Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 4
Capítulo 04 - Mensagem


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar no fim de semana, mas como aqui em casa vai ser meio atípico por conta do Dia das Mães, achei melhor adiantar o capítulo. Boa leitura!



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"As palavras são mais misteriosas do que os fatos"

~ Pierre Orlan

Capítulo 04 - Mensagem

  Mesmo com um ligeiro mal-estar, Monalisa acompanhou suas amigas em direção à papelaria. Tudo que precisavam fazer era comprar uma borracha nova, mas, por que aquela sensação de que alguma coisa iria acontecer? As três se aproximaram do estabelecimento. Havia uma pequena placa acima da porta que Monalisa não havia reparado quando passou por ali pela primeira vez que dizia em letras vermelhas: "Tenório - Papelaria e Presentes".

- Nossa, como tinha uma papelaria aqui e eu nunca reparei? Preciso me informar mais - comenta Cibele.

- Eu também não sabia. Descobri outro dia - diz Monalisa, ainda com a cabeça na aluna nova e em seu sonho. Precisava de respostas urgentemente, mas aquelas duas não iriam deixar a garota se concentrar tão facilmente.

- Até que você ainda bastante por aí, heim, Mona? - diz Luana - Nem para chamar a gente para os seus passeios?

- Passeio? Mas estamos praticamente do lado da escola - responde a loirinha.

- Não liga pra ela, Mona - fala Cibele - Vai, vamos comprar logo a borracha.

 As três entram na loja e ouvem o soar de uma campainha. Parece que a papelaria ativa aquelas campainhas automáticas sempre que um novo cliente chega. Fora isso, o lugar não apresentava nada de impressionante. Era relativamente pequeno, com algumas prateleiras de papeis e cadernos dos mais variados tipos, o balcão com alguns materiais à mostra, vitrines pelos dois lados exibindo mais produtos e mais prateleiras do lado de trás do balcão com ainda mais itens. Como foi dito, nada além de uma comum e entediante papelaria.

 Entediante na visão de Monalisa, é claro. Afinal de contas, papelarias sempre atraem as meninas como flores atraem as abelhas. Materiais escolares bonitinhos, rosas e caros estavam por toda parte e é claro que as garotas precisavam dar uma bisbilhotada antes de fazer o que realmente tinham para fazer.

- Ooh. Muito fofo esse fichário - diz Cibele, apontando para um fichário cheio de desenhos bonitinhos. Já a atenção de Luana se voltou para outra coisa.

- Gostei daquele porta joias - fala a menina, com os olhinhos brilhando - Pena que é tão caro

- Pois é...também queria um daqueles

 Monalisa apenas suspira e fica em um canto esperando as duas terminarem o que vieram fazer. E já que estava por ali, resolve também observar o que tinha na loja, mas os objetos à venda não pareciam tão interessantes para ela quanto pareciam para as amigas. Uma olhada rápida e viu apenas materiais escolares, algumas bugigangas simples, brinquedos, bonecas e até aqueles cubos mágicos coloridos. A única coisa que chamou sua atenção foi um pequeno caderno com a foto de uma borboleta. Um item tão banal quanto todos os outros, e que, no entanto, a afetou de alguma forma. Não sabia explicar o porque, mas estava com o caderno em mãos antes que se desse conta.

- Posso ajudá-la? - chama uma voz idosa. Monalisa sente um rápido susto, mas, ao se virar, se depara com um velho senhor não muito alto, aparentemente com uma idade bem avançada (talvez setenta ou mais anos) e usando um avental vermelho. Nada difícil de deduzir que era o dono da loja.

- Ah...minhas amigas.

- Oi, só viemos comprar uma borracha - fala Cibele, assim que se dá conta da presença do velhinho.

- Ah, claro, temos muitas - diz o simpático idoso com um sorriso no rosto - Apenas escolham

- Acho que vou querer essa verde aqui - diz Luana, apontando para uma das borrachas do balcão.

