A Lenda de Jamie Carter escrita por Live Gabriela


Capítulo 25
Acampamento


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por: Live Gabriela Woiciekoski ^^ e narrado por Jamie Carter.



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Continuei meu caminho. Após alguns minutos encontrei Steve e os outros. Disse a eles que Campbell havia voltado e que Smith cuidara dele. Voltamos para a clareira e após um grande sermão de Steve para Hammel e Campbell montamos nosso acampamento para lá mesmo passarmos o resto do dia e a noite.

No dia seguinte seguimos viagem, afinal ainda estávamos distantes da cidade do Rei. Por mais estranho que fosse não nos metermos em encrenca, à viagem foi totalmente estável e tranqüila. Paramos em Liphook, Haslemere, Godalming, Guildford, e muitas outras cidades das quais não me lembro o nome. Em todas fomos bem recebidos e acomodados.

Não houve desentendimentos muito grandes entre nós. Blase era um assunto no qual não tocávamos mais. Fiquei surpresa por Campbell agir normalmente todo o tempo. Mesmo depois de tudo o que aconteceu com ele e Damimmem, de descobrir meu segredo... Mesmo depois do nosso beijo.

Talvez ele estivesse focado no nosso dever, e era disso que eu precisava... Foco! Como dizia o ferreiro, é uma das coisas mais importantes que devemos ter. "Sem foco somos como um cego numa encruzilhada, não sabemos para onde queremos ir nem para onde DEVEMOS ir" dizia ele.

Nas cidades em que parávamos às vezes ficávamos até dois dias, para descansar ou treinar. Estava cada vez mais difícil. Meu tutor exigia muito de mim, eu sabia que se não o fizesse os outros suspeitariam, mas não precisava pedir para acertar as laranjas que amarrara em porcos selvagens sem tentar matar os bichos... Bom, ao menos ficamos com um bom suprimento de carne.

Os dias iam passando e cada vez estávamos mais perto de nosso destino. E porque não dizer que mais nervosos também?! Claro que eles não demonstravam nervosismo, mas dava para notar, acho que por... Intuição.

Uma semana, duas. Na terceira chegamos à Londres. Uma bela cidade, grande, limpa, cheia de nobres e cavalheiros. O ferreiro não gostaria, diria que há muita gente para importuná-lo com trabalho. Já eu, viveria num lugar desses sem problemas, desde que fosse James. A Jamie não se daria bem aqui, seria esnobada, ficaria nas ruas, não seria vantagem, afinal seria pobre. Talvez se desse bem se começasse a roubar... Mas Deus que me livre dessa cobiça! Uma garota não pode fazer esse tipo de coisa! Nesse caso seria melhor Jamie ficar em sua pequena cidade, onde cuidaria de uma fazenda e viveria disso. Se bem que, se Jamie se casasse com um nobre, ou melhor, um cavalheiro, seria vista como uma dama e assim poderia...

- Carter! – disse Campbell me chamando à atenção. – Pelo amor de Deus! Pode pelo menos prestar um mínimo de atenção quando está se inscrevendo para o exército?! É algo importante. Mantenha o foco garoto.

- Desculpe senhor. – peguei a pena para assinar o documento que oficializava o feito. Mas não consegui escrever.

- O que há Carter? Ande logo com isso! – disse Hammel impaciente. Só faltava eu assinar e então poderíamos entrar no acampamento militar, onde seríamos treinados para proteger nosso reino dos inimigos.

- Não posso fazer isso. – disse.

- James, o que está fazendo? – perguntou Ryan se aproximando.

- Não sei escrever. – respondi cabisbaixa.

- Ora, mas que diabos! Assine por ele Campbell, quero logo ver onde ficaremos, é bom que seja uma cabana decente! – disse Hammel já se afastando, levando Jhonson e Smith consigo.

Campbell me olhou por um instante e depois pegou a pena e assinou por mim. Mark o esperava e quando Ryan terminou de escrever os dois começaram a conversar, foram na frente. Os segui.

Steve já tinha nos deixado, como ele era o líder não ficaria conosco. Ao que entendi ficaria em um acampamento diferente, talvez nos encontrássemos novamente, talvez não.

