Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 27
Capítulo 27 - Recomeço




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"Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos"

~ Heráclito de Éfeso

Capítulo 27 - Recomeço

 - Ariadne, heim? - diz a professora - Um nome diferente...bem, você pode se sentar ali, ao lado da Monalisa.

  A garota sorri simpaticamente e se dirige a seu novo lugar. Exatamente como já havia ocorrido antes. Tudo parecia se encaixar nessa única explicação: Monalisa estava revivendo tudo que se passou, tudo que até agora ela imaginava ter sonhado. A loirinha ainda tentava digerir essa nova situação até se dar conta de que Ariadne estava bem do seu lado. Só podia ser ela. Aqueles cabelos avermelhados, aquele jeito doce e gentil. Era ela mesma. Igualzinha ao dia em que se conheceram. Estava viva. Simplesmente viva. Só de pensar no último momento que a viu, no topo daquele edifício, pronta para tirar a própria vida por culpa de suas escolhas erradas. Sua vontade era chorar de alívio, abraçá-la por vê-la viva. Mas não podia se deixar dominar pelas emoções. Se o tempo havia mesmo retrocedido, Ariadne não a conhecia. E se ela entendeu bem os últimos acontecimentos, Ariadne era a única personagem do Labirinto que não tinha consciência de sua função. Por mais irônico que pudesse parecer, naquele momento era possível dizer que Monalisa conhecia mais sobre Ariadne do que ela mesma.

 - O-Oi - balbucia Monalisa com alguma dificuldade, enquanto Ariadne terminava de arrumar suas coisas.

 - Oi. Parece que vou sentar do seu lado de agora em diante, né? - falou a ruivinha, correspondendo ao sorriso.

 - Pois é - Monalisa sorri discretamente. Agora as coisas seriam diferentes. As circunstâncias eram outras. Agora ela tinha consciência de quem realmente era Ariadne. Ela era sua aliada naquele pesadelo conhecido como Labirinto. Isso mesmo. Ela não havia saído do Labirinto, ao contrário, ganhou uma nova chance de sair dele. Era sua única e talvez última oportunidade de não cometer os mesmos erros.

 Primeiro, precisava manter a calma e refletir sobre o cenário atual. De acordo com seus cálculos, aquele foi o dia em que conheceu Ariadne. Sendo assim, ela já havia dado a volta no quarteirão e já havia ativado o evento inicial do Labirinto. Mas naquela altura, Monalisa ainda não sabia sobre o Labirinto. Isso só aconteceria no dia seguinte, quando encontraria Sr. Tenório e conheceria toda a situação. Mas será que isso ainda vai funcionar? Agora ela tinha consciência de tudo que aconteceu e de todos os eventos. Sim. Não faria sentido reencontrar com Sr. Tenório se já sabia de antemão todos os detalhes iniciais. O que ela precisava fazer era achar um jeito de ativar o evento de Ariadne corretamente, torná-la sua guia e seguir seus conselhos para fazer as escolhas certas. Agora tudo seria diferente!

- All right! - diz a professora - Let's correct the homework!

 Enquanto Monalisa abre seu caderno volta a pensar em tudo que estava acontecendo. Embora sentisse que estivesse revivendo todo o seu passado, também não podia confirmar se realmente era isso. A possibilidade de ser um sonho tornou-se remota, mas não totalmente. Ela ainda poderia ter sonhado tudo e, por alguma razão desconhecida, estar passando por situações muito parecidas com os sonhos, mas sem os eventos. Um tipo de premonição ou visão do futuro, só que com elementos exagerados, elementos que iriam aparecer no futuro, mas sem o absurdo dos sonhos. A probabilidade era mínima, mas existia. Precisava saber exatamente como confirmar se estava mesmo no Labirinto, com todos aqueles eventos. E, tendo em vista a ocorrência do sonhos, tinha um palpite de quem seria a única pessoa capaz de explicar o que aconteceu.

  Na hora do intervalo, Monalisa corre para a sala dos professores e procura por sua professora de inglês. Se tudo era como no passado, tinha o palpite de que precisava ativar o evento da mesma maneira.

 - Professora? - ela se aproxima da sala timidamente, procurando pela professora.

 - Sim? Você é da minha sala, não é? - pergunta ela. A garota concorda e vai direto ao assunto.

 - Não é nada sobre a matéria, mas é que...bem, eu fui ao oculista outro dia e acho que vou precisar usar óculos. Ouvi dizer que o marido da senhora trabalha em uma ótica, é verdade?

  - Ah, sim. É verdade - diz a professora sorrindo - A ótica dele não é muito perto daqui, mas é um ótimo estabelecimento. Se quiser eu tenho um cartão de lá...

  A professora começa a procurar na bolsa e retira um cartão sem muito traquejo profissional. As coisas estavam saindo exatamente como o esperado.

- Haha. Foi minha filha que fez esses cartões. Disse que queria distribuir por aí para ajudar o pai. Você precisa conhecê-la. É uma fofa.

 "Fofa o suficiente para arrancar os olhos das pessoas", pensa Monalisa, assim que se lembra de um dos pesadelos que teve no Labirinto. Contudo, aquele cartão era justamente o que precisava. Se aquilo funcionasse, saberia não só se estava ou não no Labirinto, mas talvez algumas dicas de como agir dali para a frente. 

  A menina agradece a professora e segue seu dia normalmente. Não chegou a conversar muito com Ariadne, mas sabia que precisava interagir com ela. Antes disso, porém, precisava ter certeza de onde estava. No final da aula, a garota sai correndo, parando apenas quando ouviu o chamado de Cibele.

 - Ei, Mona! Quer almoçar com a gente hoje?

 - Não posso - diz ela - Preciso passar em um lugar antes.

 - É? Tá pegando quem? - Luana, outra de suas colegas de classe, se intromete na conversa.

 - É um assunto sério tá legal - responde Monalisa - E...se precisar de uma borracha nova...tem uma papelaria bem perto daqui.

 Monalisa sai correndo. As duas se entreolham, perguntando-se como ela sabia que Luana precisava de uma borracha nova. De qualquer forma, ela corre para o ponto de ônibus e corre para a ótica onde deveria se encontrar com a pessoa capaz de dar uma explicação definitiva para o que estava ocorrendo. Alguns minutos depois, ela se via na frente da ótica. Exatamente como da outra vez: o logotipo de um óculos com relógios no lugar de lentes na parte da frente e o mesmo ambiente tranquilo. Ótica Freitas. Estava ali mais uma vez. A garota entra de forma rápida, na direção do balcão, onde um homem de meia-idade, barbudo e de aparência serena polia algumas lentes.

- Pois não? Posso ajudá-la?

- Digamos que sim - responde ela, agora com mais confiança - É o senhor que tem uma filha que faz cartões assim?

 A loirinha saca o cartão dado pela professora. O homem não se altera. Apenas pega o cartão e começa a rir discretamente.

- É...acho que a partir de agora vamos falar a mesma língua, não é...Mestre dos Relógios? - ironiza Monalisa, mantendo uma expressão séria, embora agora estivesse mais confiante.

- Hehe - ele termina de rir - Bem...eu disse que iríamos nos encontrar de novo, não disse?

- É. Você tinha razão. Então...isso quer dizer que estou mesmo no Labirinto e que o tempo voltou atrás, não é?

  - Exatamente - explica o Mestre - Sente-se. Agora nós temos muito o que conversar...


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Notas finais do capítulo

E vocês achando que o Mestre dos Relógios não iria servir para nada, né? No próximo capítulo, mais um diálogo "tutorial". Até!