Tarô escrita por Manga Albina


Capítulo 3
Fim




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Capítulo 3 –... E Fim

Centro de Pesquisa de Jump City. Vazio... Ou era o que parecia.

Dentro de uma sala cheia de computadores, a um canto, a tubulação de ar se abriu com estrépito.

Ouviu-se um miado de contentamento e, deslizando pela abertura, desceu uma moça.

Ela vestia um collant como um maio tomara que caia (decote princesa), uma bota de salto até os joelhos, faixas amarradas desde o punho até o cotovelo e uma máscara com orelhas que cobria metade da cabeça, tudo em preto. Se prestasse atenção veria uma cauda remexendo e bigodes nas bochechas como um gato de verdade.

- Rrrriau! É mais fácil do que pensei... – pôs as mãos na cintura e tombou a cabeça – Onde estão os Titans?

- Bem aqui – a garota se virou pra seis vultos à sua direita

- Rrrriau! – riu e olhou para eles – Que prazer Titans!

- Não podemos dizer o mesmo – respondeu uma morena parecida com uma cigana

- É uma pena – deu de ombros – Mas podiam ter chegado mais tarde... Ainda nem cometi meu crime.

- Você INVADIU uma propriedade – o de cabelos espetados falou

- Como podem recriminar uma garota por querer aprender? – riu e saltou sobre um dos computadores

Os titans partiram sobre ela e começaram a lutar.

A garota parecia se divertir e se esquivar com agilidade e flexibilidade. Em nenhum momento atacou.

- Quem é você? – perguntou o meio robô irritado, durante uma pausa.

- Ow! Achava que minha roupa era auto-explicativa! – fingiu-se de triste – Isso nunca acontecia com a minha mãe.

- Do que você está falado? – perguntou o verdinho

- Não é óbvio? – perguntou irônica uma garota pálida

- Sou filha da Mulher-gato – riu a vilã – Pode me chamar de CatGirl.

Ela fazia acrobacia sobre os titans que tentavam atacá-la.

- Olha a hora! – exclamou fingindo olhar um relógio de pulso – O tempo voa quando a gente se diverte, mas eu tenho que ir... Até mais Titans!

Assim como um felino de verdade, a vilã saltou sobre eles, caiu nas “quatro patas” e se pôs a correr para fora seguida dos heróis.

Pulou a janela assim que chegou ao fim de um corredor.

- CARA! Ela é louca! Estamos no 2º andar! – exclamou Mutano apoiado no peitoril assim como os outros.

- É uma felina, não tem por que temer alturas – respondeu Arcana, a cigana.

Continuaram a persegui-la por alguns terraços de prédios, mas não conseguiram pegá-la.

- Droga, a vilã fugiu – resmungou Mutano

- Pelo menos não levou nada – respondeu Estelar tentando animar os outros.

- É isso que me intriga – Robin coçou o queixo – Por que ela abandonou o plano tão rápido?

- Talvez ela volte – respondeu Ciborgue encerrando o assunto.

A felina olhou para os dois lados com os olhos aguçados e sorriu (como Cheshire talvez)

Desceu por uma passagem escondida e andou por um corredor escuro.

- Como foi a missão? – ouviu uma voz grave no fim deste.

- Sonda grudada, agora é só acessar o computador por aqui – respondeu parando atrás de um vulto.

O vulto se mexeu na direção da luz e pode-se ver a máscara cobre e preta.

- Muito bem aprendiz.

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Os titans voltaram cansados para a torre, imaginando em silêncio o que a vilã felina queria no Centro de Pesquisa, mas estavam tão cansados pela luta em vão que não tinham disposição para conversar e partiram para seus quartos.

Enquanto Arcana entrou rápido no quarto que dividia com Estelar, a amiga parou na soleira e olhou para o quarto atrás de si onde o líder estava na mesma posição que ela.

A festa havia sido anteontem e ainda não tinha decidido o rumo que tomaria a decisão deles.

A garota sorriu para ele e se virou definitivamente, ficando frente a frente.

- E então, Robin? Como vai ser? – perguntou sem saber o que falar

- Como você quiser... – sorriu

- Eu esperava um pouco mais de romance da sua resposta – riu suavemente.

O garoto se aproximou dela e lhe tomou a cintura.

- O que você esperava? – sussurrou-lhe no ouvido

- Quem sabe um pedido oficial – respondeu a garota arrepiada.

- Estelar – ele se afastou para olhar seus olhos – Quer namorar comigo?

Ela mordeu os lábios por um minuto, num sorriso mal contido, e balançou a cabeça afirmativa. Ele sorriu e lhe deu um último beijo antes de entrar em seu quarto.

A garota, levemente atordoada, foi para seu quarto descansar.

Mal dormiram algumas horas quando o alarme soou novamente.

Todos desceram para a sala correndo e pararam de chofre na frente do computador onde aparecia Slade no vídeo-fone.

-Olá Titans! – cumprimenta com aquela tão conhecida ironia

- Slade! – o garoto prodígio exclama se apoiando na mesa do grande computador – O que você quer?

- Dar um oi para vocês e apresentar minha nova aprendiz – do lado dele aparece a jovem felina da noite anterior – Creio que já conheceram ela.

- Bom dia Titans! Fico feliz de encontrá-los mais uma vez – sua risada parecia um miado – Ainda mais num espaço de tempo tão curto.

- O que vocês estão armando? – perguntou Ciborgue

- Oras, só mais dia de trabalho – a garota piscou rindo – Tenho certeza que vão gostar da nossa surpresinha... Vou lhes dar uma dica: tem haver com nosso último encontro.

- Até mais titans – a tela escureceu mostrando que eles haviam desligado a conexão.

- O que será que Slade e a gata estão aprontando? – perguntou Mutano coçando a cabeça

- O que quer que seja não é bom – respondeu Robin de costas para turma. Ele se vira – Vamos nos separar (N/A: para procurar pistas! XD) e descobrir logo o que eles planejam. Mutano, Ravena, vocês irão vasculhar a cidade à procura do esconderijo dos dois – ambos concordaram e saíram para o trabalho, Mutano transformado em um pássaro – Ciborgue e Arcana ficam aqui e rastreiam o computador – os dois já começam a procurar – Estelar, eu e você iremos ao Centro de Pesquisa ver o que a CatGirl poderia querer por lá.

Cada um foi em seu destino na busca de pista para a ação de Slade e CatGirl.

Ravena usava seus poderes sensitivos para procurar os vilões pela cidade, seguida de Mutano, agora na forma de um cão sabujo, que farejava.

Parado perto da pizzaria, Mutano sentiu um cheiro diferente e olhou em volta. Pôs os olhos em uma bela loira parada ali do lado, observando-o com um sorriso.

