O Continente das Trevas escrita por Narsha


Capítulo 22
A Conferência - Segunda Parte


Notas iniciais do capítulo

Dando seguimento à Segunda Parte da Grande Conferência que está sendo realizada no Reino Mágico de Serdin, venho trazer a você leitor (a) mais uma etapa dessa emocionante saga, onde conflitos, divergências, revelações e importantes decisões devem ser tomadas....

Convido-o (a) a mergulhar nesse oceano de emoções e junto de nossos heróis seguir adiante rumo ao futuro que os conduz para o grande enfrentamento contra o maligno Deus Atron.

Desejo-lhe uma excelente leitura!

Atenciosamente,

Narsha

Revisão: André Erik



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Um ar gélido pareceu envolver o Salão Real repentinamente e a tensão envolveu a todos de forma transparente.  E à medida que Duel Pon Zec avançava pelo vasto corredor central, sob os olhares perplexos de todos, um silêncio soturno abateu-se no ambiente. E Zero, a cuja ira envolvia cada célula de seu ser, se afastou da pilastra num movimento brusco e com a clara intenção de atacar seu inimigo. Pouco lhe importava como e quem o havia trazido até ali, tinha sede de justiça e destruiria Duel ali mesmo, tomando para si Eclipse. Seu corpo estava tenso e sua musculatura e nervos rígidos; apercebendo-lhe a intenção, a Subcomandante Elyedre Khennyel adiantou-se velozmente, equiparando-se em velocidade com o próprio rapaz, e posicionou-se à frente do mesmo. Surpreso com o gesto da jovem, Zero parou abruptamente e fitou-a. Tentou desviar-se e seguir em frente, mas ela segurou-lhe as mãos com firmeza, e usando o próprio corpo reteve-o.

— Não faça isso... Aqui não é o momento. – Ela disse, e sua voz saiu como um sussurro. Zero a fitou, e nesse instante algo inusitado ocorreu. Algo inexplicável, mágico. E tanto Zero como Elyedre pareceram ser transportados a uma época longínqua onde uma estranha visão – nítida como o céu mais límpido — passou a ser compartilhada, ao mesmo tempo, e de forma vívida, por ambos...

“As águas cristalinas do córrego desciam serenas por entre pequenas saliências e rochas, e o ar morno soprava livremente pelo humilde vilarejo de Khalyr dando àquele entardecer uma sensação agradável. Alguns insetos amarronzados traçavam um voo tranquilo e o céu de tom avermelhado, característico do Mundo Asmodiano, ganhava matizes de cor rubro ouro. Um aroma suave de rosas inundava aquela região e amenizava o odor forte das fuligens exaladas por chaminés que vinham de longe, do vilarejo. Grandes e belíssimas rosas negras ocupavam a longa extensão daquela área cultivada, mas, em meio a elas, solitária como um feixe de luz, uma rosa fazia resplandecer a beleza alva de suas pétalas. Próximo a esta e, às margens do córrego, deitados por sobre a relva macia, um casal estava abraçado e trocavam juras de amor em meio a ternas carícias. Os belos cabelos esverdeados da jovem mesclavam-se ao verde musgo da relva e pareciam uma bela cascata em tom esmeralda, e o rapaz, de olhos cor caramelo e cabelos acinzentados a fitava enamorado.

— Zephyrum... — disse a jovem de cabelos esverdeados num sussurro e ele tocou seu rosto com ternura. — Te Amo Lye... — retrucou com amor, tocando os lábios dela e a beijando.

Nesse instante a visão dissolveu-se, tal qual fosse névoa diante da presença do sol do amanhecer, e Elyedre e Zero, profundamente abalados pela mesma, fitaram um ao outro aturdidos. E o nome “Zephyrum”, na forma como a moça o havia pronunciado, ecoava em sua mente ininterruptamente agora. Não tinha duvidas de que era Elyedre a jovem do misterioso, e, ao mesmo tempo, aparentemente tão familiar cenário, e de que aquele homem junto a ela era ele próprio. Mas como? Era impossível! Tentou dizer a si mesmo, embora seu coração dissesse que sim. Sua mente girou naquela fração de segundo e ele sentiu como se algo houvesse se aberto no mais profundo de suas remotas lembranças, muito além de Oz e de seu renascimento como o Guerreiro Zero. Seu coração estava acelerado e gotas de suor frio escorriam por sua testa.

Elyedre, por sua vez, estava trêmula; a inesperada visão endossara a certeza que mantinha silenciosamente consigo desde o momento em que encontrara Zero na batalha em Xênia. E se alguma dúvida ainda havia lhe restado, na tentativa de negar a si mesma a verdade, esta não mais existia; tinha absoluta ciência de quem ele era, mesmo que isso ainda lhe parecesse ilógico, ou até mesmo surreal, após todo o horror e do grande desespero que sentira ao afagar seu rosto sem vida, séculos antes, em Khalyr. Assustada com tal verdade, e num gesto brusco, desvencilhou suas mãos das dele e afastou-se, saindo apressada na direção de Lothos e dos demais Oficiais, onde – lutando para ocultar seu nervosismo —, tentou manter os olhos fixos no General Duel Pon Zec, que, junto da mulher, se colocava agora diante de Suas Majestades. Zero a fitou por um momento um tanto confuso e depois recobrou o autocontrole por sobre seus próprios sentimentos e voltou seu olhar diretamente para a figura de Duel tencionando dar continuidade ao seu ataque. Dessa vez, porém, foi a voz pesada e grave de Grandark que se fez ouvir em sua mente. E ele foi incisivo.

