Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 16
Capítulo 16 - Família




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"O futuro dependerá daquilo que fizermos no presente"

~ Mahatma Gandhi

Capítulo 16 - Família

  Monalisa e Ariadne passam o resto da tarde no orfanato e vão embora por volta das quatro horas. Após acenarem uma última vez para as crianças (embora Monalisa faça isso de maneira bem mais tímida), as duas partem em direção ao ponto de ônibus. Contudo, Ariadne resolve prolongar um pouco mais o passeio.

- Ah, tem uma cafeteria ali. Não quer comer alguma coisa antes de ir embora? - sugere a ruivinha, apontando para o local, que emanava um delicioso cheiro de pão de queijo. Embora estivesse faminta, Monalisa não estava muito a fim de perder tempo ali. Por outro lado, sabia que não teria mais dicas tão cedo (provavelmente teria que sonhar de novo). Enfim, acaba aceitando o convite de Ariadne e, quando se dá conta, já está sentada na mesa 04, diante de uma cesta cheia de pães de queijo e um grande copo de chocolate quente.

- Também não gosto muito de café - comenta Ariadne - Mas o chocolate daqui é uma delícia.

- Verdade - responde Monalisa, tomando um gole de sua bebida - Se bem que...às vezes penso que deveria tomar café.

- É? Por quê? Sempre dizem que faz mal.

- Nada, nada. Só estava pensando alto. Às vezes isso acontece comigo.

- Hehe. Você parece mesmo ser do tipo que pensa bastante.

- Acho que preciso pensar mais ainda.

- Hahaha. Mas também não é muito bom ficar direto no mundo da Lua. Precisamos agir de vez em quando também.

 Monalisa apenas sorri amarelo. Não podia falar muito, afinal, a primeira coisa que aprendeu desde que começara a percorrer o Labirinto foi que as pessoas nunca, em nenhuma hipótese, irão dizer o que sabem sem que tivessem permissão para isso. E Monalisa tinha certeza que Ariadne sabia muito bem de tudo que se passava. Além disso, era mais do que certo o papel que ela tinha em tudo aquilo, mas o que poderia ser? O que seu primeiro sonho com ela estaria querendo dizer? Não sabia. Não tinha como saber. Parece que agora ela teria que se virar sozinha, sem contar com insights ou intuições. Precisava de um guia, mas quem poderia ser? Deveria ser alguém próximo. Provavelmente algum parente ou alguma amiga de longa data, como a Cibele e a Luana. Seria alguma delas? Mas mesmo que fosse, como ativaria os eventos corretos? Difícil tirar esses assuntos da cabeça. Por hora, talvez fosse melhor conversar sobre outra coisa.

- E então...está gostando da nova cidade? - pergunta Monalisa, mais para quebrar o gelo do que por um interesse genuíno em conhecer a menina.

- Ah, sim, bastante. Sinto falta dos amigos que tinha, mas acho que posso me dar bem aqui também.

- Hmm. Que bom.

- É. Não tenho muitos problemas em fazer amigos. Acho que é porque sou filha única.

- Oh. Também sou filha única - diz a loirinha.

- Sério? Às vezes isso é chato, né?

- Nem tanto. Já me acostumei a ser sozinha.

- Não precisa falar assim. A gente nunca está sozinho, mesmo que às vezes pareça - diz a ruivinha, acariciando rapidamente a mão de Monalisa - Existem pessoas em situações ainda mais difíceis, não acha?

- Como...as crianças daquele orfanato?

- É. Por isso, precisamos agradecer pelo que temos e ajudarmos os outros a serem mais felizes.

- Você...gosta mesmo de ajudar os outros, não é?

- Bastante - sorri ela.

 Monalisa gostaria de acreditar naquilo, mas da última conversa também sabia que mesmo as pessoas que sofrem estão seguindo as regras do Labirinto. Nada à sua volta era verdade. Nunca se acostumaria com isso, mas a única verdade é que tudo era mentira. Só lhe restava achar a verdade, mas enquanto isso, toda conversa que tivesse fora dos eventos não passariam de ilusões.

- É muito injusto, né? - continua Ariadne.

- O quê?

- Algumas pessoas sofrerem enquanto outras vivem confortavelmente. Apesar de gostar de fazer trabalhos voluntários quando posso, sei que não posso mudar o mundo.

- É. É triste mesmo - diz Monalisa, sem muito entusiasmo.

- Fico imaginando porque o mundo é assim.

- Hmm?

- É. Sei lá. Às vezes penso que tem alguma coisa de errada com o mundo. Pode parecer bobagem, mas acredito que existe um monte de conspirações por aí. Tipo...os Illuminati estarem por trás de tudo. Essas coisas loucas.

- Ah...sério? - fala a loirinha, enchendo a boca com mais pão de queijo. Onde aquela conversa iria chegar? Seria alguma metáfora? É claro que existia uma conspiração, mas não são é causada só pelos Illuminati...

- Pareço boba, né? Mas eu acredito.

- Não! - exclama a loirinha - Quer dizer..ah, todo mundo acredita no que acha mais coerente, não é?

