Laços Perdidos no Tempo escrita por Danda


Capítulo 11
Capítulo 11




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Maurício esboçou um sorriso forçado.

- Não se incomode com isso – Disse arrastando a cadeira na ponta da mesa para se sentar – Comeremos em paz. Depois falamos – apontou para que Aldebaran se sentasse.

“Será que ela fugiu?” – Se perguntou. Sorrindo, enquanto afastava a cadeira branca e sentava.

Linda e Maurício fizeram o mesmo.

Com assuntos banais puxado muitas vezes pelo anfitrião, o jantar decorreu sem muito a reclamar, alem daquele prato tão pobre que muitos pagariam milhões. Mas Aldebaran, sonhava com uma belo prato com bife e arroz. Mas sem alterar sua cara, sempre cortes e educada, lavava cada garfada a boca, com expressão de satisfação.

Maurício, ria internamente. Pensava que aquela comida, que fora escolhida com cuidado pela sua mulher, não deveria tapar nem o buraco do dente do grande homem.

Linda nada dizia. Concordava as vezes com o dono da casa, mas em grande parte não abria a boca e não levantava os olhos do prato.

A sobremesa era mais consistente que o prato principal. Pavê de pêssego para tirar aquele gosto estranho.

- Vocês têm uma bela casa – Aldebaran comentou, quando um silêncio incómodo se formou.

- Obrigado – Maurício se agradou do elogio – Mas iremos vende-la em breve.

- Ah sim…?

- Não, não iremos – Linda se manifestou, insatisfeita, surpreendendo os dois homens – Essa casa é nossa e, sempre vai ser…

- Não temos o porque continuar nela – Maurício se alterou um pouco – Já discutimos isso. A decisão foi tomada…

- Eu não me lembro de assentir.

- A casa é minha e, ela será vendida.

- AH…agora ela é tua casa – A mulher se ergueu.

Aldebaran estava chocado. O casal parecia que já não o notavam presente. Começavam a falar alto e feroz um com o outro, o que deixava o convidado desconcertado.

- Pare de gritar! – O homem ordenou

- Eu não estou gritando.

- Respeite o convidado – Maurício se ergueu – Aldebaran é nosso…

- Seu convidado – Linda batera a palma da mão com força sobre a mesa – Você nunca deveria tê-lo chamado aqui. Você não tem esse direito.

Com tais palavras, Aldebaran se sentiu ainda pior. Começou a pensar que de facto nunca deveria ter aceitado tal convite. Levantou de imediato fazendo um som com a garganta, chamando a atenção do casal.

- Peço desculpas pela minha intromissão – Disse sério – De facto foi um erro ter vindo…

- Não, não foi – Maurício se recompôs. Suas palavras saiam de forma gentil, enquanto Linda fuzilava Aldebaran com os olhos - A casa é minha e, eu convido quem eu quiser. E isso já deveria ter acontecido a mais tempo.

Ai estava algo que Aldebaran precisava ouvir, para recobrar as forças e ir até o fim com seu propósito. Sem perceber, esboçou um pequeno sorriso.

Linda queria morrer. Aquilo nunca deveria ter acontecido. Durante muitos anos temeu a vinda daquele homem e, este momento havia chegado.

Tudo que fizera iria por agua a baixo. Tudo por culpa de Maurício.

- Ele tem direito de saber tudo – Maurício se virou para Linda que ficou de boca aberta, sem saber o que responder – Eu vou mostrar a verdade para ele e para todos…

- Você vai apenas mostrar o quão monstro você é – Linda se alterou – Vai mostrar o que você me obrigou a fazer…

O homem de cabelos claros, pasmou. Isso era visível em seu olhar.

Aldebaran sentia-se perdido. Teria Maurício, obrigado Linda a ficar junto com ele? Mas como?

- Isso tudo é culpa sua – A mulher começou a chorar, voltando-se para Aldebaran – Ele não nos queria junto. Tramou tudo com a irmã…

- DEIXE DE SER CINICA!! – Maurício se voltou com brutalidade espantando o convidado – Você não vale nada – Disse dando um passo em direção a mulher que recuou, ainda chorando.

Aldebaran se preparava para apartar. Nunca permitiria que aquele homem batesse em Linda. Via-a ali tão frágil, que sentia vontade de abraça-la.

- Diga a ele – O homem disse, apontando para o moreno – Tudo o que você aprontou.

- Que eu aprontei? SEU MOSNTRO!!

Maurício deu mais um passo. Aldebaran se meteu no meio, olhando feio para o homem que se surpreendeu.

O dono da casa recuou, contrariado.

Um silêncio se apossou do lugar, onde agora só se ouvia o soluçar baixo da mulher.

Aldebaran viu um sorriso se formar nos lábios de Maurício.

