Meu Querido Cunhado escrita por Janine Moraes


Capítulo 4
Capítulo 4 - Acordo


Notas iniciais do capítulo

Ganhei reviews. Fiquei super feliz comeles. Logo vou responder. Mais um capítulo.



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Claro que antes de dormir prometi a mim mesma não ir a praia, não sair de casa, nem conversar com Ceci, nem nada do tipo. Uma coisa eu tinha conseguido, eu não falei com Ceci. Vi minha mãe no café da manhã que me deu uma bronca sobre ser educada que eu fiz questão de ignorar, mas foi tudo. Claro que eu não consegui cumprir as outras duas promessas. Foi impossível ficar em casa olhando pro teto e tendo pensamentos depressivos, então, fui para praia. Que era meu refúgio. Gostava da agitação e calmaria do mar, do cheiro. Da areia entre meus dedos. De ouvir o mar batendo na areia, ou de encontro com as grandes pedras. De andar pelo píer quando ele estivesse vazio, o mar balançando levemente abaixo de mim e eu ver lá longe minha sombra. Ou apenas sentar em um banquinho afastado, ou numa toalha de praia e ver o mundo passar devagarzinho junto com o tempo enquanto eu lia um livro qualquer.

Eu estava sentada em um banquinho, usando um vestidinho solto e velhinho e um all star no pé, pra não perder o costume de ter conforto. Com o livro de ontem nas mãos. Minha cabeça dava voltas e eu fiquei olhando as pessoas passarem, sem realmente vê-las. Raras vezes eu prestava atenção em alguém e me perguntava intimamente sobre como era sua vida, tentando esquecer a minha. O dia estava estupidamente quente e eu sentia o suor se formar na minha testa em pequenas gotículas, limpei-as com a palma da mão. A manhã estava indo embora para dar lugar a uma daquelas tardes de calor sufocante em que nós, moradores de Santa Bárbara, uma pequena cidade do Rio de Janeiro, já estávamos acostumados. O sol machucava meus olhos e me cegava, me deixando meio sufocada e tonta, e eu estava prestes a me levantar e ir embora, me refugiar na frente do meu ventilador salvador e refrescante lá no meu quarto. Até que uma silhueta surgiu, parando a minha frente e tapando o sol.

– Oi. – Aquela voz feriu meus ouvidos, mas respirei fundo, cansada. Olhei para cima, colocando a mão no rosto para enxergar melhor sua forma. Lá estava ele, as mãos no bolso da bermuda e uma expressão indecifrável no rosto, os cabelos estavam mais curtos do que da última vez, reparei.

– O que você quer? – eu disse, a voz controlada. Mas eu estava meio que surpresa.

– Posso me sentar?

– Não. Melhor você ir embora.

– Quanta delicadeza. – ele disse, ignorando minha recusa e se sentando no banco. Um sorriso irônico ameaçava surgir em seu rosto.

– Obrigada. Agora responda.

– Quero falar com você. – ele se sentou no banco ao meu lado. O encarei pelo canto do olho.

– Sério? Falar comigo? Pensei que você só queria minha permissão para trocar um papinho com o banco.

– Você é uma figura, Malu. – bufei, virando o rosto e abraçando meu livro. Esperando que ele se tocasse e simplesmente fosse embora.

– Vai mesmo continuar tentando ignorar minha presença?

– Estou tendo sucesso? – arrisquei olhá-lo de canto do olho. Um sorriso surgia em seus lábios.

– Não.

– Droga...

– Malu...? – ele sussurrou, a voz me fazendo estremecer. Dei de cara com seus olhos que pareciam abrigar naquele tom de dourado, toda a fúria de um mar de Titãs, mesmo não sendo azuis. Seu olhar firme, mas ao mesmo tempo implorativo me lembrou os livros que eu havia lido sobre o Egito antigo, sobre o milagre das águas e rios, da riqueza e beleza do ouro. Os olhos de Igor eram de um mar banhado em ouro, talvez um riacho límpido que matava a sede de milhões de Malu’s, como num daqueles meus sonhos infelizes. Seus olhos me acariciaram inicialmente e em seguida a saudade me deu uma bela bofetada imaginária. O seu cheiro me atingiu com força, misturado com a fragrância de alguma colônia desconhecida por mim. Não sei por que, ou talvez sabendo até demais, senti o sangue ferver. De raiva, era por isso que eu tremia segurando meu livro e sentia meus olhos umedecerem, eu tentava me fazer acreditar. Cerrei os lábios. Só de raiva. Apenas raiva. – Malu...

