POV. Helena:

O final de semana tinha que chegar, para me fazer ficar mais irritada. Havia falhado em minha primeira chance, e talvez a última com aquele anjo. Era de se esperar que não voltasse mais para a escola, e se o próprio Justin não voltasse é porque também sabia a verdade, a verdade que rodeia o céu e a terra. Mas logo terminou o final de semana, e nunca fiquei tão feliz por isso. Porque no sábado fiquei roendo minhas unhas só de imaginar o que aconteceria, mas Rafael logo chegou e disse que eu podia ficar tranqüila. Ele disse que eu nunca mais precisaria ver aquele anjo, não era de se esperar que voltasse a estudar na mesma sala que eu, uma vampira.

   Mas no domingo fiquei de novo imaginando, meu estomago chega embrulhou ao ver o jantar, sai da sala de jantar para o banheiro vomitando sangue. De novo. Como se não houvesse mais perguntas sem respostas em minha mente. Por que aquele sangue? Não fazia ideia, só sabia de uma coisa. Não via a hora para segunda-feira. E ela chegou sem pestanejar.

   Quando a porta da sala de aula se abriu, e o professor olhou para ela surpreso, eu senti que ia ter um ataque. Angelina e Justin entraram na sala.

- Olá professor. Desculpe o atraso. – disse Angelina e depois me lançou um olhar, eu gelei, como se isso fosse possível.

- Não tolerarei na próxima. – falou o professor depois apontando para o final da sala se dirigindo as únicas cadeiras vazias, por azar era as que estavam ao meu lado.

   Justin me encarou sorrindo, mas Angelina preferiu não me olhar mais. O relógio parecia tiquetaquear, a aula não acabava. Gotas de suor começou a brotar em minha testa, e Justin percebeu isso assim como o meu nervosismo.

   Quando o sinal tocou, o suor ainda descia, e não consegui ficar mais aliviada. Então tomei uma decisão. Sai da sala de aula com a minha mochila e corri pelos corredores empurrando quem tivesse em minha frente. Ouvi o barulho de sapatos no meu encalce. Mas me recusei a virar.

   Abri a porta dos fundos da escola, que dava para a quadra e o parquinho infantil, estavam vazias já que os alunos estavam na segunda aula. Comecei a olhar de um lado para outro e quando tomei a decisão de ir para a esquerda e pular a quadra para fugir, ouvi de novo o barulho de sapatos, só que estavam mais perto e senti que alguém me observava. Me virei e vi Angelina e Justin me encarando.

- Oi amigos. – disse friamente.

- Por quê? – perguntou Angelina fazendo um rosto inocente.

- Se não sair daqui agora, eu vou te matar. – respondi sem gaguejar, mas por dentro me senti insegura.

- Se não vai responder então eu terei que arrumar uma providência. – disse Angelina de um jeito doce.

   Ela pegou um cano que tinha atrás da porta de saída e apontou pra mim. Não fiz nada, não disse nada, apenas a encarei.

- Se é assim que quer. – murmurou ela antes de se jogar em minha direção com o cano, rapidamente corri e peguei um pau e me defendi. Justin vendo a situação foi correndo pegar alguma coisa dura, mas a única coisa que tinha sobrado era folhas, flores, e galhos pequenos, que não serviria.

   Angelina continuava me atacando com o cano, e eu me defendi. Mas quando Justin chamou sua atenção aproveitei e meti o pau em sua cabeça.

- Ai! – gritou ela massageando a cabeça. – Você me paga.

- Um anjo não deveria ser violento. – ataquei enquanto ela subia a rampa da casinha do parque.

- Como sabe que eu sou... um ANJO? – perguntou ela com dificuldade de falar enquanto eu tentava bater o pau em suas pernas.

   Subi a rampa também e ficamos dentro da casinha uma tentando acerta a outra, ela acertou o cano em meu pé e eu com raiva bati em seu braço com força que começou a sangrar.

- Parem com isso! – gritou Justin tentando entrar na casinha, mas não dava nós três dentro. Então Angelina correu pela ponte de madeira do lado da casinha e eu corri atrás.

