O vento soprava fraco, fazendo seu cabelo balançar um pouco, enquanto as ondas molhavam seus pés. Já era noite, o céu tinha sido bordado de estrelas e, entre elas, uma bela lua cheia flutuava majestosa.

Tudo estava quieto, só conseguia ouvir o barulho do mar, preferia assim. Tinha ido até a praia para tentar clarear um pouco seus pensamentos, e a solidão era sua aliada naquilo.

“Esqueça! Agora!” Repetia para si mesmo em pensamento. Queria esquecer, tinha que esquecer, mas não conseguia.

Aquilo já estava se tornando angustiante. De um lado, a razão o mandava tirar aquela ideia da cabeça, do outro, os seus sentimentos o mandavam seguir em frente, arriscar, não importava o que fosse acontecer. Ele não sabia o que fazer.

E era tudo culpa de uma única pessoa, daquele garoto que se dizia seu amigo, e que agora o estava fazendo sofrer daquele jeito. Aquele garoto que se chamava Endou Mamoru.

Ele não sabia por que aquilo tinha de acontecer! Endou sempre foi uma pessoa incrível, e ele o fez conhecer o futebol, ele tinha mostrado como aquele esporte era maravilhoso...

Então, por quê?! Por que seus sentimentos em relação a ele tiveram que mudar? Como pode se apaixonar por alguém que sempre considerara seu melhor amigo?

Só sabia que se odiava por sentir aquele sentimento e por não entendê-lo, odiava Endou por fazê-lo sentir aquilo, odiava Fubuki por perguntar se estava tudo bem com ele quando se recusou a jantar e... odiava todos os outros também! Não sabia por que, mas odiava!

Chutou a água que vinha em sua direção, espirando-a para todos os lados.

Se pelo menos pudesse dizer a alguém, pedir um conselho, qualquer coisa... Mas quem? Não podia dizer a ninguém, o que pensariam dele?

“Ah, Endou... se você soubesse...” Murmurou, olhando para o horizonte, perdido no mais profundo devaneio.

Deu mais alguns passos, e novamente as duas vozinhas começaram a gritar dentro dele, esqueça, arrisque, esqueça, arrisque...

“Kazemaru?”

Assustou-se, virando apressado para ver quem o chamara, e, com toda certeza, nunca tivera maior surpresa em sua vida.

Arregalou os olhos ao perceber que Endou o observava, um pouco mais atrás, com uma expressão preocupada no rosto. Desde quando ele estava ali?

“E-Endou, você... o que... o que está fazendo aqui?” Kazemaru gaguejou, e com isso acabou se odiando mais ainda. Lembrou-se então que Endou tinha continuado a treinar desde o final da tarde, não tinha aparecido nem na hora do jantar.

“É que a Fuyuppe está preocupada com você, ela me disse que você não quis jantar, e me pediu pra vim procurar você, daí eu vim.” Ele respondeu, ainda aparentando estar preocupado.

Kazemaru sentiu como se seu estomago tivesse caído dois dedos, e uma sensação muito estranha o invadiu. No seu mais secreto intimo, tinha um fio de esperança que ele o viesse procurar se ficasse bastante tempo fora, mas, ele tinha vindo porque Fuyuppe pediu... só porque ela pediu! Se não, nem apareceria! Maldita, Fuyuppe! Agora a odiava mais ainda também!

Voltou a se virar para o mar, tinha medo de que começasse a chorar se continuasse a olhar Endou.

“Kazemaru, aconteceu alguma coisa?” A voz suave dele chegou a seus ouvidos, e ele já não sabia mais o que dizer

“Não.” Sua resposta acabou saindo mais rude do que planejara, embora já não se importasse tanto.

“Ehh... tem certeza?” Endou insistiu, se aproximando um pouco mais.

“Tenho. Eu estou legal.”

Ele não pareceu ter se convencido com a resposta, mas também parecia não querer insistir mais.

De repente, o coração de Kazemaru se acelerou, e ele percebeu. A chance que ele queria estava ali, diante dele, estavam só eles dois, a vozinha agora gritando mais alto que nunca, arrisque! Não esqueça!

