– Shhh. Eu só quero conversar com você. Não grite, por favor. Vão pensar o pior de mim. – Eu reconheci a voz e forcei meus olhos a enxergarem na escuridão da onde estávamos. Era ele. Era Justin, parado ali, na minha frente.
– Eu não acredito que você fez isso! – reclamei. – Eu não tenho nada pra falar com você.
– Eu só... Só quero saber se... – ele se auto-cortou. – Mas, antes, eu quero conversar com você...
– O que você quer de mim?
– Só conversar. Eu prometo.
– Todas as promessas são feitas pra serem quebradas, nunca percebeu isso? – retruquei.
Justin sorriu pra mim.
– Você está com frio?
Exatamente no momento em que ele perguntou, senti meus dentes começarem a triturar um aos outros e toda a minha estrutura tremer visivelmente – droga.
Ele tirou uma das blusas com que estava e me encobriu.
– Eu acho que... Obrigada – falei.

Ele se afastou.
O silêncio reinou por arrastados 10 minutos.
Até que ele tomou a iniciativa de começar a falar logo:
– Eu sinto tanto...
– Com certeza eu senti mais.
– Eu estou tão apaixonado por você – ele riu.
– Isso não é engraçado.
– Eu deveria chorar, então? – retrucou. 
Eu abaixei a cabeça, fitando o nada.
– Eu não podia ter feito aquilo, não depois de nós dois...
– É, eu sei o que nós fizemos – o cortei. E o olhei diretamente nos olhos.
– Talvez... Talvez nós... – ele procurava pelas palavras corretas.
– Nós não somos um casal. Nós fizemos tudo errado – eu sorri, um pouco arrependida.
Eu me sentei em cima de uma lata prata enorme. Meus pés ficaram voando no ar.
– Será... Você me amou? Hein, Kate? Amou? – ele se aproximou de mim, cautelosamente. Nenhum movimento precipitado.

– Eu deixei você entrar... Bem aqui – coloquei minha mão, delicadamente, no meu peito. – E depois... Eu me doei totalmente pra você. Como eu nunca tinha feito... Com ninguém. – Eu levantei a cabeça e mordi o lábio inferior. – Mas... Parece que eu não sou o suficiente pra você.
– É. Eu acho que você não é pra mim. Acho que também não sou pra você... – Eu entendi certo? Ele quis dizer que era muito pra mim? Idiota, pensei.
Senti meu coração encolher-se e minha respiração cessar por um tempo indeterminado. Eu não fiquei ofegante quando lembrei que precisava respirar, mas comecei a respirar um pouco pela boca e depois voltar normalmente. Eu me sentia fraca. Minha boca seca. Meus olhos querendo descansar de tudo o que um dia já viram.

– E-Eu te mostrei todas as minhas qualidades e os meus defeitos naquela maldita noite! – eu desci da lata e fiquei de frente pra ele. Como ele conseguiu dizer aquilo? E porque eu estava indignada se fora eu quem acabara com tudo?
– Não diga isso. Aquela foi a melhor...
– Noite da sua vida. BLÁBLÁBLÁ. EU APOSTO QUE AQUELA FOI A SUA MELHOR MANHÃ TAMBÉM! – Comecei a gritar e andar em direção a Justin, como se fosse bater nele, e ele dava passos pra trás, se afastando. – ME DIGA! ELA BEIJA BEM?! VAMOS LÁ, DIGA LOGO O QUE VOCÊ QUER DE MIM! SUA NAMORADA NÃO PODE FICAR ESPERANDO, NÃO É?! – eu percebi que estava com a mão em punho no alto, a ponto de socá-lo. 
Ele segurou meus anti-braços e me olhou fundo nos olhos.
– Pare. De. Gritar.
– Porque eu faria isso? – foi impossível, mas eu havia o obedecido.
Ele suspirou.
– Você me deve um encontro. – brincou ele, rindo leve, feliz da vida, como se tudo estivesse normal. Mas acontece que nada estava normal.
Eu não respondi. 
Ele suspirou.
– Tudo entre nós... Acabou?
– Com. Certeza. – eu puxei a saliva e ia cuspir na cara dele, mas Justin foi mais rápido.