O Ladrão de Almas escrita por lucy_b


Capítulo 6
Make me a Demon


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem os possíveis erros de português, mas agora são 01:41am e eu 'to com um sono do cão, madrugada pra escrever é cruel... Talvez algumas coisas fiquem sem sentido, porque eu realmente 'to morrendo de sono. Prometo que reviso tudo quando tiver tempo! Boa Leitura!



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       Eu conseguia sentir o fogo queimando minha alma, chicoteando-a, mutilando-a. Não tinha forças para gritar, afogava-me em minhas próprias lágrimas, todas as minhas lembranças se esvaecendo. Eu tentei manter a fé, tentei pedir para me tirarem daquele maldito lugar, mas ninguém estava lá para me ouvir. Os gritos eram altos demais, a dor era forte de mais. Eu estava morrendo e ao mesmo tempo eu estava vivendo eternamente, a insanidade sussurrava meu nome e por alguns momentos eu achava melhor seguí-la para onde quer que ela esteja me levando. Destinado à loucura. Não tinha nenhum sentido.

   Eu não vivia, aliás, eu nunca vivi na minha vida inteira, a única coisa que fui capaz de fazer foi sobreviver. Eu nunca dei a cara à tapa, nunca fui à pessoa que não tivesse medo do que iam pensar. Eu só era mais um brinquedinho da sociedade, o garoto que senta no fundo da sala, o sempre invisível. Não era agora que aquilo ia mudar, por mais que fosse a coisa mais sensata a fazer. Eu precisava escapar. Escapar do Inferno, do meu doce e, ao mesmo tempo, do meu amargo Inferno.

   E agora, pela primeira vez na minha existência inútil, eu tinha de fazer alguma coisa ou estava sujeito ao sofrimento eterno. Nem que isso queira dizer matar alguém. Mas não tem problema, eu mataria se esse fosse o preço para escapar com minha alma quase intacta, para apagar todas as lembranças e todos os gritos. Eu mataria. Quantas pessoas fossem preciso. Roubaria suas almas, as faria gritar. Tudo tem seu preço, e esse é o meu. A morte. E eu estava disposto a pagá-lo.

   Cada suspiro ardia ao passar pela minha garganta, cada lágrima parecia fogo. Eu não tinha mais o luxo de gritar, de chorar ou de simplesmente sofrer. Doía demais, então tudo que fazia desde o momento em que cheguei aqui era ficar em silencio, passar despercebido em meio os demônios, me camuflar em meio às almas. Como tenho feito desde que estava vivo. Ser invisível, é a única coisa que sou capaz de fazer. É humilhante, mas muito útil nesse lugar.

   Só que não podia viver só disso, sofrer calado, eu não suportaria passar milhões de anos assim. Tinha de fazer alguma coisa e sabia por onde começar, com quem falar. Já estava observando há muito tempo como as coisas funcionavam, quem eram as pessoas poderosas e quem era facilmente influenciável apesar de seu poder. E eu já tinha um demônio em mente, uma mulher, legitima, nasceu e cresceu no mar de fogo junto com os mais poderosos. Nytn. Ela me dava nojo, suas ações me davam nojo, assim como todos nesse maldito lugar. Mas era uma coisa que teria de conviver pela eternidade, tinha que me acostumar.

   Eu andava pelos campos de fogo, tentando achar o demônio que procurava, tendo total consciência de que poderia morrer ou sofrer ainda mais. Eu tinha que arriscar, por mais que o medo tomasse conta de mim, eu precisava tentar, não tinha nada a perder a não ser os últimos pensamentos sãs que restavam em minha mente. Inúteis. Não são precisos aqui, a única coisa válida era a insanidade.

   Avistei uma mulher de altura mediana, com os cabelos cacheados um pouco abaixo dos ombros, o corpo muito bem estruturado e os olhos, grandes e profundos, de uma cor que não consegui constatar. Ela maltratava uma alma qualquer, rindo ironicamente e com um sorriso malicioso nos lábios. Era como se sentisse prazer ao ver à dor de algum ex-humano. Aquilo me dava nojo. O Inferno me dava nojo.

   - Grite, querido – Ela disse, a voz beirando a sensualidade, mas com uma maldade visível – Ninguém irá escutar. Você está no Inferno, esqueceu? Sofrimento eterno, dor, sangue... – Ela riu.

