Meu Querido Cunhado escrita por Janine Moraes


Capítulo 15
Capítulo 15 - Fim de férias




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Ao avistá-lo cabisbaixo, fiz menção de dar meia volta, mas ele me viu primeiro. Provavelmente me seguiria por toda a praia, o púnico lugar que eu poderia me refugiar seria no meu quarto te hotel. Então caminhei rápido, sempre olhando pela frente, passando pelo banco sem lhe dirigir sequer um olhar. Totalmente aflita, querendo me manter longe dele, de seu toque. Infelizmente ele se levantou e segurou meu braço, com muita força.

– Me solta. – choraminguei, a voz chorosa. Percebi que chorava. Orgulhosa do jeito que sou, limpei os olhos com a mão livre para que ele não visse as lágrimas.

– Malu, por favor... Me escuta. – notei um certo desespero em sua voz, que me afligiu ainda mais. Só o que eu queria é que ele sumisse, me deixasse sozinha.

– Me solta.

– Eu queria...

– Cala a boca! Você não quer nada! Não poderia querer nada! Você é um idiota. Me deixa em paz! – puxei o braço com força, sentindo um pouco de dor, sua mão apertava meu braço com força demasiada.

– Solta ela. Agora! – Uma voz alta chegou perto. Aquele garoto, o do ‘hey’, estava parado próximo a mim. Aquele mesmo garoto que tentara puxar conversa comigo diversas vezes, que era gentil e cavalheiro, que parecia sempre charmoso, mas também distante por conta de Igor.

– Você não tem nada haver com isso. – Igor disse, ríspido. O outro garoto continuou parado, mostrando defintivamente que não iria embora.

– Solta ela.

– Você ta me machucando! – gritei e Igor soltou meu braço imediatamente. Cambaleei para trás e o garoto do ‘hey’ me puxou pelo pulso, me fazendo ficar atrás dele.

– Malu... – Igor sussurrou, a expressão aparentando estar triste.


– Você não ouviu a garota dizendo pra você deixar ela em paz? Porque eu ouvi! Sai daqui, agora.

– Não se mete... – Igor parecia ameaçador e isso me assustou. O garoto deu um passo à frente e eu me agarrei a seu braço, o puxando para trás. A expressão de Igor vacilou.

– Vai embora, Igor. Você não existe mais para mim. Me deixa em paz. – Eu disse,a  voz firme. Puxei o garoto pelo braço, que ainda encarava Igor com determinação. Quando virei às costas comecei a chorar mais ainda, ele passou os braços pelo meu ombro e me puxou para o lado oposto a entrada no hotel. Acabamos parando em uma mesa, com um grande guarda sol, que fazia parte da propriedade do hotel. Limpei as lágrimas, querendo não me sentir tão patética assim. Era a terceira pessoa que me vira chorar desesperadamente assim, por um cara ainda por cima. A antiga eu estaria rindo ou quem sabe chorando de vergonha dessa minha eu do presente.

– Não sai daqui, eu já volto. – Le avisou. Olhei-o, piscando, que sumiu dentro do hotel. Olhei para o alto, olhando o guarda-sol e tentando fazer as lágrimas não escorrerem. Concentrando-me totalmente nisto, respirando fundo e me acalmando. A água dos meus olhos desaparecendo lentamente. – Cheguei.

Ele voltou, sentando-se no banco, o olhei curiosa quando ele  depositou um enorme pote de sorvete de chocolate e duas colherezinhas na mesa. Além de uma barra de chocolate enorme ao lado.

– O que é isso?

– Antidepressivos.  São bem eficientes, confie em mim. – Ele sorriu, um sorriso aberto e acolhedor e eu tentei sorri de volta. Ele abriu o pote e pegou uma colher, parecendo confortável mesmo nessa situação constrangedora e levou a colher cheia até a boca, fazendo um gesto para que eu o imitasse. Peguei a colher, sentindo a mão trêmula. Levei até a boca, até o chocolate parecia ter um gosto amargo. – Eu até poderia perguntar o que aconteceu, mas isso não é da minha conta.

– Obrigada, de verdade. – Levei a colher a boca novamente, sem saber o que dizer. Grata pelo sorvete e pela ajuda, por ele parecer se importar um pouco. – Não tenho nem como te contar, ainda não entendi tudo muito bem. E a história é muito grande.

– O pote de sorvete é bem grande e eu tenho a tarde livre. Não tenha pressa se isso for te ajudar.

– Costuma ser tão gentil assim?– Ele sorriu, dando de ombros. – Como é seu nome mesmo?

– Alexandre.

– Eu sou a...

– Malu. Eu sei, ele disse. – abaixei a cabeça, constrangida.

– Pois é. – Ele continuou esperando que eu dissesse alguma coisa. – Desculpe Alexandre, mas não sei se quero explicar o que aconteceu. Não acho que vá ajudar.

– Tudo bem. – Ele empurrou o pote de sorvete e percebi que ele ficaria ali por um bom tempo. Fiquei sem falar nada, sem cabeça para conversar. Apenas me empanturrando de sorvete, percebi agora que o gosto não era tão amargo. Estava bom, embora minha língua estivesse começando a ficar anestesiada por causa do gelado. Ele começou a falar de assuntos leves para me distrair e ficamos surpresos em saber que ele morava na mesma cidade da minha mãe. Continuamos conversando, ele parecia disposto a me distrair. Mas estava difícil, eu diria impossível. Eu me sentia desgastada e exausta, emocionalmente e fisicamente falando.

