mamãe.

      Quando minha mãe deixou a casa, voltei minha atenção ao meu desjejum e ao jornal, pois, enquanto comia, ia analisando o noticiário (pelo menos, alguma coisa para fazer naquele tédio!). Como esperado, a capa enfatizava o acidente, o qual ocorrera noite passada. Todo aquele acontecimento era incomum em uma cidade tão pacata, onde o esperado era notícias simples, como: “gambá invade residência et cetera.”. Além disso, tudo o que acontecia de anormal, eu estava envolvido em tais situações, eu trouxera a tempestade a este local.

      Não gostava de tal posto, muito menos de minha imagem estampada na capa do jornal, pois as repercussões e as fofocas diárias daqueles pobres jovens estudantes recairão sobre mim (droga!).

Três dias de inércia doentia passaram-se lenta e tediosamente até sentir-me melhor, no dia seguinte retornaria à escola (nunca pensei que fosse ficar tão ansioso por isso, mas, provavelmente, arrependeria disso). Naquela manhã, teria de acompanhar minha mãe até a delegacia, o que não seria nada agradável por sinal.

      Arrumei-me rapidamente e desci até o jardim, adentrei no automóvel e esperei, por alguns segundos, por minha mãe. Ela sentou-se ao meu lado e, assim, prosseguimos com o nosso rumo. Ficamos em silêncio por um bom tempo, até ela decidir quebrá-lo:

      - Meu filho, naquela ocasião, o que seu pai fez a você?

      - Ele abordou-me e tentou convencer-me a ir a algum local com ele. Pelos seus avisos, imaginei que ele fosse perigoso e, por esse motivo, não aceitei o convite. – Fiz uma pausa. – Ele insistiu e, com isso, tentei fugir. Foi assim que tudo aconteceu...

      - Eu sinto muito, meu filho.

      - Não se preocupe, mãe.

      O silêncio recaiu sobre nós, realmente, não havia muito a ser dito a respeito de uma situação como aquela e, por isso, não fiz questão de continuar com aquele diálogo. Voltei meu rosto em direção a janela, com o intuito de fazer algo para ocupar-me. Pessoas alheias e sem importância transitavam de um lado a outro, seguindo com suas vidas como se fossem vultos ao meu redor, no entanto, alguém me chamou a atenção. Era um garoto, mais ou menos de minha idade e muito parecido comigo. Seus cabelos também eram negros e desgrenhados, sua pele pálida, havia uma cicatriz em seus lábios finos e em sua sobrancelha negra. Ele trajava roupas surradas e escuras: sobretudo, camisa, calça jeans e All Star.

      Seus olhos verde-escuros fitaram-me friamente, o que fez perguntar-me se ele avistara minha foto estampada na capa do jornal e reconhecera-me (o que era ruim, muito ruim, pois aquele garoto parecia mal encarado). Decidi desviar meu olhar em outra direção e perder-me em pensamentos até alcançar nosso destino.

      Chegando à delegacia, fui direcionado à sala do oficial Ross. Ele fez algumas perguntas, das quais respondi como pude e logo fui liberado. Reencontrei minha mãe e, juntos, regressamos à nossa morada.

      - Por que não me falou antes, mãe? – comecei um diálogo.

      - O quê? – pergunto ela, sem entender.

      - Você e o oficial Ross. Vocês dois andam encontrando-se, não é?

      Ela ruborizou.

      - Bem, ele é gentil e muito prestativo e acabamos interessados um pelo outro, mas não é nada confirmado. O que você acha?

      Gargalhei.

      - Se está sendo bom para você, então não vejo problema.

      - Como ficou sabendo?

      - Tenho meus contatos – brinquei. – Ele me perguntou o que eu achava disso, respondi o mesmo que respondi a você.

      - Entendo. Pelo menos a sua aprovação eu já tenho, agora falta a de Lisa.

      - Ela também não encontrará problemas nisso.

      Com essa conversa, prosseguimos até nossa casa, animados. Um momento para descontrair era muito bem-vindo.