Foi até ela meio abobalhado.

- O que uma garota tão linda faz aqui sozinha? – perguntou sorrindo

- Esperando o cara ideal – piscou passou os dedos pelo rosto do metamorfo que se derreteu - Você é um dos titans não é? Aquele que se transforma? – ele mal conseguia responder – Poderia virar um gatinho? Sabe, adoro gatos – piscou mais uma vez.

Encantado pelo sorriso dela, se transformou em um belo gatinho e se esfregou nas pernas da loira. A garota só riu e tomou o felino nos braços.

Antes que Mutano pudesse fazer qualquer outra coisa, ela o jogou dentro de uma caixa (que pode perceber depois que o impedia de se transformar) e o entregou a um carro.

- Um já foi... – disse a um ponto em sua orelha.

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Na torre, Ciborgue e Arcana procuravam qualquer pista no computador, como câmeras de seguranças, fichas de vilões e etc. quando ouviram a campainha.

- Vou ver o que é – disse o meio robô à garota – Fique e procure mais informações.

Desceu até a porta onde havia uma entregadora de pizza.

A ruiva, vestida com o uniforme da pizzaria e com um boné com o símbolo da empresa, tinha a pizza em uma das mãos enquanto a outra estava na cintura, levemente inclinada. Mascava um chiclete despreocupadamente (N/A: eu sei, vocês irão dizer “É de manhã, não funcionam pizzarias!” Mas americano come pizza qualquer hora do dia, então vamos fingir que lá fica aberto 24h).

- Tenho uma pizza para... – olha no papel sobre a pizza – Ciborgue.

- Sou eu, mas não pedi nenhuma pizza – respondeu desconfiado.

- Mas moço, eu tenho certeza que é para a Torre Titan – a moça lhe estende a pizza – Não pode ao menos dar uma olhada?

Ele toma a pizza e abre a tampa. Dela pulam correntes de aço tão fortes que ele não consegue se soltar.

Saído sabe-se lá de onde, aparecem cordas que caem de um helicóptero onde a garota prende Ciborgue.

Assim que o veículo voador se vai, ela tira o boné e fala em um ponto no ouvido esquerdo.

- Só falta um...

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Robin e Estelar chegam ao Centro de Pesquisa de Jump City e entram na sala onde CatGirl invadiu.

- Tem que ter alguma coisa aqui que não tenhamos visto... Algo que passou despercebido – resmungava o líder enquanto rondava os computadores.

- Que tal refazer os passos dela na noite anterior? – comentou a ruiva indo até a tubulação de ar.

Refizeram os passos da gata até o computador a esquerda da tubulação.

Sentaram-se na máquina e a ligaram.

- Boa tarde – a dupla de heróis se virou para uma morena parada à porta, vestida com um jaleco, os cabelos em coque e os olhos emoldurados por óculos – O que fazem aqui, Titans?

- Boa tarde, estamos procurando pistas de uma vilã que invadiu o Centro de Pesquisas ontem à noite – respondeu o líder

- Ah sim, fiquei sabendo da invasão... Sou a Dra. Kyle, cuido deste setor.

- Dra, poderia nos informar que setor é esse? Talvez nos ajude a entender o porquê da vilã vir para cá – perguntou Estelar.

- Aqui é o setor de controle da barragem que fica entre Jump City e True City – seu sorriso foi estranho ao responder, mas depois se apoiou sobre o computador deles e lhes mostrou alguns controles – Aqui controlamos a vazão de águas, as comportas, produção de energia e tudo mais.

- Obrigado Dra. – o garoto agradeceu e se voltou para a parceira – O que CatGirl iria querer com uma barragem? E mais, o que SLADE iria querer com uma barragem?

- Olha! – Estelar apontou um mapa na tela – O sentido da corrente do rio vem direto para Jump City e com a quantidade de água presa pela barragem, poderia inundar tudo aqui!

- É mesmo! –exclamou o jovem se levantando – Temos que encontrar os outros e ir para a barragem. Talvez possamos fazer algo de lá.

Estelar saiu na frente, mas Robin se deteve um momento.

- Gostaria de agradecer mais uma vez, Dra.

- Não foi nada... – riu – Espero que detenham os bandidos.

Quando ia sair, ele se virou de novo e a observou inquisidor.

- Não disse que eram BandidOS.

- Não? –ela fez uma careta – É que não pude deixar de ouvir a conversa...

- Tem algo de estranho no seu jeito de falar... – a morena riu e fez-se a luz na cabeça no líder titan – CatGirl!

Antes que pudesse lutar contra a vilã, caiu desacordado por um gás do sono e só pode ouvi-la dizer as últimas palavras.

- Boa noite, Robin! – e tudo ficou escuro.

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- Gente! Temos um problema! – disse Arcana pelo comunicador – O Cib sumiu!

- Mutano também desapareceu e eu já procurei em toda parte – disse Ravena

- Robin também não veio comigo – respondeu a ruiva – Alguma coisa está errada, mas vamos nos juntar na torre e pensar.

Depois de se reunirem na torre as meninas começaram a imaginar o que aconteceu.

- O Mutano sumiu um pouco depois de sairmos, perto da pizzaria e eu detectei uma presença estranha com ele – disse a de cabelos roxos

- Cib sumiu depois que foi atender a porta, pelo interfone ouvi que era da pizzaria – disse Arcana andando de um lado para o outro – Então os sumiços estão ligados

- Mas Robin não sumiu com nada referente à pizzaria – ponderou a tamaraniana – Estávamos no Centro de Pesquisa quando a Dra Kyle veio nos ajudar...

- Espera! – a cigana se virou para ela – Você disse Kyle? – a outra só assentiu – Já sei quem é! – se sentou na frente do computador e digitou ferozmente até encontrar o que procurava – Vêem? Selina Kyle era a Mulher-Gato até que abandonou a vida de crimes e se casar com (pasmem!) o Batman! A filha deles é Helena Kyle-Wayne, conhecida como Caçadora.

- Mas a Caçadora não era heroína? – perguntou Ravena se debruçando sobre o computador do lado da amiga.

- Pelo visto resolveu mudar de lado – comentou Estelar irônica – Tenho certeza de os sumiços estão ligados... Foi ela que capturou os três bem debaixo dos nossos narizes!

- Podemos ir atrás dela... Tenho a impressão de que senti presenças perto do parque e também bate com o caminho pela qual perseguimos a gata ontem – disse Ravena se levantando – Vamos atrás deles!

Saíram da torre na direção do parque.

Ao chegarem o local parecia muito vazio... Vazio demais...

