-Voce estava com ele, não estava? Mas que droga!

-Percy se acalma! Do que voce está falando? E o que aconteceu com seu rosto?

Ele ainda chorava e balbuciava coisas sem sentidos. Seu olho estava roxo, arranhado, e tinha um filete de sangue escorrendo por seu rosto.

-Briguei com meu pai...O de sempre. Ele estava bêbado de novo. não importa.

-Vem, deixe-me olhar isso.

Levei ele ate o banheiro e lavei seu rosto, depois fui até a cozinha e peguei um saco de gelo para ele colocar no olho. Ele ainda estava se acalmando e nada disse. O guiei lá pra fora, no jardim, onde tinha dois pneus amarrados em um tronco de árvore. Aquele costumava ser o nosso lugar favorito para conversar e olhar as estrelas. Me sentei em um dos pneus e mandei ele se sentar no outro.

-Sente-se. Agora vamos começar do começo. O que voce está fazendo aqui?

-Eu vim aqui me desculpar por ontem. E por tudo no geral. Eu me sinto um idiota. Não sabia sobre seu irmão, me desculpe!

Nesse ponto ele voltou a chorar.

-Está tudo bem. – respondi.

-Não. Não está. Meu Deus, se eu fosse menos idiota! Eu sou uma merda de namorado mesmo! Nunca vou me perdoar por não ter estado do seu lado aquele dia, por te tratado do jeito que te tratei...

-Para. – disse. Não queria pensar naquele dia. – Não quero falar sobre isso. Como você soube do Nico?

-A Thalia me contou. Depois da nossa discussão ontem, ela veio falar comigo. Ou melhor brigar comigo. Ela me fez enxergar o quão idiota eu era.

-Ah.

A Thalia podia estar brava comigo, mas uma coisa era certa: nunca deixou de ser uma verdadeira amiga.

-Então logo depois de ver a Silena...

Fechei a cara. Não acredito que ele ainda tava falando nela.

-Não é o que você está pensando, Annie!

-Não venha me dizer o que eu estou pensando! – rebati.

Ele ficou um tempo quieto, olhando para frente e depois continuou.

-Eu vim te ver, mas sua mãe disse que você estava com a sua tia. Você não estava com ela, não é? Estava com ele?

Fiquei quieta.

-Mas que droga! Responde!

Ele aumentou sua voz, dava para ver que estava ficando irritado já. E eu também.

-E daí que eu estava com ele?! Você também estava lá com sua namoradinha! Não venha agir agora como se fosse se importasse comigo, porque certamente não se importa, já que você sempre acaba escolhendo ela!

A expressão dele se suavizou. HÁ! Touché.

-Eu vim hoje a tarde de novo então. Seus pais me deixaram te esperar. Fiquei brincando com seu irmão.

Merlin! Que mudança de assunto!

O Nico deve ter ficado feliz, ele ama o Percy.

-E como ele estava?

-Bem. Passou a tarde bem. Mas agora no fim da tarde começou a ter os efeitos colaterais da quimio. Ele estava vomitando demais, então seus pais levaram ele pro hospital.

Assenti. Depois eu iria ligar pros meus pais e se certificar de que estava tudo bem.

-Ela não é minha namorada.

-Oi? – eu estava num momento de transe e nem tinha ouvido o que ele tinha falado.

-A Silena...não é minha namorada.

-Tanto faz. – respondi.

-Morar com a minha mãe foi um terror.  Ela está casada agora, e tudo com o que se importa é com o seu novo marido e sua nova família. Ela não se importou em nenhum momento em por o assunto em dia comigo.  A idéia dela de ser ‘mãe’ era me dar dinheiro para eu fazer o que bem entendesse , contanto que eu não enchesse o saco dela. E o meu novo padrasto, é um idiota. Deus! Ele traiu ela! Tipo na nossa casa, e com uma amiga dela ainda por cima! Foi nesse dia que eu resolvi voltar pra cá. Tipo, ela pode não ser uma boa mãe, mas ainda assim é a minha mãe. Eu e ele brigamos , eu bati nele e ele tentou me bater. E pra que? Pra depois ele obrigar a minha mãe a escolher entre ele e eu. Então sabe o que ela faz?

Ai meu Merlin! Até eu já estava com lagrimas nos olhos. Não acredito que ela fez aquilo. Juro que se algum dia eu vesse ela, eu batia nela.

-Me disse “É melhor você ir”. Só isso. Só uma droga de “ é melhor voce ir”. – Ele deu um soco na arvore. -  Me deu um pouco de dinheiro e só. Nem olhar na minha cara, ela olhou.

