Ana B.

No dia seguinte fomos “conversar” com nossos pais, os deuses. Eles estavam estranhos e perturbados, como se alguma coisa (que não nos contavam) estivesse acontecendo. Não nos ajudaram muito, mas mesmo assim, tivemos que arrumar um jeito de continuar.

Os dias foram passando e tentávamos nos reconstruir, não só o Acampamento. Afinal, os que não ficaram feridos fisicamente, feriram-se emocionalmente, vendo seus amigos morrerem e sua casa ser posta abaixo.

Íamos treinando os mais fortes emais recuperados, os que ainda estavam fracos faziam estratégias, até que estivessem bem o suficiente para treinar. Todos tinham alguma utilidade, ninguém ficava sentado o dia todo sem fazer nada. Mas, nossa situação era complicada, não sabíamos o que poderíamos enfrentar, quem era a Senhora e o que ela queria.

Desconhecido

Tudo estava caminhando, meu plano estava dando certo! Meus peões andavam nas direções certas, por exemplo, Nix. Ela cumpriu sua função, quando me deu mais aliados, me fortalecendo cada vez mais.

O Olimpo sucumbia a meu poder, eu ganhava terreno a cada dia, mais aliados, mais forças para destruir todos que queriam a paz.

Por meios ilícitos, consegui um novo espião, que me diria tudo que está acontecendo! O Acampamento não sobreviveria a novos ataques, o Olimpo está dividido e Quíron está sob meus poderes.

Minha guerra formaria um novo mundo, onde só os fortes prevaleceriam. Os fracos seriam destruídos. Todos que me apoiassem teriam privilégios e ótima vida, aqueles que ficassem contra mim seriam massacrados e amaldiçoariam o dia em que resolveram medir forças.

Espião

Me sinto estranho, sem vontade própria, somente com um desejo: matar! Matar pela Senhora que formará um novo mundo, melhor para todos, que será o mundo dos melhores! Desde a hora que saí, quando estávamos procurando feridos, que não consigo me lembrar de nada antes disso. Mas tenho memórias posteriores, como, por exemplo, Percy fazendo uma pergunta sem sentido, o encarei e disse que não havia encontrado ninguém. Foi estranho. Fiquei pensando em seu motivo para falar comigo, não encontrei nada, então fui seguir meu propósito.

Cacá

Guerra havia sido declarada! Nos preparávamos há dias, mas de repente tudo pareceu em vão. Como se tudo houvesse sido jogado fora, mas eu ainda podia ouvir nossas  vozes, trêmulas, dizendo uns para os outros que tudo daria certo, mas sem realmente acreditar.

Fui acordada pelos gritos, havia um exército na frente do Acampamento sonolento. As barreiras mágicas haviam sido restauradas, não estavam tão fortes, mas não estávamos completamente desprotegidos.

Um grupo foi mandado para uma missão de resgate, precisávamos de Quíron e tínhamos de saber o que acontecia com os deuses. Rafael, Bia, André e Sisi foram na missão, um dia antes do ataque. Os outros ficaram para lutar pelo Acampamento dando seu sangue se necessário, como tantos outros fizeram. Morrer com glória e honra pelas coisas que consideramos importantes.

Guerreiros entravam por todo canto. Alguns vinham pela praia, outros passaram pelas barreiras. Mesmo assim, a maioria invadia pela floresta, aonde as barreiras eram mais fracas, e de certo modo, eles pareciam saber disso. Nos preparamos para o ataque quando eles passaram pela fronteira do Acampamento.

Eram liderados por alguém estranho, todo coberto por uma armadura reluzente. Os guerreiros não pareciam ter emoções, sentimentos, apenas um objetivo. Eles nos olhavam e fuzilavam com o olhar. Quando se posicionaram para o ataque, o líder estendeu a mão e os mandou parar.

Sua voz era metálica, não parecia real, não parecia uma pessoa de carne osso.

–Vocês têm uma última chance, para escolher ficar ao lado da Senhora!- Não respondemos, ele se mexeu impacientemente- Ok, ok! Vamos ter que apelar! – Não entendi muito bem o que ele quis dizer com “apelar”. A nossa frente apareceu a imagem de um Acampamento todo reformado e MARAVILHOSO! Tinham pessoas para nos servir e fazer o trabalho duro, mas segundo o guerreiro eles não sentiam nada, nem cansaço e nem ligavam de trabalhar, estava tudo mecanizado, teríamos um exército que nos defenderia, nada poderia acabar com as barreiras mágicas, pois a Senhora nos protegeria, na praia haveria um bar com drinks coloridos que seriam servidos. Nós não precisaríamos fazer mais nada! Tenho que admitir foi muito tentador, mas e o meu pai? Pude ver, só de olhar para meus amigos que eles se faziam as mesmas perguntas e que pensavam as mesmas coisas.

