A Vida e Outra Vida de Roberto do Diabo escrita por Lukke


Capítulo 3
Capítulo 3




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-Mãe! Aqui estou. Sabes o que tenho sido minha vida. Tens noticias de meus passos. Tenho matado mãe. Roubando. Incendiando. Sangrando homens por nada. Tenho me divertido, eu e meu bando, diante da dor e da desgraça. Quanto aleijado deixei pelo caminho! Quanta gente que antes via hoje esta cega! Tornei doente aquele que tinha saúde. Minei por dentro quem antes era forte. Gozei vendo gente sofrer, implorando clemencia, morrendo devagar. Desde que me lembro, essa foi minha sina. Tortura. Desonrar. Destruir. Meu pai? Ora! Meu pai quis falar de amor com quem tinha fel correndo nas veias. Veio falar do bem a um apaixonado do mal. Honra? Dignidade? Dentro de mim tem um buraco, mãe! Não tenho alma! Tenho ódio! Ódio de homens e mulheres. Essa força já me fez uma noite, com minha espada, atacar e destruir não sei quantas arvores. Já me fez pegar um cavalo e, sem mais nem menos, com um machado, cortar sua cabeça. E invadir uma igreja em pleno casamento, agarrar a noiva, arrancar sua roupa, possui-la  no altar, depois matar a ela e a todos que ousaram reagir. Mãe! Quem sou eu? Que é isso? Que força é essa que me leva a destruir e dizimar tudo o que é vida em volta de mim?

-Filho! Filho... Em que estado tu te encontras! Que mão é essa cheia de sangue? Vem cá! Quanta dor em teu rosto, no teu corpo, dentro dos olhos! Ah... que bom ver-te de perto de mim! Essa voz. Teu jeito. Quanto tempo! Senta. Presta atenção. Escuta as palavras de tua mãe. Nós... Eu e teu pai, não conseguíamos filho. Amor havia. Vontade, quanta! Rezamos. Fizemos promessas. Chamei médicos. Tomei remédios. O tempo passava. O duque, teu pai, querendo herdeiro. Precisava. Quem cuidaria de suas terras? E o povo? Dentro de mim, foi crescendo um sentimento ruim.  De não ser mulher. Não merecer marido. Nem amor. Nem viver. Sim. Veio brotando em mim vontade de morrer. Dar cabo de minha vida. Teu pai assim se casaria de novo e, quem sabe, conseguiria o filho almejado. Pensei em cortar os pulsos. Atirar-me lá da torre. Em beber algum veneno. Nunca tive coragem. Andava na escuridão. Para a vida, não tinha força. Para a morte, não conseguia. Certa noite, bem me lembro, teu pai me procurou. Chegara de uma caçada. Vinha forte. Vinha alegre. Era sempre o mesmo homem. Robusto. Belo. Falante. Eu ali querendo a morte. Ele são em minha frente. Escancarou as janelas. Falou alto. Deu risada. Contou-me da caçada. Que dera tiro certeiro. Que apanhara bicho grande. Ignorou minha dor. Abraçou-me, fez carinho, me disse coisas de amor. Olhei para teu pai. Ah, meu Deus, como eu queria dar a ele uma criança! Seria como uma estrela no meio da noite escura. Mais: a vontade de viver que eu já perdera. E o duque me pegou, tomou meu corpo, eu me abrindo, me entregando, e foi me dando um desespero, ao mesmo tempo ternura, junto com raiva e paixão. Amei. Odiei. Blasfemei. Rezei. Busquei dentro de minha maior força. Que aquela noite eu concebesse um filho. Custe o que custasse! Nem que fosse pelas mãos, pelo poder e bênçãos do Diabo.
Nunca na vida Roberto sentira tanta dor.
Nunca estivera tão sereno.
Soube que não sabia quem era.
Conheceu que não se conhecia.
Olhou as próprias mãos.
Percebia o sangue latejando pelas entranhas do corpo.
Pegou seu cavalo e foi embora.


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