- Então diga para ele, “Vitima”. O que foi que o monstro, aqui, fez. – Disse, pausadamente, apontando para si mesmo.

Aldebaran sentiu o braço ser puxado pela mulher. Em seguida foi abraçado, como quem pede abrigo.

O Cavaleiro de Touro não se moveu. Achou tudo aquilo, muito estranho. Como se aquilo tudo não fosse real.

- Você tem que acreditar em mim – Ela disse abafada – Ele transformou a nossa vida em um inferno…

- Nossa vida? – Aldebaran sussurrou.

A mulher ergueu os olhos na direção do moreno, enquanto Maurício via a cena calado.

- Minha e da Tainá. Ele sempre obrigou que ficássemos com ele. A menina…

- Sua filha Aldebaran – Maurício cortou, fazendo o moreno olhar surpreso. Apesar de ter quase a certeza que aquela menina era sua, ouvir a verdade de quem estava envolvido ainda o chocava – Então eu as aprisionava?! – Disse sorrindo. Mas seu sorriso, não era de deboche. Era um sorriso resignado a uma constatação desagradável.

- Ela sempre quis te procurar – Linda se afastou um pouco – Mas ele…

- Acabe com essas lágrimas de crocodilo, Linda – Maurício, que havia passado para a sala, sentou na poltrona. Acendera um charuto, que Aldebaran não vira de onde foi tirado – Quer que eu comece a contar do princípio?

- Não acredite nele – Linda segurou no braço de Aldebaran – Ele só quer me destruir, porque sabe…

- Que sempre te amei – Maurício completou. Não imitou voz feminina. Aldebaran olhou para o homem. Estava livre de irritação e ironia. Pela primeira vez, conseguia ver os olhos daquele homem, com confiança – Você não ama ninguém – Ele disse surpreendendo Aldebaran – Você só ama a si mesma.

- CALE A SUA BOCA!!

- Do que está falando, Maurício – Aldebaran estava determinado a ouvir o que aquele homem tinha para dizer.

- É melhor sentar…

- Não lhe ouça – Linda tentou impedir, mas foi repelida pelo cavaleiro, que se irritou com a atitude desta. Se ela estava tão certa, porque o medo do que aquele homem iria dizer.

Sentou no sofá, olhando Maurício. Linda, sentindo a rejeição, saiu correndo da sala, subindo para o piso superior.

Maurício suspirou, fitando o tapete debaixo de seus pés.

- Eu descobri que ela não era minha filha, quando ela tinha nove anos – Ele começou. Seus olhos brilhavam de uma forma que Aldebaran não conseguia decifrar – Era um trabalho bobo de ciências…não me lembro bem como era. – Franziu a testa, como que desiste de procurar algo na memória – Mas tinha que levar uma gota do meu sangue para a escola. Ela apareceu no meu escritório e eu dei o que ela queria. Dois dias depois eu e Linda fomos chamados na escola. A professora perguntou se queríamos que Tainá soubesse a verdade. Eu fiz cara de quem sabia, mas na verdade… - O homem baixou a cabeça e estreitou os olhos. Aldebaran ficou com pena dele – Eu estava despedaçado.

De repente olhou para Aldebaran que lhe fitava sem saber o que dizer.

- Para mim ela é minha filha – Disse.

Aldebaran não sabia o que sentir. Tinha pena dele, por ter sido enganado. Tinha inveja, por ele ter visto a menina crescer, por ela lhe chamar de pai. Tinha raiva por ele ter estado sempre do lado dela e ele não teve essa oportunidade.

Queria fazer uma única pergunta, mas antes que pudesse, o homem recomeçou.

- Quando chegamos em casa, nos fechamos no escritório. Discutimos ferozmente – Ele levantou da poltrona, caminhando até a estante das fotos. Não olhava nada. Seu pensamento estava no passado – Ela dizia que eu nunca deveria ter dado a gota do meu sangue. Que não era para descobrir assim – Voltou a olhar o homem moreno – Ainda me pergunto: se não fosse por esse incidente, será que eu teria descoberto?

Aldebaran percebeu a indagação do homem, mas decidiu não dizer nada.

- Ela já havia conseguido o que queria. Casas, carros…

Agora, Aldebaran se surpreendera. Não poderia ser. Linda não era assim.

Maurício riu ao perceber a reação do outro.

- Eu também não imaginava que ela fosse assim – Disse parecendo adivinhar os pensamentos do cavaleiro – Ela gritava. Dizia que só não tinha ido com você porque era segurança. Por tanto o pato fui eu.

Aldebaran levantou.

- Eu não acredito…

- Tainá ouviu tudo. – O homem ignorou – Se trancou no quarto durante três dias. Não queria me ver. Depois passou. Começou a fazer perguntas sobre você. Eu não sabia dizer nada. Linda apenas falava que você estava na Grécia.

- Não disse mais nada?

