Meu Querido Cunhado escrita por Janine Moraes


Capítulo 7
Capítulo 7 - Isso não é um encontro, é?




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– Isso não é um encontro, não é? – o analisei melhor, vendo sua blusa azul e a bermuda jeans bem assentada. Os cabelos estavam em uma desordem casual, a pele dele ligeiramente bronzeada exalava um cheiro de perfume masculino forte e marcante. A atendente que nos serviu o olhava frequentemente e acho que um sanduíche meu nunca veio tão bem caprichado.

– Claro que não... – ele disse, a expressão séria. Mas a ironia era clara em sua voz. – Não foi planejado. Eu não planejei. A não ser que você tenha planejado quase morrer de susto no meio da rua.

– Você é tão engraçadinho...

– Fico feliz que estejamos nos dando bem.

– Estúpido. – murmurei pela milésima vez. Abocanhando meu X-Bacon. Ele se limitou a rir, colocando uma batatinha na boca, mastigando lentamente. Então ele parou, concentrado, olhando para mim e desatando a rir logo em seguida. Engoli rapidamente, confusa.

– O que foi?

– Está sujinho ali ó. – ele apontou para meu rosto com o queixo. Constrangida passei a mão no rosto freneticamente, tentando limpar.

– E agora?

– Ainda ta sujo. – ele riu novamente e se inclinou na minha direção. Passando o dedão pela minha bochecha, fazendo o contorno do meu lábio inferior. Senti o rosto queimar. Ele sentou-se em seu lugar novamente, lambendo o dedo. – Agora sim, está limpo.

– Ér... Obrigada. – voltei a comer, agora em silêncio.

 Percebi que ele não parava de me olhar, isso me incomodava. Ele me analisava com seus olhos grandes e poeirentos. Como se pudesse ver através de mim. Como se pudesse ver tudo que eu tentava esconder. E seu sorrisinho irônico me inquietava, não só por ele parecer ler meus pensamentos. Mas porque eu não conseguia deixar de achá-lo atraente com isso. Ele era bonito, mas ele era mais perigoso do que bonito. Ele era divertido e até seu jeito irritante era atraente. Ele parecia meio que irresistível. O jeito de falar, andar, agir, sorrir, olhar... Era... Meio que apelativo para mim. Não de uma forma ruim. E o pior, eu estava falando com ele a menos de duas horas. Não era possível me sentir tão afetada. Eu nunca fui assim. Demorava séculos para me sentir atraída por um garoto, tanto que logo passava. Eu só havia beijado três garotos a vida toda. E o último já fazia quase um ano. Sim, definitivamente sou desejada, certo?

– Não sei muito de você. – ele quebrou o silêncio, me fazendo estremecer. A voz passou pelos meus ouvidos e percebi que o refrigerante na minha mão tremeu de leve.

– Pensei que soubesse bastante.

– Foi pra tentar impressionar.

– Quer dizer que não está mais tentando me impressionar?

– Pelo contrário... É só que você não parece ser do tipo de garota que se impressiona fácil.

– Isso você tem razão. – bebi o refrigerante, querendo aliviar a garganta seca.

– Então... O que me diz sobre você? – Percebi que ele não desistiria fácil.

– Certo. Lá vamos nós... Tenho 15 anos, me chamo Malu. Tenho duas irmãs. Meus pais são divorciados e vejo minha mãe nos feriados prolongados e férias. Moro com meu pai há uns 3 anos, desde que eles se separaram. Ele vai passar dois meses aqui, por conta de trabalho, enquanto eu e a noiva dele ficamos de férias. Eu gosto de praia, mas tenho medo do mar. Gosto de skate e... Adoro ler. Francamente, sou bem estranha.

– Você sabe andar de skate? – Tanta coisa pra perguntar, sobre minhas irmãs, minha vida infeliz com meus pais. E ele vai perguntar sobre meu skate.

– Arran.

– Uau! Eu não sei andar nem de bicicleta direito. – ri baixo de sua expressão surpresa.

– Skate é fácil. É sério.

– Fácil pra quem sabe.

– Já quebrei o tornozelo por causa do skate.

– Como?

– Eu tenho uma grande propensão, ou seria mania? De fazer coisas estúpidas e imprudentes.

– Como aceitar jantar com um estranho, que você achou que fosse psicopata e retardado logo no primeiro contato.

– Por aí... – ele riu baixo.

– Bem, nunca quebrei o tornozelo andando de skate. Minha vida não é tão emocionante. Mas eu já quebrei o braço, quando tinha 6 anos. Caí da escada.

– Eu já caí de andador da escada quando tinha 6 meses. E o máximo que aconteceu comigo foi ficar com um arranhãozinho no braço e na testa. Ganhei nessa de quedas.

– Espera... Como você conseguiu cair da escada de andador? Não tinha ninguém de olho em você?

– Minha mãe era meio distraída e eu era discreta. Foi a maior façanha que já fiz.

– Impressão minha ou você tem orgulho disso? – ele parecia se divertir com a situação e eu sorri de leve, vitoriosa.

– Claro que tenho! Sou ninja desde criança... – ele riu de novo. Apoiei os cotovelos na mesa. – Sua vez.

– Bem, tenho 17 anos. Sou apaixonado pelas estrelas e pelo mar. Também estou nessa cidade por férias, com meu melhor amigo. Estamos hospedados no mesmo hotel e tal. Vamos passar dois meses fazendo trabalho voluntário no planetário perto daqui. Conhece? – acenei positivamente me lembrando vagamente do lugar. –  Então... Irei começar a faculdade de Astronomia no começo do ano que vem. Não tenho irmãos e meus pais ainda são casados.