Os dias foram passando e fui percebendo que os treinos que Campbell e companhia passavam para nós com certeza não chegavam aos pés do que temos que fazer no acampamento. Acordamos cedo, treinamos, treinamos, treinamos, comemos, quando temos sorte nos limpamos e depois dormimos. A rotina é intensa. Corridas, lutas à mão e com espadas, treinamento com adagas, arcos e flechas, bastões, machados, massas e outras armas, ensinamentos de camuflagem, exercícios físicos, lições práticas de mira, truques de imobilização, defesa e ataque, aulas de socorro médico básico, fabricação de armas, conhecimento de território, conhecimento do inimigo, missas, caça. Não há descanso por aqui! Sempre vamos dormir algumas poucas horas antes do amanhecer e levantamos antes de o galo cantar.

Eu já ouvira falar de lugares assim, mas não sabia que existiam realmente. Ouvira histórias e agradecia por não participar delas, mas agora eu implorava a Deus para que me tirasse dali. Eis que surge um sinal... Tudo graças a uma conversa que ouvi de dois recrutas.

- E Peter onde está?

- Ao que sei não irá mais servir por enquanto.

- Mas por quê? O que houve?

- Lhe dispensaram por ter quebrado o braço. Foi dado como inválido. Alguns dizem que ainda podem chamá-lo de volta, sabe, daqui a um tempo, quando se recuperar totalmente, mas outros acham que ele nunca mais terá de lutar na vida!

- Há, mas que vida boa! Ele sempre foi...

Inválido? Foi dispensado por ter quebrado um braço?! Isso é perfeito. Quando pequena já havia quebrado o braço umas duas vezes, se fizesse isso agora provavelmente me dispensariam e eu poderia ir embora, viraria Jamie Carter, uma fazendeira e pronto, adeus James, adeus exército.

Como já era tarde da noite e tínhamos que entrar nas cabanas para dormir, então faria o machucado que me levaria para fora daquele lugar no dia seguinte.

- Boa noite James.

- Boa noite Campbell.

- Calem a boca maricas!

- Boa noite para você também Hammel. – disse Ryan em tom de deboche. Dei risada assim como Mark. Jhonson e Smith já haviam dormido há tempos.

Este é meu 9º dia aqui no acampamento, e espero eu, que o último. Acordo mais cedo que os outros e pego o bastão de Campbell. Vou silenciosamente para fora da cabana, que já é meio isolada das outras do acampamento. Pego um pano e coloco na boca, assim não faria barulho. Ponho meu braço sob uma pedra, mas antes de acertá-lo com a arma de meu tutor percebo que pela distância não haverá muito impacto.

- Droga! – sussurro para mim mesma. Vou de volta à cabana e pego o machado de Mark.          

Volto para o lugar onde estava e novamente coloco o pano na boca. Levanto o machado e bato com ele em meu braço, suas pontas estavam viradas para os lados, ou seja, não me cortei, apenas usei o peso para acertar meu braço esquerdo, o que segurava o arco. Bati uma, duas vezes, não quebrei, mas consegui lesioná-lo. A dor era quase insuportável, meus olhos lacrimejavam sem parar, mas no final, valeria a pena. Levantei novamente o machado e quando este ia atingir meu braço ouço Campbell.

- Carter? O que está fazendo? – pergunta ele se aproximando. Ao perceber isso puxo o machado, mas seu peso faz com que sua ponta caia, o que o faz bater no meu braço e conseqüentemente cortá-lo. Tento disfarçar a dor mordendo o pano, que logo vai ao chão. Limpo as lágrimas discretamente.

- Nada, só vim para ver se achava algo diferente para comer.

- Porque esta com o machado de Mark? – perguntou desconfiado.

- É que eu o achei aqui fora. Acho que Mark se esqueceu de por para dentro da cabana, e como eu estava caçando resolvi usá-lo emprestado.

- Han... Bom, vamos voltar para lá. Soube que teremos uma missão hoje.

- Uma missão? Hoje?

- É, algum problema?

- Não. Não, quero dizer... Um pouco de ação enfim! – sorri.

- Certo.  – começamos a andar em direção à sala de missões, era lá onde davam as instruções para os guerreiros do que fazerem. – E então... Você está bem?

- Claro. -... Que não! Droga, meu braço está sangrando, não olhe para ele Campbell!

- Está indo bem nos treinamentos?

