O carro foi parado na porta do McDonald’s.

     - O que vamos fazer aqui? – Perguntou Miranda, fazendo cara feia.

     Havia esquecido que ela não simpatizava muito com o McDonald’s. Improvisei.

     - Ahn... Vou comprar um milk-shake. Você sabe... O milk-shake do McDonald’s é o melhor que tem. – Sorri amarelo. – Depois vamos ao Burger King.

     Ela se recostou no banco, cruzando os braços.

     - Vão logo. – Falou, olhando o teto.

     Saímos do carro e entramos.

     - E aí, Ken, vai querer o quê?

     - Vou esperar pelo Burger King.

     Bufei. Obrigado pela colaboração. Meus olhos percorreram a lanchonete vazia e avistei o brinde do McLanche Feliz. Comprei um. E o milk-shake também, claro.

     Eu só queria o brinde. Quando saí de lá, vi um mendigo. Dei o lanche para ele, que sorriu para mim.

     - Voltamos. – Anunciei, sentando no banco.

     - Não. Você é só uma visão, ainda não voltou. – Ela ironizou. Ok, eu não fazia ideia de como um McDonald’s podia acabar com o humor dela.

     - Olhe o que eu trouxe para você. – Levantei o boné roxo com as iniciais JB e o bonequinho. Ela abriu um sorriso engraçado.

     Ela pegou o boné e o colocou na cabeça, depois pegou o boneco.

     - Ei, Little JB. – Ela o apelidou.

     - Criançona. – Falei.

     - Sou mesmo.

     - Meu bebê. – Dei um beijo em sua bochecha.

     Ela riu.

     - Vamos ao Burger King? – Ela pediu, ainda sem tirar os olhos de mim, quer dizer, do boneco.

     - Kenny?

     - Agora! – Falou ele, ligando o carro.

     O carro foi parado perto da entrada. Passei o braço pelo ombro de Miranda quando saímos do carro e entramos na lanchonete.

     - Vou fazer os pedidos. – Avisou Kenny, indo para o balcão.

     - Nós temos pelo menos cinco minutos antes dele voltar. – Cochichei só para ela, brincando com a malícia daquelas palavras. Ela riu.

     Sentamos numa mesa no canto e a abracei de lado, fazendo carinho em seu cabelo.

     - Desculpe acabar com o momento do casal, mas... – Ele colocou uma bandeja enorme com três hambúrgueres também grandes em cima da mesa.

     - Ken, a bebê aqui não vai conseguir comer um desses.

     - Se você é fraco e não aguenta comer, não me use como desculpa, amor. – Disse ela, tirando meu braço de seu ombro e sentando direito no banco. Kenny riu e bateu na mão dela.

     - Ah é? Vamos ver então quem é que não aguenta. – Rebati, pegando meu hambúrguer e mordendo. Os dois fizeram o mesmo e começamos uma espécie de competição.

    Eu e Miranda ainda estávamos na metade e Kenny já havia acabado. Logo depois, apesar do esforço, Miranda também terminou e comemorou com ele, batendo as mãos de novo.

     - Essa é a minha garota! – Kenny disse. – Vamos Justin! Vai lá, bonzão! – Ele me provocou.

     Meu maxilar doía muito. Eu não conseguia engolir, tinha muita comida na minha boca. Se eu risse... Bom, não seria agradável.

     Engoli. Refrigerante. Ar.

     Os dois não se aguentavam de rir.

     - Tudo bem, a graça acabou. – Falei.

     - Você é tão exibido, e aí quebra a cara! – Disse Kenny, entre risos.

     - Rá!

     - Oh my Bieber! – Gritou uma menina que estava na fila. Por impulso, levei o dedo indicador aos lábios, pedindo segredo. Ela sorriu para mim e tirou um caderninho da bolsa, com um sorriso pedinte no rosto. Ajeitei o boné, a jaqueta e pedi para ela se aproximar.

     - O quê...? – Miranda perguntou.

     - Não acredito! Justin! Kenny! E...

     - Miranda. – A própria se apresentou.

     - Ah! A garota do hospital.

     - É. “A garota do hospital”. Sou eu. – Concordou ela. Não gostei do tom dela. Parecia... Magoado.

     - Pode autografar para mim? – A fã me pediu.

     - Claro. Qual seu nome?

     - Sophie.

     - Ok. Para Sophie, minha fã. Nos encontramos no Burger King. – Falei o que escrevia.