- Cuidado garotas – disse Arcana pegando uma de suas cartas – Podem estar armando uma cilada para nós.

- Você acha? – comentou irônica Ravena, descendo por uma passagem que encontrara.

Preparadas e atentas, as garotas avançaram por um corredor escuro até ouvirem vozes.

- Bem vindas Titans! – a gata estava deitada de costas, com a cabeça para fora do degrau, brincando com um novelo de lã, e se levantou – Como vão?

- CatGirl, querida! – disse Arcana jogando uma carta. Do brilho apareceram cães a seu lado – Ou deveria chamá-la por seu antigo nome, Caçadora?

- Há quanto tempo não sou chamada assim – riu – Mas os tempos mudaram...

- E se tornou uma vilã? – pergunta Estelar indignada

- Não diria vilã... Quem sabe antagonista – sorriu como Cheshire – Mas o meu negócio não é fazer maldades... É só me divertir...

- Inundar Jump City e capturar nossos amigos é diversão?

- Quanto à inundação eu não sei, mas pegar seus adoráveis amigos foi extremamente divertido – riu – Não querem vê-los? – antes de receber a resposta, estalou os dedos e um facho de luz iluminou os três amarrados com correntes de ferro impossíveis de quebrar. Ela se sentou no colo de Robin (que estava no meio) e se esticou sobre os outros dois – Tê-los como companhia é absolutamente agradável, ainda mais que ficaram tão apegados a mim.

- Solte-os agora! – disse Ravena – E onde está Slade?

- Olá titans! – uma voz saiu das sobras atrás dos meninos, onde apareceu a máscara – Que bom que vieram se juntar á nós.

- Slade desista de seu plano! Não vai inundar a cidade sob nossos cuidados!

- Não vou? – levantou um dispositivo com um botão

As três avançaram sobre ele, tentado tirar o objeto de suas mãos, mas a gata pulou sobre elas e jogou todas na parede oposta.

Logo começou uma batalha onde Ravena e Estelar lutavam com Slade enquanto Arcana e seus cães lutavam com CatGirl.

O embate parecia que ia durar muito tempo e os garotos, angustiados só podiam observar.

Em um momento, o dispositivo caiu da mão do vilão. Para tentar recuperá-lo, CatGirl se jogou sobre ele, mas um dos cães de Arcana foi mais rápido e o quebrou com os dentes.

Tendo perdido o objeto, CatGirl dá uma volta rapidamente e imobiliza a heroína, fazendo com que os cães sumissem.

- NÃO! – o olho de Slade por trás da máscara dilata – Sua estúpida! Perdeu meu controle!

- Não fale assim comigo! – a gata fez um chiado como um felino real faria ao ficar bravo.

- Você é minha aprendiz! Falo com você como quiser!

- Ah é? – ela soltou Arcana, saltou para perto dos garotos e os soltou, mas logo ficou bem fora de alcance - Vamos ver o que faz sem mim...

O vilão nada pode fazer contra os seis heróis que partiram sobre ele e o subjugaram.

- Sua traidora! – rosnou o vilão preso

- Não posso ser traidora se jamais fui fiel à causa – riu ainda sobre uma viga no teto

- Vocês não vão me levar – sem saber como, o lugar começou a desmoronar e, em meio à confusão, Slade foge.

Já fora do esconderijo, no parque, vêem a gata apoiada sobre os galhos de uma árvore, displicente.

- Por que nos ajudou? – perguntou o líder desconfiado

- Não ajudei vocês... Só fiz o quis! – ela sorriu para eles. O rabo atrás dela balançando de leve – Ninguém manda em um felino!

- Mesmo assim, obrigado.

- Ainda nos veremos mais vezes, titans – piscou – Até lá, Adeus!

E sumiu entre as folhagens da árvore.

- É uma pena que ela realmente tenha decidido não ser mais heroína – comentou Mutano – É muito boa nisso.

- Como pode dizer isso? – rosnou Ravena a seu lado – Ela seqüestrou vocês e ajudou Slade com o plano dele!

- Mesmo assim ela nos ajudou no fim... – respondeu meio acuado

- Mas você viu o que ela disse, não fez para nos ajudar! – ela se virou e foi sozinha para a torre, voando

- O que foi que eu disse de errado? – perguntou aos amigos.

Estelar e Arc sorriram.

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Em um beco escuro, o vilão Slade estava nas sombras, cheio de machucados.

- Posso cuidar disso pra você – ele se virou pronto para atacar quando viu uma mulher a seu lado sob um manto – Não tenha medo, não vou feri-lo.

- Não se pode confiar em ninguém.

- Talvez não – a mulher tirou o capuz e sorriu para ele. Seus longos cabelos negros escorriam sobre as costas – Mas confie no destino.

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- Ainda não entendi o que foi que eu disse de tão ruim! – Mutano cruzou os braços.

- Você é um estúpido mesmo – a cigana balançou a cabeça rindo – Vamos? Não pretendem ficar ai, não é?

Como não tinham condução e os que voavam da equipe estavam muito cansados para fazê-lo, foram a pé para a torre.

O rapaz verde ainda continuava pensando na atitude de sua amiga.

Bem, não podia se dizer que eram realmente amigos, afinal ele vivia apanhando da empata ou coisas do gênero devido as piadas que contava.

No início tinha certa desconfiança, pois a garota era muito fechada e pouco se sabia sobre ela, mas depois daquela vez em Never More ele a conheceu melhor.

Agora queria vê-la sorrir a qualquer custo e não sabia nem o porquê... Havia alguma coisa que mesmo com a distância que ela impunha, o atraia.

Ao chegarem a casa, estava resoluto a concertar o que quer que tivesse feito, mas quando ia se encaminhar para o quarto da empata, as meninas o seguraram.

- Onde pensa que vai? – perguntou Arcana segurando seu braço esquerdo.

- Tenho que falar com a Rae.

- Não, não! – exclamou Estelar em seu outro braço – Nós três teremos um dia de folga hoje...

- Ou seja, VOCÊS ficam aqui e cuidam de tudo e NÓS vamos sair um pouco.

- Se precisarem de nós, estaremos com os comunicadores, mas só se for REALMENTE NECESSÁRIO – as garotas então passaram a sua frente e entraram no quarto da amiga.

Sem alternativa, o metamorfo desceu para a sala com as orelhas abaixadas.

No quarto, Estelar e Arcana estavam paradas à porta, com os braços cruzados, lado a lado, encarando a amiga. Esta fingia não notá-las e continuava a meditar sobre sua cama.

- Ravena – Jas quebrou o silêncio, chamando a atenção da empata – Vamos sair.

