- Miranda

     Alguém bateu na porta.

     - Entra – Falei.

     - Bom dia, Bela Adormecida! – A voz de Justin me fez pular. Não queria que ele visse que eu tinha dormido com a mesma roupa de ontem.

     Corri para o banheiro, só consegui pegar um roupão no caminho. Tranquei a porta.

     - Ér, Miranda? Você está bem? – Ele perguntou.

     - Ah... Estou. Já vou sair, só um minuto!

     Procurei uma roupa qualquer no banheiro. Nada. Eu só tinha um roupão. Procurei dentro das gavetas do armário e só achei um biquíni. Nem pensei duas vezes. Coloquei o biquíni, o roupão, lavei o rosto e escovei os dentes. Saí.

     - Oi. – Falei, tímida.

     - Oi. Trouxe café. Não se preocupe, não vou derramar em você. – Ele garantiu e eu ri. Peguei um dos copos e agradeci.

     - Atrapalhei algo? – Ele apontou para meu roupão.

     - Ah, não. Eu só vou... Nadar. – Falei.

     - Já está de férias? – Ele perguntou de repente.

     - Estou sim. A redação era a última coisa que eu tinha que entregar. – Falei.

     - Ah, aquela redação.

     Eu ri.

     - Sim, aquela redação. Por que você se deu ao trabalho de trazer café e me acordar?

     - Só achei que já que você queria me ver... esse era um bom jeito de começarmos. – Ele falou, presunçoso.

     - Não disse que queria te ver... – Falei, colocando o café no criado mudo.

     - Mas perguntou se iria me ver.

     - E se esqueceu de dizer que é convencido! – Falei.

     Ele abriu a boca, mas fechou. Fez cara de quem ficou magoado.

     - Gostei da jaqueta. – Falei.

     Ele me ignorou.

     - Ah, qual é, Justin! – Eu disse e ele virou a cara.

     Tentei virar o rosto dele, mas ele fazia força contrária.

     - Tudo bem. Vou acordar a Lizzie. – Falei, me levantando.

     - Não, não. Eu sei que a jaqueta é legal. – Ele sorriu.

     - Valeu a tentativa, mas vou mesmo acordar minha amiga.

     Ele tentou me segurar, mas acabou puxando a faixa do roupão, desamarrando-a. Antes que ele pudesse ver o biquíni, me virei e abri a porta. Quase dei de cara com um garoto. Ele sim viu meu biquíni, de cima a baixo.

     - Bom dia. – Falei e segui apressada pelo corredor, até o quarto de hóspedes.

     Lizzie dormia como um anjo. Eu fiquei até com dó de acordá-la, mas...

     - Lizzie, pega o biquíni. Vamos nadar.

     - Que horas são?

     - Vamos, Lizzie!

     - Ah, está bem, estou indo!

- Justin

     - Nossa, cara, que gata! Tá bem, hein? – Chaz comentava enquanto olhava as fotos em cima da cômoda onde ela havia guardado a câmera.

     - Que isso, não tem nada entre a gente. Somos apenas... Não sei o que somos.

     - Então eu posso... ? – Chaz perguntou.

     - Pode o quê?

     - Você sabe...

     - Ah, fique à vontade. Mas não acho que vá conseguir algo com ela. A Miranda é meio durona. – Falei.

     - Beleza. – Chaz falou e levantou todo animado.

     - Mas já? Não dá para esperar até depois do almoço? – Eu falei.

     - O amor não espera, meu caro.

     - Não sei o que você entende por amor, mas eu não chamaria o que você faz com as garotas de amor.

     Ele riu e saiu do quarto. Kate entrou e perguntou se eu precisava de algo.

     - Não, obrigado.

     - O Usher já está pronto.

     Suspirei e levantei.

~x~

     Voltei para o quarto exausto. “Deus abençoe o ser vivo que inventou a ‘pausa para o almoço’. Amém.”. Levei um susto ao ver aquela garota sentada na poltrona, toda encolhida, quase dormindo.

