O que mais Temia escrita por MiraftMaryFH


Capítulo 11
Esquecendo




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Mas não durou muito…

E vocês devem-se estar a perguntar porquê… e é claro que foi pela razão mais óbvia, porque um grande e poderoso idiota apoderou-se do meu lindo momento…

- Maninha, cheguei! – Maldito seja este ser que se auto-domina de John: “Eu acho que sou alguma coisa de jeito na vida!”

Como que por impulso ou num acto de reflexão, eu e o Josh afastámo-nos de imediato e ele foi parar ao outro lado do quarto, perto da secretária que estava com o computador ligado, enquanto que eu continuei sentada na cama a ver o filme, cujo nome eu ainda não tinha parado para pensar. E todo o cenário em que eu me encontrava, incluindo o ambiente e o clima, foram quebrados… pelo INTROMETIDO, PALERMA E IDIOTA DO SEM NOÇÃO DO JOHN! Nota Mental: Pela última vez, tentar convencer a minha mãe de que o meu verdadeiro irmão foi trocado à nascença com este… “fenómeno” de natureza morta!

- NÃO ACREDITO! – O palerma quase me furou os tímpanos… grita de uma maneira que chega a parecer uma menina…

- O que foi? – O Josh, pela primeira vez, olhou, do sítio para onde tinha ido, para o meu “irmão” que parecia incrédulo com algo que eu ainda desconhecia, mas que estava a preocupar o Josh… talvez algum vestígio de que estivemos juntos…

- VOCÊS AINDA ESTÃO VIVOS?

Rolei os meus olhos de indiferença e tentei centrar-me no filme, sem sucesso…

- Porque não estaríamos? – Perguntei sem emoção…

- Bem… talvez PORQUE HAJAM PENAS DE ALMOFADA ESPALHADAS POR TODO O QUARTO!

Foi aí que me lembrei da guerra de almofadas, esqueci-me completamente de que o meu quarto era o cenário perfeito de uma réplica de guerra.

- Menina Brea…  - o Alex entrou no meu quarto… abriu a boca por um segundo, de admiração, mas depois lembrou-se de que era eu e o Josh que estávamos no quarto… - Eu vou chamar a Lily para limpar isto… e para trazer… almofadas novas, eu suponho.

- Obrigada, Alex! – Eu disse enquanto saía… ele disse algo como “de nada” enquanto se encaminhava para fazer aquilo que havia pronunciado.

- Então o que aconteceu? Quem foi que apanhou mais? – O meu irmão, como sempre, IMPERTINENTE!

- Eu ganhei, claro, alguma dúvida John!? A tua irmã é fácil... – ele disse, sorrindo presunçoso.

Foi aí que eu entendi tudo. “A tua irmã é fácil…” essas locuções ecoavam-me na mente, como se eu estivesse envolvida numa espécie de duna, onde podia evocar os ecos das palavras do Josh, duras palavras que saíram da boca, que eu considerara há minutos atrás, como a mais incrível do mundo… “A tua irmã é fácil…”, não passava de um jogo, em que o objectivo é conquistar momentaneamente e depois descartar, como todas as outras. Eu acabei por cair, naquela que eu pensava que era a última armadilha onde eu decairia… Mas, como tola que fui, eu errei… Mas, já é tarde, apaixonei-me pela pessoa errada… Que erro mais estúpido… Eu própria já havia cometido erros idiotas, mas limitados de uma certa forma… porém este passou de todas e quaisquer marcas… “A tua irmã é fácil…”, eu tentei ao máximo não gritar e correr dali, com essa frase… e, acho que ao menos isto, eu consegui: colocar uma máscara de total desinteresse…

- Dizes isso, porque ela nunca te pôs chantilli na cara! E também porque não andaste a correr com aquilo na cara, pela casa inteira e a tropeçar em todos os cantos…

- Não era chantilli, John… - eu comecei, apesar de que já sabia que ele tinha feito asneira e que isso me deixaria totalmente radiante… “A tua irmã é fácil…” eram palavras que não tinham abandonado o meu foco – era espuma de cabelo. – Em nenhum momento eu desviei os olhos da televisão, continuei a observar como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

- NÃO ERA CHANTILLI? – Ele gritou preocupado.

- Não me digas que comeste… - eu disse ainda desinteressada…

- Isso não vem ao caso…

- É claro que não… - Respondi mais uma vez, indiferente, e só então me dei conta que o filme tinha acabado… não naquele momento, mas desde que o John entrou.

- Tu estás estranha… Não te começaste a rir de mim pela espuma, estás a olhar para os créditos finais há cinco minutos como se fosse o clímax de um filme de acção… estás totalmente desinteressada e ainda não gritaste: “JOHN, SEU DESGRAÇADO, SABES O QUANTO ME CUSTA DIZER ÀS PESSOAS QUE SOU TUA IRMÃ?” – Em qualquer outra ocasião eu poderia ter-me desfeito em risos pela imitação quase… senão, perfeita do John, no entanto, ainda havia um eco na minha cabeça. O Josh pareceu um pouco nervoso com a preocupação do meu irmão, talvez porque tivesse medo de dizer-lhe: “Ei pá… ela não tem nada… o que aconteceu é que eu a beijei e agora deitei-a fora, como faço com as piriguetes que me perseguem…”.