Ao ver nossas expressões o guerreiro disse:

–Quem desejar servir a Senhora, terá acesso a um Acampamento como este, que já está sendo montado! Quem quiser ter acesso a todas essas maravilhas dê um passo a frente. – Instintivamente dei um passo para trás e esbarrei em Kiara que estava indo para trás também.

Eu observei meus amigos e pessoas com lutei anteriormente dando passos para frente. Nos TRAINDO!

Quando vi, no meio daquela muvuca de traidores, Ana e Sam, além do enorme grupo que ia em direção ao novo Acampamento fiquei pasma, sem reação!

Todos os que escolheram o Acampamento Maravilhoso se posicionaram ao lado do guerreiro.

–Mais alguém?- O guerreiro disse, com um sorrisinho. Nos posicionamos para lutar, tínhamos um plano, uma organização. Nem todos que iam lutar estavam na frente do guerreiro e seu exército.

Todo o exército da Senhora estava a nossa frente. O plano era atrair o Exército para um lugar que dominávamos, a Floresta, onde havíamos organizado armadilhas. Os filhos de Apolo estavam escondidos, com os cavalos alados, preparados para disparar suas flechas no inimigo. O grupo que lutaria com as espadas era o meu, nós começaríamos a luta, alguns usavam uma espada e um escudo, duas espadas ou somente uma espada. Eu usava uma espada e um escudo, assim como Percy, Pedro, e o resto, as únicas que usavam duas espadas eram: Annabeth, Thalia e Kiara 

Os filhos de Poseidon tentavam atrair seus inimigos para a água, os filhos de Dionísio puxavam forças do solo, então tentavam ficar na Floresta.

-Vocês realmente vão nos trair? Abandonar seus amigos na hora mais difícil? Ignorar que seus amigos morreram para proteger vocês?- Clarisse gritou, com muita raiva- Então, MORRAM!

Bia

Nós partimos para a missão a noite, desde o dia de nossa partida não recebemos notícias do Acampamento. Estava feliz por partir numa missão com meu namorado, isso não acontece há um bom tempo. Seguimos para o Empire State Building, para o Olimpo, tentar descobrir o que acontecia com os deuses.

Quando chegamos ao Monte Olimpo tudo estava diferente. Os adornos dourados já não eram os mesmos, as luzes e a ostentação da decoração, tudo havia sido mudado, para prateado e preto. O lugar estava frio e escuro, sem o fogo que iluminava as estátuas dos deuses e deusas que tornava o lugar agradável e lindo!

Eu estava congelando, tremendo e com os dentes batendo, quando chegamos a sala dos tronos. Apolo, Atena, Hefesto e Poseidon estavam sentados em seus respectivos tronos, fitando o chão.

–Mãe? – ela olhou para mim, seu rosto estava com uma expressão cansada e sem esperanças.

–Bia! – seu rosto se iluminou e ela se levantou para me abraçar. Os outros deuses presentes levantaram seus rostos lentamente.

–Oi, pai- disse Louise indo abraça-lo.

Apolo e André bateram as mãos com um sorriso. Hefesto abraçou seu filho.

–Mãe, o que está acontecendo? – Atena olhou para mim, sua felicidade parecia ter desaparecido em um instante, ela suspirou e respondeu:

–Alguma coisa muito poderosa está possuindo Zeus. E tirando nossos poderes.

– O Acampamento foi atacado, pela Senhora.

–Senhora? – perguntou Hefesto

–Ela ainda não pediu sua aliança?-Rafael perguntou

O rosto de Poseidon se contraiu.

–Pai? O que está acontecendo?-Louise perguntou

–Minha filha, me conte tudo o que aconteceu! Tudo, desde o dia que você e suas irmãs me pediram ajuda!-Poseidon pediu.

– Ok. Depois que o General tosco invadiu o navio...- Louise começou

– General?- Atena interrompeu

–É! Ele disse que se não nos uníssemos à sua Senhora morreríamos e como não aceitamos ele destruiu o barco e fomos parar na ilha da Femme Fatale- Sisi continuou- quando chegamos ao Acampamento ele estava destruído, um dos sobreviventes nos contou que o mesmo general que invadiu o cruzeiro passara lá antes do massacre, pedindo sua aliança e ameaçando. Os que ficaram estão se preparando para o segundo ataque da Senhora.

–Como é esse tal general? – Atena insistiu na pergunta

–Ele é baixo, careca, usa uma farda desbotada e curta, com dois botões faltando. – eu descrevi o general

–Eu já vi esse homem vindo falar com Zeus, eles passam horas conversando. Meu pai não é muito delicado com ele- minha mãe disse

–Isso é muito estranho, o que o um servo da Senhora, que quer destruir o Olimpo poderia querer com Zeus? – André perguntou

– A não ser que Zeus e a Senhora sejam a mesma coisa- Rafael sugeriu

–Como assim? A Senhora está nascendo como a minha mãe, da cabeça de Zeus?

