Já fazia dois anos que Bella estudava em Forks. Dois malditos anos em que ela se sentia aprisionada na Academia Católica Sagrado Coração para moças. A coisa só não era pior porque tinha duas grandes amigas: Alice Cullen e Rosalie Hale.

Juntas, elas dividiam as agruras de estudarem em um local de disciplina rígida, tendo seus passos vigiados sempre e sem rapazes por perto para poderem, pelo menos, admirar.

Não que Rose reclamasse muito da última parte, pois ela tinha um namorado firme em Seatle, um rapaz de família rica, como a sua, chamado Emmett McCarty. Ela dizia que Emm era um crianção, com um coração do tamanho de um bonde, mas que fazia muita besteira. Aliás, a última notícia que ela tivera dele, dava conta de que ele havia sido detido após um acidente, sem vítimas, dirigindo embriagado, e nem todo o dinheiro do pai dele adiantou para que ele se livrasse de um período no reformatório para delinquentes juvenis ali em Forks, o que significava que a amiga estava cheia de esperanças de poder ver o rapaz, mesmo de longe, durante o tempo em que ele ficasse ali.

Alice não tinha ninguém, mas vivia dizendo que queria se apaixonar. Filha de médicos riquíssimos, mas com consciência social, que participavam do "Médicos sem Fronteiras", fora para ali para que pudesse terminar seus estudos sem precisar mudar de colégio a cada vez que os pais mudassem de país. Ela adorava esoterismo, tinha até mesmo um baralho cigano que consultava sempre. Vivia dizendo que o homem da sua vida seria loiro, calado, e com um forte senso de justiça. Isso fazia com que ela, nas saídas do colégio, sorrise para qualquer loiro que passava em sua frente, o que Bella achava patético, mas divertido.

O caso de Bella era diferente. Os pais tinham residência fixa, mas sua vida social era tão intensa, que ela fora criada mais por Sue, a governanta da casa, do que por seus pais, e nutria pela mulher um afeto muito grande. Quando os pais decidiram que ela iria estudar em um internato, fora Sue que a ajudara a fazer as malas, fizera sua comida preferida e emprestara o ombro para ela chorar, ao perceber que seus pais pouco ligavam por ela estar presente ou não. Na última carta que recebera dela, Sue contava que a irmã agora estava morando com ela, pois o sobrinho não poderia, por um tempo, ficar com a mãe. Ela não entrara em mais detalhes sobre o assunto. Bella se lembrava de Sue comentar sobre esse sobrinho... Ewan... Edwin... ah, sim, era Edward. Segundo ela, um rapaz de ouro, inteligente, estudioso, trabalhador e bonito. Isso ela não podia julgar, nunca tinha visto uma foto dele pra saber.

No presente momento, estava ajeitando seu material de fotografia na mochila e, ao terminar, colocou um vestido longo esvoaçante e de tecido transparente em outra bolsa, junto a uma coroa de flores para os cabelos. Decidira tentar transpor para fotografia, o quadro de Millais, "Ophelia".

- Bella... - disse Alice, na cama do outro lado do quarto - Me deixa colocar as cartas pra você, deixa, vai!

- Alicinha do meu coração... quantas vezes eu vou ter de te dizer que eu não acredito nessas coisas?

- Você até pode não acreditar, mas o que é que custa tentar? Não fica nem curiosa?

- Que mulher não é curiosa, Alice? Eu só não vou ficar em casa se vc disse que amanhã eu vou sair e dar uma topada ali na esquina!

- Inclusive porque já dá topadas o tempo todo, não precisa nem sair! - riu Rose, entrando no quarto.

- Engraçadinha! - Bella deu língua para ela.

- Tó aqui, Bella, tira uma carta.

Suspirando, ela tirou uma carta do baralho, ao acaso.

Alice sorriu ao lhe mostrar a carta.

- Aqui ó, o coração. Uma das cartas mais bonitas do baralho. Indica amor incondicional, avassalador! Bellita vai se apaixonar, e não vai demorar muito!

- Ah, tá, Alice... me conta outra, rs...

- Não duvide de madame Alicinha, Bella, aquela que prevê passado, presente e futuro! Quando ela tirou as cartas pra mim, previu que Emmett faria alguma coisa com sérias consequências, e que isso o faria ficar mais perto de mim! - disse Rose.

- Mas também, do jeito que você fala que ele é, era questão de tempo ele fazer alguma merda, né, Rose? Só espero que ele aprenda alguma coisa. Não quero te ver preocupada com alguém que não vá te merecer!

- Relaxa, Bella... o Emmett não é mau sujeito não, acho que agora ele cresce um pouco.

- Bom, meninas... agora eu me vou, antes que a irmã Godofreda (sério, tinha uma irmã com esse nome quando eu frequentei o colégio) acorde e eu não consiga mais sair pra floresta sem ser vista. Quero aproveitar esse sol, a iluminação tá ótima pras fotos que eu quero tirar!

- Cuidado com algum lobo mau pela floresta, volta inteira, viu?

- Eu sei me cuidar, madame Alicnha!

*****

Meia hora depois, Bella flutuava na lagoa no meio da floresta, os olhos fechados, segurando ramalhetes de flores, os cabelos espalhados na água e, discretamente, apertava um botãozinho na mão, para acionar a câmera, estratégicamente posicionada para captar sua imagem de corpo inteiro.

A floresta estava tão tranquila, somente o barulho dos passaros, e ela quase poderia  dormir, não fosse um repentino farfalhar de folhas perto de si. Abriu os olhos suavemente e o viu, recostado a uma árvore, a observando.

No momento em que piscou, ele havia desaparecido. E mesmo naquele breve momento, sentiu o coração vazio, como se um pedaço dele, recém descoberto, houvesse sido arrancado.