Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 12
Capítulo 12 - Cartão




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"Apenas nos deveria surpreender o ainda podermos ser surpreendidos."

~ François La Rochefoucauld

Capítulo 12 - Cartão

 Sem dúvida algo de novo havia ocorrido, afinal, porque a esfera se quebraria naquele momento se ela nunca quebrou mesmo caindo no chão tantas vezes antes? Monalisa ainda observa os cacos de vidro da esfera azul esparramados pelo chão da sala. A professora ainda se sente constrangida pelo ocorrido.

- Puxa, desculpe mesmo - dizia ela - Foi um acidente e..

- N-Não tem problema - gagueja Monalisa, sentindo que, na verdade, tudo parecia estar correndo de acordo com os planos.

- Eu vou chamar alguém da limpeza para arrumar isso - diz a professora, praticamente já desistindo de continuar a aula normalmente. O resto dos alunos apenas comenta baixinho o ocorrido, enquanto Monalisa olhava para os pedaços da esfera azul quebrada. Isso mesmo. Algum evento deve ter sido ativado, mas o que ela faria agora? Teria algo a ver com a sua professora de Inglês? Glória o nome dela, não é? Talvez....mas estaria tudo caminhando tão fácil assim? E ela poderia falar algo mesmo com toda a sala ali presente? Ou seria um evento envolvendo todos ali? Muitas questões...

- Ah, que chato - Ariadne comenta com Monalisa - Era tão bonita

- Acidentes acontecem - balbucia a loirinha,

- Mas se foi um presente da sua mãe, vai ficar chato falar que quebrou - continuou Ariadne.

- Eu dou um jeito - responde Monalisa, mais preocupada com o que poderia vir na sequência. Mas, apesar do ocorrido, os cacos são jogados no lixo, a professora retoma a aula por mais alguns instantes e logo o sinal toca. Antes de sair, a professora lança mais um olhar de "sinto muito" para Monalisa e vai embora. Nada de extraordinário parece ter acontecido. Pelo menos era o que parecia. Obviamente, Monalisa não consegue prestar atenção em mais nenhuma aula e nem em qualquer outro assunto.

- Mona? Mona? Tá aérea hoje, heim? - percebe Cibele.

- Quer dizer mais do que de costume - fala Luana - Ainda tá chateada com aquele seu enfeite que a professora quebrou? Eu mandava ela comprar outro!

- Haha. É a sua cara fazer isso, Luana - ri Cibele.

Mas Monalisa ainda estava mais monossilábica do que de costume. Não conseguia parar de pensar no que poderia acontecer no próximo evento. Se escolheu o "olho esquerdo" deveria conhecer o Mestre das Chaves, seja lá quem ele fosse ou o que significasse isso. Quem poderia ser? Suas amigas continuavam conversando e rindo. A companhia delas passou a ser desagradável desde que soube da verdade. Estar presa no Labirinto significa estar sozinha, não podendo acreditar em mais ninguém. Amigos, família, nada disso era verdadeiro na situação em que estava. Mesmo sendo uma pessoa razoavelmente fria, Monalisa ainda sentia um peso ao lembrar disso.

 - Eu...vou ao banheiro - diz a loirinha, achando uma desculpa para ficar sozinha (embora, no fundo, ela sempre estivesse).

- Ah, vai lá - responde Cibele, ainda rindo de alguma coisa que Luana disse. Na verdade, Mona tenta achar algum lugar isolado do pátio para sentar e refletir sobre o que poderia fazer agora. Havia um canto sem movimento, onde ela senta no chão, tira a outra esfera vermelha do bolso e começa a brincar com ela enquanto pensava. Jogando o pequeno pedaço de vidro de um lado para o outro, uma hora ele acaba caindo, mas não se quebrando. Parece que sua escolha já havia sido feita.

"Então eu escolhi o lado esquerdo mesmo", ela pensa, "Mas e agora? O que eu faço?"

 O dia continua. Após mais algumas aulas, a mocinha segue para casa, ainda pensativa sobre seu próximo passo. Aconteceu alguma coisa, mas o quê? Só que, por mais incrível que possa parecer, as coisas não seria tão difíceis quanto ela pensava. Assim que sai da sala, ao atravessar o lance de escadas que levava à saída, uma voz chama por ela.

- Ei, você

 Monalisa se vira e vê sua professora de Inglês. Sente um leve arrepio, mas ainda não podia garantir nada até conversar com ela.

- Hã? Professora Glória?

- Ah, que sorte conseguir te achar - diz ela - Olha, queria pedir desculpas pelo que aconteceu hoje...é que...comecei a dar aula há pouco tempo, ainda fico nervosa com algumas coisas e não conheço os alunos direito. Se não tivesse desconfiado de você e pedido para ver o que tinha no bolso, isso não teria acontecido.

- Tudo bem, não tem problema - responde a loirinha, entendendo que aquela conversa não fazia parte de evento nenhum. Queria sair logo dali e investigar seus próximos passos, mas logo ela descobriria que seu encontro repentino com a professora tinha muito mais a oferecer do que só alguns pedidos de desculpa.