– Alexandre, desculpe... Mas eu preciso me deitar.

– Ta bom. Qualquer coisa... Eu to por aí.

– Certo. Obrigada. – sussurrei, me levantando.

– Disponha. – sorri me levantando. Ele acenou levemente. Enquanto eu me afastava, sentindo a tristeza voltando. Tentei me apegar à raiva, mas a dor da traição era pior. Saber que não tinha direito de me sentir traída fazia eu me sentir ainda mais diminuída e idiota. Subi de elevador e, surpresa, encontrei Cristina, próxima a minha porta. Seus olhos analisaram minha expressão cuidadosamente.

– O que houve com você? Porque seus olhos estão tão vermelhos?– Porcaria! Era só o que eu precisava, Cristina me perturbar por conta disto. Abaixei a cabeça e caminhei para a porta, mas Cristina bloqueou o caminho.  Um sorriso irônico e ácido preenchendo a face. – É por causa daquele seu novo namoradinho surfista? Oh, pobrezinha. Ele cansou de você?

– Sai da frente!

– Isso é bem normal ele te dar um fora. Não fique triste, eu vi como ele era lindo... Muito para você. Aceite querida, não fique se lamentando. – senti os olhos arderem e a garganta apertar. Eu não precisava ouvir isso, não precisava mesmo. – Aceite que você é bem sem graça e isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.

– Sai da frente! – A empurrei, que cambaleou. Se apoiando na porta ao lado para não cair. Sua voz voltando-se a mim carregada de desprezo:

– Cuidado, ridícula! Seu pai vai adorar saber que você me empurrou, ainda mais no meu estado!

– Estado? Que estado?

– Seu pai ainda não te contou, queridinha? Você terá mais um irmãozinho... – parei com a mão na maçaneta, absolutamente chocada. Engoli em seco e entrei no quarto, batendo a porta com força. Respirei fundo, sentindo o choro voltar com ainda mais força. Tentando digerir a nova informação. A desgraçada destruída a minha família e ainda engravidava do meu pai. Olha que coisa perfeita! Ainda mais esse dia. Definitivamente, não era meu dia de sorte. Nem o de azar. Era o de puro sofrimento. Me joguei na cama, me encolhendo e fiquei ali, sentindo raiva, dor, humilhação, vergonha. Eu queria desaparecer! Eu nunca me sentira tão idiota na vida, nem tão magoada. Nunca me sentira tão abandonada. Mais do que isso, era decepção. Porque o único cara que eu confiei fizera isso comigo? Eu devia ser mesmo muito idiota.

Ouvi batidas na porta e ignorei.

– Malu? – Ouvi a porta ranger e percebi que meu pai entrara no quarto. – O que aconteceu?

– Vai embora. – choraminguei; a  cara enfiada no travesseiro.

– O que aconteceu? Cristina me contou que...

– Para de falar dela, pai! – Só a menção do nome dela me fazia sentir repulsa. – Eu não quero saber dela.

– Mas ela vai ser sua nova...

– Não! Ela nunca vai ser a minha mãe! –  levantei, sentindo raiva preencher cada poro do meu corpo. – Não se onde você estava na cabeça quando achou que trazer nos duas pro mesmo hotel ia adiantar alguma coisa! Eu a odeio e ela me odeia! Não está obvio? Eu odeio ela, pai.

– Você só esta chateada. – Nesses momentos, era só isso que meu pai dizia. Minhas brigas com Cristina era pura e inteiramente chateação, para ele algum dia nos daríamos bem. Como se isso fosse claro e óbvio e definitivamente, isto me tirava do sério.

– Para de falar como se me entendesse pai. O tempo todo foi assim, você não entende, nunca vai entender. – engoli em seco, respirando fundo. – Eu não a suporto e sei que ela não vai sair da sua vida. Nem quero isso, mas... Não tente me fazer ser amiga dela, eu não posso! Eu não quero! Eu só... Quero sumir, pai.

– Cristina é uma boa moça e ela...

– Vai ter um bebê. É eu já sei. Não sei se posso lidar com isso agora, pai. – Ver Cristina ficando cada vez mais grávida e feliz com sua família, esfregando isso na minha cara, um bebê como prova de sua felicidade. E ainda mais... Havia Igor. Queria manter a maior distancia possível dele e só via um jeito de fazer isso.

– O que esta dizendo? – Meu pai me olhou confuso e eu abaixei a cabeça.

– Eu quero ir embora. Eu quero passar um tempo com a mamãe. Você disse que eu poderia fazer isso quando eu quisesse. Eu quero. Eu quero ficar um tempo longe, eu quero ir embora.

– Maria... – Meu pai segurou minha mão e eu me livrei disto. Odiava meu nome. Ele o dizer agora não adiantava nada.

– Não me chama de Maria. Por favor... Por favor.

– Sua mãe vai ficar feliz em você passar um tempo com ela. – Ele sorriu, tristonho. O abracei, sem dizer nada.

– Obrigada. – fechei os olhos, me sentindo feliz e despedaçada ao mesmo tempo. Eu iria ficar longe desse lugar e... Iria sentir falta desse lugar, da minha casa com meu pai, mas era só isso que eu sentir falta. De lugares. Na verdade, eu só queria ter memória seletiva e esquecer, esquecer tudo. De preferência essas ultimas férias.



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Notas finais do capítulo

XD Obrigada por lerem. Reviews?