- Certo. São setenta centavos - cobra o senhor. Luana tira alguns trocados da sua bolsa e paga pela borracha. Enquanto isso, Monalisa ainda segurava o caderno e, mais uma vez, sente uma sensação estranha, como se até o último de seus fios de cabelo se arrepiassem. Fechando os olhos, a imagem de Ariadne prestes a cair do prédio passa claramente em sua cabeça, como se estivesse sonhando de novo. Por mais que pensasse, ainda não conseguia descobrir uma solução para o mistério de seu sonho e da garota da sala. Não adiantava. Elas nunca haviam se visto antes. Mas não podia ser coincidência, não mesmo.

- Mona? Tá tudo bem? - pergunta Cibele - É aquele mal-estar de novo?

- Não foi nada. Eu tô bem - responde a loirinha, sem nenhuma vontade de causar preocupações.

- Está tudo bem mesmo, mocinha? - pergunta o dono da loja - Se precisar, posso chamar um médico.

- Obrigada, mas estou bem - ela insiste e, em seguida, aponta para o caderno - Err...vou levar isso.

- Ah, claro. Já vejo para você

- Um caderno pequeno? - estranha Luana - A gente não usa um desses desde o primário.

- Bom, talvez eu precise de um caderno - Mona explica sem muita vontade de estender o assunto.

- É um caderno bonito. Gostei - comenta Cibele.

 O velhinho cobra os três e cinquenta do caderninho e o entrega a Monalisa. Ao fazer isso, ele sorri simpaticamente.

- Use bem - é o que ele fala. Monalisa apenas sorri amarelo, não entendendo muito bem essa última colocação, mas agradece. O velhinho também agradece a visita das meninas, assim que elas saem pela porta.

- Obrigado. Voltem sempre. O velho Tenório agradece.

- Hahaha. Tchau, seu Tenório. Até - Luana se despede. As outras duas acenam com um sorriso e seguem para o almoço, enquanto um gato preto foge do trio assim que elas saem da loja. Talvez fosse o mesmo gato que Monalisa viu outro dia.

- Simpático ele, né? - comenta Cibele, enquanto caminhava com as amigas.

- Será que ele trabalha ali sozinho? Já podia se aposentar, né? - diz Luana.

- Ai, Luana. E se ele não gostar de ficar parado?

- É, pode ser. Também acharia chato.

 "Acharia chato?", pensa Monalisa, "Parado ou não, a vida passa do mesmo jeito...do mesmo e entediante jeito"

 No entanto, o tédio de Monalisa estava se dissipando cada vez mais rápido. Após o almoço e as aulas da tarde, ela volta para casa olhando para seu caderno novo. No fundo, ela não teve um motivo especial para comprar o caderno, mas achou que deveria comprá-lo. Talvez seja comum as pessoas comprarem uma coisa e só depois pensarem do porque gastarem dinheiro com aquilo. Tudo bem que o caderno não custou nenhuma fortuna, mas por que ela precisaria de um? Por fim, ela acaba decidindo que ele poderia ser um bom diário de sonhos. Sim. Havia lido em algum lugar que ter um arquivo dos seus sonhos poderia ajudar uma pessoa a compreender a si mesma melhor. Sem contar, que sonhos são facilmente esquecidos.

 Claro que havia um sonho que ela dificilmente esqueceria. O que poderia escrever sobre ele? É o que passava por sua mente, quando já estava em casa, sentada em frente à mesa, com sua roupa de casa (uma camisa branca com a estampa de uma flor e calça moleton preta), brincando com a caneta e pensando no seu sonho pela milésima vez. Lembrava de todos os detalhes: duas garotas, o topo de um edifício, a garota ruiva se dirige para a borda do abismo e se lança repentinamente a despeito dos apelos da garota loira (no caso, Monalisa). Suas últimas palavras foram "eu descobri a verdade".

 Monalisa escreve mais ou menos isso nas primeiras páginas do caderno e, depois, começa a tecer alguma interpretação. A garota ruiva é idêntica a sua nova colega de classe, Ariadne, e ela acredita que essa semelhança não pode ser apenas mera coincidência. Outra curiosidade, foi o fato de que teve esse sonho duas vezes e exatamente nas mesmas vezes que passou pela rua da papelaria do Senhor Tenório. Mas que tipo de relação poderia ter uma coisa com a outra? O lugar que você passa não influencia seus sonhos? Ou poderia influenciar?