— “A mulher tem razão Zero. Aqui não é o momento para atacá-lo. Contenha sua ânsia e saiba esperar.”

— Mas Grandark...  — ele balbuciou recebendo apenas o silêncio como resposta. Grandark estava resoluto. Zero irritou-se, mas ponderou a si que talvez isso realmente fosse o mais correto, visto que suas pendências com Duel eram algo que gostaria de resolver apenas entre ele e seu oponente e ali, por certo, os demais membros da Grand Chase iriam querer interferir.

Mari, que havia observado discretamente ao modo como agiram a Subcomandante e Zero, tinha nos olhos um brilho significativo, e apontou algo em seu bloco de anotações antes de voltar-se para a figura altiva de Duel Pon Zec — o homem que, de certo modo, por duas vezes a salvara — a primeira vez, durante a explosão que levou à extinção de seu Reino Natal e a outra quando Bardnard tencionava usá-la como chave para acionar ao Martelo de Ernasis e destruir o mundo.

A energia de Eclipse impregnava o ambiente de forma sútil e Zero a percebia nitidamente, do mesmo modo que sentia que algo nela estava diferente – assim como fora no último embate dos dois na recente batalha em Xênia –, especialmente se comparada ao que fora seis anos antes, no violento confronto que haviam tido na ocasião em que Astaroth  ( Bardnard ) fora derrotado por seus companheiros da Grand Chase com o auxílio do Elfo Grandiel e, por ironia, do próprio Duel; e, apesar de seu poder parecer infinitamente maior do que naquela ocasião, sua aura não era ofensiva e sim suave e serena. E isso o intrigava muito, ainda mais que Grandark – que fora o grande feito de Oz para destruir a lendária Eclipse igualmente parecia bastante mudado e sua energia se fazia em ressonância com a Espada rival de forma transparente, sendo que em torno de si uma misteriosa aura reluzia. Insistente e confuso, ele tornou a inquirir sua Espada, e a voz de Grandark saiu fria e longínqua quando finalmente direcionou lhe a palavra. – “Deixe-me Zero... Agora não...”. Farto da atitude de Grandark, o rapaz voltou seu olhar para Duel com irritação e ouviu a voz pausada e grave de seu Oponente, que agora se dirigia diretamente às Suas Majestades.

— Altezas... – disse o Asmodiano fazendo uma reverência.

— Mas vejam que atrevimento! – vociferou Alexyus III. – Guardas! Guardas! Prendam este homem! Andem! O que estão esperando?!

Duel e Edna entreolharam-se, mas antes mesmo que algum soldado ou Oficial se manifestasse, a voz altiva do Rei de Serdin fez-se ouvir por todo salão.

— Não se atrevam! — disse ele com rigor ao ver que Soldados Reais se aproximavam e que a própria Comandante Lothos se posicionava junto dos demais Oficiais ali presentes para aprisionarem os recém-chegados. Diante de sua atitude todos o fitaram com incredulidade, especialmente Alexyus, cuja estupefação era visível diante da postura do monarca.

 O Rei de Serdin prosseguiu, com firmeza:

— Este homem é meu convidado e como tal deve ser tratado! Ele está aqui não para atacar-nos ou prejudicar-nos, mas sim para oferecer-nos sua ajuda, seus préstimos! Peço que se acalme, caro Alexyus, e não tenha uma atitude precipitada antes de ouvir o que ele nos tem a dizer.

— Acaso está louco?! Então realmente espera que eu me sujeite a tamanho despautério?! Bem se percebe que não tem a maturidade que seu irmão Arthur possuía como monarca! Ofende a memória de seu Rei com tamanha insanidade!

— Alexyus! – interveio a Rainha Vitória, mas, pelo olhar de Valiant I, era notório que as palavras do Soberano de Canaban haviam-no atingido profundamente. E tomado de mágoa, com voz austera, rebateu.

— Arthur IV está morto! Eu sou o Rei de Serdin! E em meu Reinado cabe a eu decidir a quem considero ou não aliado, pois este é o meu Reino! – disse erguendo-se de seu trono. Alexyus estava enfurecido e tinha o rosto avermelhado, e fitou Valiant com ira. Apercebendo-lhe uma atitude pouco adequada, e temendo o pior, a Rainha de Canaban levantou-se de seu trono e parou diante do marido que, de pé, transparecia sua cólera; a Rainha Saphyre também havia deixado seu lugar e ao lado de seu Rei estava com ar preocupado. Como Vitória também temia que o desentendimento entre ambos pudesse tomar proporções ainda mais graves levando a um novo rompimento entre os Reinos e uma nova guerra, o que seria catastrófico, ainda mais diante da situação delicada envolvendo Astrynat.

— Senhor meu Rei – disse Vitória com firmeza, porém com suavidade em sua voz. – O momento é de crise e precisamos manter a calma e a união para derrotarmos nosso verdadeiro inimigo, e não nos deixarmos enredar por lamentáveis discórdias. Peço que considere minhas palavras.

