Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 52
Capítulo 52 - Amigas




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"Fugazmente minha

 Sereia

 Ser areia

 Será, rainha?"

 ~ Francismar Prestes Leal

Capítulo 52 - Amigas

 Sem dúvida eram suas duas colegas de escola: Cibele e Luana. As duas estavam diante dela, com um sorriso simpático no rosto, embora vestidas de um jeito não muito usual. Na verdade, a forma com que elas se apresentavam não era nada usual. As duas estavam em um tipo de piscina, aliás, um espaço de água bem pequena. Usavam a parte de cima de um biquini verde e, logo abaixo, havia um rabo de peixe. Isso mesmo. Luana possuía uma calda verde e Cibele uma calda vermelha. Eram como...sereias, aquelas criaturas metade mulher e metade peixe.

- Monalisa! Há quanto tempo! - cumprimenta Cibele cordialmente.

- A voz que eu ouvi...não era de vocês.

- Oh, não? - diz Luana cinicamente - De quem mais poderia ser?

 A situação era óbvia. Aquelas duas deram um jeito de imitar a voz de Ariadne e atrair Monalisa para lá. O que era um problema, já que a guia orientou Monalisa a ficar em um lugar só, mas como ela poderia imaginar que seria enganada tão facilmente? E como poderia escapar delas?

- Seja como for, não tenho nada a tratar com vocês - diz a garota, secamente - Sei muito bem quem vocês são.

- Claro que sabe - diz Cibele, com uma voz tão doce que ninguém poderia imaginar que ela possuía más intenções - Somos suas amigas. Suas melhores amigas.

- Do que estão falando? Tudo que vocês querem é ficar no meu caminho!

- Ficar no seu caminho? - pergunta Luana - Como poderíamos? Somos apenas sereias..metade garota e metade peixe.

- Não podemos andar...só respirar embaixo da água.

 Olhando por essa lógica é verdade que elas não podiam fazer muita coisa naquela forma. Sendo assim, seria fácil escapar, bastando voltar pelo mesmo caminho. Mas o Labirinto nunca é o que parece ser.

- Fique mais um pouco. Queremos conversar. Faz tempo que você não fala com a gente...só vive para cima e para baixo com aquela Ariadne.

- Não tenho nada para falar com vocês! - responde a garota secamente, dando meia-volta e abrindo a porta para voltar por onde havia entrado. Mas como já foi dito, no Labirinto nada é o que parece ser e assim que abre a porta, ela entra de cara em uma sala totalmente coberta de água. Simplesmente tudo à sua volta era água. Monalisa se desespera, mas não demora muito para perceber que conseguia respirar embaixo da água. Como era possível? Mas ela logo sacode a cabeça espantando essa reflexão. De acordo com a orientação de Ariadne, quanto mais se questionar o Labirinto, pior ele se torna.

- Ora, ora, você também consegue respirar debaixo da água, Mona? - diz Cibele que surge do nada atrás da garota.

- O que...vocês fizeram? - pergunta Monalisa.

- Nós? Nada! - responde Luana, sorrindo cinicamente - Foi você quem abriu a porta.

- Eu quero...eu quero sair daqui - reclama Monalisa, nadando para longe, mas se mesmo quando se está andando é difícil se orientar em um labirinto, quando se está debaixo da água as coisas pioram ainda mais. Ela nada e procura por saídas, mas tudo que vê é água e mais água. Mesmo que ela nadasse quilômetros não encontraria nada de novo. Ou era um local muito vasto ou ela estava andando em círculos mesmo.

- Por quê? O que está havendo?

- Que bom, Mona! Você resolveu ficar! - parabeniza Luana, surgindo do nada mais uma vez e segurando nas mãos da mocinha - Vamos papear e fofocar sobre os meninos...

- Eu preparo algumas ostras - fala Cibele, também sorridente.

- Me deixem em paz! - retruca a menina, soltando bruscamente as mãos de Luana - Tudo que vocês querem me deixar presa aqui para sempre!

- E qual o problema com isso? Não é gostoso ficar com as amigas? - pergunta Cibele.

- Mas...

- Ou será que não se lembra de nenhum dos momentos que passamos juntas? - diz Luana.

 Essa última frase mexe com as lembranças de Monalisa da camada anterior. Ela se lembra o quanto era uma menina calada e quieta em seu canto, até que Cibele veio puxar conversa com ela. As duas não se falaram muito no começo, mas passaram a se dar mais ou menos bem quando Monalisa descobre que Cibele, assim como ela, tinha uma preferência por música clássica, o que era bem raro na idade delas. Já Luana, mais extrovertida que as duas juntas, se tornou amiga após fazer um grupo de trabalho com elas. Não havia gostado da ideia no começo, mas logo se deu bem no grupo. As três não chegavam a fazer muitas coisas juntas, mas mesmo as pequenas coisas tinham algum significado, mesmo que tenha sido apenas assistir a um filme na casa de Luana. Seria uma relação amigável superficial ou os laços de amizade são fortes desde que fossem sinceros? A garota nunca sentiu muita força na amizade com elas, mas reconhecia que das pessoas com quem conviveu no Labirinto elas eram as mais próximas. Monalisa fica um pouco pensativa.

