Laços Perdidos no Tempo escrita por Danda


Capítulo 7
Capítulo 7




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Sentia a pele começar a arder no rosto, ao vê-la se aproximar devagar, mas não queria se mexer. Mesmo nervoso, tomou a decisão de inclinar a cabeça um pouco para o lado, quando ela já estava a centímetros de si.

Viu Linda fechar de leve os olhos, e acompanhou o movimento. Tinha medo de fechar os olhos e quando abrisse ela não estivesse mais ali. Que tudo aquilo fosse alguma ilusão. Decidiu ficar com os olhos um pouco abertos.

Não demorou até que sentisse os lábios quentes da moça colarem aos seus. De princípio, não conseguiu identificar o que estava sentindo. Dizer para si mesmo que aquilo era bom ou ruim, era precipitado. Precisava sentir mais. Sim, senti-la mais.

Aos poucos foi relaxando. Pronto para explorar a boca da moça, foi invadindo a boca desta com calma.

Agora apenas o beijo dela não lhe contentava. E Linda deixava-se guiar por Aldebaran. Sentia que aquele rapaz era capaz de lhe fazer bem, de lhe arrancar todas as dúvidas que sentia.

Sentiu ser puxada para o colo do moreno, mas não se incomodou. Tinha problemas que chegassem, e se apenas o beijo dele a fazia sentir nas nuvens, poderia sentir muito mais que isso.

E foi como se sentiu quando se jogou na cama de seus pais. Como foi ali parar, não sabia dizer. Nem ele deveria saber. Mas não sabia porque, mas não se importava. Não se importava com nada: de estar na cama dos pais, com um rapaz que acabara de conhecer. Que inconsequente que era. Mas sempre fora certinha, um pouco de irresponsabilidade não lhe faria mal. Não, não lhe faria mal.

E essa noite passaria com um rapaz que achava maravilhoso. Ele a salvara. Ele a confortara. Ele a faria esquecer tudo de ruim que tinha passado nessa noite. Ele iria para Grécia. Ela seria apenas uma aventura boa, de verão.

Mas o corpo dela lhe marcava a cada toque. Deixava seu rastro em cada curva de seus músculos, porque ao menos, naquele instante, eles eram um, e nada mais importava. Era o que desejavam naquele momento e, nem ele, e nem ela, iriam desperdiçar cada momento.

O cansaço foi tanto, que não lembrava direito quando havia caído no sono.

Se revirou quatro vezes na cama, antes de abrir os olhos. Hesitou mais um pouco, até ouvir o som irritante da campainha.

Decidiu que era hora de abrir os olhos. Sentou na cama rapidamente e, esfregou o rosto com as duas mãos, passando em seguida no cabelo, tentando o puxar, todo, para trás. Levantou, e começou a procurar suas roupas, mas, não, sem antes, re-passar em sua cabeça, rapidamente, o que aconteceu. Sorriu. Aquela moça lhe tinha feito sentir muito bem desde o princípio, e agora…e agora?

A voz vinda da sala lhe fez perder o raciocínio. Rodrigo falava com Linda. Tinha que se vestir de pressa, não queria que o primo desconfiasse que dormiu com ela. Não queria gracinhas e também não queria comprometer a moça. A final, eles tinham se conhecido no dia anterior.

Que loucura. Era um Cavaleiro de Ouro, tinha responsabilidades, não podia ficar contando com a sorte.

Jurou para si mesmo que não voltaria a fazer isso, quando colocou a ultima peça de roupa.

O que diria para o primo?

Agora, já no topo da escada, ouvia a conversa com mais clareza.

- Eu apaguei de tal forma que nem se quer vi a troca que vocês fizeram – Ouviu Rodrigo dizer.

“Troca?”

- É – Linda limpava algo na mesa de centro – O sofá era pequeno de mais para ele.

Agora compreendia. A moça era esperta.

Tratou de por uma cara descansada e descer as escadas. E, ou ele era bom em disfarce, ou o primo era muito desligado, pois o café da manhã, a despedida, e a saída da casa foi normal.