 Alexyus olhou-a e respirou fundo, fazendo grande esforço para recobrar o autocontrole. Sabia que o que sua Rainha lhe pedia era o mais apropriado, mas seu temperamento insistia em querer impulsiona-lo para uma atitude mais radical. E sua voz saiu fria e ainda um tanto áspera quando retomou a palavra.

— Vossa Majestade tem razão, este é o Vosso Reino, assim como Canaban é o Meu Reino e nele a guilhotina é o único local onde recebemos criminosos! — disse retomando seu lugar ao trono.

Havia grande constrangimento e o ambiente ficou tenso diante do ocorrido entre os Reis de Serdin e Canaban. E Valiant I sentiu o sangue ferver diante da resposta do Monarca, contudo, ao ver o modo como Saphyre o olhava e o jeito súplice com que segurava seu braço, ele ponderou antes de dizer algo. Apesar de jovem, ao contrário do que Alexyus julgava, ele era um Rei bastante sensato e sabia colocar suas questões pessoais ou divergências para trás do que era prioridade para Serdin e seu povo. E a Guerra contra Astrynat, definitivamente, estava acima de tudo. Com sobriedade, então tornou a sentar-se e a esposa o seguiu no gesto. Pousou seus olhos em Duel, a quem se dirigiu.

— Vejo que é um homem de palavra Senhor Duel, compareceu a esta Conferência.

— A palavra empenhada é a honra de um homem, se não a mantém não possui dignidade. E honra e dignidade são valores que prezo muito, Alteza. Contudo, sinto que minha presença trouxe certo desconforto e devo desculpar-me por isso.

— Creio que quando repetir aos presentes o que me relatou em audiência secreta tudo poderá ser esclarecido e tal mal estar dissipado. Alexyus permanecia sisudo, olhos fixos em Duel, tentando imaginar o que aquele homem poderia ter dito ao Rei de Serdin a ponto de fazê-lo perder a sanidade.

No local o silêncio imperava e poucos cochichos eram trocados entre os presentes. Sendo que Zero, intrigado com o fato de seu inimigo ter conseguido a concessão do Soberano de Serdin para estar presente a uma Conferência de tamanha importância, olhava para o mesmo com olhos ávidos tentando imaginar-lhe os reais propósitos.

— Sempre fui um líder dentro de meu Clã — principiou Duel com gravidade —, e, como tal, lutei pelo que julgava fosse o mais adequado para o meu povo.  Ele fez uma pequena pausa.

 – Durante a primeira Guerra Mágica o mundo Asmodiano estava corrompido e temíamos o poder que provinha de um Reino chamado Calnat. Eles possuíam uma arma, o Martelo de Ernasis, que era capaz de destruir a tudo, além de lançarem mão de avançada tecnologia em experimentos que começaram a afetar diretamente nosso mundo. Fendas dimensionais passaram a surgir e engolir a tudo que estivesse em seu caminho. Vilarejos inteiros foram tragados por essas fendas e o medo instaurou-se dentro dos Clãs.  Isso fez com que dois poderosos grupos, cujos objetivos divergiam, se formassem: os Moderados, que acreditavam que poderiam resolver a situação de uma forma pacífica com os Calnatianos e os de Linha Dura, do qual fiz parte, que acreditavam que isso não passava de uma utopia e que nosso povo seria totalmente aniquilado pelo poder oriundo de Calnat.

A guerra então eclodiu, e com Eclipse eu entrei em combate crendo que dessa forma eu salvaria meu povo; mas eu possuía grandes inimigos e um deles, senão o pior de todos, foi Oz Von Reinhardt, um velho bruxo que se deliciava em manipular e instigar os Clãs moderados contra nós. E com a ajuda da mente torpe desse homem eu fui traído por alguém em quem muito confiava... – Duel tinha os olhos sombrios ao mencionar isso – Fui emboscado e perdi o que de mais precioso eu tinha em vida... – ele fitou sua esposa Edna por um breve momento e, após, tornou a olhar para Suas Majestades Reais. – Perdi minha razão de existir, e vingança passou a ser meu único desejo. A essa altura a Causa contra Calnat e meus velhos propósitos altruístas não mais importavam. Eu estava vazio. — Ele silenciou por um momento, o olhar perdido nas próprias lembranças.

— Fui atrás de Oz e, com minhas próprias mãos, o matei e, depois, juntamente das tropas do Grande Líder Aliado do Clã do Norte, Heitors Krasus, primogênito do grandioso Heitaros Krasus, invadi Calnat a fim de destruir àquela maldita civilização de uma vez por todas. Mas a verdade era que isso para mim pouco mais importava, eu estava mesmo era a procura da herdeira do trono de Calnat, Mari Ming Onete, pois segundo a lenda e velhos manuscritos a que tive acesso ela era a chave para um novo renascer e através dela eu tencionava trazer minha Edna de volta.

