“Nós ficaremos juntos para sempre.”

Matthew abriu os olhos, encarando o teto branco de seu quarto. Respirou fundo, prestando atenção á cada mínimo detalhe: o som de sua respiração, o ar entrando nos pulmões e, em seguida, saindo. Aquele cheiro ainda estava presente no quarto, como se ele nunca tivesse saído de lá.

“Eu nunca vou te abandonar, Matthew.”

Semicerrou os olhos, sentindo aquele peso em suas costas voltar. Sentou-se na cama e um vento frio passou. A janela do quarto aberta – uma mania perigosa, mas que insistia em manter. Respirou fundo novamente e fechou os olhos. Podia ver a sua imagem perfeitamente, como se ele estivesse em sua frente.

Na verdade, era como se ele nunca tivesse saído de lá.

“Eu não sei o que faria sem você.”

Aquele rosto ainda dominava seus sonhos. Aqueles olhos vermelhos, que já foram um imã para Matt, o assombravam. A falta de sua presença trazia o frio à noite.

As primeiras manhãs foram as piores. O tempo não passava, parecia que tudo estava dando errado para Matthew. E a preocupação de sua família só tornava tudo ainda pior. Queria voltar a ser invisível para eles, assim poderia ficar sozinho o tempo que fosse preciso.

“Sempre estarei ao seu lado, Matt.”

Olhou para o outro lado da cama e encarou – mais uma vez – a verdade que o assombrava há um ano. Ele não estava lá. Matt fechou os olhos com força, esperando vê-lo quando os abrisse novamente. E não viu. Esperou que ele chamasse seu nome, mas não aconteceu.

Esperou que ele voltasse, mas isso jamais aconteceria.

“Eu sempre estarei com você.”

O canadense abraçou a si mesmo, percebendo que sua pele estava fria. Totalmente diferente da dele. O vento passou mais uma vez, fazendo o frio de sua pele se tornar ainda mais presente. Matthew sentiu a respiração ficar pesada. Ele foi a única pessoa que viu Matt, que notou sua presença. Foi o primeiro – e único – em toda sua vida que o canadense amou. E, de certa forma, ainda amava.

Seus olhos estavam ardendo e, antes que pudesse perceber, lágrimas desciam pelo seu rosto.

“Ich liebe dich, Kanada”

As palavras ditas pelo prussiano vieram em sua mente, então Matt deixou que a dor tomasse conta de seu coração, de seu corpo. Dobrou os joelhos e colocou os cotovelos apoiados neles, colocando a mão no rosto em seguida.

– Eu sinto sua falta, Gilbert – Matthew falou entre os soluços.

Na parede ao lado da cama, havia um calendário. E ele mostrava o significado daquela data.

25 de fevereiro de 1948. Um ano desde a abolição da Prússia. Um ano desde o desaparecimento de Gilbert.

Um ano desde o início do sofrimento eterno de Matthew.

Essas feridas parecem não cicatrizar
Essa dor é tão real
Existem muitas coisas que o tempo não pode apagar