     - Uau! Muito obrigada, mesmo! E... Ahn... Quem é a garota do tweet?

     - Não sei. – Falei, abraçando Miranda. Ela corou violentamente. Sophie abriu um sorriso mais que enorme.

     - Eu sabia! – Ela quase gritou. – Vocês são tão lindos juntos.

     - Sei disso. – Deis um beijo no alto da cabeça da Miranda.

     - Uau. Bom, tenho que ir. – Ela deu um abraço em cada um de nós. – Você é sortuda, Miranda.

     - Eu sei. – Respondeu ela.

     Olhei para ela, tentando não sorrir como um idiota. Sophie sorriu e se foi.

     - Ok. Vamos antes que outra pessoa te veja. – Kenny disse.

     Saímos da lanchonete e resolvemos dar uma caminhada. Ken iria no carro, para o caso de um repentino meio de fuga.

     - Não corre o risco de um paparazzo nos fotografar? – Miranda perguntou.

     - Hoje vai ter uma festa de sei-lá-o-quê. Não acho que tenham muitos fotógrafos disponíveis por aí. – Assegurei. Certo, essa lógica era meio falha, mas eu não liguei.

     O celular dela tocou. Ela sentou num banco e atendeu.

     Estava demorando demais. Sentei ao seu lado, impaciente. Ela parecia o Scooter: ocupado demais com o celular para me dar atenção.

     - Ei, baixinha. – Puxei seu rosto para que ela me olhasse, mas ela o virou novamente. Tirei o celular da mão dela. – Depois ela te liga. – Desliguei.

     Antes que ela pudesse reclamar, beijei-a.

     - Era o meu pai. – Ela me informou.

     Parei por um segundo e Miranda riu de mim.

     - E eu não sou baixinha. – Ela fez um biquinho.

     - Ah, você é sim. – Retruquei, dando um selinho no biquinho. – Bate no meu nariz.

     Ela guardou o celular e continuou a caminhar, apressada, fingindo estar chateada.

     Passei o braço por sua cintura quando um vento frio soprou.

     Chuva.

     Kenny parou o carro e nós entramos correndo, rindo e gritando com dois idiotas.

     - Podemos levar a Cinderela para casa agora?

     - Ah, não Ken! – Nós dois reclamamos.

     - Sua mãe ligou, Jus...

     - Ok.

     - Você não lavou a louça.

     - Já entendi!

     - Lavar a louça? – Miranda perguntou.

     - O Justin pegou um mês de louça por ter dormido na casa do Usher e não ter avisado.

     - Ah. Você dormiu na casa do Usher, né? – Ela abriu um sorrisinho para mim. Provavelmente lembrando-se daquela noite.

     Ficamos em silêncio. Deixei minha mente viajar. De repente me peguei pensando no poderia ter acontecido se aquele trovão não tivesse nos interrompido. Olhei para a garota que tinha a cabeça deitada em meu ombro e uma mão entrelaçada à minha.

     Miranda era completamente diferente de todas as garotas que eu conhecia. Acho que não poderia citar o nome de uma garota de 16 anos que ainda corasse ao receber um elogio, ou um mimo ou algo do tipo.

     Ela era a minha baixinha, a minha garota. A garota diferente, a garota que me assustava por me entender melhor do que eu, por me fazer sentir a falta dela como nunca sentira antes de nada. Totalmente imprevisível e...

     - Pare o carro! – Miranda gritou, interrompendo meus pensamentos e dando um susto em Kenny.

     - Por quê? – Ele perguntou, olhando para os lados.

     - Só pare!

     Ele freou violentamente o carro, tanto que eu bati a cabeça no encosto do banco quando ele parou completamente.

     Miranda saiu do carro e caminhou até a calçada, andando a passos duros e apressados pela chuva. Vi o que era.

     - Droga. Não, não! – Falava enquanto saia do carro também. – Miranda, espere! – Tentei alcançá-la, mas a chuva estava me retardando.

     Só pude ouvir o tapa. Obriguei-me a chegar lá mais rápido.

     - Chega, Miranda. – Segurei-a. Meu Deus, como ela... Ok, Miranda era mesmo imprevisível. Mas ela ficava uma gracinha com cara de ódio.

     Puxei-a dali, antes que ela não se contentasse só com um tapa.

     - Isso foi desnecessário, Miranda. E sabe disso. – Repreendi, quando nos afastamos.

     - Isso foi merecido. – Ela retrucou, com um olhar meio homicida.