- Não obrigada, vão vocês...

- Você não está entendendo, querida amiga Ravena – diz a ruiva – Não foi um convite. Foi uma ordem.

- E quem são vocês para me obrigar a alguma coisa? – retrucou sem perder sua habitual calma.

- Suas amigas super heroínas com poderes tais a te levar conosco E... – a cigana começou antes que ela abrisse a boca – Mesmo que você seja uma super heroína poderosa TAMBEM, somos duas.

- Não queremos te obrigar – disse Estelar se sentando na cama ao lado dela – Mas faremos se for necessário... Precisa sair da torre um pouco, todas nós precisamos, para espairecer.

Ravena olhou uma e outra alternadamente e por fim suspirou resignadamente.

As duas sorriram e a arrastaram para fora.

No parque, sentadas tomando sorvete, elas conversavam animadamente. Bem, quase, pois a de cabelos roxos somente emitia poucas opiniões e revirava os olhos com as risadas delas.

- Ravena, solte-se mais! – Jasmim estava sentada na grama de frente para as duas no banco – Não precisa ser tão séria assim.

- Preciso, pois meus poderes são à base de emoções. Se eu sentir, eles se descontrolaram.

- Estelar também tem poderes que funcionam com emoções e nem por isso deixa de sentir... Na verdade, acho até que é mais fácil para ela e a deixa mais forte liberar essas emoções.

- Isso mesmo, alem do que, você sente sim, ou senão não poderia ler já que exige seu CONHECIMENTO, tomar decisões que exijam SABEDORIA ou brigar o amigo Mutano com tanta RUDEZA.

A empata parou e pensou no que elas haviam dito.

- Mas a natureza de nossos poderes são diferentes...

- Não acho – respondeu Estelar resoluta

- Talvez Rae, a questão seja administrar as emoções de forma a equilibrá-las, mas não ignorá-las.

- De qualquer jeito estou muito bem assim. Que sentido prático teria sentir? – perguntou a garota com a calma levemente alterada.

- Você iria poder admitir o que sente pelo Mutano – Arcana sorriu maliciosa.

- Quem disse que eu sinto alguma coisa por aquele garoto verde idiota?! – olhou de lado para a amiga, quase à fuzilá-la.

- Você... Dá sinais disso! Sabe, como o ciúmes do comentário dele sobre CatGirl.

Ravena só continuou a fuzilá-la com os olhos.

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- Ei Mutano, sente-se com a gente! – o amigo robótico chamou, sentado ao lado do líder em frente à TV – Está passando um daqueles programas de comédia que você adora!

- Não to muito a fim não – o garoto se jogou no meio deles, ainda com as orelhas abaixadas

- Cara, o que aconteceu com você? Desde que voltamos você está assim... – os amigos se voltaram para ele

- Aconteceu algo que não saibamos? – o líder franziu as sobrancelhas

- Não... É só a Ravena...

- O que você fez pra ela?

- Eu! Por que tudo eu? – Mutano cruza os braços, indignado – Foi ela que surtou!

- Com certeza você disse algo que a irritou... - Ciborgue revirou os olhos – Falando nisso, onde estão as meninas?

- Saíram – retrucou – Mas eu não disse nada! Só comentei que a CatGirl podia fazer parte da turma...

Os dois se entreolharam e sorrisos idênticos se abriram em seus rostos.

O rapaz verde não conseguia entender.

- O que foi? O que eu disse?

- Não, só pode ser loucura... – começou Ciborgue

- Realmente, tal coisa não faz sentido... Afinal, é a Ravena... – continuou o líder se levantando e começando a andar em círculos com as mãos para trás – Mas não parece fazer sentido?

- Improvável...

- O que vocês estão falando? O que é improvável? – Mutano estava ficando irritado de não receber respostas enquanto seus amigos conjecturavam sobre algo que não sabia

- Ravena... Essa ação dela não parece... Como eu posso dizer? Ciúmes? – Robin parou de frente para o companheiro de equipe

Por um momento o garoto não respondeu.

Era uma hipótese ridícula e completamente improvável, mas por que parecia tão atraente?

O metamorfo não conseguia suprimir a felicidade que crescia de imaginar que aquilo fosse verdade.

- EEii!! Ei! Mutanoooo! Você ta ai? – o robô bateu na sua cabeça algumas vezes o fazendo acordar

- Hãm? O que? – balançou a cabeça – Ah sim... É ridículo! Por que Ravena ia ter ciúmes e ainda mais de mim?

- Foi só uma suposição e até que faz sentido se nós esquecermos quem ela é.

- Mas lembre-se que é a Ravena! A garota mais fria e concentrada do planeta, alguém que não se deixa levar por nenhuma emoção... Alem do que ela me odeia! – o rapaz que tinha levantado no calor de sua resposta, se deixou cair novamente no sofá, levemente triste

Os outros dois amigos se encararam mais uma vez e sorriram maliciosos.

Robin se sentou ao lado do metamorfo e ambos, ele e Ciborgue, colocaram os braços em volta dos ombros de Mutano.

- Cara... Tem alguma coisa que você não nos contou? – perguntou o meio robô ainda com aquele sorriso faceiro no rosto

O rapaz verde olhou um e depois o outro, meio alarmado e pulou pra fora do sofá.

- Nãããããão... Por que eu teria alguma coisa pra esconder? – coçou a cabeça – Se eu tivesse algo pra falar sobre a Ravena eu diria... Vocês são meus amigos não é?

- Mutano, Mutano... – os amigos começaram a cercá-lo – Não esconda nada de nós!

- Eu não... Ah! – os amigos o prenderam e começaram a atacá-lo com cócegas.

O pobre metamorfo ria descontroladamente sem conseguir fugir dos amigos.

- E então cara, vai confessar alguma coisa á gente?

- Tá bom! Tá bom! Mas me soltem! – o garoto, respirando com dificuldade se soltou no sofá – Eu...

- Fala logo verdinho! – o meio robô batia o pé no chão com impaciência

- Eu... Acho que...

- Você gosta da Ravena? – perguntou o líder antecipando o amigo

- Bem... – coçou a cabeça vermelho – É...

Os titans se entreolharam e começaram a rir descontroladamente.

O verde só cruzou os braços e bufou com indignação.

- Quem podia esperar? Nosso amigo verdinho apaixonado pela rainha do gelo? – ria Ciborgue juntado as mãos com cara de apaixonado (ou idiota)

- Que coisinha mais fofa! Nosso amigo está crescendo! – Robin apertou as bochechas dele.