   Eu podia ouvir a alma em sua frente gritar, tentando competir com as outras que berravam de dor, ou de ódio ou simplesmente tentando extravasar o que estavam sentindo. Meu instinto dizia para tentar salvar aquela pobre alma, por mais má que ela tenha sido quando era viva ninguém merece todo aquele sofrimento. Ninguém.

   Mesmo assim peguei alguma arma jogada pelo chão que, aliás, estava cheio de objetos pontudos e letais deixados por alguns demônios que ou morreram ou não viam mais utilidade naquelas armas. Enfiei a foice em um dos chácras mortais da alma, matando-a de vez, porém deixando-a sofrer no fogo eterno. Uma sensação estranha percorreu todo o meu corpo ao perceber que fui eu que fiz aquilo, mas apenas sorri irônico para o demônio ao meu lado que me olhava assustado.

   - Eu nunca te vi aqui... – Ela comentou, assumindo uma voz totalmente diferente da que usava com a alma – É algum tipo novo de demônio? Qual é a sua especialidade? – Perguntou, sorrindo fraco para mim e com uma voz doce, algo que nunca vi em um demônio. Talvez eles só fossem ruins com os humanos.

   - Eu não sou um demônio – Sussurrei, me perguntando porquê mesmo eu estava fazendo aquilo – Eu sou um mortal, um ex-humano.

   Ela arregalou os olhos, que agora podia ver que eram amarelos, quase laranjas, e se colocou novamente como o demônio que era. Olhando-me de cima a baixo, com um profundo desprezo. Eu não a culpei, por dentro estava fazendo o mesmo que ela. Nós nos odiávamos, mas tinha que fazer alguma coisa para fazê-la me deixar escapar.

   - Porque fez aquilo, mortal idiota? – Ela perguntou entre dentes.

   - Porque quero me tornar um de vocês – Respondi, dando de ombros, como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo.

   - Limpe sua boca antes de se dirigir a um demônio! – Ela quase gritou, me repreendendo, e depois de um sorriso cínico – Ou melhor, suje-a, fale mal de seu Deus, e depois venha falar com um demônio.

   - Por favor – Olhei em seus olhos, vendo que provavelmente minha alma ia sangrar um pouco mais – Por favor, não está vendo que não devia ser um mortal? Eu pertenço a vocês e foi assim desde que eu ainda era vivo. Nasci para ser um demônio, meu destino traçado desde sempre, desde que dei inicio a minha existência.

   Eu a ouvi suspirar, um suspiro profundo e frustrante, como se tivesse acabo de desistir de algo importante. Ela olhou para mim e depois sorriu como se me conhecesse desde que era pequeno, um sorriso carinhoso e aconchegante. Gesticulou para que eu a seguisse. Foi o que fiz. Chegamos a um buraco escuro, sem fogo, apenas a escuridão densa e perigosa. Ela entrou lá lentamente, acendendo uma pequena chama com a ponta do dedo e depois colocando-a em um canto qualquer, iluminando nem 10% do local, mas já pude ver um pentagrama pintado no chão e algumas coisas presentes sempre em ceias satânicas. Eu já sabia o que ela ia fazer, então apenas deixei ser levado pelo momento.

   O demônio se aproximou de mim com um sorriso malicioso nos lábios, os olhos assumindo uma cor mais forte, um laranja avermelhado profundo e um pouco escuro, ela estava perto demais para que eu notasse o mal preso em seu corpo, as asas cortadas se abrindo lentamente em suas costas, o cabelo começando a ficar extremamente liso e longo, os olhos escurecendo cada vez mais. Eu devia estar com medo, mas não estava. Eu estava com nojo. Ela me beijou lentamente, as unhas já se transformando em garras e, mesmo com meus olhos fechados, podia imaginar os seus já pretos e ocupando todo o globo ocular. Ela rasgou de vez minha camisa e começou a levar as coisas para outro nível. Eu cedi, era a melhor coisa a se fazer. Ou eu morria, sofreria mais do que era previsto. Não tinha escolha.

   Ela se afastou de mim por um momento e pude ver sua verdadeira forma, o verdadeiro demônio camuflado no corpo de uma mulher. Eu não acreditava que estava prestes a fazer o que ela queria que eu fizesse, mas eu sabia que era preciso. Eu não tinha palavras para descrever o monstro em minha frente, eu estava assustado, tentando manter a calma, mas parecia impossível. O demônio juntou novamente nossos corpos e eu fechei os olhos. Repeti para mim mesmo que aquilo ia acabar rápido. Que o sofrimento ia acabar.