Sem que Rodrigo visse, Linda deu a Aldebaran um papel que continha seu número de telefone, no qual dizia apenas: “Precisamos conversar”

Aldebaran sabia que precisavam.

Tentava se convencer que aquilo foi uma loucura, uma aventura, a qual iria esquecer mal entrasse no avião de regresso a Athenas.

Demorou uma semana para ter coragem para telefonar. Mas assim que o fez, e, ouviu a voz suave de Linda, teve medo de falar.

Foi com muita dificuldade que marcou encontro com ela. Estavam na hora de falar…conversar sobre aquela loucura.

Como o combinado estava no segundo andar do centro comercial mais próximo da casa dela. Sentado em um banco no meio do corredor, folheava, sem interesse nenhum, um jornal daquele dia.

- Fiquei com medo que você não aparecesse – A voz de Linda o fez olhar por cima do jornal.

Ela sorria, mas era nítido o seu nervosismo.

Não conseguira dormir direito esse tempo todo. Tudo que fazia, ouvia ou via, fazia lembrar o jeito dela. Aquela aventura de verão se tornou em algo mais, algo que não sabia o porque, mas estava lhe tirando o sossego.

Queria ela sempre presente, mas tinha medo. Tinha que voltar para a Grécia e, para isso, faltava menos de mês.

Levantou-se calmamente, reparando que ela olhava para os lados, discretamente.

- Preocupada?! – Indagou, sem pensar muito.

Ela pareceu acordar.

- Não – sussurrou, sorrindo de forma sem graça. – Vamos dar uma volta?

- Claro!

Não sabia como reagir a tudo aquilo. Caminhavam calados. Não tinham coragem para falar sobre aquela noite maravilhosa, com medo de estragar lembrança tão boa que tinham um do outro.

- Sabe… - Falaram ao mesmo tempo.

- Diz – Aldebaran pediu.

- Diz você…

- As mulheres, primeiro – Disse sorrindo. Grande triunfo.

Linda suspirou. Como começar?!

- Bem – Iniciou, olhando para o chão, pois não sabia por onde ir – Acho…

Ok, não podia fazer isso. Ele era gentil, amigo e carinhoso. Muito para uma pessoa só.

- Acho – Continuou, sobre a mira do olhar ansioso de Aldebaran - …que devíamos nos conhecer melhor…

O que ela queria dizer, com “conhecer melhor”? Estaria, ela, pensando na possibilidade que se encontrassem mais? Não sabia responder. Talvez aquela possibilidade não fosse de todo, um absurdo.

Sorriu. Desejava que se encontrassem. Foram rápidos de mais, para dois jovens e, precisava sentir que ela não fora algo passageiro. Guardava em seu interior a ilusão de que ela poderia querer espera-lo. Esperar que fossem mais velhos. Que ele voltasse e a levasse para a Grécia. Sim, levaria ela para Grécia, para viverem uma vida em conjunto.

Isso se sobrevivesse a batalhas que, provavelmente, estavam por vir.

Perdeu o sorriso e, a moça, percebeu isso.

Linda, ainda com sorriso nos lábios, agarrou no forte braço do moreno e, o conduziu para a praça de alimentação.

- Estou com sede – Ouviu-a dizer. Nem se dera conta que estava na fila de um dos “franchise” daquele local.

- Eu pago – Disse gentil. A moça não contestou.

Estava convicto que não iria morrer. Não iria morrer. Não iria, pelo simples facto de que queria estar com ela, e, por ela se manteria vivo. Viria por ela. Iriam ficar junto. Porque se as Moiras decidiram junta-los, era porque eram para ficarem juntos. Elas não iam coloca-la em seu caminho apenas por momentos!? Ião?

Não queria se perguntar mais se aquilo era certo ou errado. Iria aproveitar.

E assim o fizeram.