- Bom, são difíceis. Mas dou o meu melhor. – ele perguntara, pois apesar de estarmos na mesma cabana, ele já era cavalheiro, ou seja, recebia um treinamento diferente do meu, que sou uma novata.

- Se precisar de algo, me fale.

- Está bem. Obrigada.

Ele fez um sinal positivo com a cabeça e saiu andando na frente. Logo encontrou com Mark e Hammel e fomos todos na mesma direção. Ao chegar na sala de missões encontramos com Steve. Ele estava sentado junto ao General Russell Brown.

- Senhores.

Ficamos a postos. O homem branco, alto, de corpo extremamente musculoso me assustou com seus olhos castanhos perdidos no vermelho da raiva que havia em seu rosto.

- Estão aqui para proteger sua pátria, e hoje realizarão, a missão de capturar desertores. Estes têm que ser punidos, traidores imundos como eles não devem ficar livres para envenenar a população com suas idéias revoltosas e hediondas! Agora vão e cumpram seu dever. Garanto que se pegarem estes desertores sua recompensa será dada não só por Deus, no Paraíso, mas aqui na terra também ganharão privilégios. Então, senhores. – ele parou e nos encarou, um por um – Ao trabalho!

Saímos da sala e Steve nos explicou para onde iríamos, quantos eram e quem eram os desertores e explicou algumas táticas para usarmos. Não entendi muita coisa, além de que eram nove garotos, não muito velhos, o líder chamava Carl e era arqueiro, o que era extremamente incomodo já que todos esperavam que eu fosse melhor e desse uma surra nele, ta legal, talvez não esperassem isso por eu ser inexperiente, mas com certeza queriam que eu fosse melhor que ele no arco.

Fomos então pegar os traidores, o local da luta foi um mercado. Lugar de preferência por eles para assaltar os comerciantes.

Eu e os novatos estávamos cobrindo a retaguarda dos cavalheiros, assim como nosso líder, Steve, havia mandado. A luta começou, não sei ao certo como. Eu estava totalmente perdida ali no meio, fora que meu braço doía como nunca. Maldito Campbell enxerido! Graças a ele, agora eu mal conseguia lutar, nem de segurar o arco direito eu era capaz.

Tentei ajudar meu tutor com um grandalhão, mas não deu muito certo, o máximo que consegui foi acertar a orelha do brutamonte que veio em minha direção. Na hora fiquei sem reação, o cara era enorme! Por sorte Mark veio às pressas e lhe meteu uma machadada nas costas, o derrubando no chão.

Estava me sentindo muito mal, não sei se por causa da dor, ou por ter falhado. Errei várias flechas e todos tinham notado isso. Tanto que quando voltamos para o ponto de encontro no mercado, quando Hammel veio se vangloriar com a cabeça do tal de Carl nas mãos Steve o elogiou, mas se fez muito decepcionado com o resto do grupo, disse até que parecia ter um homem a menos em combate. Ele se referia a mim.

- Vão para as cabanas, verei vocês algum dia. Espero que treinem mais daqui pra frente, pois estão precisando. – disse o líder. Logo guardou sua espada e saiu andando.

Apesar da vitória me senti derrotada. Sabia que poderia me sair melhor, eu sou melhor do que isso. Mas meu braço... Justo hoje tínhamos que ter uma missão, só para estragar tudo para mim!

Ryan percebeu que eu não estava bem e veio conversar. O despistei dizendo que precisava apenas dar uma volta para melhorar. Por sorte ele não insistiu em vir comigo.

Comecei a andar pelo mercado. Comprei uma maça com algumas moedas que carregava comigo. Tinha algumas, o ferreiro tinha me dado. Enquanto comia a maça fui para um canto mais isolado do mercado, estava mais perto de um galpão abandonado. Joguei o resto da maça fora e levantei a manga de minha blusa. Meu braço estava num estado horrível. Havia um enorme corte em horizontal no meu antebraço e estava mais profundo do que eu imaginava. Devido ao tempo em que havia me machucado não sangrava tanto a ponto de ficar escorrendo. Mas mesmo assim o enfaixei.

- Droga. – suspirei – Só me faltava essa. Tenho que dar um jeito nisso logo pra eu ir embora de uma vez! – falei comigo mesma.

O sol estava a pino. Era hora de voltar para o local da minha tortura.


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Notas finais do capítulo

comentem pleeeease *-*



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