15 só Uma escrita por Sereny Kyle
No quarto escuro, Ban olhava Tay, Kay e Ginji dormindo, a tranquilidade que pairava sobre o sono deles era completamente estranha perto dos acontecimentos daquele dia.
Ban e Ginji tinham saído pra cumprir uma tarefa, mas Ban pressentira que algo estava errado e abandonaram a missão para retornar ao trailer.
Quando chegaram, Kay estava caída desacordada do lado de fora, a porta do trailer estava aberta e de dentro vinha um barulho estrondoso de coisas sendo atiradas e quebradas.
Ginji pegou Kay no colo e sentou-a na espreguiçadeira, agarrado nela, olhando confuso para o trailer. Antes que Ban pudesse entrar, eles viram Tay saindo do trailer perseguida por um homem desconhecido.
-- Eu vou matá-la, Tay Kamurato! Arrancarei de seu corpo a sua alma e jogarei seu gélido cadáver aos meus leões, sua víbora maldita! – o homem avançou rápido em direção a Tay e apertou seu pescoço.
-- Você, seu fracassado, vagará pela eternidade sem ter o prazer de me ver morrer!
Tay soltou-se com tanta facilidade das mãos de seu perseguidor como se ele não estivesse fazendo força. Ele, porém, continuava a avançar pra ela. Ban e Ginji nunca tinham visto Tay lutando com alguém com tanta fúria, ela pulava e corria, já não era dificuldade lidar com um oponente superior em força e altura.
-- Vai pagar, sua desgraçada! Vou fazer gotejar seu sangue lentamente e fazê-la pagar pelo quê me fez, sua desprezível sanguinária!
-- Você que vai pagar por ter vindo aqui e tentado tocar em minha irmã! É a mim que você quer! É o meu sangue que você deseja derramar! Se vier atrás de mim, eu lutarei até a morte, mas se se aproximar da minha irmã, vou fazê-lo sentir a dor máxima! – a mão de Tay se incendiou e seus olhos lembravam duas labaredas.
-- Acha que vê-la morrer vai ser o suficiente? – ele avançou e golpeou Tay no ventre, atirando-a muito longe, arfante. Ele arrancou um punhal que tinha escondido na bota. – Eu vou fazê-la perder tudo, pra que viver seja tão penoso que você anseie com um desejo luxurioso pela morte, sua vadia!
-- Eu jamais morreria por suas mãos, não sou tão estúpida assim! Pra me matar, primeiro tem que ter mais cérebro que músculos! Eu só conheço um homem que conseguiria me matar e não é você!
-- Como vai se sentir com o peso de outra morte na suas costas? Como vai se sentir quando for levar flores para o túmulo da sua irmãzinha no mesmo dia que pros seus pais?
O corpo inteiro de Tay se incendiou e só o que era visível dela era o rastro de luz que ela produzia enquanto golpeava seu oponente com fúria. Os espectadores prendiam a respiração, impressionados.
Porém, o homem com quem Tay lutava atirou-se por cima dela e a manteve presa ao chão, com a duas mãos segurando seu pescoço, impedindo-a de respirar.
-- Tá certo, mando sua irmãzinha em seguida. Dê lembranças aos seus pais, maldita!
Ban correu e tirou o homem de cima de Tay, mas antes que pudesse golpeá-lo, Tay se pôs no meio dos dois e com uma expressão de horror, ela tombou pra trás caindo nos braços de Ban, com o punhal cravejado em seu ventre.
-- Tay! – Ban sentou lentamente na grama, segurando Tay com um olhar penalizado e receoso. Tay segurou o punhal e arrancou-o a sangue frio, fazendo o sangue vazar de seu corpo e lágrimas brotarem de seus olhos. – Quem era aquele homem? – ele percebeu que o homem tinha fugido, mas Tay segurou firme a sua mão e ele voltou sua atenção pra ela.
-- Ka-Katsu... – Tay sentia uma enorme dificuldade em falar, a dor dominava seu corpo, Ban percebeu o quanto ela sangrava e uma lágrima lhe cruzou o rosto quando ele a trouxe para mais perto.
-- Não fale nada. Eu vou... Vou cuidar de você! – ele segurou-a junto ao corpo e carregou-a pra dentro, Ginji fizera o mesmo com Kay, que começava a recobrar os sentidos.
Ban deitou Tay e ela ainda sangrava muito, ele rasgou a blusa dela e seu desespero não o permitiu de se excitar com a situação. Tay incendiou sua mão e aproximou do ferimento.
-- O que vai fazer? Deixe-me limpar primeiro.
Depois de limpo, Tay agarrou com força a mão de Ban e cauterizou seu ferimento, como tinha feito com o dele uma vez. A dor foi tanta, que ela desmaiou.
Quando Tay acordou, Ban estava ao seu lado.
-- Quanto tempo eu fiquei desacordada?
-- Três horas. Como está se sentindo?
-- Bem melhor. Eu só precisava... Ai! – Tay tentou se levantar, mas a dor voltou.
-- Fique deitada. Eu vou trazer algo pra você comer aqui mesmo.
