Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 8
Capítulo 08 - Sorriso




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"Por que tão sério?"

~ Coringa (Batman - The Dark Knight, filme de 2008)

Capítulo 08 - Sorriso

 Dessa vez, o cenário do sonho é diferente, sendo mais escuro e nada urbano: uma floresta, com árvores por todos os lados, sendo a maioria delas desfolhada. Um clima úmido e desagradável, para não dizer assustador. Apesar da pouca luminosidade, Monalisa podia perceber a si mesma usando um vestido azul com uma espécie de avental branco na parte da frente, além de longas meias brancas e sapatinhos pretos. Não é o tipo de roupa que faz sucesso na moda atual e nem mesmo um estilo que ela gostava, mas era o que estava usando. Colocando as mãos no cabelo, ela também percebe uma tiara preta. Que tipo de ambiente exótico ela estaria entrando agora?

 Ela caminha lentamente pela trilha da floresta, ouvindo o piar da coruja e temendo pelo perigo que poderia estar à espreita atrás de qualquer árvore. Em um certo momento de sua caminhada, acaba se deparando com uma encruzilhada, que dividia a trilha em dois caminhos.

"E agora?", pensa Monalisa, com uma cara de preocupação, "Para onde devo ir?"

 Nisso, ela ouve um miado vindo de cima. Um gato? Sim, isso mesmo, a pouca luz só permitia que ela visse uma leve silhueta do bichano, além dos olhos amarelhos brilhantes.

- Olá - diz o gato, abrindo um sorriso branco em forma de meia lua, que a garota também conseguia ver na escuridão.

- O-olá - ela responde timidamente.

- Parece perdida? - pergunta o gato, ainda com um sorriso no rosto.

- S-Sim...poderia me dizer que caminho devo tomar?

- Isso depende - responde ele - Depende muito de onde você deseja ir, Alice.

- Alice? Não, espere..meu nome é...

- Mas seja lá onde deseja ir - o gato interrompe, virando sua cabeça para baixo e invertendo o sorriso - Deveria sorrir mais.

- Hã?

 E, do nada, ela acorda. Ao abrir os olhos, se depara apenas com a escuridão de seu quarto. Não havia mais nenhum sorriso em forma de meia-lua e muito menos um gato. Por alguns instantes, Monalisa reflete sobre seu sonho. Um gato sorridente que a chamou de Alice? Qual o significado disso? A garota acende rapidamente o abajur, abre a gaveta do criado mudo e anota seu sonho no diário, com todos os detalhes que podia se lembrar.

 Ao terminar, tenta refletir mais um pouco. Não havia se passado nem um dia desde que Monalisa descobrira estar vivendo numa mentira. O mundo todo à sua volta e todas as pessoas que o habitavam não passavam de uma conspiração bizarra chamada Labirinto, cujos verdadeiros motivos ela desconhecia. Parecia loucura, mas os acontecimentos estranhos que ela vivenciou nos últimos dias provavam o contrário. A conspiração é tão forte que ninguém pode revelar nada sobre ela sem permissão e a única maneira possível de se aproximar da verdade é seguindo as pistas que aparecem em seus próprios sonhos. E aquele sonho, certamente, deveria ter uma pista.

 Embora passe algum tempo quebrando a cabeça, ela acaba caindo no sono, só acordando no dia seguinte, ainda com o sonho do gato na memória. Sua manhã passa de um jeito absolutamente normal. Os pais apressados como sempre, a cidade barulhenta e o céu nublado. Munida de uma blusa extra para o frio do dia, Monalisa segue para as aulas, ainda olhando de lado para todos os cantos. Nada aparentava fora do comum, mas, ao mesmo tempo, todos sabiam que não estava. Como uma mentira consegue ser mantida assim, mesmo que os dois lados saibam do que realmente acontece? Sinal de que a verdade era muito além daquilo e Monalisa precisava descobrir o que era.

 Ela passa pelo quarteirão da papelaria, onde tudo aquilo havia começado e lembra que havia um gato preto nas redondezas. Teria algo a ver com o sonho? Talvez devesse passar por ali para ver se encontrava mais alguma pista, mas antes que pudesse terminar seus pensamentos ouve a voz de sua amiga Luana de longe.

- Mona! Bom dia! Acabamos nos encontrando! - grita a menina escandalosamente. Monalisa apenas suspira e olha para trás. Ela tenta se lembrar que Luana nunca revelaria nada, mesmo que fosse ameaçada de morte.

- B-Bom dia - é tudo que a mocinha responde.

- E aí? Fez a lição de Matemática? Acabei esquecendo, você pode me emprestar?

- Claro. Você sabe que pode - ela responde. E, realmente, ela sabia que podia.

- Você é uma fofa mesmo. Eu juro que é a última vez!

 Mas Luana era do tipo que sempre esquecia a lição. Como se fizesse alguma diferença. Ela, a professora, todos na escola...tudo era parte de uma coisa só mesmo. Como gostaria de poder desmascarar tudo, mas não podia. Pelo menos não ainda.

