Estava decaindo novamente. O coração acelerava com o ritmo dos suspiros desesperados, estava encarando aquela seda branca sobre a cama e o brilho dos anéis indicando o fim de algo. A vista estava embaçada quando o moreno de cabelos agora raspados seguia para fora de quarto cambaleando como se estivesse embriagado. Pegou uma colher que socou no bolso da calça junto a um isqueiro e aquela maldita seringa que fora como uma coisa que devia ter jogado a tanto tempo fora mas não o fez. Desceu até o térreo de seu apartamento esquecendo a porta aberta, não tinha nada para ser roubado alí senão as alianças abandonadas acima da cama. Engoliu as lágrimas com um passar da manga branca e antes perfeitamente limpa. O rosto forte não transparecia nada agora além daquela expressão vaga que escapavam atravez dos olhos de tom amarelado, um mel derretido por sobre a face. Foi a pé mesmo pelas ruas, sabia os lugares certos até hoje e logo encontrou um traficante, o que mais precisava agora. A conversa não foi necessária, as mãos de cada um trocaram algo. Foi então a qualquer lugar daquela periferia e socou-se nas ruínas de um prédio. Perdia a conta de Junkies que alí dormiam. Rasgou a manga da blusa não ligando mais para a aparência arrumada, adicionou aquela pedrinha na colher e acendeu o isqueiro deixando que a mesma derretesse alí o que logo virou conteudo da seringa. Fora agressivo quando prendeu o sangue do braço e enfiou a agulha com agresssividade na veia quase a rompendo. E tão agressivo foi o efeito da droga, e pelo descostume pendeu para o lado com o soco vindo da heroína, o olhar pendeu para qualquer lugar ao mesmo tempo que o choro fraco de dor de todos os tipos possíveis o assolava. Não era agradável aquela sensação, antes heroína e qualquer outra droga eram suas queridinhas...agora era como um estupro mental, uma recaída tão drástica que até ficava desagradável o efeito do narcótico.

Passara o resto da noite preso alí, e mesmo que o efeito da droga passasse, o corpo continuava inerte, com a água salgada pendendo pelos olhos de um mel derretido, amargo

Não queria mais sair dalí, queria uma droga eterna para que esquecesse que ele saíra pela porta sem dar adeus, sem razões..sem nada