 Seja como for, os mistérios permaneciam no ar. O dia segue da mesma maneira tediosa. Os pais de Monalisa chegam mais tarde, ela janta sem muitas palavras e vai dormir cedo. Mais uma noite, mais um sonho. Seria o mesmo? Não, dessa vez era um local mais conhecido, mais precisamente a rua da papelaria onde passara duas vezes. Monalisa andava pela rua, totalmente deserta, embora fosse dia claro. Não se ouvia barulho algum, como se apenas ela existisse naquele local. No entanto, a papelaria do Senhor Tenório estava aberta. Ela tenta se aproximar do local, mas a cada passo que dava, a entrada da loja ficava cada vez mais distante, como se o espaço se dilatasse. Por fim, ela desiste, para e suspira. Nisso, o silêncio se quebra.

- Miau! - ouve-se um gato preto, em cima do muro da casa vizinha à papelaria, olhando para Monalisa e balançando sua longa cauda. Ele parecia estar...sorrindo? Ou, pelo menos, emanava uma aura amigável, ao contrário da maioria dos gatos medrosos que conhecia. A menina olha para ele e, após alguns instantes, ouve as seguintes palavras:

- Descubra a senha

 Isso mesmo. Foram as palavras do gato. O gato preto falou com ela. Tudo bem, era um sonho, mas, assim como o suicídio da ruivinha, não era um sonho muito comum.

 Assim que essas palavras são ditas, antes mesmo que pudesse digerir a surpresa de ouvir o gato falando, Monalisa acorda. Mais um sonho estranho. E ela se lembrava claramente do que ocorrera. Ótima oportunidade para usar seu novo diário de sonhos. Totalmente desperta, ela acende o abajur, pega a caneta que deixou na cômoda próxima à cama e começa a escrever seu sonho. A rua deserta, a loja que se afastava, o gato falante, descobrir a senha. Senha. O que poderia ser a senha?

 Apesar de mais simples e fantasioso, esse segundo sonho parecia tão intrigante quanto o primeiro. Por alguma razão, a palavra "senha" ficou martelando na cabeça dela. Senha? Um código secreto? Mas um código para quê? Teria algo a ver com Ariadne e o sonho do suicídio? Ou será que tudo não passava de uma grande coincidência? Monalisa custava a acreditar nessa última hipótese. Era forte demais para ser acaso. Como poderia achar uma pista?

 Ainda sem sono, resolve ligar o computador e ver se tinha alguma coisa interessante. Seus pais não eram muito rigorosos com uso de computadores, mesmo porque também não viviam sem eles. Apenas ligou o aparelho, aguardou a inicialização, conectou-se na Internet e abriu seus e-mails. Assim que abre sua caixa de e-mails, seus lindos olhos verdes se arregalam. O último e-mail enviado pertencia à Papelaria Tenório. Isso mesmo. Podia ver claramente: "papelariatenorio@jmail.com.br". Não era exatamente a papelaria que ela visitou com as amigas naquela mesma tarde? O que poderia ser?

 Seu coração começou a bater mais forte. Um sonho estranho, uma aluna nova idêntica ao sonho, outro sonho estranho e agora um e-mail da mesma papelaria que vira em seu sonho. E como ele descobriu o e-mail dela? Ela sequer apresentou qualquer dado sobre isso. Não sabia. Mas hoje em dia qualquer um arranja informações sobre qualquer um com quase nada. O que poderia ser?

 Só havia um jeito de saber: abrindo o e-mail. Ainda com o coração agitado, a mocinha leva a seta do mouse lentamente até o e-mail e clica uma vez. Mesmo o processamento rápido de seu computador parecia demorar uma eternidade naquele momento. Por fim, a mensagem se abre, mas tudo que havia ali era uma palavra: "dedaLus", apenas com o L maiúsculo.

- "dedaLus"? - lê a garota, sem a menor ideia do que se tratava. Afinal, o que estava acontecendo?




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Notas finais do capítulo

Saboreie o suspense...mas, se serve de consolo, daqui a uns dois capítulos teremos alguma resposta (e mais mistérios, claro). Obrigado por acompanhar! ^^