Bella PDV

Então amanheceu a tão esperada quinta-feira. Levantei um pouco mais cedo que de costume. Tomei um banho, enquanto pensava em que roupa usaria. Saí do banho ainda sem uma decisão.

Aii que droga! Porque isso tinha que ser tão difícil?

Abri meu guarda-roupa e fiquei meia hora decidindo que roupa usar. Até que no fim, optei por uma blusa regata e uma calça preta com rasgados. Na blusa estava escrito: ‘Leave me alone’ (me deixe em paz), e atrás tinha: ‘Look at your life’ (cuide da sua vida). Não era nem um pouco o meu estilo, mas era com essa que eu iria. Penteei meu cabelo em um rabo de cavalo e coloquei uma bota preta que eu nunca tinha usado.

Respirei fundo e por fim, passei um brilho em meus lábios ressecados. Fiz um bico pro espelho e murmurei.

- Vai lá, garota!

Peguei minha mochila e saí.

Chegando na esquina da escola, peguei meu mp3 e coloquei meu fone de ouvido. Assim eu não precisaria escutar nada do que alguém falasse. Voltei a andar normalmente, e encontrei minhas falsas amigas conversando no jardim em frente a escola. Passei direto, olhando para os lados, mas ninguém estava rindo ou comentando. Aliás, ninguém tinha me reparado.

Mas de repente, eu ouvi a voz de quem justamente eu estava querendo chamar a atenção.

- Isabella! – ouvi alguém me chamar, ás minhas costas.

Virei e vi a minha perdição caminhando até parar na minha frente.

- O-oi Mike.

- Oi, e aí? Mudou de visual foi?

- Err..não exatamente...eu só...

- Ah tá – ele me interrompeu. – hein, eu queria te perguntar...se você poderia...quer dizer, se você tem algum par para o teste de matemática, hoje?

Minha cabeça deu um estalo assim que eu ouvi a palavra teste.

- Caramba, o teste. Eu tinha me esquecido.

- Pois é, é hoje. Então, você quer fazer comigo?

- Humm...é claro. – falei e sorri. O sol bateu em meu aparelho e o reflexo foi direto nos olhos dele. – Ah, me desculpe.

- Ok...então..a gente se vê na aula de matemática. – falou, saindo.

Assim que ele deu as costas, entrei na escola me abanando, minhas pernas pareciam fracas demais para andar, até que parei em frente ao meu armário. Continuei me abanando até que uma garota veio me interromper.

-Que calor é esse, fia? São sete horas da manhã, o sol nem começou a esquentar ainda. – Ângela falou, desdenhosa.

- Tô derretendo por antecipação. Adivinha quem falou comigo agorinha?

- Aii eu vi. O que ele queria?

- Ele pediu para fazer o teste de matemática comigo. Não é emocionante?

- Claro que não. Ai Bella, fazer o teste? Poxa vida...achei que ele tinha te chamado para sair ou coisa assim. – ela falou, colocando a mão na cintura.

- Ah, Ang. Esse pode ser um começo.

Ela apenas deu de ombros. O sinal tocou e a gente seguiu para a sala.

Bom...pelo menos era teste de matemática. Eu era boa nessa matéria, então não seria problema. As primeiras aulas seguiram normalmente. Ao chegar o intervalo, a ansiedade só fizera aumentar. Encontrei a Ang na fila, e fomos sentar juntas em uma mesa vazia.

- E aí, como está o coração?

- Haha, engraçado você perguntar, mas eu não sei o que fazer.

- Simples: puxa conversa com ele. Depois você vai saber o que fazer.

- Mas..

- Xii – ela me interrompeu. – As meninas estão vindo pra cá. Não olha! Seja o que for não caia na lábia delas.

Assim que ela terminou de falar, as duas pararam na nossa mesa. Encarei-as com mágoa e raiva nos olhos.

- O que vocês querem aqui? Se vieram fazer mais gracinha podem ir tirando o cavalinho da chuva... – quem falou foi a Ângela, ameaçadoramente.

- Nós viemos falar com a Bella, dá licença? – Victória fuzilou Ang com os olhos.

- Bella a gente veio pedir desculpas por ontem...a gente não devia ter feito aquilo..foi mal.

- É, vocês pisaram feio na bola. – falei.

- Ain, Bells. Não fica com raiva da gente – Victória pediu.

- Eu não estou com raiva de vocês. – afirmei.

- Aii que bom. Então podemos voltar a ser amigas! – Jéssica disse, convicta.