 Mas algo terrível aconteceu, a arma Secreta de Calnat fora maculada e entrou em colapso. Fendas gigantescas começaram a se abrir por todo local e a energia grandiosa começou a expandir-se, de forma que a explosão era iminente. Eu estava dentro do palácio e encontrei a princesa Mari caída próxima a uma capsula de evacuação. Não hesitei e a tomei em meus braços desacordada, deitei-a na nave iniciando em seguida o processo de ignição, mas o equipamento estava igualmente danificado e a energia parecia insuficiente para impulsioná-la. Eu não tinha tempo, tudo estava ruindo e por isso usei Eclipse, e com a energia de minha lendária Espada consegui fazer a nave partir.  Corri então, e em meu trajeto de fuga vi um menino Calnatiano, assustado e chorando por entre escombros e chamas. Eu podia tê-lo abandonado, mas olhando-o tomei-me de piedade e envolvi-o em meus braços. A explosão finalmente ocorreu e foi por fração de segundos que eu e o menino conseguimos escapar por entre uma fenda dimensional. Nada restou de Calnat.

— Meses depois eu retornei às ruínas daquele Extinto Reino e, do alto do que restara de um antigo monólito de pedra, observei solitário o rastro de destruição deixado na paisagem do que outrora se erguia a imponente civilização Calnatiana.  Julgava estar só no local e a dor pela perda de Edna me consumia as entranhas; e mesmo tendo mantido seu corpo intacto envolto num esquife erguido com a energia de Eclipse, eu sabia que meu espírito só tornaria a ter luz no dia em que, de alguma maneira, eu pudesse trazê-la de volta à vida. Soturno, eu amaldiçoava o meu viver e olhava aquelas ruínas num luto infinito.

 Foi nessa hora que senti uma presença, voltei-me rapidamente e lá estava ele, o antigo Ministro de Calnat, Bardnard, a quem vocês conheceram por Astaroth. Era a primeira vez que eu estava frente a frente com um dos homens que mais desejei aniquilar como Líder do Clã do Leste. Levei imediatamente minha mão até Eclipse a fim de finalmente tornar real meu ensejo, mas ele pareceu não se intimidar com meu gesto e surpreendeu-me com suas palavras.

— “E se houvesse um meio de trazê-la de volta? Eu posso ajudar você... Venha, tenho-lhe uma proposta” …— ele disse sem desviar-me o olhar. Eu fiquei confuso, nunca havia visto aquele homem antes e, no entanto, ele sabia de Edna, de meu sofrimento, como que se pudesse ler minha mente, minha alma... Já havia ouvido rumores de que Bardnard era praticamente um deus, mas para mim isso não passava de uma crendice tola até então... Naquele momento, porém, e diante do que eu ouvi e de meu próprio desespero, eu hesitei e desisti de atacá-lo. Dei-lhe ouvidos.

Tornei-me um servo leal a partir de então e, sob suas ordens, esquecido do grande Líder que um dia fui, aguardei o momento certo para cumprir-lhe os comandos. Ele desejava governar Ernas, ele se dizia um deus e me fazia promessas com relação à Edna. Todavia, apesar de eu segui-lo fielmente, meu coração não lhe tinha confiança e me deixava inquieto. Mesmo assim, totalmente dominado por minha loucura, me deixei conduzir e segui adiante com seus planos. Foi quando a Grand Chase cruzou o meu caminho e quando me deparei frente a frente com aquele a quem Oz havia criado para me destruir e à Eclipse. – Duel fitou Zero diretamente e este lhe retribuiu um olhar frio. Sentia grande dificuldade em conter seu desejo de acabar com seu velho inimigo e percebendo que este o fitava sentiu-se ainda mais tentado em fazê-lo. A história que Duel contava diante das Majestades Reais de Canaban e Serdin, bem como todos ali, pouco lhe importava e nada do que ele até então dissera o comovera ou mudara seu objetivo. Duel matara Oz e era o portador de Eclipse. Destruir a ambos era tudo que sabia precisava fazer e cedo ou tarde essa seria sua sina.

— Não os temi — prosseguiu o Asmodiano sem alterar a voz —, mas a verdade era que Bardnard a cada dia parecia imergir mais e mais dentro de sua própria ambição cega, e a dúvida que provinha de meu coração passou a me dominar de forma mais concreta. Tardiamente eu percebi que havia sido enganado e que ele jamais cumpriria sua promessa.  E que, em contrário do que dizia, ele não desejava apenas governar a Ernas, mas sim ele desejava destruir o Mundo, e para isso, com o uso do Martelo de Ernasis, e da chave — ele olhou para Mari nesse instante. — E isso eu não podia permitir.  Por essa razão eu o traí, e não deixei que pusesse suas mãos profanas por sobre a jovem que detinha o segredo para ativar a devastadora arma. Grandiel então levou-o para seu exílio eterno dentro da Torre Fantasma — Torre das Ilusões — e, tomando para mim as lembranças da herdeira de Calnat eu deixei o local levando comigo a Bíblia da Revelação para que nunca mais pudesse ser utilizada com o propósito que Bardnard tencionara.

 No entanto, deparei-me em seguida com meu maior inimigo, Zero Zephyrum, e travamos uma feroz batalha, que se mostrou devastadora para ambos. Gravemente ferido no embate, escapei por entre um portal dimensional que criei, mas não consegui ir muito longe.  Sentia-me derrotado, não somente pelo fato de meu oponente ter-me quase derrotado, mas pela descoberta que havia tido ao ter comigo as memórias de Mari Ming Onete em relação à Bíblia da Revelação, e ter tido ciência de que, mesmo esse poderoso artefato não teria poder de trazer de volta à vida a mulher que eu amava.