Cerrou os punhos com força, era agora ou nunca, ele não queria ter de esquecer aquele sentimento, não queria!

“Endou...” Começou, a sua respiração agora estava rápida, ele chegou a achar que teria um treco se não falasse logo.

“Então... acho que já vou indo, a Fuyuppe disse para eu voltar logo porque tinha uma coisa importante para me falar!” Endou abriu um daqueles seus típicos sorrisos, aqueles sorrisos que Kazemaru sempre adorou, mas não naquele momento. “E não vá demorar muito aqui, hein?”

E deu as costas a ele, começando a se afastar com passos lentos. Kazemaru não conseguia acreditar que no fim tinha acabado daquele jeito, ele perdeu a chance, e alguma coisa o dizia que não haveria outra, nunca mais.

Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto, enquanto ele observava o garoto cada vez mais distante. Queria gritar, chamar por ele e fazê-lo ouvir tudo que tinha a dizer... mas não tinha coragem, não conseguia.

“... Eu te amo.” Sussurrou, sua voz tão baixa que duvidou que tivesse produzido algum som.

Quem sabe, se apenas ficasse parado ali, tudo poderia se resolver? Não, ele não ia agüentar ficar ali, e, sem pensar duas vezes, correu.

Não tinha certeza do para onde iria, só queria ir, ir para bem longe, um lugar longe de Endou, longe de tudo aquilo que o estava deixando maluco, longe daquelas coisas que sentia.

Ele não soube quanto tempo ficou correndo pela praia, ou se tinha ido muito longe, não soube quando realmente não pode mais segurar as lágrimas, não soube quando e por que ele tinha seguido-o.

“Kazemaru! Aonde você vai?!” Endou corria atrás dele, não o alcançava, mas não desistia.

“Porque ele não me deixa?” Pensou Kazemaru. Fechou os olhos e, usando toda a força de vontade que tinha, parou.

Abaixou a cabeça. Estava decidido a não o deixar vê-lo chorando, nunca entenderia.

“Ah, até que enfim!” Endou finalmente o alcançou, parou a seu lado e passou a mão pela testa, o que levou o outro a pensar se realmente tinha corrido muito. “O que deu em você? Porque saiu correndo desse jeito?”

Kazemaru enrubesceu um pouco percebendo que realmente devia ter parecido um idiota, e não tinha ideia nenhuma de como se explicar, então nada disse.

“Ei, Kazemaru, está me ouvindo?” O garoto voltou a insistir, tocando um dos ombros dele.

“Es... estou.” Kazemaru respondeu, a voz chorosa acabou o denunciando.

“Você... está chorando?” Olhou-o, novamente preocupado. “O que aconteceu?”

Endou observou perplexo Kazemaru tentar inutilmente secar os olhos com o dorso da mão, mas as lágrimas insistiam em cair.

“Bem...”

“Você quer me dizer alguma coisa? Pode dizer!”

Novamente Kazemaru sentiu o coração bater mais rápido, e olhou atônito para Endou.

“Endou, eu... eu...”

Endou tinha um brilho sonhador nos olhos, provavelmente estava ansioso para descobrir o que tinha ocorrido. Se ele soubesse...

“Eu...” Não! Já não era mais hora de ficar gaguejando! “Eugostodevocê!”

“É o que?”

Maldição! Falara tudo enrolado! Porque tudo só tinha de dar errado?!

“Eu quis dizer...” Respirou fundo uma última vez. “Endou, eu te amo.”

Kazemaru sentiu que estava corando cada vez mais. Endou o olhou confuso e inclinou a cabeça para o lado.

“Que? Como assim?”

“Por favor, não me faça repetir.”

O vento soprou mais forte por um momento, nada mais estava sendo dito. Kazemaru voltou a fitar seus pés descalços, com o único pensamento de que com toda certeza não era correspondido...

Poucos minutos antes achara que tivera a maior surpresa de sua vida, mas se enganou. Não soube como conseguiu se manter acordado quando Endou se aproximou dele e acariciou seu rosto com as mãos.

“Eu sei.”

Depois que seus lábios se juntaram, não se lembra de mais nada.