- Eu disse que não estou com raiva, mas não disse que voltaríamos a ser amigas. Perderam sua chance, vocês já tinha batido na trave, mas agora o chute de vocês foi longe. – falei, encarando-as.

O sinal tocou.

- Vamos Ang. – chamei-a e saímos.

Nossa amizade era basicamente assim: eu fazia todos os trabalhos para elas, e assim elas me aceitavam como integrante do grupo. Porque eu queria fazer parte do grupo dessas garotas mesquinhas? Simples, elas tinham o que eu queria: reputação e fama. Elas sempre tinham me tratado bem, por isso não ligava para essa condição de ‘capacho’. Mas de um tempo para cá, elas abusaram de mais da sorte, estavam cutucando a onça com vara curta, e ontem a palhaçada acabou.

Ao sair do refeitório, Ang exclamou.

- Nossa, aquilo foi demais!

- É. Foi mesmo. – murmurei.

- Ah se anima, você deu um chute nas patricinhas mais populares do colégio. – ela disse, contente, mas parou ao ver que eu não estava no clima. – Mas aí...as suas aulas de matemática são as duas últimas né? – assenti. – Então você tem tempo. Vai treinando algumas coisas pra falar, pra perguntar. E não fica nervosa, ok?

- OK. Valeu.

Para ela era fácil falar.

Entrei na sala e logo o professor entrou atrás de mim. Ele estava explicando a matéria que cairia nas provas finais, o que me deixou sem tempo para nada. Logo depois dessa aula, eu teria dois períodos inteiros para o teste, e tempo de sobra pra ficar olhando para ele com cara de mongol.

O sinal tocou, anunciando o fim da aula. Minhas mãos começaram a suar e eu rumei em direção á sala de matemática com passos lentos. Minhas pernas se negando a andar mais rápido.

Cheguei na sala, e não o encontrei lá. Sentei em uma carteira vazia no canto da sala e minutos depois alguém senta ao meu lado. Virei-me sobressaltada e meu coração pulou ao ver ele sorrindo pra mim.

- Oie.

- Oi. – respondi.

- E então, preparada?

- Sempre.

A professora pediu silêncio e foi entregando o teste para cada dupla. Assim que Mike pegou o teste, me entregou sem nem olhar e disse.

- Toma. Pode responder, porque eu não sei de nada.

Prendi a respiração.

Ele ia deixar eu fazer o teste sozinha?!

- Mas você não vai me ajudar em nada? – perguntei, perplexa.

- Eu não. Foi sorte você não ter par para fazer o teste, porque se não...eu não sei o que seria de mim.

AAaaiiii, que cara-de-pau!! Safado, aproveitador! É isso o que ele é. Tive vontade de gritar isso na cara dele. Mas apenas peguei o lápis e a borracha e respondi a prova, emburrada, sem olhar para a cara daquele dejeto infame!

Eu não acredito que ele me usou para tirar nota boa na prova.

Antes de acabar a segunda aula, acabei a prova. Ele simplesmente falou um ‘obrigado’ e se mandou. Otário. Eu devia ter dado um belo de um bofetão na cara dele para ver se ele aprendia a nunca mais usar meninas para se dar bem.

Fui até o jardim da escola indignada e fula da vida. Como ele teve coragem? Quer dizer, como eu pude me iludir dessa forma achando que poderia dar alguma coisa a mais? Eu devia ter imaginado que só por esse motivo ele falaria comigo.

Ahh, como eu sou burra e ingênua por acreditar que ele poderia querer alguma coisa comigo! Mas isso não ia ficar assim.

- O que aconteceu, ôô bicudinha? – Ângela perguntou.

- Aquilo responde a sua pergunta? – perguntei apontando o dedo para o Mike que estava agarrando uma menina, embaixo de uma árvore.  – O maldito, o traste, o idiota só falou comigo porque queria se dar bem no teste. Aii que ódio!! – falei, triste e indignada.

- Ahh, que Mané. Mas relaxa, miga. Você encontra outro melhor. Uma tentativa e um fracasso, mas não quer dizer que da próxima vez você não possa se dar bem.

Nunca mais eu iria me entregar a outra paixonite boba. E o pior é que mesmo sendo só uma paixonitezinha boba, doía. E doía principalmente ser rejeitada. Tomara que aquele maldito se apaixone por uma menina e ela o esnobe fazendo-o sofrer até morrer.

Voltei para casa com o mundo desabado e com a convicção de que melhores esperavam por mim.