Naquela manhã, retornaria a escola depois de tantos dias (parece até que foram meses sem estudar!). Lisa já estava nervosa comigo, pelo fato de estarmos atrasados (para não perder o costume), ela não gostava, nem um pouco, de chegar tarde, pois adorava ficar de fofoca com as amigas patricinhas antes de iniciar a aula.

      - Vamos, Jimmy, você sempre dorme demais e me atrasa! – bradou Lisa.

      - Eu não durmo demais! Não tenho culpa se não consigo dormir bem durante a noite e sim, de manhã.

      De fato, isso era uma verdade. Passava noites enfadonhas tentando dormir e, muitas vezes, conseguia tal façanha quando estava para amanhecer. Além disso, estava tendo muitos pesadelos, o que atrapalhava, ainda mais, meu sono noturno. No entanto, não tive mais tempo para pensar em quanto tempo dormia, pois Lisa arrastou-me casa afora.

      Quando passei pela porta, senti aquele vento frio e matinal bagunçar meu cabelo (aquela era uma ótima sensação), Lisa, no entanto, estremeceu com aquele ambiente gélido e, por esse motivo, apressou os passos. Tive de tomar certa velocidade para alcançá-la Seguimos em silêncio até nosso destino, minha irmã estava muito menos tagarela desde que ficou sabendo do acidente, como se temesse encarar tal fato. Não tentei forçar, afinal, conseguia entendê-la, ela possuía apenas catorze anos, é muito comum ela tentar evitar qualquer tipo de coisa ruim, como se não existissem. Muitos adolescentes acham que são imortais, que serão lindos e jovens eternamente e que, as piores coisas do mundo, as quais podem acontecer é o amado (a) terminar o namoro ou a mãe não deixar ir à festa mais esperada do momento e todo esse tipo de clichê já conhecido. Vivem apenas em seus mundinhos.

      Sorri com esse pensamento, era engraçado analisar tal fase da vida, como eram tolos e pequenos sonhadores. Contudo, essa reflexão teve de abandonar minha mente assim que adentrei a escola. Estranhei o fato de o pátio estar vazio, mas, provavelmente, estávamos tão atrasados que o professor já iniciara sua aula. Despedi-me de minha irmã e apressei-me até a sala.

      Quando adentrei ao recinto, todos os olhares voltaram-se em minha direção e, na medida em que caminhava até meu costumeiro lugar (a carteira mais isolada do canto do fundo), gradativamente, os murmúrios aumentavam sua intensidade. Provavelmente fofocavam a meu respeito, já esperava por isso e não me incomodava nem um pouco. Lancei um olhar a meus amigos e eles confirmaram minhas suspeitas.

      O barulho dos murmúrios estava tão intenso que o professor de linguagens teve de pedir silêncio para prosseguir com sua explicação. Aquilo estava tão tedioso quanto à inércia da qual fui submetido em meus períodos doentios, entretanto, o fato de eu ter mudado de ambiente já era um fator positivo. Precisava, agora, encontrar algo com o qual pudesse ocupar-me. O sono tomou conta de meu corpo de tal forma que não consegui resistir, recostei minha cabeça sobre a carteira e senti meus olhos pesados até fecharem-se por completo.

Despertei com a voz estridente de Eleonora em meu ouvido, olhei confuso para o lado e percebi que minha professora estava furiosa com minhas condições. Os outros alunos debochavam, ruborizei e apressei-me a pedir desculpas, não muito convincentes, mas o suficiente para ela não me mandar à diretoria.

      Dormira profundamente durante a aula de português e parte da aula de Eleonora. Nunca consegui tal proeza antes. Por mais que eu tenha descansado durante três dias, sentia-me exausto, talvez pela minha falta de sono noturno.

      Sonhei com algo perturbador: meu pai perseguia-me por todo lugar dizendo a terrível frase: a morte é o começo de tudo. Por mais que eu tentasse escapar, ele sempre estava à espreita. Talvez tenha sido um alívio despertar, mesmo que tenha sido pela poluição sonora que era a voz de minha professora.

      Passei o restante das aulas tentando refletir sobre tudo o que acontecera (minha vida já estava parecendo um filme!), mas minha mente estava tão devagar quanto uma tartaruga fora da água, ainda sentia-me atordoado. Pelo menos, a hora do intervalo não tardou, estava faminto, precisando de algo o qual pudesse suprir minha necessidade básica.