Minhas esperanças haviam se perdido num vazio absoluto, e eu me dava conta de que nada mais me restava. Eu não tinha mais uma razão para lutar e nem tampouco para viver. E mergulhado na minha dor e nas trevas que se abatiam sobre mim, prostrado, desejei minha própria morte. Foi nessa hora que Dio me encontrou. Supliquei-lhe que me matasse, mas a jovem Rei também ali surgiu e impediu-o de realizar o que eu o havia pedido. E nesse momento, de forma surpreendente, pude ver Edna através dela... A esperança renasceu em meu coração. E com a ajuda deles dois então fugi para Astrynat a fim de procurar por seu Imperador, pois ele era verdadeiramente um deus e poderia realizar meu maior desejo... Como de fato o fez.

Sendo que foi em Astrynat que permaneci por longo tempo antes de regressar e me instalar junto às Ruinas e o Castelo de Calnat; e onde novamente reuni meu povo.

Zero voltou seu olhar para onde Dio e Rei estavam sentados sentindo o sangue ferver lhe.

— Então essa foi a verdade... Malditos mentirosos... — disse entre dentes recordando-se do que Rei dissera-lhe na ocasião em que perdera por completo o rastro de Duel.

— Então foi em Astrynat onde se escondeu por longos anos! – disse o Monarca de Canaban com voz extremamente séria.

— Por longos dois anos, para ser mais preciso, Majestade. No entanto os últimos meses que passei naquele continente foram como um exilado e não mais como um fugitivo. Recebi do honorável Alkyraz o perdão para meus graves erros e, como bem o sabe, isso me restitui a honra e a dignidade como um homem livre.

Alexyus III contraiu os lábios; se o que o General Asmodiano agora dizia fosse realmente verdade nada mais ele ou qualquer governante mortal de Ernas poderia fazer em contrário. Uma vez que uma decisão tomada por um deus com a benevolência de Alkyraz — que governou Astrynat seguindo fielmente os desígnios dos Supremos Deuses de Xênia — esta se tornava inquestionável e irrefutável.

— Eis o documento que comprova a veracidade do que digo. —  prosseguiu Duel tomando em mãos o pergaminho que sua esposa Edna o alcançava de forma solícita, e cujo Selo, formado por uma Runa Sagrada de tom ametista o mantinha lacrado. Um selo que só poderia ser aberto por aquele a quem fora destinado, por aquele que o concebeu e por Altos Sacerdotes, a cuja fé inabalável nos Deuses lhes outorgava tal direito. Nem mesmo um Soberano de qualquer Reino, fosse este reino Humano, Anão ou Elfo teria poder de abri-lo. Gentilmente ofertou-o às Suas Majestades Reais e Valiant I o tomou em mãos com cuidado. E junto de Saphyre observou-o repassando-o em seguida para Alexyus III, que fitou o Selo nele existente. Tentou abri-lo, mas este permaneceu inabalável. Vitória meneou negativamente a cabeça, de modo sutil, já imaginava que ele faria isso.

— Realmente se parece com o Selo Imperial de Astrynat. A Runa Sagrada Ametista, sob a forma de uma estrela era o símbolo do Governo de Alkyraz. Atron a substituiu por uma Fênix Negra. Mesmo assim como podemos comprovar sua autenticidade? O fato de eu não abri-la pode ser apenas algum truque Asmodiano...

— A essa questão nosso Ministro e Conselheiro Real, o Gram Mago Revyan poderá auxiliar-nos. – falou a Rainha Saphyre, sem alterações. E imediatamente o velho homem aproximou-se. Trajava uma longa túnica em tom violeta e seus cabelos grisalhos caíam lisos até a altura de seus ombros. Em sua mão direita segurava um longo cajado.  Fez uma mesura em cumprimento às suas Majestades e tomou em mãos o pergaminho, o qual prontamente abriu-se após o homem concentrar-se e proferir palavras em uma linguagem muito antiga; e ao abrir-se uma forte luz prateada emanou de cada ideograma ali contido – que caracterizava o idioma restrito das Divindades de Astrynat— e que, aos olhos dos verdadeiros sábios, se convertiam rapidamente no idioma usual de quem os lia. O sangue Imortal do Deus da Temperança Alkyraz lhes dava vida e o velho mago emocionou-se por ter em mãos algo tão Sagrado.

— Aqui diz – falou o Mago com voz visivelmente emocionada e pausada —, “Templo da Temperança, Amaky. ”.

“Em conformidade com o Tratado Intercontinental que delega ao Império de Astrynat o poder de Supremo Julgamento, e como Soberano deste Continente, representando no mundo mortal os desígnios do venerado Deus Governante Thanatos, eu, Alkyraz, Deus da Temperança, sentencio que o Asmodiano Duel Pon Zec doravante tem o perdão absoluto pelos erros cometidos em seu passado. Readquirindo todos direitos de livre trânsito neste e em todos os demais Continentes”.