   Engano o meu.

       Acordei em um pulo, assustado, dando uma olhada rápida no local para ver onde estava e, para minha felicidade, ainda estava em minha casa, no meu quarto preferido e ao lado de Leandra que dormia calmamente. Suspirei, tentando entender como era possível eu pegar no sono, considerando o fato de demônios não poderem dormir. E, mesmo se pudessem, porque diabos eu sonharia com o dia que eu me tornei o que sou, um ladrão de almas? Eram perguntas demais para minha cabeça, questões extremamente importantes que eu não sabia responder. Encostei minha cabeça na cama e olhei para o teto de pedra que estava lentamente se afogando com as línguas de fogo.

   - Você lembra? – Uma voz masculina ecoou pela minha cabeça e eu automaticamente fiquei de pé, tentando defender a mim e a Leandra – Você sofria tanto, queria tanto se livrar da dor... – Riu.

   - Quem é você? – Perguntei, baixo o bastante para não acordar Lea.

   - Ora, Brian, vai dizer que não lembra de mim? – Perguntou, com uma falsa indignação – Sério mesmo que você não lembra da pessoa que te levou para o Inferno? Vamos lá! Eu sei que uma parte de você não me esqueceu! – Exclamou, fazendo a forma mais pura do ódio invadir todo o meu corpo. Então era ele, aquele desgraçado...

   Um homem alto apareceu na minha frente, os lábios abertos em um sorriso irônico, o cabelo, que chegava à altura dos olhos, bagunçado para todos os lados, ele era forte e trajava uma roupa atual do século XXI e os olhos de um vermelho vibrante. Mas eu não tive tempo e nem paciência para me importar com os detalhes, apenas voei em seu pescoço, com uma única meta: matá-lo de vez. Antes que meus dedos começassem a estrangulá-lo eu fui atirado para longe, batendo as costas na parede de pedra, porém a dor era a ultima coisa com a qual eu fui me importar. Voltei, dando um soco em seu rosto, sendo automaticamente atingindo por alguma coisa pontuda. Aquela maldita foice que ele usou para me matar. A lamina perfurou meu peito e, por mais que agora eu seja um demônio, aquela foice estava enfeitiçada por ele e também podia matar demônios. MALDITO! Caí perto de alguma chama no canto do quarto, minha ultima visão foi a mais desesperadora de todas: Leandra nos braços daquele desgraçado, sendo levada para algum lugar que só a Deusa deve saber. Já era tarde demais.

   - Você é muito precipitado, humano, é por isso que sempre acaba morrendo – Eu ouvi-o comentar com naturalidade, e depois tudo que eu consegui me dar conta era de novamente estar presente no sofrimento eterno, ardendo no fogo que nunca apaga.

xx Lea’s POV xx

       - Acorde, pequena mortal – Ouvi alguém sussurrar em meu ouvido e, por mais que eu não quisesse abrir os olhos, eu consegui perceber que aquela não era de forma alguma a voz do Brian. Abri os olhos rapidamente, dando de cara com um par de olhos vermelhos. Eu quis gritar, mas fui impedida por um dedo fino e esquelético que partiu de trás de mim – Bem vinda de volta, Leandra – O homem em minha frente sorriu e o dedo esquelético foi tirado de meus lábios.

   - Mas você tem certeza que é ela, cara? – Eu ouvi um garoto perguntar, o som também vinha de trás de mim, porém eu não conseguia me virar, parecia estar presa por algum tipo de corda.

   - Mas é claro que tenho! – O homem dos olhos vermelhos exclamou, irritado – E mesmo se, por algum acaso, não for, é só matá-la.

   Certo, agora eu definitivamente estava morrendo de medo. Tentei inutilmente me levantar, mas uma dor enorme percorreu todo o meu corpo, queimando-o. Dei um grito fraco e a dor parou, permitindo-me olhar em volta. Estava em um tipo de quarto pequeno e cavernoso, iluminado parcialmente por algumas velas. Consegui ver o homem que me acordou conversando, ou discutindo, com um garoto de aproximadamente 16 anos que tinha a pele descascando e deixando a mostra os ossos. Era uma visão bizarra.

   - Desculpe por eles – Uma mulher de altura mediana, um corpo delicado e feições de anjo falou, sorrindo carinhosamente – Mas é meio difícil trabalhar com demônios – Ela suspirou e voltou a sorrir – Bom, eu acho que não precisamos te amarrar, você parece ser uma boa garota – Ela estalou os dedos e eu pude me mexer, apesar de continuar na mesma posição que estava – Meu nome é Francine e o seu, se minhas fontes estiverem certas, é Leandra McKanzie, certo?