Após o suco, foram dar uma volta no Centro Comercial. Depois saíram para um parque. Nesse parque, caminharam sem rumo, no qual conversaram de tudo um pouco. Banalidades.

Riram muito da história engraçada de ambos. Se encabularam, quando a conversa rumava para o acontecido naquela noite.

Conversaram tanto, que não viram o tempo passar e, já estavam ficando sem assunto.

Miraram-se mutuamente e riram. De que? Não sabiam responder.

- Casal bonito – Ouviram um homem chamar. Tinha mal aspecto, o que deixou Aldebaran em alerta. No pescoço, trazia uma máquina fotográfica. – 5 reais – O homem continuou, simpático – E tiro uma foto de vocês.

Aldebaran, estranhou.

- Então que seja 10 reais, por duas – Linda respondeu, fazendo Aldebaran se surpreender.

O homem sorriu e concordou.

Linda se acomodou do lado de Aldebaran. Aquele tinha sido um dia maravilhoso, queria recorda-lo, mesmo depois de Aldebaran voltar para seu trabalho na Grécia.

Os dois sorriram, mostrando toda felicidade daquele dia, assim que o homem acenou.

Com o “clic” da máquina, Aldebaran fez menção de se mover, mas Linda não permitiu. Faltava uma. E essa foto, também não tardou a ser tirada.

O homem se aproximou e entregou as duas fotos instantâneas, pegou o dinheiro e se afastou, assim que ouviu o agradecimento.

O moreno viu a moça pegar de dentro da bolsa que trazia, uma caneta. Prestou atenção em cada palavra que ela escrevia atrás da foto. Reparou, que na segunda foto, ela escreveu o mesmo.

- Essa pode ser a nossa promessa?! – Perguntou, estendendo a foto para o rapaz.

Aldebaran, pegou no que lhe era oferecido e sorriu. Claro que as Moiras não a colocariam em seu caminho, para depois de uma noite de amor, sumir de sua vida.

- Nossa promessa – Confirmou convicto.

Sim, ele estava determinado a cumprir o que estava ali escrito.

“Eu atravessaria um país. Eu atravessaria um continente. Eu atravessaria o Oceano e, atravessaria até mesmo o mundo, para estar com você e, para, apenas, lhe dizer o quanto eu te amo.”

Era estranho, mas ela descreveu tudo o que ele sentia. Iria fazer tudo aquilo, não só para lhe dizer que lhe amava, mas para lhe mostrar também.

A noite já imperava, e era hora de cada um seguir para suas casas. Aldebaran decidira levar a moça até a segurança de seu lar e, depois, rumar para o apartamento de seus pais.

Apartamento, do qual, não conseguia chamar de lar. Seu lar agora era o Santuário da Deusa Athena, na Grécia. E era para lá que estava determinado levar a moça. Bem, não exactamente para a Casa de Touro, mas para a uma casa simples e confortável, em uma das vilas aos arredores da “casa” da Deusa da Sabedoria.

Nessa noite, sonhou com isso. Apesar de cansado, seu sono não foi pesado.

Eram quatro da manha, quando sentiu um arrepio. Tentou ignorar, mas não conseguiu.

Na manhã seguinte acordou cedo. Sua mãe se surpreendera. Não era normal, para alguém que estava de feria, acordar tão cedo. Ferias, era sinónimo de descanso.

Brincou com o rapaz, no qual só ria. Não estava muito interessado nas brincadeiras de sua mãe. Mas confessava a si mesmo, que ela sabia faze-lo rir como ninguém.

Esperou, pacientemente, na sala, vendo televisão, até o relógio marcar 10 horas. Pegou no telefone e ligou para a casa de Linda.

O telefone tocou muitas vezes, até que uma voz diferente atendeu, se identificando como mãe da moça.

Aldebaran se apresentou, percebendo uma alteração na voz da mulher. Começou a lhe responder friamente.

- Ela não está – Ouviu a afirmação, rude da mulher.

- Quando ela volta?