- Ah chega! – bate a mão nas mãos do líder – Qual o problema? Você só foi se acertar com a Estelar agora, mas é louco por ela desde que se conheceram! – o líder ficou vermelho e o metamorfo se virou para o melhor amigo – E você ta doidinho pela Jas, mas nem foi falar com ela ainda!

O silêncio reinou por alguns minutos em que eles evitavam se encarar, mas pouco a pouco eles se mexeram e sentaram-se novamente em seus lugares, lado a lado.

- Hãm e ai? – o robô quebrou o silêncio – O que você vai fazer? – perguntou para o amigo verde.

- Nada oras... O que eu posso fazer? – suas orelhas murcharam

- Eu acho que você devia tentar alguma coisa, afinal ela demonstrou ciúmes de seu comentário – disse o líder coçando a nuca.

Mutano não teve tempo de responder, pois o alarme da torre tocou e os titans correram para o computador ver o que aconteceu.

Uma joalheria estava sendo roubada.

Com o carro T, chegaram até o local e qual o seu espanto de ver CatGirl saindo da loja com uma sacola.

- Fazendo compras, CatGirl? – a garota se virou e viu o líder titan.

- Olá Titans, que surpresa vê-los! Sabe como é... Ás vezes uma garota precisa fazer umas comprinhas – riu daquele jeito que parecia um miado – Mas onde estão as adoráveis damas amigas suas? Fazendo comprinhas também? – piscou para eles

- Não precisamos incomodá-las pra acabar com você! – Mutano se transforma num cão e salta sobre ela.

A moça só se esquiva e ele bate com a cara no vidro.

- Tsc Tsc, que feio! Nem terminei de falar... – se vira para os outros dois – Estava fazendo compras com minha mais nova amiga – ela sorri como Cheshire – Acho que vocês a conhecem.

Da porta da joalheria, com mais uma sacola de coisas, aparece Terra, mas a garota parecia diferente, mais com cara de vilã.

- E ai galera? Passeando pela cidade? – seu tom coloquial tinha algo de troça, que irritou ainda mais Ciborgue e Robin, furiosos por rever a “colega”

- Terra! Achei que você tinha desistido de seus poderes – o líder torceu os punhos encarando a loira.

- Pois é! Descobrir que posso fazer deles algo útil – ela riu

- Como roubar? Você não aprendeu que não deve ficar do lado dos vilões? – Ciborgue tentou socá-la, mas uma parede de terra apareceu em sua frente.

- Não diria vilões... – ela se virou para Mutano, ainda no chão e atônito – Olá Mutano, feliz em me ver?

Ele não pode responder por que Robin a acertou na barriga com um chute e eles começaram a lutar enquanto Ciborgue partiu para a gata.

O metamorfo não conseguia se mexer, ainda perplexo de reencontrar a ex colega e amor.

Pensou em todos os momentos que tiveram juntos e em como ele gostara dela.

- Mutano! Faz alguma coisa! – o líder gritava enquanto se esquivava de pedaços de terra – Ou chama as meninas!

Voltando a si, o garoto pegou o comunicador e chamou as amigas. Depois partiu para ajudar Robin.

- Vocês não podem me vencer, mesmo juntos! – a loira ria do esforço dos dois de tentar acertá-la, mas se desviando dos projéteis que ela mandava

- Que tal se eu fizer isso? – Terra se virou para ver Ravena, Estelar e Arcana.

A loira só riu e mandou uma rocha gigante sobre elas, mas elas conseguem escapar.

Lançando algumas pedras sobre Robin e Mutano, consegue prendê-los no chão.

As garotas começaram a lutar com as vilãs, sendo que Estelar e Arcana se juntaram à Ciborgue.

- Ravena! – a loira fingiu surpresa ao ver a empata se encaminhar calmamente até ela. – Bom vê-la, querida.

- Não posso dizer o mesmo.

- Então faça como eu... Minta – a loira riu de sua própria piada, mas a de cabelos roxos não alterou sua expressão – Ora Ravena, qual o problema de uma piada?

- Você por inteiro me irrita, não só sua piada.

- A rainha do gelo se irrita por que sabe que eu sou melhor que você – ela sorri - Sempre fui e sempre serei. Por isso que os titans preferiam a mim.

- E você foi uma estúpida que jogou tudo isso no lixo por causa de Slade.

- O que mais deve te irritar é o fato de Mutano amar a mim, não é? – colocou a mão no queixo, apoiando-a com o outro braço.

A expressão de Ravena pouco se alterou, mas os que a conheciam sabia que ela estava começando a ficar brava.

Com os olhos brilhando negro, Ravena lançou uma caçamba de lixo próxima contra a garota, mas foi parada por uma parede de concreto.

A partir daí as duas começavam uma luta ferrenha a qual ninguém ousava se intrometer. As garotas se digladiavam ora com os poderes, oras com socos e chutes, tentando ferir a adversária.

Fazendo uma grande mão de terra sair do chão, Terra prendeu Ravena.

- Agora eu finalmente vou dar fim nisso! Sabe que eu nunca gostei de você, não é Ravena?

- A recíproca é verdadeira – mesmo presa e quase indefesa, a empata não ia se entregar.

- Isso acaba aq... – a vilã não pode terminar, pois um bode a acertara, lançando-a longe (onde Robin fez o trabalho de prendê-la)

O bode se transformou em gorila, quebrou a mão de terra que segurava Ravena e voltou ao estado normal.

Encararam-se alguns minutos, sem se mexer, até Mutano encaminhar-se para a empata, abaixar-se e abraçá-la.

- Você está bem? – a garota se arrepiou de ouvir o metamorfo falar em seu ouvido.

Meramente balançando a cabeça, o garoto se levantou levando-a junto.

- E ai pombinhos, vamos levar essa vilã para a polícia? – os dois, que não tinham percebido que estava abraçados ainda, se separaram abruptamente e se viraram juntos para os amigos

- Onde está CatGirl? – Ravena cobriu o rosto com o capuz e perguntou para disfarçar.

- Ela conseguiu fugir, mas graças a Mutano essa daqui vai passar uma boa temporada na cadeia! – Terra estava desacordada, mas mesmo assim todos a olhavam com raiva

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Os titans estavam todos juntos, sentados na sala de TV, rindo de um filme de comédia. Ou quase, pois o líder não se encontrava.

- Ai esse cara é demais – ria Mutano – Como ele conseguiu enfiar um elefante no fusca?

- É um filme... – Ravena diz com sua calma de sempre, flutuando ao lado dele, este na ponta do sofá.

- Alguém viu Robin? – Estelar olha para os lados.

A garota se levanta, indo até a porta, mas antes que chegasse a ela, o líder a abre.

- Olá Estellie – beija a ruiva – Estava na delegacia, me seguraram lá até agora, pois Terra estava querendo se safar dizendo que era nossa amiga.