   Assenti, ainda assustada. Onde diabos Brian tinha se metido?

   - Olha, eu sei que pode estar com medo, mas não vamos te machucar, sério – Ela sorriu, os olhos azuis passando uma confiança que era difícil de se negar – Mas não podíamos te deixar nas mãos daquele demônio, o Hyntf – Ela pronunciou seu nome com desprezo, o que me deixou um pouco confusa.

   - Mas o... Hyntf não ia me machucar – Consegui sussurrar, minha voz ficando cada vez mais fraca e rouca.

   - Lea... – Ela sorriu, tentando me reconfortar – Entenda que Hyntf é um demônio, você não pode confiar neles. São uma raça imunda, sem sentimentos. Eu, por outro lado, sou um anjo – Ela estufou o peito como uma super heroína e depois riu.

   Eu sorri para ela, tentando disfarçar meu olhar confuso e inocente. Eu não sabia em quem confiar, Brian tinha me dito que anjos podem ser ruins quando querem alguma coisa que não podem ter, e como eu sou muito sortuda, essa coisa sou eu. Será que eles me matariam? Francine me demonstrava que eu podia confiar nela como uma melhor amiga, e parecia que ela gostava de mim. Mas talvez ela estivesse mentindo. Ah, meu Deus, eu nunca quis tanto ver um demônio como queria ver agora. Mais precisamente o meu demônio. Eu o queria ali, me dizendo se o que eu estava fazendo era certo.

   Mas uma coisa que Francine disse poderia ter razão, Brian ainda era um demônio e demônios não são confiáveis desde sempre. E eu devia estar viva nesse exato momento, e não em algum lugar do Céu ou do Inferno com um anjo e dois demônios. Aquilo era confuso demais para a cabeça de uma garota de 22 anos. Para a cabeça de qualquer um!

   - Francine... – Sussurrei – Eu poderia voltar para o meu mundo? Para o mundo dos mortais? Dos humanos? – Arrisquei a pergunta, era algo que eu precisava indagar e nunca teria coragem de fazer isso com Brian.

   Ela abaixou os olhos, o sorriso em seus lábios desaparecendo.

   - Me desculpe, Lea – Ela disse, triste.

   Era tudo que eu precisava saber. Eu não teria mais uma família, não teria mais uma mãe, um pai, um cachorro e um irmão chato. Eu não teria mais a minha vida de volta. Não consegui controlar as lágrimas que insistiam em cair de meus olhos incontrolavelmente, rasgando minha garganta com os soluços dolorosos. O arcanjo ao meu lado me abraçou, tentando me consolar. Sem um pingo de sucesso.

   Abracei minhas próprias pernas, tentando controlar o choro e atraindo a atenção dos dois demônios que discutiam há alguns minutos atrás. A verdade era tão fria. E eu via toda a minha vida passar diante dos meus olhos, um trailer das melhores coisas. Era como se eu tivesse acabado de receber a noticia de que estava com câncer e ia morrer em poucos dias, você perdia totalmente à vontade de ser feliz. Só uma coisa passava pela minha cabeça: eu não aproveitei nada. Eu não disse “eu te amo” para os meus pais nem ontem e nem hoje. Eu não conheci meu ídolo, eu não me declarei para o meu amor platônico. Eu não realizei meu sonho. Eu não terminei a história que tanto queria tornar um livro. Eu não terminei meu desenho, eu não terminei de assistir minha série favorita. Eu não fiz nada, eu não aproveitei nada. E agora, do nada, eu estava morta, e não existe nada que me faça voltar para minha antiga vida. Aquela simples e insignificante informação que acabara de receber vai mudar muita coisa em mim, porque, afinal, eu já estou morta e não tenho mais nada a perder, eu já estive no Inferno e os anjos me querem. Não existe mais a antiga Lea McKanzie dentro de mim.


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Notas finais do capítulo

Antes de vocês comentarem ou saírem da Fic, eu queria indicar um video clip e uma tradução de uma banda que eu gosto muito (Avenged Sevenfold) e, felizmente, essa musica tem uma boa relação com a história. Não se esqueçam de comentar!
tradução: http://letras.terra.com.br/avenged-sevenfold/1710428/traducao.html
video: http://www.youtube.com/watch?v=6PRfDJQY_Y8



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