- Não sei lhe dizer…

- Então eu ligo mais tarde

- Como queira – E sem dar tempo do rapaz responder, a ligação fora cortada.

Aldebaran estranhou, mas decidiu que iria fazer o que tinha previsto.

Ligou mais tarde e, depois. No dia a seguir e no outro. A resposta de quem atendia, sendo a mãe ou o pai, era sempre a mesma.

- Ela saiu!

Saiu para onde? Muito saia ela.

Decidiu que a norma da boa educação, poderia ser quebrada de vez em quando e, decidiu ir até lá.

Em um dia estava tudo bem e, no outro, parecia que não passou de um sonho.

Precisavam conversar.

Será que ela tinha desistido. Se arrependera e não queria mais vê-lo.

Não tardou para estar diante do portão dela.

Suspirou.

Era agora! Precisava de uma explicação. Não aguentava mais.

Tudo fazia lembrar dela e depois daquele dia, juntos, no parque, a situação só piorou.

Reparou que o portão estava aberto e, acabou por seguir seu impulso. Resolveu entrar.

A porta, também, estava encostada, o que fez o rapaz estranhar. O Rio de Janeiro era perigoso. Se alguém ousasse, tentar, fazer mal a ela, iria pagar caro.

Entrou já na defensiva.

Vozes vinham da cozinha. Era Linda falando. Não percebia o que era, mas soluçava.

Uma voz feminina se fez ouvir. Aquela voz entrou no ouvido de Aldebaran e, a imagem de Rosana lhe veio a mente.

Se aproximou mais da porta e, passou a ouvir melhor.

- Eu não acredito, que você foi capaz de fazer isso com meu irmão – Rosana vociferou.

- Eu fiz o que ele faz comigo – Linda retrucou

- Ele é homem

- Você nem parece uma mulher falando.

- E agora? – Aldebaran ouviu a ranger de uma cadeira – De quem é?

“De quem é, o que? – se perguntou.

Linda pareceu hesitar.

- Responde!

- Maurício.

- Muito bem. Você já falou com ele?

- Meus pais já falaram com ele. Já está tudo acertado.

- Então se livre do grandalhão. Você faz sempre tudo errado – Rosana constatou, virando para a saída.

Estancou. Aldebaran estava tão chocado, que estava parado na porta da cozinha.

Seus olhos, já não eram daquele rapaz querido, daquele rapaz, que conhecera naquela noite, na praia. Transmitiam raiva. Raiva, que estava toda direccionada para uma Linda, pálida.

- E…eu acho que é melhor vocês conversarem – Rosana, disse assustada – Com licença – sussurrou, passando cuidadosamente, pelo rapaz a sua frente e, saindo.

Linda não sabia o que dizer. Na verdade não havia nada para dizer.

Ela o apunhalou pelas costas, e não iria nem avisar que estava lhe deixando.

Ele tão pouco falou. Seu olhar dizia tudo. Tinha razão. Mais nada havia a fazer.

Quando respirou fundo para tentar pedir desculpas, viu-o virar as costas e sair. Sabia, que a partir dali não o viria mais.

Voltaria para Athenas, de onde nunca deveria ter saído.

Não, sem antes, descobrir que seus primos sabiam o que se passava e não lhe disseram nada.

- Foi para não te magoar – Plínio tentava se desculpar.

- Aquela garota não valia a pena – Ricardo, tentava amenizar.

Não, quem não valia a pena eram aquelas pessoas que lhe cercavam.

Durante a última semana que esteve no Brasil, mas nada lhe alegrava. Apenas apreciava a companhia de seus pais e irmão. Até que chegou a hora de partir.

Prometeu a si mesmo que não voltaria para ver aqueles rostos.

Eles que fossem felizes, pois em momento nenhum desejou o mal à alguém.

Acreditava que, se tinha alguém que fez mal, foi ele. Ele acreditou em algo que não era concreto e, pagou por isso. Agora, seu único objectivo era defender sua Deusa, sem se comprometer mais.

Até que…

Continua…


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