– Eu.

– É que... Eu só...

– Só o que? – O interrompi, prevendo as palavras que sairiam da sua boca. – Não quer que eu conte para minha irmã sobre as férias do ano passado?

– Ela é uma garota legal.

– Não tanto assim, confia em mim. Ela é legal às vezes, tipo... Nas horas que ela dorme e etc. – Não consegui achar graça na minha ironia. – É, ela é legal... Sei disso porque conheço ela há uns 16 anos.

– Eu juro que não sabia que ela era sua irmã.

– Isso teria mudado alguma coisa?

– Você não faz ideia. – ele olhou na direção oposta que eu. Ficamos por alguns minutos em silêncio. Compartilhando uma intimidade que não deveria existir.

– Não devíamos estar tendo essa conversa. – suspirei. Era estranho, bizarro, irreal, errado, íntimo demais. Esse momento não devia estar acontecendo, não dessa forma. Porque isso já havia acontecido tantas vezes há um bom tempo atrás. Nós dois em um banco, sentados, olhando um para o outro esperando que todas as respostas viessem com um olhar. Antigamente seria com um beijo. O mundo faria sentido quando eu me afogasse no mar dourado de seus olhos, minhas angústias e inseguranças afogadas em um sorriso aberto e aconchegante, fazendo par com seu abraço. Mas agora... O sentido era que éramos dois estranhos que se conheciam bem demais. E não devia ser assim. Não quando ele era meu novo cunhado. Não quando os olhos da minha irmã, que mesmo não tão íntima ou amiga, brilhavam tanto ao mencionarem o nome dele. Como se ele fosse o presente mais bonito, mais desejado e amado. Definitivamente, não devia ser assim. Cravei minhas unhas recém-cortadas na capa do meu velho livro. – Quer saber... Somos dois desconhecidos. É isso que somos.

– Como? – ele parecia surpreso em ouvir a minha voz.

– Você não me conhece, eu não te conheço. Acredite nisso, que todos os outros acreditarão. – proclamei, rindo de mim mesma.

– Mas eu te conheço.

– Conhecia... Agora você não faz ideia do que eu sou.

– Porque você sempre vem com essas conversas confusas?

– Não estou sendo clara o bastante? Não me importa que esteja com Ceci, por mim, que se exploda tudo isso. Só não quero ter que ficar contando isso e aquilo para ela. Tendo que dar qualquer tipo de satisfação ou explicação. Não vou ficar no caminho de vocês, estou falando sério. Quero que você colabore pelo bem da sua namorada. Está claro agora? – ele demorou alguns segundos olhando para mim, me encarando. Como se tentasse me ler. Me mantive firme. Ele soltou um suspiro baixo, o rosto reclinado alguns centímetros para perto de mim.

– Está.

– Ótimo.

– Só porque está claro não signifique que eu goste. – Porque ele simplesmente não calava a boca? Porque diabos eu queria que ele continuasse falando somente para que eu ouvisse sua voz? Céus, eu sou tão estúpida!

– Não precisa gostar, precisa obedecer.

– Desde quando ficou tão autoritária?

– Não sou autoritária.

– Não? Só se for pra você...

– Ninguém está obrigando a ficar perto de mim, a senhora ditadora. – Certo. Talvez eu tenha exagerado um pouquinho... Ou muito. Enfim, eu tinha o direito. Olha o que eu estava passando!

– Uau, seu exagero me encanta

– Cala a boca. – Nos calamos. Olhei pelo canto do olho, ele ainda estava me encarando. Os cabelos castanhos claros, quase caramelo, fazendo contraste com os olhos, possuíam algumas esparsas mechas aloiradas por causa do sol balançavam por causa do vento. Os olhos castanhos adquiriam um tom de ouro queimado, que acontecia quando ele ficava preocupado, isso também não mudou.

