Nunca haverá outro Outono como aquele. Foi quando pegamos a moto, subimos com a nossa mala e desbravamos o que podíamos da Coréia. Era pra ser a memória da nossa amizade, aquele asseio que nunca havíamos feito.

No inverno anterior, você havia recebido a notícia do seu fim. Me olhou com um pesar nos olhos sem fim. Sorriu como sempre faz e deixou as lágrimas escorrerem. Um ano, talvez um pouco mais.

Nada além disso.

Largamos tudo. Carreiras, estudos. Só para curtirmos por mais um pouco o que podíamos aprontar.

–Mir, eu quero viajar. –Confessei a você. –Vamos fazer algo diferente nesse outono...

–Sempre quis viajar de moto. –Respondeu com um lindo sorriso. –Vamos Joon?

Foi a melhor idéia. Nunca dormi tão mal em uma barraca na minha vida. Sem contar que sentir o calor de seu corpo tão próximo, mas longe, me matava. Depois de tanta dor nas costas, resolvemos ficar apenas em estabelecimentos.

Numa noite, quando regávamos os nossos risos com um bom whisky, seus lábios doces se uniram aos meus. Transbordando o meu sentimento mais íntimo, retribuí seu carinho com a mesma intensidade.

Eu sabia que não era apenas o efeito do álcool, afinal eu sempre me assumi e você... Nunca tinha coragem. Mas o fez com tanto sentimento! Eu sabia que era recíproco o que havia em meu peito nesse exato segundo.

No pouco tempo que passou, seu corpo nu, deitado no colchão, recebia o meu eu. Nos tornávamos um pela primeira vez. O seu corpo tão quente e sensível ao meu. Seus gemidos longos que enchiam o quarto de hotel barato.

Nosso primeiro orgasmo. Nunca havia sido tão feliz na vida. Dormir com seu peito palpitando e seu coração apresentando uma melodia que havia apenas em meus sonhos.

Acordar e ver seus olhos se abrindo. Obrigar você a tomar um banho antes do café. Brincar com seus ares de criança que nunca irá crescer. Saber embaixo de uma árvore que nosso amor seria eterno.

Roubar um beijo seu entre os campos de arroz. Sentir sua língua contra a minha brincando com o chocolate. O vento fazendo você ficar mais abraçado em mim na moto enquanto o país passava sob nossos pés.

Tomávamos banho juntos, fazíamos amor como dois amantes proibidos. Sempre chegando ao limite de nossos corpos. Você sempre tão frágil depois de algum tempo. Eu beijava seu pescoço e seu ronronar me deixava mais louco.

Já chegava o inverno quando tivemos que parar no último quarto. Ele era no hospital. Você estava com febre alta e tive que carregá-lo em meus braços até a emergência. Seu rosto branco, seus olhos quase sem vida.

Era o fim.

Não havia mais nada além de uma noite.

Não dormi por um segundo sequer. Você descansou o máximo que pode.

Sua pele era tocada por meus dedos e eu era completado com o seu calor. No meio da madrugada, abriu seus orbes castanhos. Me encarou por longos instantes. Não houve palavras, apenas aquele olhar.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Os momentos que passamos juntos até aquele instante rodavam por meus olhos. Como se você soubesse, sorriu com o seu jeito infantil.

–Não chore Hyung... –Disse com o seu tom de voz tão peculiar. –Eu sempre estarei com você... Sarangheyo...

–Meu Mir... –Passei a mão em seus cabelos castanhos.

Você se foi há exatos três anos. A mesma rota, eu sigo. Sempre lembrando de cada momento que vivi contigo.

Estava dormindo até meio segundo atrás. Escutei algo na porta. Sentei na cama e me lembrei disso tudo. Agora o vejo com aquele sorriso que eu tanto amava... Passo por passo vindo até mim.

–Não tem medo hyung? –Você perguntou se aproximando e sentando na cama.

–Porque eu teria? É o meu Mir... –Respondi.

–Então... –Ele me deitou na cama, subiu em cima do meu peito, deixando seu calor no meu corpo. –Feche os olhos e aproveite a melhor viagem de sua vida...

Seus lábios tocaram os meus.

Não houve dor.

Só o abraço do meu amado.