- Mas nós a entregamos! – Mutano se virou no sofá para o garoto prodígio, falando indignado.

- Foi o que eu disse, mas já viu, não é? – o casal se sentou no sofá junto dos amigos – Mude para o jornal, vai passar algo sobre o caso agora.

- Estamos vendo o filme!

O garoto nem pediu uma segunda vez, somente tomou o controle e mudou de canal.

Indignado, o metamorfo partiu para cima do amigo tentando pegar o controle.

Começou assim uma briga onde o pobre objeto, sendo manuseado tão “delicadamente”, mudava de canais o tempo todo.

Pedaços de programas eram ouvidos pelos outros titans que imaginavam, entreolhando-se, se deviam interferir, até ouvir algo que parou até os dois que brigavam.

- “... A outra comparsa do crime não foi encontrada, mas as jóias roubadas foram misteriosamente encontradas na porta da polícia há alguns minutos...” – disse o jornalista em frente à referida delegacia.

- Como? Estive lá até agora! – Robin quase grudou na TV – E não faz sentido, por que ela devolveria o que roubou?

- Ora, ela deve ter se arrependido, sei lá – o garoto verde parou ao lado dele.

- Não faz sentido...

Os titans entreolhavam-se pensando, quando se ouve a campainha e correm todos para atendê-la, curiosos.

- Você! – parada em frente à porta, CatGirl

- E ai? Não vão me convidar para entrar? – a garota riu, com aquela risada de gato característica.

- Você é uma vilã! O que está fazendo aqui?

- Ai que coisa! Já disse que não sou vilã! – ela entrou por entre os titans e sentou no sofá, confortavelmente, como se fosse de casa – Entreguei sua ex-amiga não foi? Não dá pra confiar em mim um pouco?

- Entregar? Você só fugiu e deixou-a lá! – Ciborgue bradou com os punhos cerrados.

- Você acha? – a gata virou o rosto com um sorriso malicioso – Pode não parecer, mas foi tudo planejado, tanto que devolvi as jóias depois que Robin saiu da delegacia...

- Por que fez isso? – perguntou o líder.

Todos meio que a cercavam, caso ela tentasse fugir, mas não havia qualquer indício de tal coisa.

- Por que aquela peste loira ficou me irritando. Ela descobriu que eu estive trabalhando com Slade e me encontrou, desde então ficou me torrando a paciência para ajudá-la a se vingar de vocês – ela riu – Não ligo a mínima pra vocês, mas se fosse vê-la longe do meu pé ia ser ótimo, por isso topei em participar desse roubo.

- Quer dizer que você não queria fazer aquilo? – perguntou Mutano confuso

- Claro que não! – revira os olhos – Não sei se suas adoráveis amiguinhas contaram, mas eu sou bem rica, modéstia a parte... Se eu quisesse alguma daquelas jóias, acredite, eu compraria.

- Então por que você faz essas coisas? – perguntou Robin

- Por que quero. É tão difícil acreditar nessa resposta? – riu

- É que não é muito normal alguém cometer um crime por pura vontade.

- Oras, eu sei que vou me safar depois... Por que não me divertir um pouco? – se levantou – Está na hora de ir

Pulou sem qualquer esforço sobre os titans atônitos e parou na porta.

- Qualquer dia a gente se esbarra – acenou e sumiu

- Cara... Eu nunca vou entender essa gata... – Mutano coçou a cabeça

- Gata? – perguntou Ravena indignada – Está mais para vaca isso sim! Garota irritante!

A de cabelos roxos saiu da sala, intempestuosa.

Sem qualquer palavra, o metamorfo decidiu segui-la, fazendo um gesto para os amigos de que não o seguissem.

Em frente à porta da garota, ele parou hesitante se devia bater ou não.

- Hãm, Ravena – bateu duas vezes na porta levemente – Você está ai?

- Vá embora! – ouvi-a dizer de lá de dentro.

- Vamos... Quero conversar...

- Não quero saber!

- Por favor! – bateu mais umas vezes afim de que ela, mesmo que aborrecida, viesse abrir a porta.

Depois de mais algumas batidas insistentes, ela apareceu parecendo irritada.

- O que você quer? – disse pausadamente, algo que para a empata significava “perigo!”

- Vamos conversar... Você ficou brava com o que eu disse de CatGirl agora a pouco? E ontem?

- Não, não fiquei brava – ela ergueu as sobrancelhas

- Ficou sim... Não sei o porquê, mas se isso te aborrece, eu peço desculpas. Não quero que fique brava.

Ravena não tinha palavras para responder o que tinha ouvido. O garoto parecia realmente preocupado com ela e algo, mesmo que inconsciente, a fazia se sentir feliz por isso.

Sentimentos conflitantes entravam em guerra dentro de sua cabeça e ela não conseguia pensar em nada. Dentro de seu quarto, algumas coisas tremiam de leve.

- Ravena? Rae?

- Hãm? – olhou para o garoto que a mirava curiosamente – Bem, eu... Tudo bem então. Era só isso?

- Não... Quer dizer, era, mas por que não podemos conversar?

- Não dá pra conversar com você Mutano.

- Por quê? – perguntou indignado

- Não temos assuntos em comum

- Tente...

Ficaram em silêncio por alguns minutos.

- Que tal me falar de você? Conhecemo-nos há tanto tempo, mas não sei do que você gosta ou coisas assim. – Mutano estava muito vermelho, com os olhos baixos e mexendo nervosamente as mãos.

Ele então começou a perguntar coisas sobre a empata, que no começo respondia de forma sucinta, mas que depois passou a falar mais. Pouco depois estavam os dois conversando animadamente sobre as coisas que iam descobrindo ter em comum.

Sem perceber estavam sentados lado a lado no corredor.

- Realmente foi muito engraçada aquela vez com o Dr. Luz! A cara dele quando te viu... – ria o verde.

A garota, com um leve sorriso, passou a observar o amigo e como ele ria.

- Ravena... Por que você não ri? – perguntou ele observando-a também

- Bem... – desviou o olhar – Não posso sentir nada, se não meus poderes se descontrolam.

- Seus poderes não se descontrolaram agora. 

Olhando para os lados a garota percebeu que mesmo que as luzes piscassem com uma cor diferente e a porta de seu quarto tremesse levemente, não havia nada destruído ou estragado.

Quando voltou seu olhar para Mutano, assustou-se ao vê-lo perto. Perto demais. 

A boca seca lhe impedia de dizer qualquer coisa e a proximidade a deixou estagnada.