     - Miranda. O que... Você está bem? – Perguntei.

     - Ah, oi. Estou sim. Desculpe, não sabia que você ia voltar tão cedo. Vou sair. – Ela começou a se levantar, mas eu não deixei.

     - Fica aqui. É o seu quarto. Mas o que você tem?

     - Não é nada.

     - Tem certeza?

     Ela assentiu. Fiquei meio chateado. Ela não confiava em mim para dizer o que quer que fosse. Olhei para minha mão, que ainda segurava o braço dela.

     - Miranda, você não vem? – Chaz entrou no quarto. Tirei a mão na hora.

     Ela suspirou e se levantou. Quase briguei com Chaz para deixar a menina em paz, mas pegaria mal. Quando Chaz correu os olhos pela garota, seus olhos só expressavam malícia.

     Olhei para Miranda também e entendi porque Chaz agia daquele jeito. Ela era simplesmente linda. Mas eu não via em Miranda esse tipo de garota. Uma pequena parte de mim desejava que ela não caísse na conversa de Chaz.

     - Você não quer ir? – Ela me convidou. Depois me lançou um olhar desesperado.

     Eu ri.

     - Tudo bem. Mas é só um mergulho! – Falei e ela abriu um sorriso enorme. Aquele que eu gostava. Chaz me jogou uma bermuda.

     Chaz a puxou, então eles foram na frente. O garoto dava tanto em cima dela que eu até me revoltei. Miranda já não sabia mais como se esquivar, dava para ver em seu rosto.

     Atrás, eu apenas observava os dois. Ele até tentava abraçar ela, mas Miranda se afastava antes. Nunca sufoquei tantas risadas em minha vida.  

     Havia uma garota sozinha na beira da piscina. Miranda apenas correu e se juntou a ela. Pulei e atravessei a extensão da piscina, me apoiei nos braços e sentei na beira, com os pés na água. Fiquei olhando a casa pela porta de vidro. Não, eu não estava olhando a mobília. Estava olhando o porta-retrato grande no meio de tantos pequenos. Era um casal, com a testa encostada uma na outra, eles sorriam. A foto parecia antiga. Só não consegui enxergar o que tinha nas fotos menores.

     - E aí, Biebs?  Pensando na vida? Ou em uma certa garota de cabelos longos, castanhos, magra, com uma covinha na bochecha...

     Abri um sorriso. Gostava dela e lembrar ela me fazia... Bem.

    - Victoria. – Falei, baixinho.

    - Você gosta dela, não é Biebs? – Chaz perguntou.

    Apenas sorri. Não queria admitir que ela mexia comigo.

     - Bem... Eu gosto dela. – Ele apontou para Miranda que agora atravessava a largura da piscina. Fez esse percurso três vezes.

     - Você não gosta dela, Chaz. Só está interessado porque ela é bonita. E se ela não te der bola, você vai arrastar as asinhas pra cima da amiga dela. Miranda tem algo a esconder. Sei lá... Um mistério e...

     Olhei para Chaz, que parecia comer a menina com os olhos.

     - Adoro garotas misteriosas...

     - Chaz! É só nisso que você pensa? – Quase gritei, as meninas olharam para nós.

     - Não, Justin. Eu não penso só nisso... O que você acha de eu beijar ela hoje?

     Bufei.

     - Ei! Meninos! Almoçam com a gente? – Miranda perguntou, encostada na porta de vidro, vestindo uma espécie de roupão, só que mais fino.

     - O Usher não está aí? – Perguntei, me levantando.

     - Acho que não tem ninguém da produção aqui. – Ela falou.

     - Bem, eu aceito. – Chaz levantou e foi correndo ficar ao lado dela.

     “É claro que você vai. Não é você que vai ter um Scooter doido e nervoso na tua cola.”, pensei. Mas fui assim mesmo.

     O cheiro de espaguete enchia a cozinha da área da piscina. Chaz e Lizzie (ouvi Miranda a chamar assim) sentaram de um lado e eu e Miranda do outro lado da mesa. A governanta colocou uma travessa cheia de espaguete à bolonhesa no meio da mesa. Chaz se serviu primeiro.