-- Onde está Kay? Ela está bem?
-- Ela está lá fora com Ginji, está bem e estava muito preocupada com você!
-- Graças a Deus!
-- Você é muito maluca, sabia? Ele estava avançando pra mim, você não devia ter se colocado no meio!
-- Devia sim! Katsumi Itaki quer a minha vida e não vou permitir que ele machuque mais uma pessoa por minha causa! – Tay olhava para a parede do quarto distraída em seus pensamentos, quando passou a mão direita pela esquerda e exclamou: – Onde estão meus anéis?
-- Eu os guardei quando você desmaiou. Estão aqui – Ban devolveu-os a Tay, que colocou de volta. – São muito importantes?
-- São as alianças de meus pais, eu as uso desde o dia em que morreram. Faz com que eu os sinta sempre comigo! Não me deixa desistir de viver!
-- Mas e quando você tiver a sua própria aliança? O que fará com a de seus pais?
-- Isso não me preocupa, não existe a possibilidade!
Ban ficou em silêncio por um tempo, enquanto Tay comia. Depois ele falou:
-- Nunca tinha visto você lutar tão a sério, nem comigo!
-- Aquele é meu algoz, o carcereiro do inferno que não vai descansar enquanto não me fizer escrava dele.
-- Mas o que você fez a ele?
-- Entrei no caminho dele – Tay continuou a comer como se ser perseguida por um louco não fosse nada demais.
-- O que você fez foi incrível!
-- O quê? Não imaginou que eu era uma princesinha indefesa, imaginou?
-- Claro que não, mas é surpreendente ver esse seu outro lado, quando se convive com você, até esquece-se de quem você é!
-- Quando se é uma garota, precisa saber se defender! Principalmente quando não se quer depender de um homem forte pra te salvar!
-- De onde conhece aquele homem?
-- Ele era do serviço de eliminação. Era, porque agora a única coisa que o deixa vivo é o prazer de me perseguir, seu desejo de me matar!
-- Eu entendo o que quer dizer! Você disse que apenas um homem conseguiria matá-la. De quem estava falando?
-- De você, é claro!
-- Mas quando lutamos, eu não consegui vencê-la!
-- Você não estava querendo me matar, não estava lutando a sério. Se o fizesse, eu não tenho dúvidas de que conseguiria!
Tay encarou Ban com um olhar tão profundo que ele não agüentou e desviou o rosto.
-- Quando você diz que não há a possibilidade de ter uma aliança sua, o que quer dizer?
-- Que eu não vou me apaixonar por alguém. Por que a pergunta? Ban Midou é um romântico por acaso?
-- É só estranho, uma garota pensar assim.
-- A idéia me dá arrepios. Por acaso você tem alguém por quem você sinta algo assim?
-- Que me dê arrepios?
-- Não. Por quem você morreria.
-- Yamato dizia que eu estava fadado a viver sozinho, porque a mulher certa pra mim não existia.
-- A mulher certa? Por quê?
-- Porque eu gostaria... Não. Eu preciso de uma mulher que tenha... Características específicas. Muito raras quando juntas.
-- E que características são essas?
-- Eu não quero falar!
-- Vai, fala! Você me deixou curiosa. Quem sabe eu não conheça alguém que condiz com as suas exigências?
-- Yamato estava errado. Eu encontrei alguém...
Kay e Ginji entraram no quarto estrondosamente, interrompendo a fala de Ban.
-- Tay! Que bom que você acordou, maninha! Eu não acredito que aquele desgraçado nos encontrou aqui! E parece que ele já vinha observando a gente fazia tempo, porque ele esperou Ginji e Ban saírem pra nos atacar. Quando Gin disse que ele tinha te machucado, eu fiquei desesperada! Como você ta se sentindo?
-- Só dói quando eu me mexo!
-- Que bom que você está bem, Tay! – Ginji deu um beijo na mão dela.
-- Obrigada, Ginji!
Com toda a algazarra que os dois fizeram, Ban pegou o prato de Tay e saiu do quarto.
-- Yamato disse que eu só poderia amar uma mulher forte e determinada, que estaria ao meu lado e não temeria o perigo, que soubesse se defender e defenderia tudo o que ela ama, mas eu ainda assim tentaria protegê-la. Uma mulher que nunca seria previsível e que soubesse me impor limites, que fosse sensível e delicada, sem ser sonsa e frágil!
Ban saiu do trailer, já estava anoitecendo.
-- Alguém que soubesse lidar comigo como recuperador e como homem, que faria meu corpo inteiro se arrepiar com um toque e que conseguisse me fazer esquecer da minha maldição, alguém que pudesse me libertar da solidão e me fazer acreditar na vida outra vez, que não me aprisionaria e que seria minha sem medo. Uma mulher que fosse páreo pra mim e que tivesse a minhas habilidades de combate, mas eu jamais poderia vencê-la, eu jamais lutaria com ela. Uma mulher que não teria medo de se sacrificar pelo quê acredita ou por amor, sem perder a própria essência. Só há uma mulher no mundo assim, e é você, Tay!
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mereço reviews???