      Encontrei-me com meus amigos, estes me fizeram variadas perguntas a respeito do acidente e, até mesmo, o motivo pelo qual sumi durante uns dias. Após todo o questionário, fora a minha vez de fazer perguntas:

      - Qual a novidade no colégio?

      - Praticamente nenhuma – respondeu Jon.

      - Na verdade, são três – disse Jenny. – Primeira, Luke e eu estamos ficando; segunda, sua namorada veio procurá-lo ontem; terceira, Susie não vem a aula há muito tempo.

      - Amber viera? – questionei.

      - Sim – desta vez ouvi a voz de David. – Disse a ela para visitá-lo ou ligar, mas ela disse que não queria incomodar e depois falava com você.

      - Preciso ligar para ela... – comentei. – Mas, mudando de assunto, parabéns, Luke e Jenny!

      - Obrigado – agradeceu Luke.

      - E, continuando, Susie deve estar matando aula, porque deve estar viajando.

      - Não. – O tom de David tornou-se sombrio. – Ela está desaparecida!

      - Desaparecida?! Como não fiquei sabendo disso antes?! – assustei-me.

      - Talvez porque você vive no mundo da lua! – brincou Jon.

      - Rá! Rá! Muito engraçado, Jon... – ironizei.

      - Provavelmente ela está desaparecida desde semana passada, mas só divulgaram hoje pedindo ajuda para quem tiver alguma pista – disse Jenny.

      Aquela notícia era ruim, muito ruim. Não conseguia descartar a hipótese da qual aqueles loucos de antes pudessem ser os responsáveis por súbito sumiço. Na verdade, aquela ideia era a melhor explicação da qual eu poderia formular em minha mente. Aquela cidade era, de fato, perigosa. Florestas sinistras, pais psicopatas, bruxas, participantes de seitas macabras e usuários de magia negra faziam parte do elenco daquele local.

      Estava tão entretido com meus pensamentos mirabolantes que não escutei o sino que indicava o final do intervalo, meus amigos tiveram de puxar-me sala adentro.

      As aulas seguintes passaram efêmeras, pois sempre quando tinha algo para fazer (nesse caso, criar mais teorias bizarras) o tempo passava-se, relativamente, rápido. Não demorei na escola, logo rumei para casa.

Passei a tarde lendo e estudando (já havia perdido uma prova, não podia “molengar”). Quando chegou a noite, decidi fazer uma parada com o intuito de ligar à Amber e, após isso, fazer um lanche. Peguei meu celular da escrivaninha e esperei alguns instantes, até ser atendido.

      - Alô.

      - Oi, Amber, sou eu, Jim. Como vai?

      - Vou bem. Que bom que você ligou! Estive com saudades e muito preocupada, como está depois de tudo o que ocorrera?

      - Até que estou me recuperando bem, à medida do possível. Agradeço muito sua preocupação, também estou com saudades. Talvez possamos sair este final de semana.

      - Sim, será uma boa!

      Permanecemos conversando durante um bom tempo, até perceber que meus créditos estavam esgotando-se e, por esse motivo, tive de despedir-me. Após desligar o celular, segui até a cozinha com o intuito de saciar minha necessidade básica. Notei que não havia ninguém em casa, pois Lisa estava na casa de uma amiga e minha mãe ainda no trabalho.

      Dei de ombros e prossegui com meus planos iniciais, arrumei meu lanche e já estava prestes a saciar-me quando avistei minha gata. Yuki carregava várias folhas de jornais em sua boca. Quando se aproximou, ela depositou os papeis ao chão.

      - O que é isso? – perguntei.

      Ela miou.

      Ajoelhei para analisar a papelada e percebi que aquelas eram as capas dos noticiários das quais falavam do acidente, aquelas que apresentavam minha imagem. No entanto, algo me assustou: havia um “X” em vermelho em minha foto, em todos os papéis.

     Realmente aquela cidade não era segura. Havia alguém ali que desejava, com toda a certeza, a mina morte (fico tão feliz com minha sorte!). Gargalhei, pensando que sempre acontecia algo para piorar o que já estava ruim. O que será de mim daqui para frente?


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