     Miranda se levantou e se serviu de algo no fogão. Voltou com arroz... Feijão... E alguma carne que eu não identifiquei. Logo depois pegou uma banana e picou em cima de tudo aquilo. Apenas eu e Chaz ficamos olhando. A outra menina e a governanta nem pareceram notar. Eu não queria ser chato e perguntar, por isso fiquei calado e esperei Chaz fazer a idiotice naturalmente.

     - O que você está comendo? – Ele perguntou, com sua idiota cara de espanto.

     Ela riu.

     - Você não é o primeiro a fazer essa pergunta. – A governanta falou rindo e Lizzie a acompanhou.

     Eu achei que Miranda ia surtar, mas ela riu também.

     - Simplesmente não gosto do jeito americano de comer...

     - Como é? – Chaz perguntou como se aquilo fosse a coisa mais absurda do mundo.

     - Eu sou brasileira. Ou era... Vocês escolhem. – Ela falou. Chaz engasgou e eu quase engasguei, mas disfarcei.

     Chaz olhou para o corpo dela.

     - Tá explicado. – Ele falou alto.

     Eu engasguei.

     - O quê? – Ela perguntou imediatamente.

     - Hm? Nada. – Chaz falou.

     Ela estreitou os olhos, mas depois voltou a comer. O telefone tocou. A governanta atendeu.

     - É para você, Miranda.

     Ela colocou o fone no ouvido e fez uma careta.

     - Claro. Pode deixar entrar, mas peça para alguém ficar bem perto da casa. – Ela pediu.

     Passaram-se dois minutos e uns cinco garotos entraram fazendo bagunça. Miranda se levantou, tensa.

     - Ah, por favor, Tyler. Porque não falou que trouxe seus amigos? – Ela reclamou.

     - Esta é a casa dos meus tios! E não sua! – Ele gritou.

     Reconheci aquele jeito alterado; o garoto estava bêbado. Um dos meninos me viu.

     - Olha aí. É o Biba! Baby, baby, baby, ooh! - Um idiota contou com a voz fina.

     - Por favor, Tyler. Contenha seus gorilas. – Miranda falou.

     - Ah, vá para o...

     O barulho de algo quebrando interrompeu o moleque. Todos olharam para a sala. Vários cacos espalhado pelo chão.

     - Vo-você quebrou a foto... A foto dos... – Miranda não conseguia completar a frase.

     - Ah, não. Você não vai chorar vai? “Oh, meus pais me deixaram! Me abandonaram! Eu sou uma idiota que sempre chora quando falam nos dois pobretões brasileiros!”. – Ele fingiu estar chorando. – Sabe por que eles te deixaram? Você é um saco! Um estorvo para todos!

     Olhei para Miranda. Dava para ver que ela tentava brutalmente não chorar, mas seus olhos já estavam cheios d’água. O tal Tyler pisou na foto. Foi o que bastou. Ela andou calmamente até ele e lhe deu um tapa, que estalou alto. Ele olhou para ela. Adiantei-me e segurei o braço dele antes de ele batesse nela. Um dos caras começou a vir em minha direção. Olhei para Chaz, que saiu pelos fundos à procura de Kenny. Em um segundo Kenny entrou na casa, acompanhado de outro segurança e os expulsou dali.

     Virei para ver como Miranda estava. Não gostei do que vi.

     - Eu... vou... subir, lavar o rosto... – Ela saiu andando. Ajoelhei para pegar a foto. – Não, Justin. Deixa isso aí.

     - Você vai falar com ela? – Perguntei para Lizzie assim que ouvi a porta do quarto se fechar.

     - Não. Ela não fala sobre isso. Com ninguém. – Ela falou, derrotada e começou a catar os cacos junto com a Sam (ouvi Lizzie falar que esse era seu nome).

     Aproveitei a distração para subir. Respirei fundo e entrei.