3° capítulo

            Seus olhos doeram ao entrar em contato com a luz, e ela preferiu fechá-los novamente. Sentiu as agulhas em seu braço e o soro entrar queimando em suas veias. Supôs que estivesse em um hospital.

 Muito bem, estava consciente, mas o que havia acontecido?  Por que estava ali?

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Não deixaram que ele participasse da cerimônia do enterro. Já bastava o que havia acontecido no velório. Deram-lhe um remédio para se acalmar e agora estava deitado em sua cama. Os olhos semi-abertos fitavam o nada enquanto ele pensava no que faria dali pra frente. Já não tinha a mínima vontade de viver. Talvez se suicidasse. Assim poderia ficar junto de Tom...

            Juntou forças não se sabe da onde e foi até o banheiro. Encarou o rosto pálido, inchado e marcado pelas lágrimas. Em qualquer outra ocasião estaria horrorizado por estar nesse estado, mas isso pouco importava agora. Abriu a portinha do espelho e fitou os remédios e as lâminas. Novas lembranças invadiram sua mente e as lágrimas voltaram aos seus olhos. Balançou a cabeça como se assim pudesse acabar com toda sua angustia.

            Sem pensar mais, pegou o primeiro pote e começou a tomar, comprimido por comprimido. Queria sofrer, mas era fraco demais para se cortar com as lâminas. A culpa era sua por seu irmão estar morto, não devia ter discutido com ele. A cada comprimido, chorava e soluçava mais alto.  O primeiro pote já fora, pegou o segundo e continuou com aquilo.

            Sinceramente, não sabia quantos potes já havia tomado quando o acharam no chão do banheiro.

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Com muita dificuldade, conseguiu se sentar na cama. Por que estava ali? O que tinha acontecido? Olhou por todo o quarto do hospital a procura de alguma coisa que pudesse lhe indicar o que acontecera.

Parou quando viu seu reflexo na janela. Flashs passaram por sua cabeça com uma velocidade enorme. Então aquele era o seu rosto. Devagar, levou a mão até o corte que tinha na testa. Mais lembranças.

_ Mãe, eu posso ir na frente?

_ Claro, queri...

_ Sai fora, pirralha. EU vou na frente.

_ Aliisa, deixe sua irmã ir na frente

_ Não.

_ Aliisa, por favor...

_ Que saco! Além de ter que ir pra Alemanha ver o “Quioto hotel”, ainda vo...

_ É TOKIO HOTEL!

_ Que seja! Fica tudo no Japão mesmo.

_ Meninas, já chega.

_ Ela sempre vai na frente, mãe!

_ Lógico, eu sou mais velha.

_ Eu disse chega! Agora as duas atrás.

_ Bem feito!

_ Johanna(¹)! Não provoque sua irmã.

_ Por que a gente não vai de avião, heim?

_ Porque sua irmã tem acrofobia(²), esqueceu?

_ Ela que vá de ônibus! Mãe, é uma semana de viajem até lá!

_ São só 5 dias, e se a gente se apressar serão só 4. Agora as duas dentro do carro.

_ Se ao menos o Jonne tivesse em casa...

_ Eu não deixaria você ficar na casa dele.

_ Por que não?!?

_ Eu sei muito bem que vocês dois estão de namorinho.

_ A Aliisa ta namoran-do...

_ Cala a boca! Eu não to namorando!

_ Johanna, eu já disse para não provocar sua irmã...

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¹ O J é pronunciado como I, então Johanna vira Iorrana (O equivalente de Johanna em português é Joana)

²Distúrbio psicológico caracterizado pelo medo incontrolável de lugares elevados. Provoca vertigem e pânico, entre outros sintomas.

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