- Mãe! Mãe! - grita uma vozinha infantil. A professora olha e sorri para uma garotinha do primário, que devia ter seus nove anos. Monalisa também olha para a garota e arregala seus olhos verdes. Ela era...idêntica à menina que aparecera em seus últimos sonhos. Poderia...sim, poderia sim.

- Oi, filha. Já ia te encontrar - sorri a professora Glória.

- É...sua filha? - pergunta Monalisa.

- Sim - responde a professora - O nome dela é Carla. Carla, essa é a Monalisa, minha aluna.

- Você é bonita - elogia a garotinha, em um tom meigo.

- O-Obrigada -gagueja a loirinha que, além de não ser muito sensível a elogios, estava admirada demais com a semelhança da filha da professora com a criança de seu sonho.

- O que você tem na mão? - pergunta a professora, ao ver que Carla carregava um monte de pequenos cartões brancos ou algo do tipo.

- Ah, fiz uns cartõezinhos da ótica do papai - diz ela - Estava distribuindo para o pessoal. Quer um, Monalisa?

 A garotinha estende um dos cartões para ela que pega, ainda meio trêmula, quando, finalmente, percebe um detalhe ainda mais assustador.

- Você...tem olhos de cores diferentes - comenta Mona, assim que observa um olho direito verde e outro castanho.

- É. O papai tem olhos verdes - diz a menininha.

- É verdade, ela é um caso raro - explica a professora - Mas, filha, você tem permissão para entregar esses cartões por aí?

- Precisava?

- Claro que precisava. Ai, meu Deus! Espero que isso não dê encrenca!

- Então...seu marido tem uma ótica, professora? - pergunta Monalisa.

- É - responde ela - Ele é bom com lentes e essas coisas. É verdade. Vou ver se ele sabe como conseguir um enfeite daqueles. Vou te dar um novo assim que descobrir.

- Já disse que não precisa se preocupar com isso - diz Monalisa - Tá tudo bem

- Mesmo assim...desculpe de novo

- Não tem problema. Bem, eu vou indo - se despede a mocinha, guardando o cartão no bolso e saindo de cena.

- Tchau, Monalisa - se despede Carla, acenando com suas mãozinhas. Monalisa acena desajeitadamente e vai logo embora. Nunca teve jeito com crianças, ainda mais com crianças que arrancam seus olhos nos sonhos.

   Apesar disso, agora ela já tinha mais pistas. Pelo pouco que conhecia do Labirinto, sabia que devia ter alguma coisa de especial naquela ótica. Ao ver o endereço no cartão, sabia mais ou menos onde era. Se não estava enganada, chegava a passar de ônibus na porta dela. E era isso mesmo. Descendo no ponto alguns metros depois da ótica, ela compara o nome do estabelecimento com o cartão.

- "Ótica Freitas" - Monalisa lê na placa da entrada. Era um nome bem comum, mas ela sabia que nada era inocente naquele mundo. Olhando de fora, tinha tudo para ser uma loja de óculos e relógios como qualquer outra, incluindo até um logotipo de óculos com relógios de ponteiro no lugar das lentes. Aliás, relógios? Se sacrificou a esfera esquerda, deveria ter encontrado algo mais parecido com chaves, não? De qualquer forma, ela entra no local em passos lentos, observando o ambiente. Tudo extremamente comum. Nenhum cliente por perto, silencioso. Até que, finalmente, um homem de meia-idade, barbudo e de olhos verdes, aparece para atendê-la.

- Sim? Posso ajudá-la em alguma coisa?

 O evento ainda não parecia ativado, teria que fazer mais alguma coisa?

- Bem...acho que sim - a garota balbucia timidamente.

- Diga. Pode falar. Precisa de óculos? Lentes de contato? É só trazer a receita de seu oftalmologista e...

- Não tenho uma receita, mas...acho que conheci sua filha.

- Hmm? - o homem parece ter mudado seu olhar. Monalisa tira o cartão do bolso e mostra ao homem. Não esperava que isso ativasse o evento, mas talvez mostrar o trabalho da filha ajudasse em alguma coisa. E, ela não esperava que funcionasse tão bem.

- O cartão que ela fez é mesmo bonitinho. Era...Carla o nome dela, não é?

- Heh! Isso mesmo - ele faz um sorriso mais cínico - Você percebe as coisas bem rápido, Monalisa.

- Então...o senhor é mesmo...

- Exatamente. Sou seu próximo tutor...costumam me chamar de Marcio Freitas...ou Mestre dos Relógios

 Monalisa arregala os olhos. O que ele disse?

 "Espere...Mestre dos Relógios? Mas eu não escolhi o olho esquerdo?", pensa ela, admirada. Havia algo que precisava de explicação...


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Notas finais do capítulo

Explicações no próximo capítulo...e...mais um diálogo tenso a ser travado. Desculpem, esse cap. foi curto, mas o próximo terá bastante coisa. O que o Mestre dos Relógios tem a ensinar? Veremos logo...(até domingo que vem deve sair) Até!