“A lealdade de Duel Pon Zec, em juramento, agora me pertence eu o coloco sob minha proteção. Com meu sangue, eu assim determino e Selo este Decreto. Que em meu nome e do Deus Governante deve por todo sempre ser cumprido.”

Diante do que ouvira o Rei Alexyus remexeu-se em seu trono. Mesmo o Imperador Alkyraz já tendo deixado o Mundo Mortal ele era um deus e um deus benévolo e venerado por todos os povos. Ao contrário de Atron que havia traído a hierarquia de Xênia e que, com crueldade, se voltava contra seu próprio povo e contra todos os seres vivos de Ernas. Leal à sua fé nos Deuses, nada mais lhe restou a contestar e suavizou o modo como fitava Duel.

Valiant I permanecia em silêncio e observava a troca de olhares entre os membros da Grand Chase. Era evidente que a atitude do venerado Deus da Temperança surpreendera a todos, especialmente certo jovem de cabelos acinzentados que, incrédulo, mostrava-se um tanto inquieto. Zero realmente não esperava por isso e olhava para seu inimigo com real surpresa. Contudo, não deixaria nada mudar seus planos. Jurou destruir Duel e na hora certa o faria, querendo os Deuses ou não.

— Se o venerado Deus da Temperança, Alkyraz, lhe depositou confiança Senhor Duel, eu como Soberano de Serdin também assim o farei.

 — Majestade... —  disse Duel com reverência.

— Compartilhe com todos o que sabe a respeito das intenções de Atron e a oferta que tem a nos fazer. — Alexyus III nada disse e decidiu esperar e ouvir mais sobre o que o Asmodiano teria a lhes falar.

— Sobre o atual Governante de Astrynat eu não tenho muito a relatar que já não seja de vosso conhecimento, Majestade, pois ele se mantém recluso em seu Templo em Amaky. E tive grande surpresa ao deparar com a movimentação bélica que passou a existir em Astrynat poucos meses após ele assumir o trono. Eu havia tido pouco contato com o mesmo, no entanto, nas poucas ocasiões em que eu, no Templo de Alkyraz, o encontrei junto do Deus da Temperança ele se mostrou bastante altruísta e cordial. Muito diferente da imagem do deus frio com o qual me deparei há dois meses quando estive em Amaky...

Eu buscava respostas para o surgimento de grande contingente bélico em Arquimidia, Aton e Xênia e fui ter uma audiência com o deus por temer por meu povo. Atron me recebeu depois de certa insistência, o que já considerei um tanto estranho, e me disse que desconhecia totalmente o fato, que iria solicitar ao GCA que averiguasse tais acontecimentos... — Duel refletiu, e fitou Suas Majestades com seriedade – Percebi que Ele não estava sendo sincero e isso me deixou ainda mais desconfiado, pois o Deus da Misericórdia nunca havia tolerado inverdades. Seus olhos estavam frios e.... — ele hesitou um pouco antes de prosseguir — Mas apesar de diferente, eu senti uma estranha familiaridade nele... Como explicar? ... A energia do Deus da Misericórdia, sublime e branda, agora havia se convertido em algo tétrico e frio e essa energia me era por demais familiar... Eu já a havia sentido antes... Deve ser apenas uma impressão, pois o Mal agora o domina e ele próprio é o Mal....

— Prossiga. — disse o Rei de Serdin sem alterações.

— Deixei o Templo da Misericórdia pouco convencido e, observando o modo como as tropas imperiais se movimentavam e o temor nos olhos do povo de Amaky, decidi investigar mais a fundo. E não foi difícil descobrir a verdade. De fonte segura, acabei descobrindo que o GCA havia enviado alguns de seus Generais aos Continentes de Xênia, Aton e Arquimidia — juntamente de grandes destacamentos militares, a título de treinamento extracontinental e fortalecimento do Tratado de Defesa que permitia tais ações, mas por detrás desta fachada a realidade era que os mesmos haviam recebido ordens diretas do Divino Imperador para iniciarem uma investida contra aqueles Continentes. Apreensivo, retornei imediatamente para Arquimidia e fui ter com Herathor, o menino que mencionei haver salvo em Calnat e que hoje é meu Oficial de maior confiança. Pedi-lhe que reorganizasse nossas forças e as mantivesse de prontidão para um iminente enfrentamento contra as tropas sob o estandarte de Astrynat. E assim foi feito, mas felizmente, para meu povo, o ataque não ocorreu e as tropas passaram longe das Ruínas de Calnat. Sendo que seu maior contingente direcionou-se para Xênia, via Aton.

O relato de Duel era preciso e vinha diretamente de encontro com os relatórios entregues por Lothos às suas Majestades, o que endossava ainda mais a sinceridade do General Asmodiano.

— Confesso que não tencionava tomar partido na Guerra tanto em prol de Atron quanto dos demais Continentes, minha preocupação era unicamente proteger meu povo. No entanto, quando Dio e Rei me procuraram em busca de ajuda para a Grand Chase e o Exército Intercontinental de Vermécia, que estaria lutando bravamente contra um Exército absurdamente maior formado pelas tropas de Atron, recordei-me de Alkyraz, da grande bênção que ele havia me concedido ao trazer minha amada Edna de volta à vida e da promessa que lhe fiz... De meu juramento.

— Poderia nos dizer que promessa foi essa? — indagou Valiant I intencionalmente.