–Não! A Senhora possuiu meu irmão! – Poseidon exclamou, alarmado com sua própria conclusão.

–Para que ela pudesse ter controle sobre o Olimpo!- concluiu Apolo

–Exatamente! – exclamou Atena

–Mas quem faria isso? – perguntou Hefesto

–Alguém que deseje o caos – disse Atena

–Éris! – eu e Sisi dissemos em uníssono

Minha mãe assentiu, seriamente.

–Como podemos derrota-la?

–Encontrando Quíron- Apolo respondeu

–Ele poderá ajudar, talvez a arrumar um contingente maior- sugeriu Hefesto.

–Mas, onde?

–Temos que fazer o general confiar na gente, então ele nos levaria até os
prisioneiros. – Rafael deu uma ideia.

–Ok. Então, vocês precisam ser rápidos- Hefesto disse.

Louise

O plano de Rafael não era tão bom assim, eu e Bia que tivemos que ir falar com o tal general nojento e pagar de idiotas, para que ele achasse que estávamos na dele. Mas, antes de irmos eles nos obrigaram a colocar saias curtas, maquiagem e saltos! Não sei que tipo de namorado faz isso, mas... Era o único jeito de salvar Quíron.

–Oie! – dissemos, quando o encontramos.

–Quem são vocês?

–Queremos nos unir a você e a sua Senhora!- sorrimos

– É mesmo? Por que não disseram isso no Acampamento?

– Nós não estávamos lá, fomos te procurar! – Bia disfarçou

–Tudo bem, mas agora eu preciso ir ver os prisioneiros.

–Podemos fazer isso para você- eu disse- Você deve estar muito cansado

–Ser assim tão bonito e ter que cuidar de um exército inteiro e mais os prisioneiros deve te deixar exausto- Bia argumentou. Ele sorriu e perguntou:

–Me acha mesmo bonito?- ele passou a mão na careca

–Claro! – respondemos

Ele nos entregou as chaves.

Saímos correndo, mas antes tiramos os saltos e jogamos dentro da bolsa (em que carregávamos roupas decentes). Descemos até o calabouço, onde encontramos Quíron, outros centauros e campistas.

–Quíron?- Ele nos encarou, tentando nos reconhecer, nós ainda usávamos as perucas louras. As arrancamos e, por fim, ele nos reconheceu:

–Bia, Louise! O que estão fazendo aqui?

–Viemos te salvar! –Bia respondeu

–Mas é muito perigoso.

–O que é perigoso para quem é uma semideusa?- perguntei e ele riu.

–Por que estão vestidas assim?

–Foi o único jeito que encontramos para convencer o general a nos dar a chave da sua cela! – Bia respondeu

– Nós não, Rafael! – resmunguei

Libertamos os outros e saímos. Eu e Bia só trocamos de roupa, quando estávamos bem longe dali.

–Quíron, fomos ao Olimpo, saber o que tinha de errado com o Olimpo, e descobrimos...

–Que Zeus está possuído por Éris. – completei

Quíron não pareceu surpreso, apenas suspirou. Nos entreolhamos sem entender, Raphael foi o primeiro a se manifestar:

–Você não vai dizer nada? Nem parece surpreso...

–Não estou- Quíron interrompeu- Acontece que não sei se há algo que possamos fazer.

–Como assim? – Bia explodiu- Vamos deixar todos os que estão no Acampamento morrerem? Estamos em menor número! Éris é poderosa se não pensarmos em um jeito de ajuda-los vão morrer para... nos salvar- ela o encarou, incrédula pela falta de resposta- Eles nos ajudaram a fugir para vir te buscar!

Ele continuou sem responder, enquanto ela recuperava o fôlego, me juntei a ela, também com raiva, por que ele não respondia e por que os meninos não diziam nada:

–Você não vai responder? Não devíamos ter vindo? Era melhor ter ficado lá com os outros e lutado? Viemos até aqui, colocamos a vida dos nossos amigos em MAIS risco, por que eles tiveram que sair dos esconderijos para nos dar cobertura para sairmos!- Tinha a sensação de estar queimando, de tanta raiva, quase estava sem ar, mas continuei- São os semideuses que VOCÊ treinou. Todos nós nos para que chegar até aqui!

Raphael e André se entreolharam assustados com a nossa reação. Quíron continuou impassível.

–Só estou dizendo que não tem jeito...

–Não tem jeito? – eu e Bia perguntamos em uníssono.

–Os deuses nos disseram que você nos ajudaria- Bia disse desapontada.

–E acreditamos neles!- completei

E por fim dissemos juntas:

-Se você não quer pensar em um jeito de nos salvar e àqueles que agora lutam por nós, nós vamos!