“Só me lembro de como foi essa minha semana, quando eu conversava com os outros, eu ria, brincava, jogava, mas... por que eu me sinto tão culpada de ter sentido isso? Por que todos aqueles risos e brincadeiras me pareciam tão artificiais? Será que eu não posso me sentir feliz ao menos uma vez na vida?

Acho que não. Não tenho motivos para sorrir, para me divertir, afinal, quando eu morrer, serei só mais um corpo debaixo da terra sendo devorada por insetos dos mais variados tipos. Ao menos de uma coisa eu sei, quando eu ria, por dentro eu chorava; quando eu ficava perto de todas aquelas pessoas, eu apenas queria me afastar; quando eu me divertia, eu só disfarçava a dor dentro de mim. Mas, se eu não tenho motivos para ser feliz, que motivos eu teria para ficar triste? Tem tantas outras pessoas que tem muito mais problemas e vivem sorrindo.

Só de pensar nisso me bate uma imensa vontade de chorar sem parar, chorar para todos me ouvirem, para, pela primeira vez, se preocuparem comigo. Mas não importa o quanto eu chore, ninguém vem me confortar, ninguém vem saber dos meus problemas. Quando eu conto isso para alguém, eles me aconselham a procurar conforto com os meus pais, mas, que tipo de conforto eu poderia receber de uma mãe que se vende na rua e de um pai que só sabe chegar em casa bêbado que bate na minha mãe e em mim.

Se feliz eu não posso ficar, nem triste, que sentimentos eu poderia ter então? Nenhum, não sobrou nenhum, então a única coisa que me resta é a morte. Mas me dá medo a morte, quem me garante que vão cuidar de mim depois da minha morte? Quem me garante que eu não vou ser largada por aí e meus pais vão se divertirem em outro lugar?

Quer saber? Que se dane, eu já estaria morta mesmo, de que me importa os sentimentos dos meus pais? Eles nunca se importaram comigo, não tenho amigos que nas horas difíceis me apoiaram, me confortaram, nada... É isso que eu tenho, nada. Então, se eu não tenho nada, nada aqui vai me fazer falta, nada daqui vai me preocupar. Poderia me tornar uma pessoa fria, matar. Qualquer caminho que eu possa imaginar só vai me levar para um só destino: a morte. Então... por que não acelerar tudo e livrar o mundo dessa minha existência ridícula?”

Terminado de escrever isso, ela tomou sua decisão, acabaria com todo esse sofrimento de uma maneira lenta, queria ter a chance de se arrepender a tempo, mas ao mesmo tempo queria que tudo acabasse assim que fechasse os olhos. E foi o que fez, foi até o terraço de seu prédio, sentiu o vento passar por seus cabelos longos e castanhos por uma última vez, e aquilo a deixou feliz, não porque ia morrer, e sim porque tinha esperanças de que, ela deixando de existir, deixaria os outros também felizes. E com esse pensamento em mente, sem hesitar, deu um passo, seu último passo, tal passo que definiu o destino dela: a morte.