- Mais nada – Ele disse – Um dia decidi descobrir onde era sua casa. Levei-a até lá. Linda quis morrer quando soube – deu uma pequena risada ao lembrar – A menina voltou com os olhos radiantes. Disse que sabia onde lhe encontrar. Contou-nos uma história fabulosa, onde você era um cavaleiro de uma deusa. Que morava em um enorme templo – sorriu nostálgico – Sabe como são as crianças.

Aldebaran sorriu. Então ela sabia sua história, por isso o encontrou.

- Ela queria ir até a Grécia, atrás de você – O homem fechou a cara – Eu disse que ela só poderia fazer isso, quando atingisse a maior idade. Ela gritou, fez birra. Entenda, Aldebaran. Eu nunca quis prender ninguém. Tainá estava sofrendo e, eu sei disso. Não queria vê-la sofrer.

- Porque Linda não a ajudou?

- Linda não ia querer perder o luxo dela.

Aldebaran baixou os olhos. Tudo que pensava daquela mulher, durante todo esse tempo foi uma ilusão. Um sonho. Aquela Linda não existia?

- Tainá cresceu depressa. Foi ficando incontrolável. Linda só sabia comprar roupas e sapatos. Esse era o método dela para resolver os problemas da menina – Disse com desprezo. – Ela já não me obedecia.

Aldebaran cada vez mais ficava chocado.

- Começou a ganhar amigos novos e estranhos. Linda achava, magnifico, por serem filhos de pessoas com o nosso estatuto. – Passou a mão pelo cabelo.

- Ela fugiu não foi?! – Aldebaran indagou de repente. O homem se surpreendeu.

O moreno viu Maurício, mordiscar, os lábios, pensativo. Talvez estivesse com vergonha, por não saber como controlar Tainá.

- Venha – Ele disse se dirigindo para o corredor da porta principal. – Está tarde, mas irei te levar a ela.

Aldebaran não pensou duas vezes, seguindo o homem.

- Onde vão? – A voz de Linda, veio de cima da escada.

- Vamos sair – Maurício disse sem se importar.

- Onde? – A mulher parecia transtornada.

- Até Tainá – Ele respondeu surpreendendo a mulher e Aldebaran.

Então ela já havia voltado. Será que no final ele a ajudou a ir até a Grécia a sua procura?

Aldebaran sentiu uma euforia no peito.

- Não faça isso Maurício – Linda desceu até o meio das escadas. – Deixe a Tainá em paz – Disse se voltando para Aldebaran.

- O que está dizendo Senhora? – Aldebaran se voltou para a mulher. Ela se surpreendeu com a forma que ele a chamava.

- Você não deve vê-la – Ela disse com raiva – Pai é quem cria…

- Ela já mudou a tatica – Maurício se voltou para Aldebaran, com calma.

Aldebaran estreitou os olhos. Como pode se enganar tanto?

- RANIA – O homem gritou para dentro – TRAGA A CHAVE DO CARRO!!

- NÃO FAÇA ISSO!! – Linda correu para bloquear a saída. Passou rapidamente pelo marido e se pôs na frente da porta.

Os homens lhe fitaram surpresos. Estava louca.

Logo apareceu uma senhora, de uniforme com uma bandeja. Sobre esta, a chave do carro.

- Obrigado – O homem agradeceu, pegando o pequeno objecto. – Saia da frente – Ordenou para a mulher.

Linda colou as costas na porta.

- Vá dormir, Senhora – Aldebaran disse frio – Obedeça seu marido.

- Como pode falar assim Aldebaran – A mulher se aproximou – Nós tivemos uma filha…

- Agora pouco dizia que não – Aldebaran continuava na mesma posição.

- Você não entende. Foi para o bem dela…

- Chega, Linda – Maurício falou sem paciência – Estou farto de te ouvir – Disse pegando com cuidado no braço direito, tirando-a do caminho. – Vamos – Disse saindo, seguido por Aldebaran.

- Aldebaran… - A mulher chamou. Mas o moreno não queria mais participar daquela cena tão triste.

Se sentia um idiota. Todos esses anos sofrendo por ela. Alias, por ela não. Por uma Linda que não existia.

Entrou em um carro prata que não sabia dizer a marca, colocou o cinto e foi imaginando todo esse tempo que ela deveria ter rido. A final, não, eram seus primos. Não era Maurício. Era a mulher que amava que cometeu a pior das traições.

- Eu não posso ter filhos – Maurício começou, chamando a atenção do outro – Por isso ela usou a tua filha.

Aldebaran baixou os olhos.

Ficaram em silêncio, até que sentiu que o homem ia parar o carro.

Olhou para todos os lados sem entender.

- O que houve? – Perguntou.

- Chegamos – Maurício, falou simplesmente.

Aldebaran lhe fitou incrédulo.

- Você está brincando, não está!?

Continua…


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