O garoto por sua vez, tão nervoso quanto ela, ia chegando cada vez mais perto, dividindo seu olhar entre os olhos da amiga e sua boca. Ia devagar, dando-lhe a chance de fugir caso quisesse, mas não era isso que a empata pensava.

Quando estava a milímetros de beijá-la, ouvem passos no corredor e as vozes dos amigos.

- Será que o Mutano morreu? Sabia que não era uma boa idéia deixar o verdinho vir sozinho... – Ciborgue vinha à frente do casal e de Arcana e parou ao ver os dois amigos lado a lado, olhando o chão em lados distintos – O que aconteceu?

- Nada Cib, nada... – respondeu o verde

Ravena, meio trêmula, levantou-se e saiu sem dizer nada, fechando a porta de seu quarto ao passar.

Copiando o ato da empata, Mutano se levantou de vagar e se arrastou até o quarto.

- O que foi? O que foi que eu perdi? – o meio robô perguntou aos três atrás dele

- Nada Cib, nada... – Arc repetiu a frase de Mutano com um leve sorriso no rosto e olhou a ruiva, também sorrindo – Acho que temos que conversar com Ravena, não é Estelar? Ela estava muito brava quando saiu da sala não acha? – seu tom era quase de riso para a outra amiga

- Claro – respondeu no mesmo tom.

A ruiva deu um selinho no líder e, junto de Arcana, entraram no quarto de Ravena.

- Ai ai, Ravena, em cada uma que você se mete... – a cigana sentou-se a beira da cama da amiga.

Esta estava sentada, encostada na cabeceira e encolhida.

- Não podia ter feito aquilo – a garota repetia constantemente sem parecer notar as amigas

- O que você fez, Rae? – Estelar sentou-se do outro lado da amiga

- Eu... Eu... Quase... – depois ela sussurrou tão baixo que as duas não ouviram

- O que?

- Eu quase beijei o Mutano... – sussurrou mais uma vez, mas mais audível.

As duas amigas se entreolharam com sorrisos, mas acharam melhor não manifestar alegria.

- O que tem de mal nisso Rae? Você pode fazer o que quiser se achar certo – as duas abraçaram a amiga e Jas continuou – Por que não vai falar com ele? Dessa vez prometemos não nos envolver.

A empata não sabia muito bem o que fazer. Alguma coisa dentro dela queria ir atrás do metamorfo, mas a outra parte achava errado.

Por um tempo permaneceu ali parada e nem percebeu quando as amigas saíram para deixá-la pensar, mas aos poucos foi se mexendo e quando se deu conta, estava na frente da porta do amigo.

Relutou por um ou dois minutos e quando foi bater, a porta se abriu e o rapaz verde quase tromba nela.

- Rae? – ele a olhou espantado

- Oi.

- O que...? – ela continuou imóvel e silenciosa. O garoto então tomou coragem para falar – Olha Rae, eu sei que isso pode parecer loucura e eu também achei isso, afinal é uma situação tão estranha não é? Nós moramos juntos há tanto tempo e mal nos cumprimentávamos, mas agora eu acho que... Acho que... – o garoto ia chegando mais próximo dela enquanto falava e Ravena nada fez a não ser encará-lo com uma expressão indecifrável.

 Á milímetros um do outro, ele ia beijá-la, mas ouviram o soar do alarme dos Titans.

A garota, muitíssimo brava por dentro, ia para a sala ver qual era a emergência, quando sentiu o rapaz puxá-la de volta.

- Ah não! Você não vai escapar de mim! – e com sofreguidão, a puxou para si e a beijou.

Ficaram assim por alguns minutos até ouvirem um barulho e, ao se virarem, encontrarem Arcana com um sorriso enorme.

- Eu sei que deve ser melhor ficar ai, mas nós temos que ir – a garota riu dos amigos vermelhos – Depois vocês continuam – e piscou antes de ir para a sala.

Na frente do computador, todos os Titans se reuniram (Ravena e Mutano vermelhos e Arcana rindo) e seguiram para o centro.

O lugar estava um caos: por todo lado se viam personagens meio bidimensionais atacando pessoas e destruindo coisas com uma força que não pareciam ter.

Rainhas lançando rajadas de jóias, reis com cetros, grandes esqueletos em suas armaduras e sobre seus cavalos esqueléticos e outras cartas de um baralho de tarô.

No centro da balbúrdia havia uma mulher sob um manto negro, com as mãos erguidas comandando-as como marionetes.

- Parada! – o rosto da mulher estava envolto por um capuz, por isso ela não pareceu se exaltar com os recém chegados – Se renda agora e não criaremos problemas!

- Ora, Ora Titans – lentamente se voltou para os seis – Acham que podem me deter?

- Esperem! – a morena, vestida de cigana, entrou na frente dos amigos que iam atacá-la – Eu conheço você!

- Ah Jasmim! – riu – Fico comovida por ter se lembrado de mim.

- Confiei em você! Me deu este tarô – a garota tirou um baralho com desenhos semelhantes aos que, agora parados, estavam em volta deles – A cigana do parque...

- Certa... em termos – puxou o capuz – Mas há mais  que você ainda não sabe sobre mim.

- Não interessa quem seja, nosso único dever é detê-la – reclamou Mutano se preparando para transformar-se.

- Isso! Titans, atacar! – sob as ordens do líder, partiram para cima das imagens à sua volta, que retomaram o movimento e contra-atacaram.

Somente Arcana e a vilã não se moveram e permaneceram paradas no centro.

Elas se encaravam longamente, medindo-se. A vilã tinha um olhar de contentamento e a heroína estava somente curiosa.

- Quer saber querida? Há mais entre nós duas que você pode imaginar – disse a mulher

- Quero – a resposta foi involuntária, como se não pudesse lutar contra isso.

- Nunca conheceu seus pais não é?

- O que tem haver com isso? – o medo da resposta era tremendo, mesmo que tivesse idéia de onde ela quisesse chegar

Houve um silêncio dramático pontuado pelos sons da batalha.

Tinha a leve sensação de que seus amigos não estavam muito bem contra vinte e dois arcanos maiores e que devia ajudá-los, mas havia perguntas cujas respostas aquela mulher parecia saber.

- Não parece fácil descobrir, querida? – a fala, com leve escárnio, amedrontava-a mais

A garota somente negou.

- Sou sua mãe.

Diante de suas palavras, o tempo parou. Ao seu redor se moviam em câmera lenta e sentiu que, agora, o único ruído era de seu coração acelerado.

- Isso é impossível!

- Por que seria? Sei tudo sobre você, passado, presente e futuro.

- Não! E meu pai? Por que não veio até mim? E como pode saber meu futuro? E... E... Vilã! Como pode ser uma vilã? – estava tão em choque que seus pensamentos era confusos e desordenados.