- VEM CÁ SUA anjinha, eu vou fazer canja de você! – gritei correndo atrás dela e dando um ataque em suas costas. Ela caiu sentindo a dor do pau, e agora eu não mais me importava em fugir, eu queria matá-la ali mesmo.

- Angelina! – gritou Justin correndo e prendendo meus braços por trás fazendo me ficar imobilizada.

- Me solta. – gritei irritada tentando acertá-lo, mas sem resultado.

   Angelina se levantou devagar, e depois caiu, mas de novo tentou se levantar. Depois me lembrei de uma vantagem, a minha força de vampira, então empurrei Justin que quase caiu da ponte e me joguei pra cima de Angelina batendo o pau em sua perna que começou a sangrar e ela gritou de dor.

- Angelina! – gritou Justin correndo e se abaixando até ela.

- Saia! – gritei. – Vou matá-la e é agora.

- NÃO! – gritou Justin pegando o cano que antes Angelina usara e atacando para cima de mim.

- Para. – gritei, não queria machucar Justin mesmo sabendo que eu teria que fazer.

   Ele pegou o cano com força e aproveitou uma distração minha para jogar o pau em minha mão longe. Eu o olhei desarmada. E ele apenas largou o cano e se agachou perto de Angelina, que estava de olhos fechados. O olhei boquiaberta e sai da ponte, depois da casinha e por fim do parque. Eu peguei minha mochila, corri até a quadra e escalei para pular do outro lado.

   Corri o mais rápido que eu, como vampira, pude. Quando percebi estava uma rua antes de minha casa. Então pensei “estou segura”, mas por que eu me sentia sendo observada?

   Olhei para trás e gritei.

POV. Angelina:

   Um tipo de apito ecoava em minha mente, e estava alto, mas os meus pensamentos ainda ecoavam maiores. Abri os olhos devagar, minhas pálpebras pesavam tanto. Demorou um pouco para os meus olhos voltarem ao normal e eu perceber que estava numa cama de hospital e o apito era o sol da máquina que estava ligada por todos os fios que havia em meu braço e em meu pulso.

- Você deu sorte. – disse um homem loiro com bata que dizia “Dr. Kingson”. – Sorte que seu namorado estava lá quando você bateu em um cano. Mas me diga, como foi que o cano chegou a bater sua perna e seu braço ao mesmo tempo?

   “Essa provavelmente foi a única desculpa que Justin teve.” Pensei.

- Eu não sei doutor, quando vi já estava tudo sangrando. – respondi.

- Mas seu namorado disse que você desmaiou imediatamente? – perguntou o doutor confuso.

- Posso vê-lo agora? – perguntei e ele assentiu.

   Minutos depois a porta foi aberta e de lá saiu Justin, com um sorriso e girassóis na outra mão.

- O doutor disse que você vai ficar bem. – falou Justin. – Isso é pra você. – então ele me entregou as flores.

- Obrigada. – disse as pegando e cheirando. – O que aconteceu?

- O que? – perguntou Justin fingindo de não saber de nada.

- O que aconteceu com ela? – perguntei lembrando de tudo que aconteceu antes de eu desmaiar.

- Ela fugiu. – respondeu Justin meio sem jeito. – Fiquei mais preocupado com você, e me esqueci dela.

- Tudo bem. – falei. – Eu faria a mesma coisa se fosse com você. – sorrir, mesmo que sentindo um pouco de dor com essa gesticulação, que fez minha cabeça latejar. – Vamos conseguir dá próxima vez.

- Próxima vez? – perguntou Justin confuso. – Não terá uma próxima vez.

- Por que não? – perguntei.

- Você está numa cama de hospital e ainda me pergunta por que não? – falou Justin sério.

- Você não entende Justin, ela fez com que eu deixasse de ser uma guardiã. Eu preciso saber porquê ela quer tanto me matar. – disse.

- Já pensou que com isso você vai acabar morr... – então ele parou, sentindo o peso que suas palavras fariam. - Angelina, por favor...

- Falamos sobre isso depois. – murmurei. – Preciso dormi.

- É claro. – disse Justin com uma expressão triste. Então ele caminhou até a porta e deu um último olhar pra mim. – Só pense nisso. – depois abriu a porta e saiu.

   E eu realmente pensei no que ele disse.