– Sua vida não é tão emocionante e dramática quanto a minha.

– Tem razão. Que vida feliz, não é?

– Realmente, bom garoto.

– Sobre esse negócio de ler, eu até gosto. Mas prefiro que leiam para mim.

– Ser ou não ser folgado, eis a questão.

– Eu não sou folgado. É só que... Quando as pessoas leem pra mim, parece que elas interpretam as palavras melhor, não sei. É divertido.

– Ainda acho você folgado.

– Por quê?

– Por tudo! Você senta em cadeiras de praias alheias, persegue e assusta garotas por aí a noite...

– Ei! Eu não persigo garotas por aí. – ele disse rindo junto comigo. Depois tentou se explicar. – Não persigo ninguém. Você foi uma exceção e eu nem estava te seguindo. Eu estava apenas casualmente tentando te alcançar para saber se você precisava de companhia.

– Você estava me seguindo!

– Não estava. Vou ter que explicar tudo de novo? Tenho que anotar no meu caderninho: Além de desconfiada, ela é teimosa.

– Isso do caderninho é uma metáfora, não é?

– Por enquanto.

– Você é muito estranho.

– Mais uma coisa para anotar: Ela gosta de me chamar de estranho; estúpido e derivados. – Acabei sorrindo.

– Estúpido! – Com isso ele começou a rir meio que engasgando com o refrigerante. Depois de se recuperar, um pouco vermelho, ele disse:

– Você ainda vai me matar, garota.

– Você diz isso em menos de 24 horas de convívio. Acho que isso é um novo record para mim.

– Record? Quem é estranho mesmo?

– Cala a boca! – rimos e terminamos de comer em meio a risadas. Ele suspirou fundo, rasgando o guardanapo que sobrou entre os dedos longos.

– Quer ir embora?

– Pode ser. – ele se levantou e eu o segui. Na porta ele me esperou e me deixou passar na frente. Lá fora bateu um ventinho gostoso, me fazendo sentir serena. – A noite está tão bonita hoje.

– Acho que a noite é uma das poucas coisas que ainda verei você elogiar. – ele pilheriou de mim.

– Yep. Elogios são chatos. Xingar é mais legal.– Começamos a andar, voltando para o hotel pela mesma rua que tínhamos vindo, vazia e escura. So que agora eu não me sentia assustada ou desconfiada. Me sentia... segura? Bem, isso de fato se devia ao cara ao meu lado que caminhava com as mãos no bolso despreocupadamente.

– Então prefere que te xinguem do que te elogiem?

– Eu não disse isso. Eu disse que eu gosto de xingar.

– Você é complexa demais.

– Prevejo uma desistência... – cantarolei.

– Só se desiste quando se quer alguma coisa.

– Então quer dizer que esta falando comigo por acaso? Só por falar?

– Não foi isso que eu disse. Foi só um comentário. – ele ergueu os braços e eu arqueei as sobrancelhas.

– Eu poderia ter me ofendido se o efeito da coca cola já estivesse passado.

– Que efeito?

– A euforia. Eu não fico sorrindo assim sempre não! – acabei rindo, empurrando-o de leve. – Você devia se sentir um cara de sorte.

– Eu me sinto um cara de sorte por isso, então. – olhei para ele, desconfiada. E percebi que ele estava perto demais, os nossos braços praticamente roçavam. Constrangida e um pouco tonta, desviei o olhar.

Ficamos em silêncio até eu poder avistar o hotel. O hotel era lindo, de frente para a praia. Bem localizado, e decorado de forma simples e aconchegante. Chamava atenção ao longe. Olhei de esguelha para Igor, ele olhava o céu. A luz da lua batia diretamente em seu rosto bronzeado. Segui seu olhar, olhando as estrelas. Estava uma noite muito, muito linda. Tropecei, já que olhava a lua e senti um aperto forte no braço, me devolvendo o equilíbrio e me ajeitando.

– Cuidado. – ele disse, ainda segurando meu braço e voltando a caminhar.

– Ops. – murmurei.

– Efeito da coca cola também inclui paixão pelo chão?

– Oh não. Não preciso da coca cola pra isso.

– Não duvido. – A mão dele escorregou do meu braço e desceu parando no pulso. Sua expressão adquiriu um quê de curiosidade. Amaldiçoei as batidas do meu coração, que pareciam até mesmo audíveis. Me perguntei se ele conseguia sentir as batidas no meu coração pelo meu pulso. E pelo sorrisinho estúpido dele julguei que sim, mas mesmo envergonhada não puxei a mão. Continuamos caminhando, a mão dele esquentando meu pulso. Entramos no hotel, que estava razoavelmente vazio. Olhei as horas, quase 9 da noite. Ele parou no meio do hall.

– Você já quer subir? Está meio cedo...

– E pra onde iríamos?

– Praia. Senhorita óbvia.

– Ah, a praia... – parei, pensando nas possibilidades. Eu poderia ficar com meu lindo livrinho no meu quarto, bem tranquila, até cair no sono. Assistir algum filme que passasse na TV a cabo. Ou sair com ele. A presença dele me agradava, é claro. Ele era legal, e me deixava à vontade ao conversar com ele. Mas tinha também o receio.

– Então...? – ele interrompeu meus pensamentos. Pisquei rapidamente, e ele me olhou meio que sugestivamente. Eu sabia que devia dizer não. Mas, mais uma vez, fui vencida. Totalmente derrotada murmurei.

– Não posso voltar tarde. – ele pegou meu pulso novamente e fomos caminhando pra praia.



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