Afinal, seu mundo parecia ruir.

- Comecemos do princípio... – começou a andar em círculos e, para não se aproximar, a heroína a seguiu mantendo a distância – Não há um “pai” por que você não é humana.

- Como? – parou incrédula

- É um baralho assim como os outros – a vilã parou e apontou as imagens que sobrepujavam seus amigos – Mas é um nível de sofisticação maior! – voltou a andar. Seu olhar estava ensandecido – Minha mais perfeita criação, feita com alma e sentimentos, algo tão vivo quanto um ser humano de verdade!

A garota sentia as pernas moles até que cedeu e caiu de joelhos.

- E não vim até você, querida, lhe falar, mas sempre estive por perto a protegendo e quando vi que estava pronta, lhe dei seu tarô – a mulher chegou atrás dela e sussurrava em seu ouvido – Sim, este é o tarô com que foi feita e é por isso que, ao contrário de mim, você não materializa as cartas, mas VIRA elas! – seu tom era enlouquecido e os olhos, esbugalhados. – Ah! Encontrei um conhecido de vocês também, que me ajudou a tomar a cidade.

Das sombras saiu Slade.

- Slade! – pela primeira vez, Arcana se virou para ouvir a voz de Robin e seus amigos – O que faz aqui?

- Vim ajudar esta adorável dama com seu plano – apesar de não poder ser visto por causa da máscara, sentia-se que ele sorria – É uma pena que eu não tenha precisado fazer nada.

- Então faça isso! – algo lhe acertou no rosto e, caindo suavemente ao lado, CatGirl apareceu – Você é mesmo incrível, Slade! Ter que se aliar aos outros para conseguir dominar a cidade? – ria como um miado, a gata ao lado dele.

- Não vou me esquecer do que fez comigo, CatGirl! - começaram os dois também a travar uma batalha.

A vilã ao lado de Jasmim balançou a cabeça em descontentamento.

- Não respondeu todas as minhas perguntas – a garota tentou parecer forte, mesmo que lhe exigisse todas as forças.

- Sobre ser vilã? Bem, vilã é um rótulo um tanto quanto equívoco, afinal, quando eu tomar a cidade e destruir seus amiguinhos, não serei eu a vilã – riu maquiavélica – E seu destino querida, é se juntar á mim! A criadora e sua maior criação, juntas no governo desta cidade.

Jas levantou-se de um pulo e pôs-se distante dela. Pela primeira vez pode olhar ao redor e ver cada um de seus amigos caídos, sendo arrastados pelas cartas e engolfados por elas.

Passou seu olhar por todos, mas terminou em Ciborgue, parcialmente coberto pelas cartas. Começou a andar em sua direção, com a mão esticada, mas uma torre tomou sua frente.

- Não há mais o que fazer, querida – a voz atrás de si era quase doce – Não posso te machucar ou te destruiria, mas não pode ajudá-los mais – estendeu-lhe uma mão, quando a garota voltou seu rosto para ela – Venha comigo e seremos as rainhas desse jogo.

Seu olhar flutuou entre os titans que a olhavam temerosos, a luta de Slade e CatGirl (parecendo um mundo a parte) e a mãe com a mão estendida.

O que iria fazer? Sozinha não conseguiria salvá-los e a mãe a destruiria, mas também não queria se unir ao mal e trair seus amigos.

- Posso mantê-los se quiser. – seu olhar se voltou para a vilã – Posso torná-los minhas cartas e eles seriam seus.

Jasmim começou a andar em sua direção, levantando a própria mão lentamente.

Nos olhos da vilã, tirunfo. Nos olhos dos amigo, decepção.

Com um piscar de olhos, a situação se inverteu. Arcana saltou sobre a mãe e começou a lutar com ela. Esta, sem querer destruir sua criação, só se defendia e não deixava as cartas avançarem.

- Pare! Sua estúpida, pare! – berrava a mulher colérica

Mas a filha não ouvia e continuava a lutar até pô-la no chão.

- Se me matar, garota tola, irá morrer também! – berrava como última chance de viver.

- Essa foi minha escolha – lançou um último olhar de adeus aos amigos – Este é o meu destino.

Com a espada da Justiça, cravou o peito da vilã.

Entre gritos histéricos a mulher desvaneceu em sombras e suas cartas também, deixando uma suave névoa por toda a cidade.

Depois que toda ela sumiu, Jas caiu e os titans, já libertos, correram para perto dela.

- Jas! Por que fez isso? Podia somente prendê-la – Robin queria reprimi-la, mas não tinha forças para tal.

- Ela me destruiria – disse simplesmente com os olhos pesados.

- Não precisava ter feito esse sacrifício por nós! – Estelar se debulhava em lágrimas e discretamente Ravena fazia o mesmo.

De longe o mais abalado era o homem cibernético.

- Me prometam que vão ficar bem sem mim e, Cib –ele a tomou nos braços – Siga em frente, eu sei que você consegue.

Ele não conseguia responder, pois não conseguia pronunciar nenhuma palavra.

Ao contrário da mãe,  Jasmim desvaneceu em uma luz clara que iluminou levemente a rua.

- O que aconteceu aqui? – os cinco se viraram para ver CatGirl – Slade fugiu e não pude detê-lo, mas e a cigana?

Os Titans não conseguiram responder e a garota entendeu. Depois de alguns minutos, como se o mundo corresse em câmera lenta, eles voltaram à torre abatidos e cabisbaixos.

Ninguém viu quando, depois de um tempo, um homem se abaixou para pegar o baralho que caíra na rua e nem que ele tinha uma máscara preta e cobre com um único olho.


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Notas finais do capítulo

N/A: Oi gente =DD

Finalmente o/ Olha, esse capítulo me deu um trabalho que vocês nem sabem, por isso se não estiver tão bom quanto eu queria, não é minha culpa -.-'

Sobre a CatGirl, para os fãs dos quadrinhos do Batman, NÃO ME MATEM!

Eu sei, eu sei, posso ter feito a maior desgraça ao colocar a caçadora como "vilã", mas sei lá, a CatGirl não podia ser outra coisa a não ser filha da Mulher Gato! Ficaria sem graça... Então não me matem se vocês, que sabem muito mais que eu, acharem ridículo...

Eu tentei captar bem a essência da Mulher Gato e trazer a irreverência felina, mas se tiverem críticas (sem me matar!) me digam... E querem saber? É das minhas personagens favoritas!

Aqui temos tambem a história da Jas pra quem tava duvidando dela ;D

Bem, comentem...

Beijos!

MaNgA aLbInA



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