- Mas...aquilo tudo era uma mentira - retruca Monalisa - Nada daquele mundo era real...

- Você está errada - diz Luana - Nunca foi mentira. Agimos como suas amigas o tempo todo. E seríamos suas amigas sempre, sem problema algum.

- Que tipo de amiga interfere na liberdade da outra? Vocês são só parte do Labirinto como todo o resto! - Monalisa grita nervosa (com o máximo que se pode gritar submersa).

- Vai deixar só um detalhezinho desses estragar tudo? - retruca Cibele - Só queríamos ficar com você para sempre!

- Eu...eu não quero ficar! Vocês não entendem! Minha vida toda foi uma mentira...e nunca ninguém quis me contar a verdade.

- Isso é tudo que não podemos fazer - diz Cibele, com um ar de lamentação - Podemos fazer tudo que você quiser...brincar, conversar, cantar...mas só não podemos dizer a verdade.

- Mas é só um detalhe - fala Luana, animada - Vamos brincar e jogar...assistir filmes...comer coisas gostosas...coisas que amigas fazem! Agora o Labirinto não é mais aquele mundo chato. Podemos fazer tudo que a gente quiser!

- É verdade! Não precisamos nos preocupar com mais nada...é como se fosse um sonho que nunca acaba

- Como poderia... - balbucia Monalisa - Como poderia brincar e ser feliz sabendo que tem uma coisa que todo mundo esconde de mim e ninguém me conta? Eu não quero! Não quero ficar aqui!

- Você diz que não quer - fala Luana, mudando para um tom um pouco mais sério - Mas como vai se virar por aí se acabou se perdendo da própria guia? Sem aquela garota, você não tem a menor chance!

- É por isso que vou encontrar Ariadne de novo e vou sair desse pesadelo não importa o tempo que leve - retruca Monalisa.

- Que garota mais teimosa - reclama Cibele - Parece que tudo que passamos não significou nada para você, não é?

- Claro que sim! - diz ela - Os momentos que passei com a Luana e a Cibele foram ótimos, mas...isso foi antes de descobrir a conspiração do Labirinto. A partir daquele momento, eu não fui mais a mesma e nem vocês.

- O que quer dizer? - pergunta Luana, se mostrando mais séria do que de costume.

- Eu assumi as consequências da minha escolha de desafiar o Labirinto...eu sabia que poderia sofrer, mas...mas eu tive que escolher isso. Não suportaria simplesmente ignorar o fato de que estou sendo enganada, que todos estão conspirando contra mim e aceitar tudo como se não fosse nada. Tudo bem, eu até pensei que fiz a escolha errada várias vezes, mas sempre que penso melhor, descubro que não poderia ter escolhido melhor.

- Você prefere sofrer do que se conformar com um segredinho..você é mesmo uma menina estranha - fala Cibele, com um ar de tédio.

- Segredinho? Se é tão pequeno, por que nenhuma de vocês me conta? O que é tão grave que ninguém pode me contar? O que é afinal essa conspiração toda?

- Não podemos falar - diz Cibele - Simplesmente isso. É a única regra. Você só precisa ignorar isso e viver feliz conosco. O que tem de díficil nisso?

- Não vou ouvir! Não vou! - Monalisa tapa os ouvidos. As duas sereias apenas olham com apatia.

"Preciso dar um jeito de reencontrar a Ariadne...com certeza ela sabe onde estou", pensa Mona, "O problema...é me livrar dessas duas. Mas como vou fazer isso?"

- Ela rejeita a nossa amizade totalmente, Cibele - fala Luana, agora em um tom extremamente sério e com um olhar intensamente frio - Não acha que devemos submetê-la aquilo?

"Aquilo?", pensa Monalisa que, mesmo com as mãos nos ouvidos, conseguia ler os lábios de Luana (ou talvez ela mesma tenha permitido isso).

- Tem razão, Luana - concorda Cibele - Fizemos o possível, oferecemos toda a felicidade a ela e mesmo assim ela recusa. Acho que já chega de sermos tão generosas.

"E-Espere...o que essas duas vão fazer?", pensa Monalisa, suando frio (se é que isso é possível debaixo d'água).

 "Oh, não, Monalisa!", era o pensamento de Ariadne, que estava em algum lugar do Labirinto correndo e eliminando todos os obstáculos na tentativa de chegar onde sua protegida estava, "Tenho um mau pressentimento..mas por favor, aguente firme!"


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Notas finais do capítulo

Desculpe o capítulo curto, mas o suspense me obrigou (Bwahahahahahha!). Espero postar o próximo no domingo. Até! ^^



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