-Eu sinto muito.

-Tem mais.  Eu tinha uma divida enorme de jogo para pagar. E não sei se por sorte ou azar, mas os caras para quem eu to devendo, trabalham para o  meu padrasto.

- O que?! Como assim?

- Sim. Meu padrasto tem seus negócios clandestinos. Minha mãe nem sonha com isso.  Para ela, ele é só um executivo de sucesso. Enfim, ela precisava de alguém pra servir de mula de carga, e como ele sabia que eu devia dinheiro a ele, a mula virou eu. Por isso que eu comecei a vender drogas. Tenho medo de o que ele pode fazer com a minha mãe, ou até mesmo meu pai.

Fiquei bestificada. Meu, o que se diz pra alguém depois que ele te conta uma coisa dessas?!

-E foi aí que eu conheci a Silena.  Ela também tem problemas com o padrasto em casa. Ela disse que já ameaçou expulsa-la de casa varias vezes.  E muitas coisas tensas aconteceram lá. Ela se corta já algum tempo, e eu queria ajuda-lá . Sei como ela se sente. Por isso fiquei amigo dela. Por isso estava  tão preocupado com ela na quinta.  Quarta a noite ela mandou uma mensagem dizendo que tinha tudo piorado. Eu tentei falar com ela, mas não conseguia. Fiquei com medo que ela tivesse sei lá, morrido se machucado, ou o que for, porque ela não respondia as minhas mensagens.  Mas de qualquer jeito, eu nunca namorei com ela. Quer dizer, nós chegamos a sair algumas vezes, mas eu ainda amo você , Annie.

-Ai meu Deus. – eu me levantei e o abracei. - Eu sinto muito! Eu não fazia menor idéia disso, não fazia idéia de nada do que você me disse.

Eu me sentia horrível, eu também nunca tratei a Miojo muito bem, mas caramba! Eu não sabia que as coisas estavam tão mal pro lado dela!

Ele segurou a minha mão.

-Está tudo tão errado, Annie. Não era para ser assim. Era para você estar comigo. Era pra sermos nós dois, sempre. Esse é o certo. É o correto, é o natural.

-Percy...

-Shhh. – Ele se levantou e foi me puxando para ele. Estávamos a milímetros de distancia quando o telefone tocou.

-E-eu tenho que ir atender. – Balbuciei – Podem ser meus pais.

Ele me soltou e eu fui correndo para dentro da casa.

O que eu estava fazendo!? Minha cabeça doía. Agora sim que eu estava confusa. Na minha cabeça tudo se desenrolava como uma drama de novela mexicana, onde a principal ama um cara, mas não consegue esquecer o outro. Eu me lembro de ficar tão irritada com essas novelas! Eu sempre pensava “ mas que otaria! Como gostar de dois ao mesmo tempo?!Pelos céus, sua besta, decida-se por um logo!” . E agora era eu a protagonista da novela.

Desliguei o telefone e Percy já estava atrás de mim, com as mãos no bolso, evitando me olhar.

-Eram os meus pais. O Nico está tomando soro. Vão passar a noite lá.

-Ah. Espero que ele melhore. Eu vou indo então...

-Pra onde? Você não brigou com seu pai?

-Sim..Não se preocupe eu dou um jeito.

Ele já estava abrindo a porta quando eu o chamei de novo.

-O que foi? – Disse ele se virando.

-Fica.

-Hm?

-Fica. Não seja idiota. Não vou deixar você voltar pra casa com seu pai bêbado lá.

-Se seus pais voltarem pra casa amanhã cedo, eles me matam e matam você também.

-Eles tem coisas piores pra se preocupar. Além do mais, eu não tenho nenhuma segunda intenção para contigo senhor Perseu!

-Sei não! – respondeu ele  agora sorrindo – Todos querem se aproveitar da minha pureza!

Eu ri.

-Anham!

-Annie..?

-Sim?

Já fazia um tempo em que estávamos deitados , de costas um pro outro, e nenhum de nós dois parecia conseguir dormir.

-Você está sempre mudando o Script.

Ahm? Virei um pouco de lado para olhar pra ele, mas não consegui ver muita coisa, acho que ele já estava com os olhos fechados.

-Isso com o seu pai não pode ficar assim. Você sabe né? Amanhã iria falar com o meu pai. Nós temos que resolver essa situação.

Ele fez um som de concordância. Mas pelo jeito já estava quase dormindo.

-Annie?

-hm?

Ele se virou e deu um beijo no meu cabelo.

- Bonne nuit! –disse.

Sorri.

- Gute Nache! – respondi. E logo em seguida tudo adormeci.