- Não, não é nada… Bem… já está tarde… e eu estou com sono… - Eu disse, tentando aparentar cansaço, quando tudo o que me dominava era raiva, tristeza e ódio…

- Mas, Brea… ainda é cedo, e vão agora começar aquela parte da festa em que “Vamos falar da vida dos outros!”… Estou morto para saber as curiosidades deste ano…

- Ah, sim… bem, não me estou a sentir muito bem, por isso… diz à mãe que não quero descer e que fui dormir…

- Mas… - o John, às vezes parece que não percebe o que está na frente dos olhos dele…, apetecia-me gritar: “OLHA, SERÁ QUE DÁ PARA DESAMPARAR O QUARTO? HÁ PESSOAS QUE QUEREM CHORAR!”

- John, agora não… - olhei-o como se implorasse para que ele saísse e, ao menos desta vez, ele entendeu.

- Tudo bem, tudo bem.

- Eu vou contigo. – O Josh, que até então parecia afastado da conversa, pronunciou-se… aumentando ainda mais, se é que era possível, a minha fúria.

O John saiu logo do quarto, e antes que o Josh saísse, ainda fui obrigada a ouvir algo que me destruiu…

- Foi bastante fácil, aliás… Chauzinho, Brea. – E saiu, fechando a porta, que logo de seguida foi aberta por uma Lily atarefada e um Alex observador.

- Obrigada Lily. – O Alex falou quando ela concluiu o trabalho. Ela saiu, apressada e foi aí que entendi que o Alex me estudava com o olhar… o pior não era ele tentar entender o que se passava, era que ele, com certeza, já sabia o que havia acontecido, não detalhadamente, ou o modo como ocorreu, mas que de alguma forma eu estava destruída por algo que o Josh tinha feito. O Alex sempre me conheceu muito bem, viu-me crescer… sempre esteve do meu lado, talvez até mais tempo do que os meus pais. Às vezes, eu até me assustava com ele… a forma como ele olha para mim e para o John, é como se conseguisse ler a nossa mente.

- William Shakespeare uma vez disse, “Descobrir que só porque alguém não te ama do jeito que queres que te ame, não significa que esse alguém não te ama com tudo que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar isso."

- Ele não me ama, Alex. – Eu disse sem emoção.

- E, suponho que esse seja o problema…

- Não, eu não me importo com o que ele sente ou não por mim… Ele é apenas um idiota que…

- Não o culpe… se ele entrou dessa maneira na sua vida… “O amor é um crime que se comete com um cúmplice…”.

- William Shakespeare? – Perguntei.

- William Shakespeare. – O Alex assentiu.

- Ele devia saber muito sobre amor. – Eu comentei, como se falasse do tempo.

- Talvez… ou talvez não… “As pessoas tendem a falar e a descrever aquilo que desconhecem…”

- William Shakespeare?

- Não, esta é mesmo minha… - eu sorri, ainda meio desamparada.

- Ele não me ama… - Eu repeti ao Alex, mas era estranho o modo como falava, era como se me tentasse convencer disso…

- Porque é que está a tentar convencer-se disso? – Ele perguntou observando algo que eu não tive o interesse de olhar.

- Não me estou a convencer… - falei insegura – eu falo do que sei…

- Será? “As pessoas tendem a falar e a descrever aquilo que desconhecem!” – ele repetiu.

- Alex… - eu reclamei.

- Menina, eu posso não entender muita coisa, posso não entender porque é que a Terra gira em volta do sol ou porque os electrões atraem-se aos protões ou porque é que a maioria dos mecanismos naturais são repletos de teorias explicativas… mas de uma coisa posso-lhe garantir: ele não a vê apenas como mais uma.

- Vou tomar banho, Alex. – Não me queria iludir de mais nada… de nada… eu já aprendi a moral do dia, não confiar naquele que pode parecer o rapaz mais maravilhoso do mundo.

- Pense no que lhe disse… “ as coisas nem sempre são o que parecem…”.

Ainda tentei, adivinhar quem teria sido o “tolo” que havia proferido tal afirmação. É claro, é claro que as coisas sempre são o que parecem. “Ai, não é o que parece querida…” Típica desculpa… por favor…

Peguei na minha toalha e fui tomar um longo banho. Foi aí que, longe de tudo e de todos, mesmo que por poucos metros literalmente, eu deixei que as minhas lágrimas se combinassem com a água que escorria. Água salgada e água doce, juntas numa só tristeza… na minha tristeza, por uma pessoa que não se importa e que já não mais vale a pena.

Naquela noite, não tive pesadelos. Não acordei a meio da noite, assustada ou devastada. Aquela noite, foi uma noite de nada. Uma noite vazia. Uma noite sem sonhos.

E, independentemente, do que acontecesse de agora em diante, eu me proibiria de cair, outra vez, … por ele.


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