— Prometi, ajoelhado diante do Deus da Temperança, que nunca mais desembainharia Eclipse para meus próprios propósitos e que só tornaria a fazê-lo se fosse por uma causa maior e em nome do bem de toda Ernas ou da Dimensão Asmodiana, Elyos. Para, após, no momento certo, então deixa-la cumprir seu destino... — disse pausadamente, parecendo enfatizar as últimas palavras, e movimentou seu rosto levemente para trás fitando Zero, que o observava atento e tentava entender a verdade por detrás do que Duel acabava de dizer. Retendo o olhar de seu rival ele teve certeza de que, de alguma forma, ele se dirigia a ele. Certamente Duel se referia ao destino de Eclipse e do embate que teriam no momento adequado.  Duel desviou o olhar e desembainhou Eclipse, colocando-a horizontalmente à sua frente; e, ajoelhando-se, ergueu a mesma na direção dos Monarcas.

— Me coloco a disposição de Vossas Majestades para combater ao lado da Grand Chase e das Tropas Intercontinentais de Vermécia contra Astrynat. Ofereço-lhes o poder da Lendária Espada Eclipse e meu Exército.

Diante da atitude de Duel os membros da Grand Chase ficaram realmente surpresos e um tanto divididos quanto ao que pensar a respeito. Amy e Jin olhavam desconfiados para o mesmo, Ronan e Arme pareciam alegres com o que viam, Dio e Rey trocavam sorrisos enquanto que Mari apenas limitava-se a fazer uma anotação a respeito em meio a seus infindáveis cálculos; Sieghart permanecia pensativo e Elesis, em silêncio, tentava analisar a situação antes de manifestar-se. Ryan e Lire, por sua vez, mantinham os olhos fixos em Duel e nos membros da Realeza como que na expectativa da reação que estes teriam diante do que viam. Mas de todos o mais estupefato era Zero Zephyrum, que parecia não crer no que seus olhos viam.

Lothos fitou os membros da Grand Chase compreendendo lhes as dúvidas, como eles, também estava surpresa com o desenrolar dos fatos e, junto dos Membros das Cortes Reais de Serdin e Canaban e dos Altos Oficiais, ficou no aguardo do que Suas Majestades teriam a dizer a respeito da inusitada proposta.

Valiant I ergueu-se de seu trono e tomou em suas mãos Eclipse. E pôde sentir nitidamente o poder contido naquela bela e misteriosa Espada. Algo verdadeiramente infinito. E preparava-se para dizer algo quando a voz grave e austera do Monarca de Canaban fez-se ouvir novamente, dirigindo-se a Duel.

— E o que temos de ofertar em troca de sua lealdade, General Duel? Creio que não seja apenas altruísmo e reverência ao Deus Alkyraz que o compele, ou estou enganado?

O Rei de Serdin olhou rapidamente na direção do Ilustre Convidado, e havia um misto de surpresa e desagrado em seu semblante diante da atitude do mesmo; mas era pertinente a indagação feita por Alexyus e, firmando Eclipse pelo punho, colocando-a meio de lado para trás, decidiu aguardar a resposta de Duel Pon Zec antes de manifestar sua decisão final sobre a oferta feita pelo General, uma vez que tal assunto realmente não fora tratado com o mesmo durante a audiência privada que tiveram dias antes.

Duel olhou calmamente para o Soberano de Canaban e ponderou antes de dar sua resposta.

— Uma indagação muito sábia Vossa Majestade me coloca e usarei de sinceridade para respondê-la. De que forma estabeleceremos um Compromisso de Confiança se ainda persistirem dúvidas? Vossa Alteza questiona o que desejo em troca de minha lealdade e, de fato, há algo que gostaria de pedir-vos.

Alexyus III fitou-o e rapidamente e desviou seu olhar para o Governante de Serdin com um ar vitorioso de quem dizia: “Eu sabia!” “Era óbvio que ele iria querer algo em troca!”.

— E o que deseja de nós? – inquiriu Valiant I ignorando o olhar provocativo do Monarca.

— Nada que possa ofendê-los ou que esteja fora de vosso alcance, Majestades. As terras onde vivo com meu povo localizam-se entre o que restara do Antigo Reino de Calnat, seu próprio Castelo, bem como o território onde um dia existira o Antigo e Extinto Reino Angelical de Elyos, e esse vasto território legalmente se encontra sob os cuidados das Coroas de Serdin e Canaban, sendo de responsabilidade conjunta de ambos os Reinos. O que peço é que esta área possa se tornar de minha responsabilidade e que ali eu possa viver em paz com o meu povo. “E onde poderei cumprir finalmente a segunda promessa que fiz ao Deus Alkyraz...” — pensou, ocultando assim, ao menos por hora, seu mais nobre objetivo referente àquela localidade.