– Olhe, vamos fazer do seu jeito. Só não quero que, sei lá, as coisas fiquem estranhas entre nós.

– Isso é possível?– engasguei com um riso de escárnio. – É possível essa situação não ser estranha?

– Vamos ao menos tentar.

– Tentar o que?

– Nos dávamos bem.

– Sem chance. Definitivamente não. Essa eu passo. Não vou ser sua amiga.

– Por quê? Não vamos fingir que não nos conhecemos, não quero isso. É criancice. Você é uma garota legal e eu quero me redimir por tudo. Não que faça alguma diferença, mas... Veja, vamos ali na lanchonete, comer algo, conversar...

– Não dá, Igor. – balancei a cabeça, suspirando. Minhas mãos foram parar no meu cabelo, fechei os olhos. Deixando as palavras escaparem, como sempre faço. – Se eu to conversando agora com você é por causa da minha irmã. Não posso me fazer de sua amiguinha. Eu não esqueci tudo, sabe... Não se preocupe com o que minha irmã vai achar se eu me afastar do convívio com o namorado dela, bem... Você entendeu. Ela já esta acostumada com minha natureza antipática.

Abri os olhos, desviando o olhar em seguida. Me levantei, sentindo a atmosfera carregada. O vento mais forte do que antes. Quando tempo estávamos nesse banco? Comecei a andar, mal sentindo meus pés, mas com o peso do mundo nas costas.

– Malu?

– O que é agora?– falei alto, irritada com sua voz. Ofendida pela sua presença. Indignada com minhas atitudes, porque parei. Olhei para ele acidamente, que parecia imune ao meu pior olhar. Ele carregava arrependimento nos olhos e imaginei o quão isso devia pesar para ele. Eu era um estorvo tão grande. Para todos, querendo ou não.

– Eu tenho alguma chance de você me desculpar? Por mais remota que ela seja?

– Eu...

– Por favor. – Minha voz embargou, tudo girou rapidamente, fora de órbita e parou. Por favor, ele havia dito antes. Por favor, eu havia pedido quanto meu coração fora quebrado, um dos clichês mais odiados por mim. Por favor, era o que eu pedia quando fechava os olhos. Um pouco mais de sonho, por favor. Um sonho doce, por favor, com ares de passado. Queria também, por gentileza, por desejo e necessidade, conseguir olhar para ele e não sentir raiva. Arrancar a amargura do peito, mas algo arranhava as bordas do meu coração, o orgulho gritava em minha cabeça. Eu não superava.

– Não dá. Eu não consigo. – arrastei as palavras, marcando elas cansativamente na minha língua com um gosto esquisito e poeirento. Bebi do orgulho e do despeito. Virei as costas, os olhos cheios de lágrimas, a garganta inchada. Deixei-o para trás. Novamente... Andei sem rumo pela praia, parando em um lugar em que o vento atingia meu rosto com força. Vi as nuvens escurecerem e a chuva vir de mansinho, as nuvens escuras tomando conta do céu rapidamente. Procurei pensar que era noite, que eu olharia para cima e veria um caminho de estrelas e que assim não doeria. Não doeria porque eu sabia que era uma noite de mentira, assim como as estrelas. Não me decepcionaria, porque não esperava nada. Como eu não esperava que Igor me machucaria um dia... O mar se agitou e eu senti algo em mim estremecer. Me abracei ante o vento frio. Sentei na areia, olhando o mar. A agitação, os surfistas correndo animadamente para o mar em menção das possíveis grandes ondas. Algumas garotas na praia rindo e acenando para seus namorados mais corajosos. As mães tirando os filhos de perto do mar e alguns lamentando a tempestade que se aproximava estragando sua tarde de sábado. Me deixei ficar lá, o pescoço dolorido, o peito sofrido estendido diante da minha noite de mentira. Só lembrando...



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Notas finais do capítulo

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