 Ao chegar no colégio, Monalisa consegue despistar Luana e vai até o banheiro. Ela lava o rosto e respira fundo para enfrentar mais um dia. Nenhum de nós consegue imaginar o fardo que deve ser carregar uma mentira universal e ser obrigado a encarar tudo como se nada estivesse acontecendo. Saber que está sendo enganado e aceitar essa mentira. Isso é o peso nas costas de Monalisa. Ela suspira e começa a pensar se não era melhor ter escolhido tomar o café...e provavelmente esse pensamento irá revisitar sua cabeça muitas e muitas vezes. Ela se olha no espelho e vê uma lágrima escorrendo de seu olho verde esquerdo. Era o peso da mentira que precisava carregar. Uma hora ela teria que sair e enfrentar tudo...mas mesmo que não saísse, o mundo sabia tudo pelo que estava passando.

- Mona? - diz uma voz, se aproximando devagar da garota.

- Ah...você é a...Ariadne? - ela se espanta, assim que olha o reflexo da colega no espelho, voltando-se rapidamente para trás.

- Sou eu. Err...você tá legal? - pergunta a ruivinha com uma expressão séria.

- Eu? Ah, sim. Tudo bem - responde Monalisa.

- Parece que você tava chorando. Qualquer coisa eu vou com você falar com a professora e..

- Não precisa. Eu tô bem. Muito bem. Obrigada.

- Qualquer coisa..é só falar - sorri Ariadne.

- Tá legal. Obrigada de novo - agradece Monalisa, saindo lentamente dali - Err...a gente se vê na sala.

- Tudo bem

 Aquela garota, a Ariadne. Ela também devia fazer parte do Labirinto, mas tinha alguma coisa de especial nela. O primeiro sonho estranho que Monalisa teve foi junto com Ariadne. Que tipo de pessoa ela poderia ser? Não tinha pistas suficientes para isso, mas não tinha bons pressentimentos sobre ela, por mais legal que Ariadne pudesse parecer. Aliás, não tinha pistas suficientes sobre muita coisa.

 O dia de aula passa normalmente. Monalisa tenta levar tudo da maneira mais normal possível, mas era difícil, extremamente difícil agir naturalmente sabendo que todo mundo está fingindo. Qualquer um ficaria louco, mas ela precisava manter a cabeça fria e continuar agindo para sair do Labirinto. Iria atrás da primeira pista assim que saísse da aula, mesmo não tendo muita certeza do que fazer.

 Assim que toca o sinal da saída, Monalisa consegue sair rapidamente (embora, no fim, todos soubesse onde ela estava indo) e segue para o quarteirão da papelaria, onde ela tinha a suspeita de que iria encontrar quem estava procurando. A menina segue lentamente pelas ruas, esperando encontrá-lo e, de fato, consegue.

- Miau! - o miado que ela ouve. Imediatamente, a menina se volta para trás e vê o gato preto que andava por ali. O mesmo que apareceu em dois de seus sonhos. Ele devia ter alguma pista, mas parecia ser um gato normal, não importa como fosse observado.

- Você...é com você mesmo que quero falar - ela diz, torcendo para que ninguém mais estivesse escutando. Sabia que o gato a entendia, mas o bichano apenas olha para Monalisa sem reação alguma, enquanto balançava a longa cauda. Como fazê-lo entender?

- Miau - o gato mia de novo. Parecia não ter nenhum sentido no que estava fazendo, mas ela tinha convicção de que aquele gato carregava a próxima pista. Precisava ativar o gatilho de algum jeito. Mas qual seria esse gatilho? Nisso, ela se lembra de seu sonho, quando o gato sorridente lhe diz: "Você deveria sorrir mais". Sorrir? O que isso tinha a ver? Sorrir é algo que Monalisa raramente fazia, já que achava idiota sorrir por qualquer motivo. Não sabia sequer sorrir para tirar fotos (nas raras vezes que a forçavam tirar fotos), mas parece que naquela ocasião era algo a se tentar. Sorrir...tudo bem, ela tenta. Olha fixamente para o gato e move os lábios de forma a emitir algum sorriso. Ela imagina que não era o melhor dos sorrisos, mas era um sorriso. Mesmo assim, parece não ter tido resultado.

- Nada - diz Monalisa, ao ver o gato indiferente - Preciso pensar em outra coisa...

 Mas assim que Monalisa se vira para pensar em outra forma de ativar o evento, ouve uma voz irônica, que arrepia cada um de seus fios de cabelo.

- Você realmente fica bonita quando sorri, Alice.

 Ela se volta rapidamente para o gato. Sim. Ele falou. Mais do que isso, estava sorrindo abertamente e de forma sarcástica, exatamente como no sonho. A garota arregala os olhos e sente seu coração acelerar. Era uma presença assustadora, mas havia conseguido ativar o evento.


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Notas finais do capítulo

Por que Alice? E o que o Gato Sorridente tem a dizer? Revelações no próximo capítulo! Até lá!