- Haha. Você parece uma adulta falando.

- Já me disseram isso.

- É sério. Você fala de um jeito bem maduro. Devia experimentar pular de ano na escola.

- Não daria certo. Sou péssima em matemática.

- Sério? Eu também - Ariadne ri. Monalisa sorri também. Por um instante, ela se esqueceu de que tudo à sua volta era uma conspiração. Havia se esquecido, mesmo por alguns minutos, de que a própria Ariadne à sua frente também era parte do Labirinto. Poderia viver assim, se esquecesse tudo e simplesmente ignorasse que está sendo enganada e usada por motivos desconhecidos. Mas bastava os momentos de distração passarem e logo Mona se lembrava de sua triste condição.

- Que horas são? - pergunta Monalisa.

- Acho que já deve ter passado das cinco - responde Ariadne, pegando seu celular - Cinco e quinze..e, ei.

- O que foi?

- É o meu pai ali. Pai! Aqui! - Ariadne acena e um homem meio careca, não muito alto e usando terno e gravata escuros aparece diante das meninas.

- Seu...pai? - pergunta Monalisa.

- Filha. Você por aqui? Não ia visitar um orfanato ou algo assim hoje?

- É. Mas eu nem me toquei que era tão perto da empresa.

- Pois é - falou ele - Eu consegui sair mais cedo, mas a sua mãe vai ter que fazer uma hora extra.

- É que meu pai e minha mãe trabalham no mesmo lugar - explica Ariadne, voltando-se para Monalisa - Ah, sim. Pai, essa é a Monalisa, minha colega da escola. Ela me ajudou a levar os brinquedos para as crianças.

- P-Prazer - diz ela, sorrindo da melhor forma que podia.

- Oh, é uma menina muito bonita.

- Obrigada - agradece a loirinha, timidamente.

-  Nossa, não esperava mesmo te encontrar aqui. Parei para tomar um café e esperar sua mãe terminar o trabalho. Até ajudaria ela, mas você conhece a figura...gosta de fazer tudo sozinha. Resolvi vir aqui e esperar.

- Haha. É. Ela é assim mesmo.

 Ele se senta com as garotas e fica ali conversando mais um tempo. Os pais de Ariadne eram bancários e foram transferidos para uma agência recém-inaugurada na cidade. Assim como os pais de Monalisa, eles pareciam bem ocupados com o trabalho, no entanto, pareciam se dar bem com a filha. A loirinha sente uma certa inveja em ver o bom relacionamento dela com os pais. Nunca se lembrou de ter passado por bons momentos com a família, mesmo um encontro aleatório numa cafeteria.

- Bem...eu preciso ir - diz Monalisa, após alguns minutos.

- Não quer esperar um pouco mais? - sugere o pai de Ariadne - Posso te dar uma carona. Se sua casa não for caminho, pelo menos até o ponto.

- Não precisa. É aqui do lado - responde ela - Muito obrigada.

- Mas eu faço questão de pagar o seu pedido. Foi um prazer te conhecer.

- Oh, obrigada - ela agradece, não querendo fazer desfeita. Apesar disso, sempre se sentia desconfortável com a gentileza dos outros.

- Nos vemos amanhã na escola - fala Ariadne.

- Ah, sim. Até amanhã

- Tchau!

 Ela se despede dos dois e segue para o ponto de ônibus. Ainda não estava escuro e o horário de pico deixava as ruas mais do que movimentadas. Teria tempo o suficiente no trânsito para pensar em seus próximos passos. Será que poderia ter algum sonho se dormisse no ônibus? Não teve. Mesmo adormecendo no trânsito, não obteve novidade nenhuma. Muito tempo depois, conseguiu chegar em casa, mas sem a menor ideia do que poderia fazer a partir daquele momento. Até agora, não teve o menor avanço, nem mesmo a mínima pista sobre a verdade atrás do Labirinto. Apenas tutores que não ajudaram em praticamente nada, não dando muita coisa além de informações vazias. A única pista que tinha era a necessidade de encontrar o guia, o único personagem que poderia ajudá-la. Mas onde iria encontrá-lo? Ela abre a porta de casa, ainda com todos esses pensamentos zunindo em sua mente, quando dá de cara com sua mãe, sentada no sofá com uma xícara de chá nas mãos.

- Filha? Onde você esteve? - perguntou ela.

- Ah...saí com uma amiga.

- Por que não avisou? Levei um susto quando cheguei em casa e não te vi aqui.

- Ah, nem me toquei - respondeu ela - Foi mal

 Monalisa achou que a conversa estaria acabada por ali, como de costume, mas, excepcionalmente, sua mãe parecia estar a fim de conversar.

- Você devia se importar mais com essas coisas, Monalisa.

- Hã? Por quê? - estranha a loirinha, parando de repente. Que conversa era aquela? Sua mãe era tão quieta quanto ela.

- Porque eu sou a sua mãe...e mais do que isso: sou a única pessoa que pode te ajudar!

 A garota se arrepia até o último fio de cabelo. O que foi que ela acabou de dizer?


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