Valiant I fitou Duel com seriedade e Alexyus fez menção de dizer algo, porém foi a voz suave e doce da Governante de Serdin que se fez ouvir. Saphyre havia se erguido de seu trono, e se colocou ao lado de seu Rei; dirigiu-se a Duel:

— Realmente seu pedido, Senhor Duel é algo que traz-nos surpresa. Compreendo que visa o bem de seu povo e, como Rainha, entendo suas motivações. Contudo, é uma área relativamente grande em termos de e extensão territorial e o único território sob o Governo dos Homens na Região de Arquimidia. Os Reinos vizinhos pertencem aos Anões e aos Elfos. Temos ciência, no entanto, de que em termos populacionais o número de humanos naquela região é insignificante, não ultrapassando duas centenas de habitantes em um vilarejo próximo a Calnat, e que o número de Asmodianos naquela região é muito maior... Mesmo assim como olvidarmos desse povo?

— Eu compreendo vosso receio, Alteza, mas asseguro-lhe que continuaremos mantendo a mesma convivência pacífica com o vilarejo de Redar, em cujas terras se situam sobre os poucos vestígios do que fora Elyos Angelical. — argumentou Duel, com sobriedade.

— Não questiono sua conduta, Senhor Duel, mas a questão é deveras delicada e Canaban igualmente precisa ponderar a respeito.

— E Canaban assim o fará! — rebateu Alexyus com vigor. – Então este homem nos chega com a intenção de que, de livre e espontânea vontade, entreguemos-lhe tão vasto território. E quanto à glória de termos nosso estandarte esvoaçando naquele solo? O poder de um Reino se demonstra pela expansão de seus domínios. Que honra demonstraríamos abrindo mão do que é nosso por direito?

— A honra de quem possui a justiça e a sabedoria de governar. — interveio Saphyre, não se intimidando com a colocação de Alexyus. Este a fuzilou com o olhar, mas antes que pudesse acrescentar algo sua Rainha tomou a palavra.

— Sabedoria e justiça com certeza são os elementos mais preciosos de que precisamos dispor para tratarmos a essa tão delicada questão. E como Soberana de Canaban, eu creio que devemos analisar profundamente a situação antes de tomarmos uma decisão. Tanto Canaban como Serdin são Reinos prósperos e peço ao meu estimado Rei que pondere minha colocação antes de decidir algo. – Alexyus a olhou, e seus olhos pareciam labaredas; era evidente que estava contrariado.

— Concordo plenamente com as palavras de Alexyus no que se refere à importância de levarmos nossa flâmula a outras terras, contudo em se tratando da Região de Calnat eu não vejo razão lógica de mantermos um território onde nenhum cidadão de Canaban mantenha residência, mesmo que a título de ostentar a expansão de domínios... — O Rei a fitou furioso, o cenho franzido, definitivamente não conseguia entender tamanha ousadia por parte de sua consorte.

— Possuímos terras, Condados e Ducados o suficiente para que inúmeras gerações possam encher-se de honras e glórias. – prosseguiu ela sem alterações. E isso é um fato concreto. – ela parou por um momento fitando o olhar tétrico de seu esposo e, tentando manter-se calma, decidiu abreviar seu discurso. Tinha ciência de que, por certo, o marido não lhe seria nada gentil quando finalmente estivessem de volta ao Reino, mas iria até o fim no que desejava colocar.

— Não faz muito tivemos uma séria reunião com nosso Ministro e com os Conselheiros Reais e, definitivamente, Calnat, bem como todo aquele Território, é um peso morto para Canaban. O Rei tem conhecimento disso, e creio que o mais sábio seríamos deixar a decisão final para Serdin.

— Pois que seja! — disse Alexyus, a voz repleta de alteração. — Canaban não precisa daquelas terras.

Vitória sentou-se e Alexyus apertou-a no braço discretamente. A cólera do Rei era imensa.

Valiant meneou a cabeça e Saphyre fitou o marido aguardando sua decisão final.

Sentindo o sangue ferver em sua testa, o Imortal, que até então observava silencioso, mas de forma atenta, os rumos para o qual se dirigia a situação, levantou-se de sua cadeira num súbito e, sem formalidades ou menor reverência, dirigiu-se às Majestades Reais, com seu jeito costumeiramente insolente. – Algo tolerado pela Monarquia de ambos os Reinos visto os grandes feitos de Sieghart no passado.

 — Acho que essa decisão quem deveria tomar é a verdadeira herdeira do trono de Calnat! – gritou o Imortal. — Ninguém mais!

Ouvindo-o, Mari surpreendeu-se e desviou rapidamente o olhar de seu bloco de anotações para fitar seu amado, cujo brilho no olhar reluzia feito um clarão em meio a nuvens cinzentas. E pôde sentir que o olhar de todos ali presentes, repentinamente, caíram por sobre si. Ao menos por parte daqueles que lhe conheciam a verdade.

 Um silêncio sufocante e sepulcral recaiu sobre o recinto como que um manto frio e gélido na mais escura das noites.

Continua...


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Notas finais do capítulo

E a Grande Conferência Real aproxima-se de seu fim, deixando para o próximo episódio muitas expectativas... Qual será a decisão tomada por Mari, a princesa herdeira do extinto Reino de Calnat? E qual será o rumo que a Grande Coalisão Militar representada pelo Exército Intercontinental de Vermécia - sob Ordens diretas dos Grandes Soberanos dos Reinos de Serdin e Canaban - tomará no intuito de combater o terrível mal representado pelo nefasto Deus Atron.
Estejam preparados para fortes emoções, pois muito ainda está para acontecer antes do encerramento deste primeiro Livro!



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